LOBOS

Sou, na verdade, o Lobo da Estepe, como me digo tantas vezes – aquele animal extraviado que não encontra abrigo nem na alegria nem alimento num mundo que lhe é estranho e incompreensível

Herman Hesse

quinta-feira, 24 de março de 2016

As MÃOS




As Mãos ( NU! ) PAREDES



O VALOR das PALAVRAS...ANGELINA

26 / Fev...






As Mãos




Algures (...prostrado  no tempo e no espaço, nas ideias e nas dúvidas...) num local recôndito da BEIRA interior. O sono não chega-05.00 horas e ainda o não consegui prender.

Penso em mil e uma coisas mas, o que me agarrou como garras de um silvado nestas horas de dura labuta com o travesseiro-insónia demorada que durará toda a noite e madrugada...
 



Angelino Gato e o meu Pai-final da década de oitenta



Foi a visão das brutas  e MACIAS MÃOS de meu PAI. As mãos são PESSOAS incontroladamente livres-não há cérebro que as pare. Foram as últimas "PESSOAS " do seu corpo que acariciei e meti no lugar. Uma juntinha à outra, logo por cima... como é hábito na partida para a última caminhada.
Eram agora frias e nada "BRUTAS" como outrora. Estavam rígidas, silenciosas, mas leves como um papel; nem MACIAS, nem "BRUTAS", nem ásperas, deixaram de SER-PESSOAS. Eram naquele momento, a ausência de tudo.

As imagens  estão bem acondicionadas nas minhas recordações de criança...HOJE.
O PAI tinha um "AXE", no dedo indicador da mão direita ou seria no ANELAR??!O MAIS CERTO ,,,o MÉDIO.
Habituei-me, toda a minha VIDA, ao AXE (cravo gigante) de meu PAI e ás suas mãos LISAS e Sapudas... umas vezes gretadas pela "CÁLI hidráulica", outras pelos cortes das pedras  e tijolos BURRO dos muros e das ABÓBADAS das casas de construção ÁRABE. 






Ouvi tantas vezes a sua companheira e minha MÃE dizer:
- Tem boas Mãos para trabalhar, mas não é nada perfeito...




Tal como você, PAI, todos os irmãos (quatro ao todo)mais o velho ALGARVIO, renovaram a forma e o método da construção no ZARCOS, dos anos trinta em diante até à chegada da MODERNIDADE.
Foram uma ESCOLA,,, as mãos que vieram de São Braz de Alportel e atracaram no vasto Alto Alentejo.
Ou seria um ÁRABE disfarçado de RAMINHOS e PIRES??...



-MÁSSAAAA!!
Vá MÁSSA!!!




Habituei-me a ser rápido, quando lhe dava serventia e a catalogar os gestos do derrubar dos muros e telhados velhos, cheios de osgas e vespas - sempre as mãos que choravam, gritavam ou simplesmente faziam "ocasos" de espera.













Onde foram imbatíveis, sempre, no levantar do copo de tinto cheio, os de 3 tostões e em arco voltava vazio fazendo "BÁC" sobre a mesa fria de mármore polida.de qualquer taberna, das muitas existentes na freguesia,,, sem limites.







Transcenderam-se sempre no toque com os tijolos de burro e no afagar da massa, nos chão de cimento, pulverizado de oca ou óxido de ferro, Linhas traçadas com uma gasta régua e uma chave de qualquer fechadura...e aí estavam os percursores dos primeiros mosaicos.
Como garras, um dia, ergueram-se para me fisgar mas os pés não acompanharam o movimento, pois as Mãos são sempre muito mais rápidas a pensar...
Foi a única vez e não me tocaram...
As tuas mãos com o "AXE" brilhante, que foram PESSOAS um DIA e hoje pedaços,,, fundidos na terra BARRENTA, VERMELHA pintada a sangue dos mouros ALENTEJANOS, existiram sempre até este artigo, deixado por uma noite às claras..

Não "fabricaram" a música de Paredes mas construíste os meus sonhos. E hoje observo atentamente a imagem  de minhas MÃOS, a entrarem na decadência , como espelhos da partida desses mesmos sonhos que me ajudaste a estruturar,,, da chegada da realidade, e oiço as palavras da Angelina, repetidamente, aula  após aula...





Foto-Rosinha dos limões


- As mãos do professor têm ARTE...em tudo onde tocam,,, se transformam, e criam e transformam.


Foto-Tiago de sousa




Foto-Tiago de sousa

Paredes tocava como um Mágico..



PAGANINI era o Diabo quando pegava no violino...









Cacida da Mão Impossível

Não quero mais que uma mão,
mão ferida, se possível.
Não quero mais que uma mão,
inda que passe noites mil sem cama.

Seria um lírio pálido de cal,
uma pomba atada ao meu coração,
o guarda que na noite do meu trânsito
de todo vetaria o acesso à lua.

Não quero mais que essa mão
para os diários óleos e a mortalha de minha agonia.
Não quero mais que essa mão
para de minha morte ter uma asa.

Tudo mais passa.
Rubor sem nome mais, astro perpétuo.
O demais é o outro; vento triste
enquanto as folhas fogem debandadas.


Federico García Lorca, in 'Divã do Tamarit'

Ponho nelas a minha boca,
respiro o sangue, o seu rumor branco,
aqueço-as por dentro, abandonadas
nas minhas, as pequenas mãos do mundo.

Eugénio de Andrade


Pra que as quero eu - Deus! - Pra que as quero eu?!
Ó minhas mãos, aonde está o céu?
...Aonde estão as linhas do teu rosto?

Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"
                                                                                       

manuel alegre / as mãos

Com mãos se faz a paz se faz a guerra

Com mãos tudo se faz e se desfaz


Com mãos se faz o poema ─ e são de terra.

Com mãos se faz a guerra ─ e são a paz.





Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.

Não são de pedra estas casas mas

de mãos. E estão no fruto e na palavra

as mãos que são o canto e são as armas.



E cravam-se no Tempo como farpas

as mãos que vês nas coisas transformadas.

Folhas que vão no vento: verdes harpas.



De mãos é cada flor cada cidade.

Ninguém pode vencer estas espadas:

nas tuas mãos começa a liberdade.





Manuel Alegre
o canto e as armas
europa-américa
1979






Tem nos olhos das mãos a alvorada

o que o tempo dos olhos madura:

na urgência das mãos – arte pura.

Nos olhos do tempo – arte apurada.
E Nós aqui estamos, hoje , a décadas de distância destas realidades, a tentar segurar as nossas - esquecemos, porém, que elas são PESSOAS.
















Independentes-REBELDES...indomáveis

As mãos!!!!que tanto amamos. Com ALMA,,,as MÃOS.


TOCANDO
ACRESCENTANDO
TIRANDO
...VIVENDO
APONTANDO...
ABERTAS/FECHADAS

-QUENTES-FRIAS as Mãos de quem as ...

USAABUSA
.



BACALHAU 4 mariscos
ACEPIPES de FARINHEIRA e FRAMBOESA
Prato de queijos 
DOCE de CAFÉ








TRIBUTO (agradecido) à OLINDA BATISTA
PERFEIÇÃO e TOTALIDADE







DENTRO e FORA

do

COM- 123 & TEXTO





INOPORTUNO

Confraria-PENA-ALVA

  DIREITOS e MISÉRIAS







JURO ser como o BACALHAU-FIEL AMIGO
COMO o CÃO do REBANHO-COMPANHEIRO
COMO a ÁGUA da FONTE-CRISTALINA
COMO o AR da SERRA-PURO
COMO a SOMBRA da ÁRVORE
...e ainda
SER COLECTIVO - como a SEARA de TRIGO
(gosto desta)
e muito + desta...

E TENTAR TRAÇAR AQUI as LINHAS do HORIZONTE sem OBSTÁCULOS.





Para todos uma "LEMBRADURA que vem ao "CONSOANTE".


  Jaime da "Manta Branca", de alcunha como quase todos os ALENTEJANOS. Nasceu em Benavila em 1894 e foi muito novo para o Cano, onde morreu em 1955. 
Analfabeto, trabalhava no campo numa zona de latifúndio. FOI um  repentista. Fazia as décimas de improviso. Bebia também uns copos, como todos os trabalhadores, e enfrascava-se muitas vezes . Habituei-me desde muito novo a ouvir falar do Jaime da manta branca, aos meus tios, à minha MÃE e também ao meu AVÔ.
Duas quadras me ficaram  bem encaixadas das histórias ditas e reditas de boca em boca.
Imaginei-o sempre como um vagabundo, pois as palavras frequentemente, fazem-nos construir as imagens. 


CALA-TE BOCA!!

A primeira aconteceu por altura dos fins da PRIMAVERA e estava o Jaime deitado na beira dum caminho, coberto pela sua manta, num daqueles dias quentes a anteciparem o tempo da calina.
Passou alguém que lhe disse:
-Jaime, sai daí. Morres aí esturricado.

...Ficas um tição!
Ele olhou para o forasteiro e de seguida para o ASTRO-REI, sem grande demora, saiu-lhe esta...

Ó Sol tu és a crença
hei-de morrer aqui queimado
hei-de ter a recompensa 
...do frio que tenho passado.


A tal, que jamais esqueci, foi sobre um acontecimento numa caçada de gente importante, em coutada de rico. Um antigo patrão do Jaime estava com um vasto grupo de caçadores num improvisado  banquete ( como se dizia... a fazerem as onze ) , quando o Jaime passou na estrada.


O (ex) patrão, que tinha até convidado um ministro, ao ver o Jaime resolveu alegrar o banquete, apresentando Jaime da Manta Branca como algo típico e divertido. 

-Jaime anda cá, recita aqui um verso dos teus...

Em troca de  um copo e de uma bucha recitou as décimas:

 Não vejo senão canalha
De banquete para banquete
Quem produz e quem trabalha
Come açordas sem “azête”


Ainda o que mais me admira
E penso vezes a “miúdo”:
Dizem que o sol nasce para tudo
Mas eu digo que é mentira.
Se o pobrezinho conspira
O burguês com ele ralha,
Até diz que o põe à calha,
Nem à porta o pode ver.
A não trabalhar e só comer

NÃO VEJO SENÃO CANALHA

Quem passa a vida arrastado,
Por se ver alegre um dia
Logo diz a burguesia
Que é muito mal governado,
Que é um grande relaxado,
Que anda só no bote e “dête”.
Antes que o pobrezinho “respête”
Tratam-no sempre ao desdém.
E vê-se andar quem muito tem

DE BANQUETE PARA BANQUETE

É um viver tão diferente!
Só o rico tem valor
e o pobre trabalhador
vai morrendo lentamente.
A fraqueza o põe doente
e a miséria o atrapalha.
Leva no “peto” a medalha
Que ganhou à chuva e ao vento.
E morre à falta de alimento

QUEM PRODUZ E QUEM TRABALHA

Feliz de quem é patrão
e pobre de quem é criado,
que até dão por mal empregado
o poucochinho que dão.
Quem “semêa” e colhe o pão
não tem aonde de “dête”;
só tem quem o “assujête”
p’ra que toda a vida chore.
E em paga do seu suor



COME AÇORDAS SEM AZEITE
 ...Está bem Jaime ( ...caras de poucos amigos)
Acaba lá de comer e continua lá o teu caminho...






 


27/02/2016

FREITAS o < AÇORIANOBEIRÃO >

Angústia-REFLEXÃO e DESLUMBRAMENTO











Aos DOUTORES  FREITAS da SILVA QUE, PERDIDOS nas "Brumas da MEMÓRIA", deixaram cá na TERRA toda a CARNE e todas as PAIXÕES desmembradas em GENIALIDADES literárias e gestos bondosos-seguem-se agora as palmadinhas e os elogios ao "LOUCO" FREITAS até à diluição e ao silêncio esquecido.
MORRE-SE de TRISTEZA e de DESENCANTO.MORREU.
DESAPARECEU um HOMEM BOM dos poucos que amaram os seus "cães".

Um ESTRANGEIRO por estas bandas.

FREITAS, o verdadeiro POETA-ESCRITOR "LOUCO" LÚCIDO, que nunca deixou MORRER a INFÂNCIA dentro do seu PEITO.



http://coraoquesenteacordaterra.blogspot.pt/2014/08/trincando-descaradamente-maca.html





João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para o Estados Unidos, Teresa para o
convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto
Fernandes
que não tinha entrado na história.

Quadrilha






Carlos Drummond de Andrade

 

FIM!!