LOBOS

Sou, na verdade, o Lobo da Estepe, como me digo tantas vezes – aquele animal extraviado que não encontra abrigo nem na alegria nem alimento num mundo que lhe é estranho e incompreensível

Herman Hesse

sábado, 29 de junho de 2013

O ANIMAL como nós a MODELO e o meu segundo TIO



Outras gavetas




Dona IRENE
PROFISSÃO MODELO de MODA

Local 
Armazéns do CHIADO
Armazéns do GRANDELA


Poucos se lembrarão desta personagem, a qual me irá servir de "INSPIRAÇÃO" para este artigo  de continuação do anterior onde de uma forma sentida e sofrida homenageio a minha GATA.
 Desta vez este espaço abre-se para outro ser de quatro patas, o meu CÃO, antes de tudo o mais que virá de seguida e não tenho ainda estruturado na mente, só alinhavado.

Observo um conjunto de folhas de papel e registo tópicos, organizo RECORDAÇÕES das "TERTÚLIAS da FAMÍLIA GATÊRO nas viagens ao ZARCOS e eis que quando penso que tenho que homenagear o meu VELHO CÃO e TUDO de bom que nos ofereceu através dos anos  com a sua presença.
  Teima em passar  em frente dos meus olhos a imagem desta  SENHORA.
Dona IRENE... não haverão rastos escritos ou fotográficos da mulher esbelta elegante e transmitindo calma, no seu metro e noventa.
Recordo passagens de conversas com a minha MÃE e também dos ditos da FREGUESIA, por onde a LISBOETA no fim da VIDA veio encalhar o seu "BARCO".
Inevitavelmente tenho que falar no meu TIO  JOÃO GATÊRO encarregado da CUF e, claro no meu CÃO PESSOA, o HERÓI deste artigo.

Sempre que entro no CEMITÉRIO, sinto os olhos de Dona IRENE sobre mim, a exigirem-me recordações e respeito, algo ficou por fazer nos distantes tempos de 70 .
Recordações muito felizes de uma grande família,  e mais uma vez a obrigação de não os deixar perder na bruma dos tempos.

Não quero escrever sobre a "a vida BOÉMIA" do meu  segundo TIO, mas Dona IRENE é o melhor exemplo para fazer "JÚS" ao talento e à "BAGAGEM" do JOÃO GATÊRO e à sua importância no panorama da TERRA e no BARREIRO onde passou grande parte da sua vida.
Foi com o meu TIO que a SENHORA chegou ao ZARCOS. Muito bem dito SENHORA, FINA dos lados do CHIADO onde trabalhou como modelo das casas na altura referências da MODA LISBOETA.
Não sei mais nada da sua VIDA, o que sei porque vi e ouvi é que era uma SENHORA com uma educação e uma prática de vida exemplares.
Depois de reformado, o meu TIO e Dona IRENE deixaram a Rua do Século na calçada do COMBRO e vieram para o ZARCOS.




Vaidoso sempre!!GABAROLAS e inventor de HISTÓRIAS. O
Tio GATÊRO conhecido por "PANTOMINEIRO", mas que todas as pessoas gostavam de ouvir.

Vamos por partes aligeirando um pouco o TOM em relação ao Martins Tempero...afinal o homem conheci-a mundos e fundos pelo convívio diário com PERSONAGENS de muitos PAÍSES que atracavam no cais da CUF. E eram estas histórias que transformava . Hoje acredito que o meu segundo TIO absorvia como verdadeiras.
A chegada aos ZARCOS, antes nos festejos do NATAL e PÁSCOA e agora como reformado-fazia dele um HERÓI do IMPÉRIO, sempre com o seu cigarro SINTRA entre os dedos.
A prova disso eram as grandes assembleias que juntava na paragem das camionetas ou na adega do "JUQUIM ZÉ" outro dos locais onde parava.

Foi um grande "TALENTO" conhecedor do MUNDO sem nunca ter viajado para lá da fronteira. Arranjou alguns empregos para PESSOAS da TERRA enquanto profissional  dos  MELOS da CUF no BARREIRO e foi sempre uma referência na freguesia.

Este encanto natural, conquistou como já referi Irene Santos.

Senhora de poucas palavras que veio para o ALENTEJO enganada e nunca por  cá se sentiu bem.

Não deixou descendentes e riquezas não constam nas recordações que tenho dela. Um pedaço de TERRENO para os lados do MATINHO e uma fotografia numa pedra manchada e FRIA.
Duas frases PORÉM semearam em MIM PERMANENTE RECORDAÇÃO.

Uma delas ilustrativa do seu AMOR pelos ANIMAIS, (...tinha dois cães que todos os dias passeava em redor do ROSSIO)...





-SÃO MUITO MELHORES que as PESSOAS.

Na REALIDADE este ARTIGO é sobre o meu CÃO, ao qual estou agradecido pele companhia. Um AGRADECIMENTO que perdurará pelos TEMPOS até eu SER PESSOA.
O Meu velho CÃO de 16 ANOS a quem muitas das vezes digo em TOM SÉRIO que se parece com o MEU PAI. Tal é a semelhança entre nós HUMANOS e os nossos animais de ESTIMAÇÃO. Direi mais :-SÃO um ESPELHO para nos inteirarmos da nossa evolução e decadência enquanto PESSOAS.
O MEU VELHO cão hoje em idade humana está perto dos 96 anos.   E a  cruel verdade dos números "FUNDE-SE" na aparência do meu querido AMIGO. Está quase surdo e os músculos das pernas "SECAM" a  olhos vistos.
Mas já foi novo , pequenino...cresceu de seguida e fez-se HOMEM.faziam as suas corridas de 200 metros e chegava de língua de fora a abanar o RABO. Enlouquecia várias semanas pela cadelas da vizinhança e guardava-nos a casa AMARELA e BRANCA.

O MEU Cão tal como a minha GATA "CAÍU-ME do CÉU", este é o termo certo para ilustrar uma viagem como tantas viagens Da minha casa para Castelo Branco (11 Km). E foi numa destas viagens no longínquo ano de 1997 que conheci o meu CÃO PESSOA. Levava o GUILHERME para o Infantário, pequenino na cadeira de BEBÉ quando na estrada tive que abrandar...uma cadela com um cãozito de poucos dias atravessava o asfalto.  A MÃE cadela desapareceu no mato e o pequeno ser de 4 patas ficou deitado no meio da ESTRADA.
Recordo muito bem os momentos que se seguiram.

-GUILHERME, que nome damos ao CÃO?

- PODEXERI PÂNICO!


Está bem, fica PÂNICO! ADEQUADO TAMBÉM para a circunstância do seu aparecimento nas nossas vidas- Bem , Bem coçando a cabeça, como pode um rapazito que começou a falar há pouco tempo associar um acontecimento temperado com uma pitada de tragédia,,,encontrar o NOME CERTO??!
Coisas da VIDA...
E o MEU Cão a partir do momento que nos caiu nos braços, ficou logo com o NOME.
Já tinha nome quando entrou no INFANTÁRIO e transformou o dia da rapaziada e transformou os nossos dias.

Hoje, encaixados sem apelo nem AGRAVO no ano de 2013...o meu CÃO está velho e quase de partida, nós também já não somos os mesmos e o BEBÉ da cadeirinha cresceu ,  e já anda na UNIVERSIDADE.


Desapareceram nestas últimas duas décadas muitas das pessoas importantes das nossas VIDAS.

O PÂNICO continuo perto de nós, encheu a nossa existência de RECORDAÇÕES, criou amigos, teve descendentes e de um dia para o outro acalmou.
Os seus OLHOS, o reflexo nos seus olhos diminuíram e o seu olhar outrora cheio de vida observa-nos hoje com despedida.
Não desiste e dá os seus curtos  passeios diariamente. A sua voz pouco se ouve no espaço da QUINTINHA. Há noite quando a Caralinda raposa nos visita, ouve-se um ladrar esforçado como quem diz que ainda manda alguma coisa no seu território.
São CICLOS... são CICLOS de VIDA. Entende-los é uma virtude.  Anos felizes , tempos de HARMONIA, depois  surgem outros de desagregação, e são esses que estou a viver com o desaparecimento da minha GATA PESSOA e com o fim de VIDA do MEU PÂNICO AMIGO PESSOA.

Manuel ALEGRE escreveu de uma forma MAGISTRAL onde poderá chegar o AMOR por um CÃO (... o contrário também é verdade ) e a sua decadência que é o ESPELHO também da nossa...



E o narrador pensava e bem que tudo é uma breve passagem e que não há outra eternidade senão a da Solidão partilhada



CÃO COMO NÓS



O narrador, que nesta obra, se identifica com o autor, pois é ele que assina o texto no final, conta-nos a sua experiência com um cão fenomenal que o acompanhou a ele e à sua família ao longo de vários anos. O cão, chamado Kurika, por causa do leão de Henrique Galvão, era um épagneul-breton, raça muito apreciada para a caça, e caracterizava-se por ser independente e teimoso, mas extremamente meigo e fiel. Era um cão surpreendente que adoptou a família do narrador e foi adoptado por ela, comportando-se como um ser humano e imitando as atitudes e comportamentos dos humanos com quem convivia. Kurika era como um irmão para os filhos do narrador e como um filho para a sua esposa, que amava como a uma mãe verdadeira. Só o narrador se mostrava relutante em vê-lo e tratá-lo como algo mais que um cão, tendo, por isso, resistindo à tentação de o tratar como um de nós. O cão protegia-os e procurava a atenção de todos eles. Dava-lhes a entender que gostava de ser mimado e elogiado. Via-se como um igual e não como o animal de estimação. Teve dificuldade em aceitar que o narrador era o seu dono e, como ele refere no sexto capítulo, o seu comportamento em relação a mim foi, durante muito tempo, contraditório, oscilava entre a submissão e a revolta, a fidelidade e a independência, entre o cão e o não cão. Por isso, a relação entre ambos nem sempre foi fácil, ao contrário com o que se passava com os restantes membros da família

Quando o narrador teve um problema de coração, cão e dono começaram a entender-se de outra forma, talvez porque ambos tenham percebido que estavam a envelhecer. Kurika aproximou-se mais do dono e procurava a sua companhia,provocando os ciúmes dos outros membros da família


Aqui fica um poema de Manuel Alegre para Kurika



Como nós eras altivo
fiel mas como nós
desobediente.
Gostavas de estar connosco a sós
mas não cativo
e sempre presente-ausente
como nós.
Cão que não querias
ser cão
e não lambias a mão
e não respondias
à voz.
Cão
como nós.



-DONA IRENE, você não dá os OSSOS ao CÃO?!

-ENTÃO tu MARIA LUÍSA, comes os OSSOS??? Então porque haveriam os meus cães de comer OSSOS???!

( Conversa que o vento não levou, perdura..)




GALERIA do PÂNICO

Os primeiros TEMPOS
ALEGRIA, JOVIALIDADE e VIDA INTENSA...tinha que ficar preso para não fazer asneiras.




Agora mais perto..PESSOA COMO NÓS.
 





COMO os OLHOS de MEU PAI no FIM do CAMINHO, os teus reflectem SAUDADE, GRATIDÃO e recordações que se esfumam no inconsciente. 
Das REALIDADES pedes CARINHO e respeito PELA longa vida perto de nós, PELOS MOMENTOS , QUE NOS PRESENTEASTE COM A TUA PRESENÇA E SÓ PEDISTE em troca UM CARINHO E UMA PALAVRA, e o ALIMENTO DE TODOS OS DIAS.
obrigado pessoa como nós. 


 És ainda hoje BONITO e permaneceste sempre BOM, BOA PESSOA MELHOR que nós,,,muito MELHOR.

PÂNICO nosso COMPANHEIRO da VIDA.

A  Modelo do Chiado permanece também aqui HOJE e sempre , pelas poucas palavras pronunciadas, palavras que hoje entendo e que na altura me pareceram um dito, dos muitos que os velhos pronunciam e que aos ouvidos dos novos mais pareciam palavras, simplesmente palavras para o vento levar.

É esse respeito pelos ensinamentos que HOJE nos falta reaprender. Irene permanece nos sentidos e os seus restos algures do lado direito à entrada na QUINTA do SILÊNCIO.

Outra frase que ouvi pronunciar várias vezes à SENHORA de LISBOA, foi um pedido, sincero que nunca foi respeitado..
 Mas cá se fazem,,,cá se pagam. 


-JOÃO, quero que me prometas que quando morrer me levas para LISBOA...

- Tá bem IRENE, tá descansada que vais para Lisboa!!


Irene não foi para LISBOA, ficou "noZARCOS", a nossa TERRA onde nunca GOSTOU de ESTAR...viveu infeliz,  nos últimos tempos da sua VIDA, deslocada do seu MUNDO FINO do CHIADO LISBOETA. Sofreu em silêncio no meio de poucos desabafos com 2 ou três pessoas que respeitava entre as quais a minha MÃE LUISA.

Do meu TIO GATÊRO "PANTOMINEIRO" e inventor de histórias nem RASTOS, esfumou-se no TEMPO, não ficou na sua terra. Acabou para os lados do LAVRADIO num local hoje desconhecido de todos nós. Recordo-o com CARINHO, porque para mim cumpriu a promessa que me fez.

-Quando fizeres o sétimo ano dou-te 500 ESCUDOS! 


Nunca acreditei  que seria possível, receber o dinheiro do AVARENTO Martins TEMPERO...mas como a oferta surgiu numa manhã de INVERNIA encostado ao balcão da taberna do JoquimZÉ e em PÚBLICO, ficaram algumas ESPERANÇAS.
No dia em que terminei os exames e concluí o sétimo ano, empurrado pela minha Mãe...apresentei-me ao meu TIO segundo.


Ti LÁRINDA - Ventura-Angélico - Marta Célia
Ti Vitalina -João Gatêro e Ti Ventura (Cima)
Fernando Armário - Hugo-João Algarvio- Luizinho- Ti Domingos
1966

-Terminei o SÉTIMO ANO TIO!!

-Aqui tens os 500 escudos rapaz!



João Gatêro- Ti Ventura-Marido da ÊTA- Rogério - Ti Domingos Gatêro-João Algarvio-Primo Ventura (cima)
Luizinho-Álvaro-Fernando e HUGUINHO
1966


Esta  a HISTÓRIA que me ficou do irmão da minha AVÓ LUDOVINA que queria ficar "noZARCOS" e que ficou perdido  na vila CHÃ do BARREIRO e da SENHORA FINA do CHIADO que queria ficar em LISBOA e REPOUSA NO ZARCOS com a TI LARINDA e os seus.
Do meu Cão ainda restam SENTIMENTOS, resta um CORPO que teima em VIVER.
Restam todas as RECORDAÇÕES e a GRATIDÃO.
Um AMOR VERDADEIRO que temos obrigação de dirigir a quem nos ajuda a crescer como PESSOAS.
Grato ao PÂNICO
 PAZ ETERNA para a DONA IRENE e para o MEU TIO JOÃO Martins TEMPERO...o  BRILHANTE INVENTOR,,,de HISTÓRIAS,,,  termo este com o qual substituo o DEPRECIATIVO "PANTOMINEIRO" . 














pensadorlobo@gmail.com





sexta-feira, 21 de junho de 2013

O INSUSTENTÁVEL PESO da TUA AUSÊNCIA




ANIMAL como NÓS


TARECA


AMOR
SÍMBOLO
 



PESSOA

É necessário envelhecermos para sentirmos na carne a verdade, e decifrarmos  o SIGNIFICADO da SAUDADE.
Esta é uma HISTÓRIA de AMOR, a HEROÍNA uma PESSOA RAPARIGA de quatro PATAS, RESSALVO:-4MÃOS!...
Pois foi sempre suavidade que senti no  meu ROSTO quando me acariciavas ou me empurravas com as tuas " MÃOS". Ou porque não querias mais beijos ou então  porque estavas com alguma em MENTE. 
Umas vezes comida (..nunca te fartavas de comer), outras vezes  a recusa seria sinal de impaciência para a volta da RUA. 



A Tua PELE cheirava sempre a ROSAS. 


Odor que não reconheço nas FLORES que me rodeiam, haverá algures em algum recôndito cantinho alguma flor que cheire tão bem como tu??!... Nunca me saciei de beijos no teu rosto, em teus olhos e no teu corpo. E dos que me davas a mim sem te pedir.
Como vou passar  todos os momentos que ainda me faltam preencher sem saber que te posso esperar?
E o TEU SILÊNCIO quando enroscada estavas presente. Nas NOITES e nos DIAS -os primeiros sons de todas as manhãs desde que apareceste nas nossas vidas eram os teus. 
Nunca te achei velha, nunca foste como as outras, não engordaste nem ficaste com a cabeça grande. 
Também não sei contar os anos, quantos passaram desde o dia que entraste pela cozinha dentro de rabo no AR e disseste que querias pertencer à FAMÍLIA. Talvez 12 anos... vinhas em grupo com os teus irmãos selvagens que fugiram a um pequeno gesto. Tu não! Foste até ontem sempre uma pessoa diferente, meiga, comunicativa, companheira  de todos os momentos. 
FIEL, mas independente... mandavas em todos nós de uma forma  assumidamente segura. PACIENTE, sabias que te conhecíamos a linguagem. 
Fizeste sempre  as tuas escolhas eficazmente. 
Fui o escolhido para a BOA VIDA, quase a TEMPO inteiro, conhecia-te todas os pedidos e sabia sempre o que querias, mesmo quando não falavas. 

Inteligente também na doença de olhos esbugalhados e de "MIAR" repetitivo e persistente olhavas nos olhos a DONA da CASA, pedias para ir à DOUTORA da GRANJA e vinhas curada para novas aventuras. Muitas vezes ela te salvou. 

Amaste sempre o GUI como um IRMÃO mais velho, corrias todas as manhãs para a cama dele para deitares a cabeça na ALMOFADA ou nos serões no seu peito dormitavas sempre com um olho alerta.




Deixaste bem claro através dos anos e em ocasiões especiais que também querias ser  ANIMAL, uma GATA FELINA, CAÇADORA e NAMORADEIRA. 






Quem vive no CAMPO habitua-se a ler nos sons da NATUREZA e a decifrar acontecimentos. Os PARDAIS e as ANDORINHAS diziam-me em pios aflitivos e vibrantes que andarias em cima do TELHADO à procura de um ninho ou de alguma pássaro descuidado. 
Saltavas de ramo em ramo exercitando os tais gestos que herdaste dos tempos milenares em que foste selvagem, e eu preocupado como irias descer, gritava-te silenciosamente com receio que te assustasses, mas as unhas bem afiadas resolviam os gestos dos malabarismos da tua insaciável forma de me presenteares com as tuas habilidades.



 
Rejuvenescias ainda mais na PRIMAVERA,  sempre te achei nova, nunca por ti passaram os anos, talvez virtudes de nunca teres sido MÃE. Tiveste sempre tudo no SÍTIO como se costuma dizer.
Pelo alvorecer e todos os dias a voltinha antes do pequeno almoço... mastigavas as ervas e esperavas agachada por mim perto da cancela. A volta curtinha antes da saída grande,,, aquela que davas pelos matos circundantes.
Sempre pontual no regresso do meio da manhã. 
As lagartixas e as RÃS do LAGO foram sempre o teu pitéu, mais que tudo. O Sangue que te corria nas veias nunca foi compatível com a disciplina no que diz respeito aos pequenos seres em movimento. Bem me esforcei para te  fazer entender que os peixes vermelhos do lago da estufa eram teus amigos e deveriam ser respeitados. 
As Rãs "...ainda vai que não vai". Agora os peixes do lago pequeno nunca estavam a salvo...não entendi esta tua mania... se já tinhas a barriga cheia para que quererias pescar de seguida, as tuas unhas foram diversas vezes anzóis no lago da estufa interior.
Outra das facetas que tive que aguentar através dos anos foi a de NAMORADEIRA. 
Os maiores bandidos das redondezas vinham fazer-te a "CORTE", foste a RAINHA pretendida por todos. 
Dois  grandes sustos e duas noites sem dormir porque fugiste com o escolhido. Fiz-me sempre forte cá em casa mas o coração ficou negro de angústia pelas noites que dormiste fora. Sempre regressaste, esfomeada e rebentada pela falta de descanso. Depois destes desatinos voltavas à velha calma e dormias dois dias de seguida.
Tenho que dizer-te, que  o ciúme foi uma constante na tua personalidade. O Pânico não se podia aproximar de nós contigo por perto, de RABO GROSSO, eriçado tratavas logo de lhe dar uma patada. Ele como boa "ALMA"que também é evitava até olhar para nós na tua presença. Bem lá no fundo, sempre, simpatizaste com o nosso cão Pessoa. Nos fins de tarde sonolentas era perto do teu amigo que te estendias à espera da noite.






Vou sentir falta de todos os momentos, tantas sensações que não podem ser substituídas por qualquer outra RAPARIGA de PÊLO como TU. 

Quem me vai saltar hoje para o pescoço enquanto guardo as ovelhas???!






E os BEIJOS??!
Como vou passar sem os teus BEIJOS. O TEU CHEIRO de FLORES???!...





O Silêncio e o VAZIO instalaram-se na casa branca e amarela. Os lugares das estações revelam a partida, jamais serão preenchidos pelos metódicos hábitos de um ser incomparável que foste tu. De Inverno a tua caminha e o sofá enroladinha nas mantas quentinhas. No Verão casa fresca, na sala e na cama pequenina do sótão.






No fim do inverno a escolha foi sempre a do quarto das máscaras ao cantinho das duas almofadas. 
Em frente à LAREIRA ou enroscadinha debaixo do meu braço esquerdo




  Tinhas as tuas preferências  e foste dona de todos nós e de todos os pertences da casa amarela.
Tantas vezes que proferi tal frase:

-Esta rapariga tão pequena que é e manda   aqui em casa...

Recordo muito bem e porque me ferraste os dentes na perna esquerda um dia que estava chateado e gritei, sabias que algo não estava certo e decidiste actuar. 
Mandaste sempre à tua maneira no destino dos dias, não conseguíamos organizar qualquer actividade sem pensar em ti primeiro.
De Lisboa desde há dois anos as primeiras palavras foram sempre para ti, todos dependíamos da tua pessoa, uma verdade tão autêntica como as centenas de fotos que ilustram a tua vida entre nós.
Todos os teus momentos de descanso de traquinices, as cambalhotas para nos rir-mos, o teu olhar ensonado, o teu olhar vibrante quando me pedias carinhos. Tudo ficou marcado em mim e nos inumeráveis cliques que fiz.



Irão dizer-me que eras só uma GATA e poderás ser substituída...puro engano. 
Como poderei substituir os dias, os anos,,,o crescimento do GUILHERME que se fez homem ao teu lado.
As corridas a "TROTE" que fazias quando te chamava, e tu como um raio aceleravas nos 50 metros até à porta da cozinha para ouvires as minhas palmas e observares o espanto que os meus olhos reflectiam.
O teu bater com o trinco na porta quando chegavas da voltinha. A Espreitadela na janela ou as patadinhas na minha roupa sobre a cama todas as manhãs quando me levantava e tu ocupavas o meu lugar.
E o que dizer da tua mania de abrir os ARMÁRIOS e as portadas das JANELAS??! 

O teu olhar meigo...e as cabeçadas nas pernas. 
O sentares-te no teclado do computador para eu parar e te dar atenção.
Os bons dias pela manhã e a saudação quando chegava ao fim da tarde a casa e me esperavas camuflada sobre a pele de vaca do HALL da estufa.










Ontem decidiste que era chegada a hora de nos deixares. 
Surpreendentemente foste uma SENHORA RAINHA até ao último segundo do teu respirar. 
Sem sofrimento e em silêncio partiste. 
Decidiste nunca perderes a beleza, nunca envelheceres e nunca deixares crescer a cabeça. 
Também não "caíste de cama", não emagreceste nem perdeste o pêlo.
A tua partida foi igual à tua chegada.
Linda de pele brilhante com o odor às tais flores que só existem no PARAÍSO.
Não assisti ao momento, mas sabia que tinha chegado e por esse motivo antecipei-me uns minutos a construir a "ARCA" que te levou para o ALÉM...no mais belo canto do meu JARDIM depositei o teu corpo enrolado num limpo lençol branco. 
Com a LUA como TESTEMUNHA sem antes te abraçar, fazer o teu último passeio ,,,em meus braços, pelos lugares da tua vida...ao LUAR. Despedi-me.
Deixaste-me a SAUDADE molhada no OLHAR e sem saber como preencher a tua ausência...









HOJE na QUINTINHA ao vento o teu ESPÓLIO lição de VIDA
HUMANA, tudo sobra no fim da JORNADA, a tua de meia idade, por esse motivo ainda eras tão BELA

A Manta, a coberta e a alcofa de Inverno



RESTA também o vazio em todos os recantos onde te procuro.



Sobre o teu CORPO CRESCEM hoje ROSAS PEQUENINAS. VERMELHAS que irão cheirar a ti.
No mais lindo canto do teu jardim.



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OBRIGADO por nos escolheres e seres GENTE igual a nós.


alvaroramos@esal.edu.pt