LOBOS

Sou, na verdade, o Lobo da Estepe, como me digo tantas vezes – aquele animal extraviado que não encontra abrigo nem na alegria nem alimento num mundo que lhe é estranho e incompreensível

Herman Hesse

quarta-feira, 30 de março de 2011

AJUDA



Blogue



Crónicas da RUA NOVA

Por motivos de ORDEM técnica, porque estas coisas no DIGITAL também falham e nós estamos sempre a aprender com os ERROS.
PERDI quase na TOTALIDADE os seguintes ARTIGOS:

Ti CELESTE a CURANDEIRA
O Café do SÓDÓ
ANGELINO GATO
O ALVINO dos BURROS e das BESTAS
TI SAPATEIRO

e todas as abordagens finais.
Neste momento já tenho todo o conteúdo do BLOGUE salvaguardado num sistema de protecção para evitar futuras falhas desta NATUREZA.
Claro que não sou pessoa de desistir à primeira contrariedade. Vou refazer tudo TIM-TIM por TIM-TIM.
No entanto tenho esperança que alguém tenha copiado esta mensagem para uma pasta do computador se tal aconteceu, seria fantástico.
Mandem-me por favor para:
pensadorlobo@clix.pt
ou
alvaroramos@esal.edu.pt
Como um CASTELO em RUÍNAS "RECONSTRUO" PEDRA-por-PEDRA, cada palavra, cada  sentido, cada DOR vai reconstruir fazer nascer novamente os muros de palavras perdidas pelo clic ardiloso das circunstâncias. 


Como em um sonho me ponho a olhar a rua que foi minha amiga de brincadeiras, minha arca do tesouro e minha confidente em meus tempos de infância. Não havia amiga mais devotada. Quando saía de casa, descendo correndo, era ela que me vinha receber com seus mistérios, seus ruídos, seus cheiros e sabores inconfundíveis.
Em dias de chuva, os pés descalços corriam cegos pelas lages das casas vizinhas e saltitavam nas poças espirrando água pra todo lado. Ao olhar para o meio da rua, veio-me a lembrança do corre-corre das crianças e da gritaria que fazíamos quando algum automóvel se interpunha em nosso pique-bandeira e tínhamos que recuar dando passagem aquele intruso.
Quando a noite se aproximava, sorrateira, eu me sentava no meio fio, com a mão esquerda sob o queixo e olhava para aquele céu estrelado e sorria. O brilho da lua escondia um rosto que muito me intrigava. Não sabia se era de homem ou de mulher, mais imaginava que devia ser alguém poderoso e sábio para ser dono de tanta beleza.
Não era muito de fazer amigos e minha rua sabia disso, tanto que me enviou um amigo invisível para me fazer companhia. Se perguntarem a ela porque agiu desse modo, com certeza diria que sua amizade por mim não tinha limites. Houve um inverno em que a chuva foi visitar outras ruas e compadecida da seca que lhe abria feridas eu aliviei seus pesares ao lhe jogar baldes de água.
Minha rua não é uma rua qualquer, sem passado nem história. Ela é parte de mim. Se hoje sou feliz e tenho toda uma bagagem de vida, foi porque a minha rua estruturou a minha mente,  e fez-me crer em sentimentos verdadeiros.


Na calada da noite, todos dormem. Caminhava pela rua, sencontro muros danificados pelo tempo, as lojas da minha infância estão mergulhadas no SILÊNCIO abandonadas, perdidas para todo o sempre. Uma vida só RE-VIVIDA na minha mente.

Aproximo-me do lugar, há minha volta sinto a nostalgia de uma época que não
viverei mais, meu coração acelera quando observo a casa dos vizinhos.
Os meus amigos, familiares, desconhecidos, todos se encontraram um dia naquela rua, naquele lugar que um dia eu chamei de lar…mas que perdi na fatalidade da PASSAGEM dos DIAS. Está perdido e com ele todos os gestos que aqui recordo.


<..BRUXINHA >


MORREU o ANGELINO!!

6 de ABRIL de 2011
Agora mesmo recebi a NOTÍCIA-Angelino GATO DEIXOU-NOS, de uma forma NATURAL e depois de perto de 2 décadas de uma doença incapacitante fechou os OLHOS e partiu para a TERRA do ALÉM onde os tempos são de luzes e a PRIMAVERA é uma ETERNIDADE . Lá os SORRISOS florescem naturalmente no olhar de todos os ROSTOS . Não há lugar ao NEGRO nem a palavras ou  desabafos sem SENTIDO. Ao fundo do TÚNEL existe a LUZ. LUGAR democrático sem classes SOCIAIS. TUDO é LEVE não se carregam pesos nem se recordam tristezas. Não há tristeza na terra do ALÉM.
ANGELINO GATO, o meu VIZINHO de SEMPRE deixou-nos num DIA em que o CALOR faz brotar da TERRA as plantas verdejantes. O CAOS FRIO do INVERNO deu agora lugar à LUZ e ao acolhedor canto dos pássaros.
O SOL BRILHA mais e iluminou a passagem para a outra dimensão deste HOMEM BOM.




Aqui ficam as palavras para a FAMÍLIA e aqueles que cá ficaram. Não há TRISTEZA neste MOMENTO, ANGELINO estará feliz se o nosso coração o LEMBRAR. Também aqui fica a PROMESSA do recomeço e da construção do ARTIGO PERDIDO-ANGELINO GATO...o meu VIZINHO já não está entre nós.
RETOMANDO caminhos perdidos.


Angelino Gato foi o meu vizinho de sempre, todas as personagens habitantes da RUA-NOVA eram meus vizinhos e com todas elas tenho HISTÓRIAS para contar. Este foi um VIZINHO especial assim como uma FAMÍLIA especial em toda a minha meninice e de outras formas, continuam a sê-lo até HOJE.A abordagem que faço hoje na plenitude da PRIMAVERA , poderá ser um pouco diferente da no artigo anterior (perdido), a estrutura é a mesma. Os sentimentos que me envolvem são os mesmos assim como as recordações mais profundas ...HOJE  escrevo na ausência desta personagem. Uma ausência  definitiva.
A CASA do ANGELINO era a que mais frequentava nos distantes anos60. TÓLHO do ANGELINO era o meu melhor amigo, era um rapaz calmo, ponderado de um sorriso disfarçado na bondade do olhar. As irmãs eram na altura muito criancinhas, frágeis crianças num mundo cheio de acontecimentos para viver-mos, não tinham possibilidades de entrar na brincadeira com a GAIATAGEM. Nárinha e Bia ficavam perto das SAIAS da MINERVINA.
Recordo ainda a ADEGA do Quincas , uma taberna de balcão largo de Rés-do Chão. A brincadeira começava na casa do lado onde o ANGELINO tinha as mobílias. Este Espaço era de certa forma enigmático já que antes foi a mercearia do Aníbal, esta ligação nunca me saiu da mente e aquelas mobílias sempre as achei ali deslocadas, mas era por essa porta sempre aberta que entravamos a correr para as descobertas na "CAZINHA" do fundo no QUINTAL. Rapidamente e quase sem olhar-mos deixávamos para trás o medo que os espaço do meio nos suscitava; ali eram guardadas as caixas para a última viagem para a eternidade, olhares de CRIANÇAS marcados pelo fatalismo da MORTE, e como ela era vivida e ainda o é no Alentejo profundo.
Mas o nosso OBJECTIVO estava na divisão do fundo, aí o Angelino tinha uma pequena carpintaria e muitos desperdícios dos concertos realizados . Mundo mágico esse de ferramentas feito, construíamos e inventávamos caixas como os grandes, espadas de madeira ou comboios desajeitados.
Mas era o nosso mundo nos dias sem fim, nas manhãs frescas , as quais eram marcadas no Inverno pela ausência das nossas mães que andavam na apanha da azeitona.
O Tólho , não se lembrará da mesma forma que tenho hoje presente, mas, muitas das marotices que fazíamos eram inventadas por mim e ele alinhava, estrelávamos os primeiros ovos roubados no GALINHEIRO com o sabor de uma AUTONOMIA desejada por crianças de oito ou dez anos. 
Fazíamos viagens (FREQUENTES) à (HORTA do MONTE), com a curiosidade de ver o tanque cheio de água e as árvores enormes de  SOMBRAS Frescas.
Acho que morava aí o António da Horta do Monte e a Mãe esta avó do TÓLHO.



A nossa imaginação levava-nos a reunir de QUINTAL em QUINTAL, restos de ferro-Velho com o OBJECTIVO de vender a um ESTRANGEIRO que vivia nos MONTES da Glória. 
Esse percurso foi palmilhado por nós várias vezes e os 10 Tostões que daí advinham serviam-nos para comprar cromos da Bola ou as primeiras pastilhas elásticas, era um homem generoso num TEMPO que o dinheiro era coisa rara.
Angelino e Minervina acompanharam o nosso crescimento envolvido por diabruras e acidentes de percurso, sem interferirem de uma forma extrema.
ZéPaixão-Tólho do Paixão-Grizéu e Angelino-1990

DESSES TEMPOS GERMINA germina hoje o meu reconhecimento a estas pessoas, pois fizemos algumas coisas graves e isso não foi impedimento de crescermos juntos.


A Melhor Maneira de Viajar é Sentir Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos. 
   Álvaro de Campos uma das Personagens de PESSOA, com palavras sentidas no PULSAR do CORAÇÃO deixou bem presente as contradições do VIVER. O TEMPO faz acalmar a o pensamento e o corpo. Os anos passaram e como camadas sobrepostas num viver ao SABOR das ESTAÇÕES. Nós GAIATOS da minha RUA a pouco e pouco fomos ocupando o lugar guardado na hierarquia dos ADULTOS. 

Hoje recordo também , aqui no cimo da PIRÂMIDE muitas outras passagens deste convívio fraterno. As famílias por si só constituíam-se em  territórios independentes e "intimistas".
Apesar dessa "ORGANIZAÇÃO " elas estavam indirectamente destinadas a dependerem umas das outras. E era aqui que a FIGURA do ANGELINO GATO se destacava. Era um PESO-PESADO para todo o serviço, de parcas palavras de semblante calmo e sério ele estava sempre disponível para socorrer quem necessitasse. Recordo-me das noites de 40 graus de febre, meus PAIS socorriam-se do meu vizinho para irem a ESTREMOZ buscar o DOUTOR Assis e SANTOS, estava sempre disponível com a certeza nos seus GESTOS. Acho que serviu de TÁXI para muitos vizinhos da Rua. Também nos anos 80 quando fui estudar para Lisboa recorri a ele quando precisava de apanhar transporte em Estremoz. Parecem situações banais , sem qualquer importância mas, são estes pequenos GESTOS , agora fora de moda que estruturavam a cordialidade e as relações entre os GRUPOS no TEMPO do pouco Dinheiro.
Recordo igualmente as viagens ao CEREJAL com o intuito de irem à água nos DOMINGOS. Mais não sendo que um pretexto para beberem uma garrafa de vinho num convívio de GRUPO mais ou menos uniforme que se estendem por muitos anos-Angelino, Grizéu, Pica FOGO, Capitão e mais um ou outro que se ia infiltrando Domingo a DOMINGO.
Mais RECENTEMENTE nos ANOS 90, quando minha Mãe adoeceu de vez, foi a Família Angelino que apoiou o meu PAI nesta fase difícil das nossas vidas. 
Não esquecerei jamais todos estes acontecimentos os QUAIS deixo -ESCRITOS num rio de palavras sentidas. Que fazer ??!! se sou assim, um encadeado ser cheio de RECORDAÇÕES as quais partilho nesta aventura literária Virtual.
Obrigado à FAMÍLIA ANGELINO e que não esqueçam a NATURALIDADE da PARTIDA. Não partimos de vez...fizemos na terra uma pequena paragem no PERCURSO da EXISTÊNCIA nada terminou, tudo é um RECOMEÇO. Um DIA iremos abraçar o ANGELINO .

PERSONAGENS da MINHA RUA
O CAFÉ do
  SÓDÓ
 PEDIMOS DESCULPA pla INTERRUPÇÃO
O PROGRAMA SEGUE dentro de MOMENTOS

 





Um ARTIGO PERDIDO

UM 
ARTIGO RECUPERADO


Uma HOMENAGEM ao HOMEM à FAMÍLIA e às RECORDAÇÕES que permanecem em TODOS NÓS.

SÓDÓ- Ana Maria e Sra. Joaninha

Estas memórias não são muito antigas. Têm, quanto muito, cerca de trinta/quarenta anos que na mancha do tempo é um grão de trigo numa imensa seara.

Pretende-se com a sua divulgação, registar sumariamente, alguns factos curiosos que ajudem as diferentes gerações a entender melhor a vida colectiva do ZARCOS num PERIODO de tempo que anda por volta dos anos 50, 60 e 70.
Porque a História de uma localidade não é propriedade exclusiva de POLÍTICOS ou ADMINISTRATIVOS, mas sim - também - da vivência das pessoas, no seu quotidiano de comportamentos, a que se poderá chamar, talvez,  “arqueologia social”.
 Os CAFÉS começaram a aparecer nos anos cinquenta nas localidades e foi uma evolução em relação às tabernas, estas sim locais um pouco mais “OBSCUROS” onde se vendia vinho, tabaco e muitas delas vendiam também petróleo e carvão.
Estes novos locais apareceram com a inovação de alargar a clientela às gerações mais novas e ofereciam uma série de produtos que não existiam nas tabernas, BOLOS, GAROTOS, CAFÉ e cerveja. O VINHO não era uma escolha frequente num CAFÉ.


Este CAFÉ a que o tempo denominou: – CAFÉ do SÓDÓ. Era um desses locais magníficos que vieram revolucionar a vida em comunidade da nossa localidade.
A Época de ouro destes locais de culto trouxe também consigo uma ALIADA de PESO. O aparecimento da TELEVISÃO por volta de 1957.
Não sou a pessoa certa para referir todos os dados históricos que estruturaram este local, poderei mais uma vez referir-me sobre coisas que vivi ou fui ouvinte. Era um ESPAÇO muito MODERNO e com uma dimensão muito superior às tabernas que o POVO estava habituado. Se hoje, as paredes da CARPINTARIA do Torres pudessem falar, contariam histórias sem fim, de pessoas e factos…de risos, odores e SONHOS. O CAFÉ do SÓDÓ era um lugar de SONHO sem qualquer tipo de PESADELO à mistura. Havia dias e momentos especiais. Sábados à noite e DOMINGOS à tarde, assim como as quintas-feiras das touradas.

Januário Banha-Carapau-?-Marido da Cremilde irmão do Blé-Varandinhas-SóDÓ e BILHO irmão do sapateiro
Mas recordar este local é paralelamente escrever sobre a história da TELEVISÃO. O SÓDÓ ou Sr. MATOS, Penso que MATOS vinha da DONA JOANINHA, mas ouvi o meu PAI chamar por esse nome. Era este HOMEM a ALMA daquele espaço. Nem crianças nem adultos tinham a vida muito facilitada no relacionamento com este nosso conterrâneo. Não era de trato fácil, tinha DIAS…como a voz do POVO dizia. Apetece-me hoje sorrir sobre a imagem que construo na minha mente trazida do fundo dos tempos. O SÓDÓ era tão especial e diferente de todos os outros comerciantes do ramo, essa diferença era clara na ATITUDE perante a casa a rebentar pelas costuras, O QUE ACONTECIA MUITAS VEZES. O NERVOSISMO era uma constante quando via a casa cheia, as pessoas continuavam a entrar mesmo sem o bendito lugar nas mesas de 4 cadeiras. O Ecrã mágico e a inovadora forma de convívio que mais não era que a evolução cultural trazida pela TELEVISÃO.
Nós crianças era-mos normalmente corridos nos dias de maior azáfama, os dias ou noites que o SÓDÓ coçava cabeça. Já sabíamos que nesses momentos tínhamos que estar alerta, escondíamo-nos debaixo das mesas da frente quando conseguíamos cumplicidade dos adultos que lá estavam sentados.
Aos sábados à noite, aos domingos à tarde era a romaria generalizada de famílias e vizinhanças para assistirem aos programas recreativos, a troco de “uma despesa” em bicas e bolos. A “gentalha miúda” aparecia em tão grande número, o proprietário fazia a sua selecção, deixando permanecer no local apenas aqueles que mostravam as respectivas moedas para adquirirem um refrigerante, amendoins ou os tradicionais “cinco tostões” de rebuçados.
Os outros, eram “postos na rua”, ficando à porta, de semblante triste ou revoltado, olhando com inveja os eleitos da sorte.
Festivais da Canção, transmissões de Fátima, discursos políticos importantes, filmes da noite de cinema, e, sobretudo, jogos de futebol em directo, enchiam esses locais “pelas costuras”. Ainda hoje muitos se recordam das pequenas multidões que se juntavam à porta do “CAFÉ do SÓDÓ”. Sem lugar no seu interior, as pessoas iam-se amontoando da entrada até ao meio da rua, espreitando em bicos de pés, para o canto onde o receptor estava instalado.
A TELEVISÃO 

A “FAUNA” era variada e num sussurro geral se passavam noites fantásticas de conversas, jogos de cartas (haviam umas horas determinadas para este jogo). O Mestre Jacinto tinha um lugar cativo no café até ao fim da sua vida. Outro dos factos engraçados que tenho obrigatoriamente que referir refere-se ao PÉPEZINHO. Este senhor soletrava em voz alta as legendas dos filmes, era a rizada geral depois do silêncio atento dos presentes. Alguém perdia as estribeiras e mandava o HOMEM, ele não muito contente ripostava e tudo voltava ao silêncio exigido. Mas tudo repetia da mesma forma daí a momentos. O PÉPEZINHO era um espectáculo dentro deste espaço quente de calor humano. Nós crianças tínhamos um sonho que era ser chamado para SERVIR à MESA no CAFÉ do Sódó. Poucos se gabaram de tal emprego. Relembro o filho do MILEU e depois o CHICO da LEBRE. Evoco também aqui a personalidade elegante e simpática que foi o SR. Matos de camisa branca, penso que era o PAI da Dona Joaninha. Recordo pela positiva os bolos fintos da montra do balcão, os “papsecos com batatas fritas” servidos nos domingos à tarde e que ia-mos comprar à cozinha. Recordo o espaço interior (PRIVADO) onde os grupos se reuniam em petiscos e no VERÃO a esplanada elevada virada para casa do Povo onde os rapazes bebiam a imperial, esta bebida mais uma das inovações nos Cafés da Aldeia.
Sr. Matos-Chico da LEBRE-cabaço- Massano?-Barroso-Lola-Pinto-Quim do António V´CENTE?-Zé António irmão do Quim das JEJETÊRAS filhos do João do Cató-Helder e Quináia.
Anos 60
Recordo a beleza da Ana Maria, sua filha e por quem ele tinha uma PAIXÃO desmedida como Pai, mas, recordo principalmente um homem especial, com a mente cheia de ideias e necessidades de concretização dos projectos desenhados em cada momento. Esta era a falta de Paz que se reflectia em todos os seus gestos. A Paixão que tinha pelos CUCIOLOS, os motores e as engrenagens das bicicletas eram o escape para sobreviver a uma vida cheia de DÚVIDAS, muito típica dos inventores e engenhocas.
O Sódó era um desses seres que impulsionam a sociedade. Os seus horizontes ficaram delimitados por vivências de um mundo que estava a desabrochar, o seu espírito vivia numa dimensão mais elevada. Por esses motivos a sua insatisfação permanente.
OBRIGADO Sr. MATOS ou Sr. Cabacinho. Melhor assim…obrigado Sr. Sódó pelas riquezas e memórias que preencheram e ainda preenchem o imaginário de todos os seres humanos da minha geração.








No CAFÉ do SÓDÓ o LUGAR da CULTURA... e do SONHO.
PARA não ESQUECERMOS.



Quarta-feira, 3 de Novembro de 2010


Crónicas da RUA NOVA

 RUA NOVA

29/03/2011
MESTRE JOÃO nasceu HÁ 90 anos

1921/2011
Mestre JOÃO
O GRIZÉU
O João ALGRAVIO
O POETA
Como RETALHOS, pedaços de VIDA perdida na imensidão do TEMPO-tento desta FORMA simples;tão, SIMPLES como o HOMENAGEADO. 
Uma imensidão de nomes me habituei a ouvir chamar sobre este homem que de uma forma natural e imperceptível vi crescer, amadurecer e chegar aos 90 anos como uma METAMORFOSE KAFKIANA. 
Os dias, as datas especiais do ANO sucedem-se com um RITMO ditado pelos GESTOS que todos fazemos no- Diariamente. Num levantar constante de hábitos por vezes enfadonhos...lavar, comer, IR e deitar outra vez. Seres ESTRANHOS, VIVÊNCIAS "PARIDAS" duma macabra e e apetitosa FELICIDADE de vir a este MUNDO tão especial como especiais nós somos TODOS.




O Poeta foi uma das "PERSONAGENS HABITANTES" do meu MUNDO.
Como a natureza é PERFEITA nas suas MENSAGENS. Não me lembro do POETA NOVO... os próximos  não nos transmitem sensações de idade. Mas, recordo todos os acontecimentos marcantes da VIDA deste HOMEM simples e Justo. Tão "justo" era que "caía ", por vezes,  no pior dos Vícios: o de AGRADAR a “GREGOS e a TROIANOS". Recordo que prometia ir no próximo  DOMINGO trabalhar para dois ou 3 locais . Invariavelmente, um ou 2 dos que o esperavam ficavam de MÃOS a abanar.


 
É mesmo o único pecado que recordo deste HOMEM trabalhador de DOMINGOS e dias SANTOS, como se dizia no ALENTEJO nos TEMPOS do TRABALHO. Lembro, também, quando Mestre João passava ao fim do dia na sua MOTA JOANINHA pelo largo da ALDEIA. Era Sábado ...ou DOMINGO-ERAM os TEMPOS a seguir à REVOLUÇÃO, tempos de aspirações BURGUESAS. Todos, afinal, queriam ser iguais aos que antes eram apelidados de RICOS, mesmo que os princípios mais puros da REVOLUÇÃO tivessem como bandeira a luta contra esses estilos de vida. 
Mestre JOÃO passava e era apelidado de "BUFO", de FASCISTA ou de escravo ...que contradição. Porque trabalhava SEMPRE!...DOMINGOS e dias Santos. Eu estava PRESENTE, muitas das VEZES ouvi esses LAMENTOS a meia voz. Os ARES da REVOLUÇÃO trouxeram a NOVA...TRABALHAR é algo desprestigiante, naqueles TEMPOS assim como HOJE é perigoso ser TRABALHADOR de verdade.
Mas, o POETA  GRIZÉU lá ia indo, lá vai INDO, sempre igual a si Próprio.
As imagens que retenho e que agora me povoam o imaginário para completar este artigo e especialmente para colorir um TEMPO importante da vida de um TRABALHADOR e FELIZ ALENTEJANO, são todas elas imagens de boa DISPOSIÇÃO. Foi SEMPRE um HOMEM com um espírito POSITIVO. Espírito esse que nunca o traiu. Naturalmente, como toda a GENTE tinha SONHOS e talvez também MEDOS. Mas nunca foi Ambicioso em demasia tal como nunca foi VAIDOSO, pecado este que nos faz ser o que não SOMOS. Por ser como É!! ainda hoje o MESTRE VIVE um pouco nervoso porém, respingão. Apagaram-se-lhe das MEMÓRIAS os ROSTOS e os ACONTECIMENTOS. Eu RECORDO por ele todos os TEMPOS de ANIMAÇÃO em que participou. No TEATRO, nos RANCHOS, na BANDA ORQUESTRA ARCOENSE: TOCADOR de VIOLA e CONCERTINA MEDÍOCRE, mas com uma entrega de coração de estar PRESENTE, VIVER e PARTILHAR numa CULTURA Social "SÃ". Ele esteve sempre em TODAS e HOJE é um dos ÚLTIMOS rapazes dos anos 30 e 40 que VIVE sobre a TERRA.
Nunca foi de muitas palavras ou assuntos. GOSTOU sempre da PINGA e dos petiscos das TABERNAS que, como JARDINS, decoravam os 4 cantos dos ARCOS.
Este é o MEU PAI! Um ser estranho aos meus OLHOS. Um HOMEM que eu não quis imitar mas que teve uma influência extraordinário na estrutura de MIM-HOJE como PESSOA e PROFISSIONAL.
Dele HERDEI a certeza de que se há ALGUMA coisa SAGRADA neste MUNDO, essa coisa é o TRABALHO. 
Hoje pratico essa VERDADE. BUFO ou não é algo que não me preocupa ser. Jamais faltar uma hora que seja no meu LOCAL de trabalho. Espero manter o meu RECORD, que também é o do POETA meu PAI. Nunca estar verdadeiramente DOENTE para não poder FALTAR ao TRABALHO.
OBRIGADO, PAI, por tudo e que continue, sei que NÃO por muito TEMPO, a beber o COPITO de VINHO TINTO todos os DIAS.





OBRIGADO ao HOMEM da MOTA-JOANINHA. Ao Homem e à PESSOA de JOÃO ALGRAVIO. João GRIZÉU. O POETA e MESTRE na VIDA.
TODOS IGUAIS!
HOJE também tive a FELICIDADE de perceber olhando para o LADO nas pessoas aderentes ao MEU BLOGUE que a LUZIA CANDEIAS também "ABRAÇOU" este mundo da INTERNET, não é de admirar- ESTA PESSOA que conheço há muitos anos, apesar de poucas vezes falarmos e também o seu talento da ESCRITA o qual engrandece com as narrativas que faz com os "TRAPOS" e a máquina de costura. 
"HOMENAGEM ao meu avô VENTURA" 
dimensões-48x79 cm
animação formal em tecido e com tecido
Esta é uma obra que me foi oferecida no longínquo ano de 1986 pela LUZIA, foi um mau negócio para ela , ofereceu-me este trabalho cheio de criatividade em troca de uma simples moldura de madeira com um vidro. Vejam bem a simplicidade e o talento desta MULHER.
Uma ARTISTA COMPLETA LUZIA, muito feliz pelo RE-ENCONTRO. AGRADEÇO o contacto pois vou precisar da sua sensibilidade para juntar a este pequeno MUNDO que construí... muitas das suas recordações e também da sua obra.
FICO à  espera "Querida conterrânea" de me contactar para um dos seguintes endereços electrónicos.
pensadorlobo@clix.pt
pensadorlobo@gmail.com


Serve esta IMAGEM para RESCREVER uma preocupação que me tem ACOMPANHADO desde o momento que "CONSTRUÍ" este Blogue na Net. Tudo tem crescido como uma BOLA de NEVE, tive algumas colaborações que foram importantíssimas no desenrolar da "NOVELA". Muito contra a minha PERSONALIDADE, ACTUANTE mas recatada, dirigi-me a PESSOAS a pedir a colaboração. Na sua generalidade, são pessoas que faziam desde sempre parte do meu MUNDO de AFECTOS. Solicitei outras que nunca estiveram próximas de MIM. Quero dizer com isto que não faço diferenciações neste pequeno MUNDO de fragmentos que estou a "COSTURAR". Respeito que outras e foram poucas se recusem a PARTICIPAR, estão no seu DIREITO. Sei também que não é fácil perceber este novo MUNDO das novas TECNOLOGIAS para gerações como a MINHA e as anteriores. AÍ terão que ser os netos a darem uma AJUDA aos FAMILIARES para poderem com uma lágrima nos olhos recordar pedaços também das suas VIDAS.
"TODOS IGUAIS" é o LEMA, e se me ESQUECI de nomes ou FAMÍLIAS é mesmo porque não me RECORDO, POR ESSE MOTIVO TAMBÉM, venho desde o Princípio a pedir a colaboração de TODOS os que com sensibilidade e GRATIDÃO queiram deixar registado no TEMPO a passagem de PESSOAS que lhe são queridas e já não estão entre nós.
É tudo feito com EMOÇÃO, Respeito e IGUALDADE. E de BORLA..poucas coisas já se fazem de BORLA neste MUNDO CONFUSO que estamos a VIVER.
A última coisa que quero  é ser VISTO como um CHATO e incomodar quem quer que seja.
DESCULPEM lá mais esta coisinha.
TODOS IGUAIS, Todas as Mãos são IGUAIS-marcadas pelo TRABALHO, pelo Sonho ou pelos AZARES da VIDA.
As Mãos do PAULO marcadas por tempos de repetição, as DO Cabaço que cortam com HABILIDADE as RASPAS do PRESUNTO, as RUGAS AMARGAS do meu AMIGO CANDEIAS-o ABRAÇO do BARRADAS/NARCISO, a FORÇA da juventude do MÚSICO TOMÁS, a atitude lutadora da GUIDA...o TALENTO e SABER do CINEASTA JÚLIO ESPADANAL e eu PROFESSOR, ARTISTA e CAVADOR, feliz. TODOS somos iguais na VIDA e no Final. Só nos RESTA a HUMILDADE da COMUNHÃO  a necessidade de SOBREVIVÊNCIA. A continuação do SONHO.
Mas também o AZEITEEEE, tem longas Histórias para CONTAR. Ontem dia 27 de MARÇO tive o PRAZER de ABRAÇAR e partilhar uns momentos com esta figura HISTÓRICA "duZARCOS". MAIS tarde deixarei aqui o filme do MOMENTO. Hoje ficam as imagens fixas de tão NOBRE CRIATURA e SIMPLES como os verdadeiros homens devem ser.
26/03/2011






Lição FINAL



E o HOMEM-MORTO abriu a MALA da VIDA, dourada, brilhantemente enganadora...E nada restava lá dentro da AMBIÇÃO e da VAIDADE, das VIAGENS e do DINHEIRO amealhado. Nada restava do OURO e  das pedras preciosas roubadas às entranhas da Mãe NATUREZA...nada de nada RESTAVA!
-A MALA estava VAZIA e a sua ALMA errante sentia-se agora confusa e ainda mais SÓ pela ETERNIDADE começada.



...EM COMUM, temos uma HISTÓRIA . As Mãos, as saudades e os ROSTOS cheios de MARCAS de um TEMPO VIVIDO....em COMUM.

 OBRIGADO!
...e nas MÃOS desta rapaziada está o FUTURO, hoje PRESENTE.
Júlio-Luís Armário-neto do Angelino e filho do Tozé
Olinda cima (talvez 1990)

Gaiatos doZARCOS-1976

No campo do Sport Lisboa e Évora, penso que um jogo contra o Rosário.
Cima-Bóni Cornél, Férra, Tito, Espiguinha?, Victor Cebola, Vieira, Zé Boleia e Ricardo Saias.
Baixo- Rui da Gizélia, Victor do Pisca, Paulo Banha, Frasco pequeno, QUIMINO, Ernesto, Baulo Mélguinhas e Quim da Alzira.
( BELA SURPRESA!)

1940 e poucos 
Local, CAMPO de FUTEBOL da HERDADINHA
zona da casa do Povo ou mais nas traseiras desta.

Identifico em CIMA- O ROMÃO (5º a contar da esq.), SÓDÓ (6º)-O MEU TIO VENTURA (7º)-O Alfredo carpinteiro (penúltimo) e o MEU  TIO SAPATÊRO (último).
Em Baixo reconheço o BORREGA BRANCA (1º)- O meu PAI (4º)-João Pé-coxinho (8º)
Uma das primeiras EQUIPAS de FUTEBOL doZARCOS
De BORLA e com o CORAÇÃO!

A CATARINA RAMOS é da TERRA barrenta de vermelho vestida, de sangue pintado de muitas gerações, "SER" nascido da    MISTURA de SANGUE ALENTEJANO-ÍNDIO Brasileiro com odor a AMAZÓNIA...impregnada de "SABEDORIAS" ancestrais. Nas palavras lavra o TEMPO presente e o FUTURO  (AQUI) ali tão perto.
por esse MOTIVO também ela pertence a esta terra.


A carta…

Querido... destino
Assegura-me aqui e agora
Que nunca me arrependerei, um dia que seja
Que nunca quererei regressar, a este momento
Que esta chama que flameja
Neste coração, sem que a veja
É o mais puro sentimento…

Promete-me que ao escrever estas linhas
Neste papel gasto… Numa só tentativa…
Conseguirei dizer tudo, por palavras minhas…
Conseguirei contar a história da minha vida...

Prova-me que estou certa
Prova-me que serei capaz de o fazer
E se acreditar…
Escrever-te-ei!
Se não acreditar…
Esquecerei…
E esta carta aberta
Será um enigma por entender…

Hoje foi o dia em que decidi
O dia em que fiz uma promessa
Sentei-me à mesa e escrevi
Sem medo, sem preconceito, sem pressa…

E assim… tal e qual como começou…
… terminou, de repente…
A carta… esta missiva sem selo
O poema mais belo que algum dia tive à minha frente…
E eu? Eu pude escrevê-lo…


(Catarina Ramos)


 







BOA GENTE!

(Frase Célebre da autoria de José Joaquim bravo, o Zé do Rato filho mais novo do RATO da loja
esta frase ainda permanece (escrita há  35 anos) na mesa de trabalho do meu Ti Sapatêro, eu estava lá, vi gravar na madeira com uma esferográfica BIC tão importante desabafo )

Eu, 1966- 9 anos de idade
Local-Herdadinha cultivada de milho, no local onde hoje se situa a casa do meu Tio Réla  

Um TEMPO que parecia não ter FIM..os dias tinham 48 horas e o ano 24 meses.

BOA GENTE!



"A MINHA ALDEIA"

 

A minha aldeia é igual a outras tantas;
Chove e faz frio e faz calor…Cheira a terra,
Sonha-se livremente sem guerra…
Ah, terra minha…Tanto que me encanta.

A minha aldeia guarda na memória,
Os tempos das misérias passadas;
Nas rugas deste povo, imenso nadas
Porque dos nadas não se faz história.

Na minha aldeia, ouve-se os passarinhos a chilrear;
Logo de pela manhã, vê-se o sol nascer,
Rompendo devagarinho ao amanhecer
A minha aldeia!... Que bom é lá estar.

É da serra, que é inspiração do meu canto
Olhos alcançaram largos horizontes,
Percorrendo mundos mil de espanto.

Sal de mágoa e suor rompeu nas fontes;
Povo que trabalha selvagens montes,
Amamos nossa terra, tanto!... Tanto!...
Eugénia Cruz 30/6/2009

Eu-Pai e Barroso
Na Adega do Tólho
1987

O TEMPO e o Silêncio


A VERDADEIRA RIQUEZA de uma CULTURA
é o seu PATRIMÓNIO HUMANO.

Maria do Céu Barata Banha
..numa aula fins dos ANOS 80 (1989 ou 1990)
ESTAS crianças são hoje ADULTOS.
As Vivências, Emoções e a Dignidade de um POVO.

Tudo o resto são acessórios que deixam de fazer sentido com o passar dos dias, dos meses e anos. A mente caminha para a pureza-o CORPO deseja descanso, encontra-o no deserto da simplicidade.
Este é o tesouro que guardo na minha essência.


Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida.
Quando vejo retratos, quando sinto cheiros,
quando escuto uma voz, quando me lembro do passado,
eu sinto saudades...(CL)


No TEMPO dos ESCUDOS


RUA  NOVA


Crónicas da Rua NOVA pretende revisitar e transportar para a ACTUALIDADE, momentos, pessoas e pequenas HISTÓRIAS daquela que foi em tempos a RUA mais dinâmica do ZARCOS.
Homenageio particularmente duas personagens que me ficaram na retina e também no coração. Uma dessas personagens pela sua disponibilidade, correcção e entrega desinteressada  às pessoas que o solicitavam, refiro-me concretamente Sr. Angelino.


Pásco
Num prédio nobre
O CHORO e a ARTE


( Blogue-POESIAS e REFLEXÕES)

Onde a vida era a incógnita ao redor

Um momento de abertura

Nas cores da antiguidade

Que se tornava o presente na memória

Num quadro artístico da infância

Jogado nas tintas negras da história

Vi laços de minha origem

Angústia e lembrança

Se misturaram na concretude lágrima.

O percurso além da vontade

ahhh ...história?

Era apenas a repressora dos sonhos.

Agora,

Cores antigas e novas

Conversaram com minha história

Dialogaram com os sonhos.

A visão do antigo e novo

Era meu real perdido

A expressão de um antigo e novo ser

O encontro dúbio de meu resgate

Contrastes da vida

Que libertaram minha face

Numa identidade revelada

Quando vi em choro

a arte na lágrima das cores.

( Blogue-POESIAS e REFLEXÕES)

Os GRIZÉUS


Grizéu e Grizéua na casa da Vila Gomes em Lisboa 
(Praça do CHILE)
1987
Tenho vindo a ESBOÇAR, há algum tempo, a abordagem que queria fazer a esta Família , a do nrº 55 da RUA NOVA. Iniciar ou arrancar com este tipo de projecto, do BLOGUE, local de REGISTO de uma vasta população do ZARCOS obedece a uma determinada metodologia, preciso de fotos, textos e de muita reflexão. Seria tudo mais fácil se tivesse a colaboração de uma vasta franja de pessoas que terão com toda a certeza muito para dizer e também estarão na posse de REGISTOS fotográficos que me dariam uma boa AJUDA.
Qual a RAZÃO que me levou a entrar num PROJECTO tão significativo?!
-Não Sei!
Porque continuo a "Espenicar" na HISTÓRIA?!
-Também não SEI!
A única coisa de que tenho alguma noção é que o assunto é importante de certa FORMA...tão IMPORTANTE QUÃO todas as pessoas que fazem parte deste REGISTO de Memórias.
Tudo tem um FIM, nada é importante, e, tudo é IMPORTANTE na BREVIDADE da Vida.
Como se "constroem" umas décimas?
Como se alimentavam noites de versos à desgarrada na ADEGA do Tólho ou noutros LOCAIS?!

Era preciso sempre  um MOTE!
É desse PORMENOR que estou a FALAR quando peço a AJUDA de TODOS. Todos são aqui IMPORTANTES (OS que Quiserem).
Chegou o Momento de FALAR, escrevendo na FAMÍLIA do Mestre João ALGRAVIO.
Como Mote-QUESTIONO:
-O que é a VIDA?!

"A vida é o oceano
A tristeza e a felicidade são os ventos
Os pensamentos são as pontas das montanhas, que se
erguem como ilhas
A vida de uma pessoa é o seu veleiro.
Uma pessoa em harmonia
É aquela que sabe usar os ventos
como força para se impulsionar,
usar as ilhas para o seu descanso na sua jornada,
apreciar o balanço das ondas, como elas devem ser,
E ao final da jornada,
abrir um sorriso e dizer: a viagem valeu!
Uma pessoa em desarmonia
É aquela que sempre transforma os ventos numa tempestade,
Que ignora as ilhas, e as vêem como
obstáculos as suas jornadas,
Que acha que as ondas só podem estar no topo,
Que no fim da jornada apenas conta quantas vezes as ondas
desceram e quantas vezes o barco virou. "
Chao Lung Wen




Será muito Fácil abordar este novo Artigo, falar sobre esta GENTE que tive oportunidade de conhecer bem, das VIRTUDES, DEFEITOS e instinto de SOBREVIVÊNCIA. Lembro-me deles desde muito pequenito, tive a sorte de poder conviver de perto com estas 3 personagens. Uma longa VIDA cheia de ACONTECIMENTOS e conhecimento. Esta SENHORA vinha de outro MUNDO, um imaginário e uma CULTURA de VIDA invulgares para a época e para o "PORTO" onde atracou o seu BARCO. A MARIA Luísa Espadanal RAMOS nasceu numa família de AGRICULTORES na Frandina-Estremoz, família  abastada e com grandes conhecimentos, a FAMÍLIA ESPADANAL foi entre os anos 30 aos anos 80 uma referência na região de ESTREMOZ no mundo dos negócios ligados aos trabalhos do CAMPO. Eram 5 irmãos e perderam a Mãe muito novos, Maria Luísa tinha onze anos. Foram separados e cresceram sob a protecção de Tios. Estruturaram o INSTINTO de SOBREVIVÊNCIA numa vida de trabalho, de convívio com muita gente de muito lado e de variadas formações. Esta foi a MULHER que chegou ao ZARCOS no início dos anos 50. Casou com o filho do Algarvio, um pedreiro de S.Braz de Alportel que veio procurar SOBREVIVER num ALENTEJO pobre e cheio de obscurantismo. 
Uma FAMÍLIA de 9 pessoas numa pobreza extrema como muitas existentes na TERRA, foi o MADEIRINHO que calou muitas vezes a voz da FOME nos estômagos da Família ALGARVIO-Gatêro.


Maria Luísa, João Ramos e Diana
1973


Este casamento com todas as suas diferenças perdurou pelos tempos, deu origem à FAMÍLIA Grizéu, não sei nem de perto nem de longe de onde veio tal apelido, nunca perguntei. Os nomes entranham-se  no nosso imaginário sem darmos por tal, habitua-mo-nos a eles sem qualquer tipo de CONOTAÇÃO negativa. E como o ALENTEJANO é imaginativo para essa coisa dos NOMES. 

PORQUE SIM!
Fazer da CAL o B.I. Comer o primeiro U de AUGUSTO. Às Marias chamar Bias. Petiscar ao FIM do Dia. Acreditar em Deus e no Partido Comunista. São coisas de Alentejanos.
Explicar Deus como "alguém que manda nisto tudo". Casar pela Igreja. Baptizar os filhos. Ser indiferente à missa. Não faltar à procissão. Desprezar a CONFISSÃO. Cantar ao menino pelos REIS. Chamar Magana à MORTE. Dizer dos familiares que lhe MORRERAM:"o meu PAI que Deus TEM". Tirar o chapéu diante do cemitério. Crer em VIRTUOSOS (BRUXOS). Temer as TROVOADAS como os Gauleses do Astérix. Benzer o Pão antes de entrar no FORNO. Não derramar AZEITE. São coisas de Alentejanos.
Estar apaixonado quando está triste.
"Andar atrás de"quando está apaixonado.
Chamar BODA ao CASAMENTO e ao copo-de-água função. Anteceder o nome dos filhos do pronome possessivo meu ou minha: o meu João ou a minha Maria.. Da mulher dizer apenas"a MINHA", ignorando-lhe o nome.
Não ter tranbelho para os trabalhos domésticos. Enforcar-se quando se vê VIÚVO. São coisas de Alentejanos.
Ver cair a GEADA, chamar charoco ao FRIO e busaranho ao vento GELADO. dizer que está aspereza quando há TEMPORAL. Ao sol chamar "o ASTRO", como se fosse o único no céu. Ao CALOR chamar CALMA. Viver com o SUÃO. Chamar às PLANURAS DESCAMPADOS.
Cerros aos OUTEIROS. À FLORESTA arvoredo.
Olhar o Horizonte e SABER ter VAGAR. Dizer:-ESTOU à ESPERA de me ir EMBORA. Declarar com solenidade: DEVAGAR que tenho PRESSA. A Lisboa chamar ALDEIA GRANDE. Ter PARENTES na BRANDOA. São Coisas de ALENTEJANOS.
Estar de RODA do LUME. Sentar no Chão para conversar.Parar no largo ao olhinho do SOL. Ter sempre a navalhinha petisqueira no bolso das calças. Condutar o Pão, o VINHO e a Vida. Beber só com COMPANHIA. cantar quando os outros também cantam. À seca chamar desgraça.
SÃO COISAS de ALENTEJANOS.
PORQUE SIM!!!(P.F.)
João António Tempero Raminhos, este o outro nome que completa o casal. Sem me querer tornar exaustivo nos pormenores, na descrição das vivências descritas vezes sem conta noutros artigos deste espaço de comunicação. Quero tocar no entanto mais uma vez no PONTO SENSÍVEL da "INUTILIDADE"
SEM SE PENSAR DEMASIADO a sério na vida.Quando no artigo anterior escrevi a FRASE : ACABOU o TEMPO, a mensagem que queria passar era a da cruel realidade, do nosso tempo estar no FIM. Como as camadas de solo sobreposto que se acamam duramente entre si com a passagem dos séculos, assim é a dura REALIDADE das Famílias e GERAÇÕES.
A NATUREZA é perfeita e EQUILIBRADA, a mensagem que subtilmente nos transmite  é de RENOVAÇÃO-SUBSTITUIÇÃO. Jamais estaremos preparados para aceitar esse facto, resta-nos agradecer por termos vindo, ainda que por um "bafo" de tempo ao MUNDO. 
Mas nunca nos habituaremos por completo à PERDA. À perda de um TEMPO maravilhoso de coesão FAMILIAR, o espaço até nos fazermos homens ou mulheres. Essa FAMÍLIA era vasta, composta por toda a GENTE que habitou o ZARCOS neste PERÍODO-o PERÍODO do nosso TEMPO.
Vivo num Mundo Físico distante dessa realidade, de certa forma ajuda-me a ser aparentemente frio nas descrições que faço. Esta FAMÍLIA já não existe, só nas ténues recordações  que teimosamente me recuso a abandonar.
É uma PELE que nunca conseguimos despir, foi a nossa verdadeira FAMÍLIA, depois partimos e criamos o nosso mundo "PEQUENINO" que mais não é que um CLONE daquela onde nascemos.
   

Hoje que tenho tudo,
só PERDI o PASSADO.

Lembro-me com SAUDADE de 2 objectos que faziam parte do ESPAÇO FÍSICO da família GRIZÉU. Um fogão a petróleo e um RÁDIO "MEDIATOR". Estes dois objectos separados pelo tempo e por uma fronteira que separa o claro do escuro. Acompanharam o meu crescimento e ajudam-me a visionar em claras imagens os tempos felizes quando este "clã" escreveu as primeiras páginas do livro da sua vida.
O TEMPO antes da chegada da electricidade e o depois quando os fios cremes se instalaram harmoniosamente nas paredes de cal branca.
A minha casa também, e das 3 pessoas que descrevo neste artigo, casas com um quintal pequenino mas precioso um POÇO e uma barraca de arrumação onde estava pendurada uma bicicleta podre como símbolo de uma evolução já vivida e esquecida.



A Habitação com o nrº55 mantém ainda hoje a sua imagem original, mantém-se como um símbolo de um TEMPO há muito desaparecido. Nas traseiras continua a pedra enorme de xisto onde a GRIZÉUA lavava a loiça, o poço persiste.
As mármores polidas das portarias trazem-me o eco de uma vida rica de acontecimentos passados, a casa de entrada grande com uma janela ao cantinho, o candeeiro a petróleo também sobre um suporte perto da chaminé. Iluminação débil dos primeiros tempos da primária, no INVERNO a cama chegava cedo não havendo muito espaço para conversas mil vezes repetidas. O lume iluminava o ambiente com sombras vivas nas paredes em SIMETRIA, o candeeiro descansava por necessidade de poupança.
A Joaninha vermelha era já nessa altura um símbolo de progresso e também de estatuto do João Grizéu, o cheiro a GASOLINA pairava no AR misturado com outros cheiros meus familiares. O dos fritos em tacho de azeite, o da salgadeira do quarto do quintal.
Em Outubro a casa de fora enchia-se de FORASTEIROS, era um tempo rico com o chão ao fim do dia coberto de peças de caça. Troféus exibidos orgulhosamente pelos visitantes vindos do lado de ALMADA e CACILHAS. Vivem ainda em MIM os nomes de ORLANDO, MÁRIO e Augusto ANTÓNIO Dias da casa das Sementes.




caçadores
 

Estes são símbolos que expressam a riqueza desta gente de se abrirem a novas gentes e a novos conhecimentos. A cultura de bem receber do ALENTEJANO.




Fui um privilegiado de ter passado a par deles estes momentos de comunhão plena de acontecimentos, contavam-se histórias, serviam-se deliciosos manjares e vinham prendas daqueles lados do MAR.
A casa cheirava desta vez a sangue misturado com o odor adocicado do tabaco caro. Entre risos, gritos e palavras embriagadas contavam-se as façanhas do dia. O FIM de semana terminava num adeus da partida e do até pró ano. Os carros arrancavam decorados por uma cobertura de pelos e penas pendurados. A bandeira de um TEMPO de fartura nos campos do Alentejo, o tempo do respeito pela caça, os campos estavam cultivados, as cearas davam muita fartura às criações. A ALEGRIA do 1rº de Outubro persiste hoje nas recordações dos mais velhos, uma recordação distante e cinzenta. 
O tempo DO FOGÃO A PETRÓLEO é marcante nas minhas recordações, era o tal tempo das noites escuras , onde as ESTAÇÕES do ano estavam bem demarcadas por espaços curtos de ligação, a vida na casa 55 seria muito parecida com a de todas as outras casas da RUA. Nós éramos verdadeiramente FELIZES, toda a gente era FELIZ. Lia-se essa felicidade nos ROSTOS de todas as gerações que conviviam e pisavam as pedras da rua enlameada de Inverno e com nuvens de pó nos dias de vento. Antes dos postes com fios estendidos chegarem e decorarem os telhados das casas os dias passavam-se entre a organização possível da gaiatagem a ir para a ESCOLA, sempre à mesma hora 8.40 o Barroso aparecia à porta a chamar o AMIGO(Ávo). 


MÃO no AR!!!
-QUERO PÃO...


Ao meio dia e meio e com uma formatura ordeira as classes da ESCOLA dirigiam-se  para o almoço na cantina da DONA FLORINDA ao canto do cormeal, as sopas de feijão e Grão, deliciosas e o amargo óleo de fígado de bacalhau.
Esta foi uma MULHER querida pela MIUDAGEM, não só pelo que nos servia mas pelo carinho que nos dispensava. Por esse motivo abro um ESPAÇO para ela no seio da FAMÍLIA GRIZÉU. A DONA FLORINDA, foi contratada pela Dona VITÓRIA e Dona Ângela para abrir um REFEITÓRIO para dar de comer à GAIATAGEM, penso que foi mais uma das inovações dos TEMPOS do ESTADO-Novo. Naquela casa de duas divisões ao canto do CORMIAL onde hoje mora a filha...(e minha amiga de sempre) do "PÉLU" comíamos, riamos e apertava-mos o nariz para fugir ao tal CHEIRO do ÓLEO de Fígado de BACALHAU. Eram Fantásticos esses momentos de COMUNHÃO.
Deixo-os registados em imagem com esta foto EXPRESSIVA e SIMBÓLICA da Dona Florinda e do MARIDO SEBASTIÃO, fornecida pela minha QUERIDA e estimada "PÁLINA" do Amaro do Raspóte, sua FILHA.

Sebastião de Jesus Cabaço
Florinda da Encarnação Carvalho


Quando QUERÍAMOS PÃO, metíamos a MÃO no AR.


Havia uma ligação profunda entre esta família (...dos GRIZÉUS)e a loja do Rato ali mesmo ao lado, muitos dos momentos felizes do gaiato reportam-se a esse convívio familiar, lembro-me dos sábados de enchentes no talho e na mercearia onde era de um enorme prazer pesar o açúcar e o arroz nos sacos de papel manteiga de uma vez só. Como o Hábito aperfeiçoa a habilidade.
Era um TEMPO também de fartura, não se comprava uma melancia mas sim uma arroba ou duas. O PORCO invariavelmente tinha 15 arrobas e era um grande bicho, tudo servia para manter o RITUAL da festa e da comunhão. Esperava-se esse dia para levar a cachola aos mais chegados...amealhava-se 5 tostões por cachola, 8 ou 9 cacholas era a média. Com o espírito já no outro dia o da "DESMANCHAÇÃO". 




Desmanchação do porco

Era o dia de levar os jantares de carne aos mesmos e mais chegados-ESPÍRITO de COMUNHÃO-25 tostões, uma moedinha com a caravela vestida, uma fortuna para os Gaiatos.


Traballho


Esta era a palavra mágica, toda a gente procurava o trabalho e era feliz com ele.
Sempre que penso nestas duas pessoas não os consigo dissociar desta actividade tão NOBRE na vida de qualquer comunidade,( hoje já não é assim...) Mestre João Grizéu foi um dos GRANDES homens do ZARCOS,
trabalhou até ao dia que a vista o fez cair da motorizada, bem perto dos 70 anos, não me lembro de um dia sequer que não fosse trabalhar no ofício de fazer casas. De Inverno ou Verão, com chuva ou sol tórrido sábados e Domingos sempre ouvi aquela mota (JOANINHA). Conhecia-lhe o trabalhar muito longe lá para as bandas do PEXÓCA. Esperava-o impacientemente pois sabia que viria alguma sobra dos restos do almoço. Talvez um pedaço de ovo estrelado ou um bocadinho de fesnada (entrecosto), e assim acontecia. Aquele velhote que hoje espera a partida no LAR dos ARCOS é um admirável sobrevivente de uma família que sofreu as "passas do ALGARVE" para conseguir um futuro melhor, não se teria nessa altura a noção do melhor ou do pior. Simplesmente vivia-se com dignidade a pensar nos filhos.O Mundo era simplesmente um círculo com diâmetro diminuto. Nesse círculo constavam Estremoz, Borba e as aldeias perto destas. Este foi o tempo do candeeiro a petróleo.




O tempo em que a "MARILUÍSA" brigava com as chaminés de vidro cheias de "mascárra" ou a desentupir a cabeça do fogão com a agulha de arame.
estas eram as preocupações mais à mão. E à mão de semear estava a cara do filho, muita porrada levavam os gaiatos das mães, todos os dias era aquele fadário sovas e mais sovas...por tudo e por nada. A vida dos GAIATOS era difícil nestes tempos do candeeiro a petróleo.

Fez-se LUZ 
A GRANDE e VERDADEIRA REVOLUÇÃO...na VIDA de uma POPULAÇÃO.
LUZ!
Avisam-se todos...obrigatório sorrir, Sonhar e não ir para a cama cedo.