LOBOS

Sou, na verdade, o Lobo da Estepe, como me digo tantas vezes – aquele animal extraviado que não encontra abrigo nem na alegria nem alimento num mundo que lhe é estranho e incompreensível

Herman Hesse

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A TABERNA do ANTÓNIO V´CENTII



Do Pão e do VINHO


...e do ESPÍRITO SANTO
ÁMEN!


«Noé plantou a vinha e tendo bebido do seu vinho, embriagou-se»
 «BÍBLIA»



TABERNAS

Breve Viagem
PELA
História da palavra e do sentido. Taberna vem do latim e é derivada da palavra grega taverna que significava algo como oficina ou barracão.
Existem HISTÓRIAS sobre estes lugares de culto onde grupos de amigos se juntavam para confraternizar em volta de uma mesa recheada de belos petiscos e onde matavam a sede com VINHO ou cerveja. A história destes lugares estende-se a ROMA, ao Antigo Egipto e a toda a Ásia. Na Idade Média viveu-se a folia nas estalagens "MEDIEVAIS", estas eram "HABITADAS" por MESAS de Madeira, archotes e canecas metálicas, por onde se bebia cerveja,  um porco que assava num espeto completava o cenário. Gente sem fim ria, Falava e brigava depois de bem regados. Nestes mesmos tempos, os MOSTEIROS e as Catedrais eram cercados de vinhedos. Mas, já em 512 A.C., na Babilónia e no ANTIGO Egipto, existem notícias destes estabelecimentos chamados "COMEDORES PÚBLICOS". Aqui serviam um único prato preparado com cereais, aves selvagens e cebola. As mulheres estavam interditas de entrarem nestes lugares regados com bom vinho. A História das TABERNAS confunde-se com a história do VINHO. Os Gregos presentearam-no com o DEUS Baco, os ROMANOS chamaram-lhe DIONÍSIO. No Velho Testamento, era citado na Bíblia, como um PRAZER… fonte de delícias...ou como um vício a ser evitado.

Em Roma e na cidade de Herculano (coberta pelas cinzas do vulcão VESÚVIO 79 D.C.) foram encontrados vestígios de estalagens onde se confraternizava com vinho e grandes banquetes.


 A lista dos poetas que no decorrer dos séculos se inspiraram no vinho e que contribuíram para a sua história, tal como Virgílio, é interminável. 
 Assim se fez uma viagem até aos Sec.XIX e XX PORTUGAL e a Burguesia.
Esta estrutura e este VIVER em sociedade prolongou-se até princípios dos anos 70.

TABERNA
Bêbados festejando o S. Martinho
José Malhoa
1909 

O MUNDO do lado de FORA da TASCA



 QUEM eram estes nossos antepassados e que MUNDO era o seu?!
Quem vivia no campo? O MUNDO no ZARCOS.



Os pequenos agricultores, os pequenos comerciantes e os artesãos formavam as novas classes do trabalho. A partir de Inglaterra, um pouco por toda a Europa e mais tarde em Portugal, começavam a surgir as fábricas. Os artesãos das antigas oficinas davam lugar aos operários.
Assim, ao longo do século XIX, começou a falar-se da «classe operária» e das suas difíceis condições de vida. Ao operariado ligou-se o conceito de «proletário» (com prole - família muito numerosa - e sem bens próprios). As condições de vida destes trabalhadores não melhoraram durante o século XIX; o dia de trabalho continuou a ser de mais de dez horas.  Dentro da população rural, distinguiam-se: - proprietários (burgueses e alguns nobres); - rendeiros (pagavam renda pela terra que cultivavam); - jornaleiros (vendiam a sua força de trabalho diário à jorna, e eram o grupo mais numeroso); - pastores e outros «criados de gado».A posse de uma parcela de terra dava direito a um «lugar» na sociedade rural e permitia a participação na vida política local. Com a libertação da terra, alguns rendeiros e até jornaleiros tornaram-se pequenos proprietários.
 Os grandes proprietários tinham aumentado os seus bens com a compra das terras das ordens religiosas. Estes proprietários eram: - burgueses endinheirados que, exercendo outras profissões e vivendo na cidade, as arrendavam; - nobres que, ao perderem o direito de receber os tributos feudais, viviam apenas das rendas das terras.    No final do século XIX, cerca de 70% da população portuguesa ainda trabalhava na agricultura. A pecuária (criação de gado) continuava ligada às actividades agrícolas, constituindo uma fonte de rendimento complementar, bem como um recurso para auxiliar a actividade agrícola (estrume para as plantações e força animal para puxar os ARADOS.





Algumas actividades de um calendário agrícola

 Este foi o MUNDO dos nossos ANTEPASSADOS e FREQUENTADORES das TABERNAS, e este o seu calendário de trabalho durante séculos. (FONTE,Educação HgP)

                                         Alimentação

Com o aumento da produção agrícola, as condições de vida melhoraram, e passou a haver menos fomes.  Os vegetais eram a base da alimentação. Diariamente, os trabalhadores alimentavam-se de  pão de trigo ou centeio, azeitonas, algum bacalhau ou sardinha, vinho e sopa (feita de batatas e legumes frescos e secos, e  temperada com azeite).  A pouco e pouco, o café, o arroz, o «pão branco» e os enchidos entraram  na alimentação diária do camponês. Praticava-se um regime alimentar  pobre em proteínas: a carne era um luxo e só era comida de tempos em  tempos e por quem tinha criação.Os camponeses viviam com grandes dificuldades, e o pouco dinheiro que tinham servia apenas para comprar azeite, sardinhas, sal e sabão.

 « ...deste TEMPO a tal  HISTÓRIA de 1 (UMA) SARDINHA para 3 (TRÊS) pessoas.»

Por isso, a roupa tinha de durar vários anos. A Música e os cantares ao desafio, assim como os versos, eram os divertimentos da gente do campo. Estes movimentos culturais "HABITARAM" todas as tabernas nos fins-de-semana ou em FESTAS dos SANTOS PADROEIROS.
 Os HOMENS apenas tinham as TASCAS para se esquecerem duma vida de TRABALHO. Os dias ligavam-se numa faina interminável e a IGREJA, com o seu poderio, REINAVA orientando as FAMÍLIAS para o BEM e ameaçando com o INFERNO aqueles que SONHAVAM ir mais além das REGRAS impostas por uma sociedade FEUDAL.

O PECADO DOMINAVA as MENTES (...ou o medo DELE) do NASCER até ao FIM da VIDA de uma POPULAÇÃO iletrada que afogava as MÁGOAS nos balcões das FRESCAS TABERNAS da TERRA.
Em cada BALCÃO as mesmas HISTÓRIAS, repetidas vezes sem conta; as doenças, as mortes e a pobreza desmedida. A COMUNIDADE sobrevivia no entanto sempre com um sorriso na boca e um cantar de ALEGRIA vestida. 


Os homens da aldeia divertiam-se nas tabernas, que eram cada vez em maior número. Ali, jogavam às cartas, ao chito e punham a conversa em dia. Os petiscos eram (... são ) uma das tradições mais marcantes da sociedade PORTUGUESA e, em especial, da CULTURA ALENTEJANA. Nas TABERNAS, em redor de uma mesa, conversava-se decidia-se ou cantava-se, quando os copos já faziam efeito, mas sempre com um petisco pela frente. A informalidade notava-se logo nos pratos...estes eram invariavelmente pequenos  assim como os talheres - um GARFO e um pedaço de pão eram o suficiente para levar o petisco à BOCA. O Alentejano ia sempre preparado com o seu canivete (navalha petisqueira), muito gasto pelo uso e sempre afiadinho.




Vinho na mesa e estava feita a festa!!!SEM PETISCO não havia conversa.




A TASCA


Esta "IGREJA" era para os HOMENS
«Minha mãe referia-se desta forma às tabernas quando o meu PAI chegava tarde e com os copos...-Já vens da IGREJA?!»

  EU-1964

Espaço fresco, ESCURO e sem janelas- Balcão LARGO de MADEIRA. A taberna era um LUGAR frequentado por homens nos seus momentos de descanso ou desânimo. Frequentavam-na ainda as “AVES-RARAS”, os VAGABUNDOS sem eira nem beira. Os tais que em cada localidade tinham uma cama guardada numa “ALMIADA” algures no terreno do grande ou médio proprietário.
Aqui estou eu em busca da HISTÓRIA de mais um SÍTIO de comunhão importante para deixar registo. Era muito pequeno quando a “TASCA” se mudou para o LARGO da FREGUESIA…no entanto recordo alguns acontecimentos felizes de um e do outro local, os quais vou dar conta.

Era mesmo bastante novo mas ainda consigo descrever o espaço. Penso que a Porta era AZUL - um azul gasto pelo tempo. Lá dentro o célebre balcão corrido e, quase a meio, uma entrada para um espaço interior. Tenho dúvidas da quantidade de mesas existentes no local. Lembro, também, os tais petiscos sobre o balcão e uma garrafa grande com o tal pepino dentro que a LUZIA recorda. Mas, o que me ficou mais marcado foi a presença calma, observadora e ponderada do TABERNEIRO. A sua imagem manteve-se através dos tempos e até ao fim da sua vida - Cabelo farto, branco, penteado para a frente tipo "CENTURIÃO ROMANO". Homem SUBTILMENTE irónico e um "Ás" a pregar partidas - e é este o primeiro acontecimento que conto e que nunca se varreu das minhas boas recordações. Este acontecimento é a prova de como os jovens cresciam e eram educados naqueles tempos; tinha conteúdo e revestia-se de ensinamentos que perduravam nos tempos até ao fim das suas vidas.A Iniciação para o crescimento dos jovens fazia-se com as célebres partidas dos ADULTOS. Um dos locais mais frequentados por nós era a oficina de bicicletas do "CHICO da SÁMOR". Hoje, há distância, consigo encontrar uma explicação para tal encanto: Talvez a MAGIA que as bicicletas despertavam nas nossas consciências e sonhos de meninos. Era Um sonho do outro mundo ter uma bicicleta...éramos muito novos para isso e portanto aquele local era o indicado para passarmos muitas horas do dia. Por Entre a calçada esgravatávamos "arqueologicamente" para encontrarmos uma porca ou uma esfera de rolamento; era ali que sabíamos de todos os acontecimentos directamente ligados ao mundo das bicicletas e outros mais sérios. O "ESPENICA, JOSÉ MANUEL FRANCO FIGO" trabalhava lá com o seu metro e noventa de altura. Esta socialização, forçada por nós, fazia-nos correr alguns riscos - por duas vezes fui mandado ao "ANTÓNIO "V´CENTE" fazer um recado muito importante.

O CHICO, rapaz reservado mas boa pessoa, raramente nos sorria. Mas naquele dia senti-me honrado com um pedido seu:

- RAPAZ!! toma este saco e vais ali à taberna e pedes ao A.V. a pedra de AFIAR as LIMAS.

Estas partidas eram vulgares naqueles tempos, REPETIAM-SE "N" vezes de geração em geração. Tudo correu de feição aos malandrecos dos "GRANDES". Lá cheguei ao balcão, e pedi. O TABERNEIRO, nosso conhecido, pegou no saco sem dizer palavra, entrou no espaço de arrecadação e de  lá veio com a dita encomenda bem pesada.
-Aqui está, depois trazes outra vez!

 Lembro que tive dificuldade em chegar à Sámor com o "PRESENTE" desejado. Mas cheguei e daí a pouco regressei com o mesmo carregamento à adega.
 Apesar de Orgulhoso pela atenção que me deram percebi, no entanto, que era uma BIGORNA de FERRO, mas tal não foi o suficiente para não cair na próxima.  Outra vez... repetiu-se o pedido mas nessa era para ir à TABERNA e pedir ao A.V. 5 KG de electricidade em Pó: Vieram uns TIJÓLOS dentro do saco e a lição chegou ao fim com a gargalhada geral dos presentes. Tinha passado a PROVA da "PARVOÍCE " que era o ser inocente e querer crescer rapidamente. O CHICO, rapaz sentimental, sorriu e deu-me um presente, pois tinha bom coração: Quatro rolamentos para fazer um carrinho e ensinou-me a não cair noutra. Mas era assim o nosso crescimento. Hoje não há condições para ensinamentos desta natureza pois corria-se o risco de uma "acção em tribunal". As lições hoje são outras e de certa forma inúteis para os jovens. Já nascem ensinados e poucas histórias terão para contar.
  O Taberneiro manteve sempre a serenidade e nunca perdeu a compostura - era uma das características do A.V. : A seriedade com que fazia as partidas. Recordo outras duas situações dignas de nota: Uma era a passagem diária do nosso taberneiro pela HORTA que tinha nas "TAPADAS", calmo, silencioso com passos firmes era o RITUAL de manhã bem cedo. A nós, mais crescidos, dava-nos permissão para lá ir-mos aos pássaros com as FISGAS;  era simpático para a malta e algumas orientações ficavam...para fecharmos a rede quando saíssemos. 
  
 Horta fresca e com muitas sombras

Image Hosting Site

MUDANÇA!
 
Acompanhei de perto a passagem da ADEGA para o largo - penso que a casa perto do tanque era do SILVA???! SERIA ?Para nós meteu-nos curiosidade o porquê da saída da TASCA daquele local.Esta nova taberna acompanhou os tempos com a compra de um frigorífico. Este, posicionado logo em frente à porta. Aqui o A.V. apareceu com uma inovação: Enchia de vinho branco as garrafas das gasosas e laranjadas e metia-as no frigorífico a refrescar, "era um ver se te havias"naquelas tardes de calor tórrido. Foi esta situação que me fez aprender mais uma lição que me serviu de emenda - Numa das mesas dos grandes (...teria eu perto de 13 anos), tive o prazer de ser convidado para comer caracóis e beber uma das deliciosas garrafas de vinho fresco. Penso que não bebi só uma mas 2 ou 3. Recordo que me levaram em braços a casa e minha mãe estava à porta; Recebeu-me com um misto de ira e desprezo - o chão da minha rua tinha ficado decorado de caracóis e vinho branco e aprendi a tal lição. Ficar BÊBEDO, nunca mais.
 Tudo isto na ADEGA do ANTÓNIO V´CÊNTI! num TEMPO em que as pessoas viviam na realidade dum convívio saudável e pedagógico.Mas na TABERNA do largo havia também dias muito especiais. Refiro-me às festas do Verão em que a FAMÍLIA de LISBOA "ACUDIA"  toda e transformava o LUGAR  num ponto especial para ser visitado nestes dias - lembro que todos ajudavam a satisfazer um vasto público de fregueses que acudia à TABERNA nos dias das FESTAS. Hoje da TASCA nada resta...o LUGAR transformou-se num MODERNO restaurante; os tempos evoluíram e as novas gerações já não se ficam por um copo de "3 TOSTÕES" ao balcão do TOBIAS.TOBIAS BABAU, o RAPAZ que veio da GLÓRIA conquistar o coração da filha do velho TABERNEIRO. Do passado restam as sensações nas mais longínquas recordações das gerações que hoje estão na casa dos 50 ou 60 anos. Os fregueses da TASCA já há muito que passaram à HISTÓRIA: uns desapareceram para sempre, outros converteram-se aos novos hábitos. Para o Futuro fica este artigo que não passa de uma ABORDAGEM "ROMANTICAMENTE" SAUDOSISTA de um TEMPO jamais repetido.



Falar deste lugar é homenagear outras personagens e "SÍTIOS" que em tempos fizeram parte do roteiro dos trabalhadores do ZARCOS e dos GAIATOS à procura de maços de tabaco vazios para fazerem os tapetes coloridos.




O PROFANO e o SAGRADO

ACOMPANHARAM as TASCAS . 
 EIS OS NOMES que aqui destaco para ninguém esquecer:

Joquim dos Santos e Pápa-Ratos
UMA TASCA na BEIRA


 ADEGA do ANTÓNIOVCÊNTI
ADEGA dos XTRADINHA

ADEGA do TÓLHO

ADEGA do JOQUIM ZÉ

ADEGA do CHICO CÉGUINHO

ADEGA do SILVÉRIO

ADEGA do QUINCAS

ADEGA do PERDIZ

ADEGA do BAINETA

ADEGA do PECHOCA



São todas estas PESSOAS e LUGARES que estou a PERPECTUAR neste teclado, ao recordar histórias e feitos. Estes misturam-se num entrelaçado de acontecimentos que fizeram a história de todos os citadas em cima.

SENTA-TE AÍ HOMEM e BEBE QUALQUER COISA!!
(1)Um de 3?! de 5?! ou um pé ALTO???



...ESTE o MOTE em todas as TABERNAS para o início de uma dissertação que poderia terminar em Lágrimas ou num cantar enrolado de nostalgia. 

As bebidas da época eram o vinho branco e tinto, bagaço e traçados. Nos refrescos havia a limonada a gasosa,a laranjada os xaropes de capilé e groselha, e ainda o pirolito.
Bebida deliciosa com Gás...garrafa pesada e com um brinde extra um berlinde desejado pela gaiatagem.


PIRULITO

Vendia-se tabaco -POUCAS marcas, destaco os DEFINITIVOS e os MATA-RATOS, KENTUKCKY





O DINHEIRO era pouco e tinha este rosto

...MESMO pouco...POUPAVA-SE e dava para quase tudo.









...HISTÓRIA COMUM!
  
A FAMÍLIA

 
Este é o início da História
o Casamento de António com MARIA
 António Vicente o homem das "PARTIDAS e das HISTÓRIAS"
Relato seguinte contada pela FILHA POETISA.

LUZIA, FALA!!!

Olá Álvaro!
Entendi que gostava de saber alguma coisa da taberna do meu pai, mas eu pouco ou nada sei.  Talvez os meus irmãos, o Bajeca o João e o Quim porque eram rapazes e antigamente as tabernas era mesmo só para  os homens e nos as mulheres da casa ainda catraias era mesmo só para fazer a limpeza.



Também me lembro que era frente á fonte das bicas mas os homens não tinham sede. Recordo-me  que o meu pai ia a Estremoz todos os sábados  ao peixe e trazia sempre uns cinco ou seis quilos de jaquinzinhos para nós amanharmos em casa. Nós não gostávamos nada desse trabalho. Depois o meu pai fritava-os na taberna, enfiava-lhes um palito nos olhos e fritava aos Molhinhos. Petisco 5 estrelas. Não me  devo enganar nada se disser que aquele óleo ou azeite da fritura já devia ter frito um bom par de vezes.




Antigamente não havia a ASAE nem os antigos sabiam o que era reciclagem mas não há problema. Os que comeram os jaquinzinhos já não dizem nada. Também fazia outros petiscos que dizia sempre: -Hoje tenho cobra frita ou lagarto de escabeche!
…e lá os  ia  levando  à certa, foi assim que ele conseguiu. Com a ajuda da minha mãe que fazia bolos nos casamentos lá na terra
e arredores. 



Cada um com seu “TALENTO” , criaram cinco filhos e graças a Deus estão todos vivos e robustos. Costumávamos ir á horta do ti Zé paixão  comprar maçãs miúdas… era o que havia, se fosse agora não iam nem para a reciclagem, eram miudinhas mas docinhas e nós comíamos com pão. Ainda lhe sinto o gosto, belos tempos. A crise é agora? “AONDE”?
O meu pai também comprava um porquito por ano, para matar e que trazia a pé de Estremoz preso por uma cordinha. Era assim o transporte que  havia. Depois chegava aos arcos dizia á minha mãe : - Como dizes  que não gostas de gordura esse era o mais magro que havia!
É certo que nós sabemos que com mais arrobas era mais  dinheiro e ele não abundava. Lembro-me  dos meus irmãos andarem a  jogar a bola ao pé da Igreja. Mal o meu pai dava um pequeno  assobio meio sumido lá vinham eles com o rabinho entre as pernas que nem cordeirinhos mansos. Depois já mais crescida lembro-me que  na altura das matanças os rapazes levavam para petisco as orelhas dos porcos para fazer com ovos mexidos e nós as duas  sem a minha mãe ver metíamos mais um ovo para o meu namorado outro para o namorado da minha irmã. Tudo isto pode não ter grande validade mas tem para eu me recordar e recordar
é viver e já lá vai à volta de cinquenta anos.  Temos outro episódio bem marcado na memória é que  o meu pai tinha uma carrocita pouco nova e também uma burrita velha a quem nós chamávamos “a Paciência” devido a velocidade louca que ela  atingia…




Viajávamos sempre voluntárias na paciência nos sábados que precisávamos de ir à cidade. Lá íamos na paciência enquanto as 
outras da nossa idade iam de camioneta e nós na paciência. No dia que a paciência morreu, paz á sua alma, tivemos uma felicidade enorme. Ela dormia lá na horta onde os meus irmãos iam dormir todos os dias. Num hotel de luxo que lá havia, era tudo uma luxúria, não se gastava electricidade (não havia) não se gastava água (só  do poço). Nós dormíamos no quarto dos meus pais, era grande, tinha duas camas e mesinha de cabeceira a separá-las e dizem que a crise é agora…  Lembro as histórias inventadas pelo meu pai era perito nisso. Ele tinha na taberna uma garrafa com um pepino lá dentro que cultivou na horta. Um dia disse a um vendedor: -Isto não é  nada, tenho uma com um mogango lá dentro!
O vendedor queria ver mas ele não se atrapalhou, disse  que estava em casa da filha. Eu já era casada e era assim a pacata vida dele a contar e inventar histórias. Faltou-lhe uma… a última.  Se ele a pudesse contar. Não foi inventada, foi verdadeira foi que ele morreu em  8 7 e foi enterrado em 8 8.







Palavras para os descendentes.

Free Image Hosting



AS PESSOAS!!!

João-"FERRÓBICO"

"O FERRÓBICO", João, o ARTISTA do GRUPO, o engenhocas e o Músico.

BAGÉCA o COMUNICADOR e o HUMANISTA


O que recordo eu na REALIDADE desta família um pouco longe da RUA NOVA??!
Não queria terminar o ARTIGO sem me referir a algo,  o mais importante HOJE. Importante porque existem... estão cá! Uma palavra de sincero apreço aos FILHOS do TABERNEIRO e da MARIA «MARIA do MIJAPERTO».Palavra essa que abrange um leque de sentimentos todos eles positivos.São todos pessoas de uma bondade extraordinária e de um trato invulgar nos tempos que correm - foram sempre assim.Não destaco ninguém em especial mas devo referir que tive uma maior ligação com o João, nos meus tempos de GAIATO, e com o Bajéca na minha juventude e hoje como adulto."O FERRÓBICO", João, o ARTISTA do GRUPO, o engenhocas e o Músico. Uma das pessoas mais interessantes que conheci no meu inicio de vida. Nem sempre foi compreendido pelas gentes da terra mas também nunca perdeu o sorriso por isso. Penso que antes de ir para Lisboa trabalhou numa das carpintarias do ZARCOS  -  fez-me uma espada de madeira tinha eu 5 anos. Recordo bem esse momento.Mas o que tenho mais presente foi uma situação na qual estive envolvido, nos anos 80, talvez 1983/4,  na esquina do "SABINO".  Aprendi mais uma lição desta vez com o filho do velho TABERNEIRO. Lição que só poderia vir de uma PESSOA CORDIAL e de bom carácter: Fiz-lhe uma CRÍTICA "estúpida" sobre um acontecimento menos bom da sua vida. Qualquer pessoa teria reagido de uma forma violenta perante tal observação, João FERRÓBICO...disse simplesmente e num tom CALMO:- Álvaro, respeito muito mais as pessoas que me dizem as coisas pela frente do que aquelas que me criticam pelas costas. Esta foi realmente uma situação que ilustra a bondade e formação deste rapaz de sorriso fino, o mais parecido com o taberneiro. Poderá ser um assunto fora de contexto mas fica aqui, como forma de fazer JUSTIÇA a um HOMEM de uma personalidade forte e, de certa forma, incompreendido. Nunca mais vi o João - aqui deixo um ABRAÇO para ele.
Do Bajéca tenho presente a sua simpatia e o modo de trato clássico. Foi (...e É) sempre a mesma  PESSOA ... igual na forma como trata toda a gente. Um Cavalheiro, muito parecido não só de aspecto mas também de personalidade, com a sua Mãe Maria.Com um modo de ser muito idêntica à sua irmã mais velha Maria do Céu.Do Quim recordo a sua elegância e simpatia; era o mais "DISTANTE" do grupo - mesmo assim sempre correcto e amigo. 
A LUZIA é aquela figura sempre presente com ALMA de ARTISTA...herdou do Pai muito do que é hoje. Ela e o João são os que identifico com características idênticas ao "ANTÓNIO VCÊNTI".


«Não era o meu objectivo, à partida, individualizar estas questões mas ACHO que são as PESSOAS o mais importante, o que RESTA do tempo em que eu era um rapaz traquina e cujas sensações captei na "MÁQUINA FOTOGRÁFICA"do meu imaginário.

Todas as mensagens deste BLOGUE "ABRAÇAM" um TEMPO LONGÍNQUO, tempo esse que se situa no coração de várias gerações e famílias...o TEMPO dos NOSSOS AVÓS e PAIS. Elas são como PÁGINAS de um DIÁRIO que ficou escrito na MEMÓRIA de uma criança e + tarde ADOLESCENTE. Nem tudo o que escrevo poderá estar  correcto no seu todo. Também não é isso que pretendo, mas quando escrevo, tento não perder o fio à "MEADA". Tenho a certeza que tudo ficaria mais completo com dissertações de outros intervenientes neste "KAMINHO" que foi o nosso !!!!????»»»»GENTE do ZARCOS.
O BLOGUE pretende ser um ESPAÇO ainda que VIRTUAL de TODOS os que queiram participar, com ideias ou fotos.»

pensadorlobo@clix.pt



ANTÓNIO V´CÊNTI
o TABERNEIRO doZARCOS

António Vicente Borbinha
um homem sério e honrado 
na sua tabernazinha
deixou o seu tempo passado.

Cumpriu a sua missão
em alguns dos seus projectos
numa boa conclusão
teve filhos e teve netos.

Os que ele viu nascer
com um pouco de vaidade
os que o  viram morrer
alguns aninhos mais tarde.

Não queria confusões
era calmo e paciente
cumpria as obrigações
e amigo de toda a gente.

Se formos recordados
mesmo depois de morrer
ficaremos confortados
a quem isso acontecer.


É uma boa homenagem
a melhor até agora
porque a vida e uma passagem
tudo tem a sua hora.

Tudo tem que ter um  fim
nós temos que entender
o mundo formou-se assim
e é assim que tem que ser.

É perfeito com certeza
tudo tem o seu lugar
alegrias e tristeza 
fazem o mundo girar.

Deus é grande e sabe disso
Mas com muito para fazer
Deu-nos o compromisso
de aprendermos a viver.

(nasce um bebe)
Todos riem ele chora
passa o tempo por aqui
quando morre e vai embora
todos choram ele  ri.

Luzia









A CONTINUIDADE está assegurada.


domingo, 24 de julho de 2011

BRAVOS- A LOJA do Rato

INTRODUÇÃO

Os BRAVOS 

Há 50 ANOS seguidos que vou ao S. MATEUS!!!
Frase célebre do Sr. Bravo o Velho Rato depois de dar um Murro na mesa.

«Simulação»

Quando se gosta da vida, gosta-se do passado, porque ele é o presente tal como sobreviveu na memória humana.
                                  Marguerite Yourcenar

 De uma forma NATURAL cá estou eu a iniciar outro ARTIGO, desta vez ou mais uma vez o assunto é importante, para MIM SAGRADO mesmo. Tenho aqui a oportunidade de expiar os meus pecados e também uma certa dose de "INGRATIDÃO". Os RATOS foram de forma NATURAL a minha FAMÍLIA . Quando me referi num dos ARTIGOS perdidos à FAMÍLIA ALVINO como a minha segunda Família. A dos RATOS foi a minha verdadeira família a primeira em fusão com a do número 55. Foi nesta casa ombreada com a minha que realmente passei os melhores anos da minha VIDA. Hoje, num dia de Julho de um ano distante destes TEMPOS de FELICIDADE vou tentar aos poucos organizar ideias e recordações para honrar merecidamente todas estas pessoas que me mimaram com um lugar à sua mesa. Transmitiram-me afectos e ocuparam de uma forma brilhante a existência de todas as crianças da metade debaixo da RUA NOVA. Conforme se poderá constatar nos registos fotográficos desenterrados do esquecimento pelo meu "IRMÃO" mais velho Zé BRAVO ou para mim sempre Zé do RATO.
De repetição em REPETIÇÃO, palavras soltas ao vento com a precisão da procura das letras num teclado avançado, mais que uma vez referi a tal frase -A MINHA FAMÍLIA- éramos na verdade, as pessoas da rua nova uma FAMÍLIA comum até ao limite de um TEMPO que terminou exactamente no dia 25 de ABRIL de 1974. Esta foi a data que mudou o nosso MUNDO e revolucionou os AFECTOS que estruturavam a organização de uma SOCIEDADE a que muitos chamam de CINZENTA.
Hoje dia 24 de JULHO estou a mergulhar num lago imenso de recordações que se misturam e se confundem com o "ESTADO ACTUAL" das coisas,  pensamento por vezes fica confuso e dividido, penso em nós antes e agora. Penso que tudo terminou como terminaram as DINASTIAS do nosso passado.

As DINASTIAS FAMILIARES invariavelmente terminam à terceira geração.
Esta tem sido sempre a realidade de toda a HISTÓRIA humana, nada vive para sempre e esta é mais uma das frases emblemáticas muito usual no meu BLOGUE.MILIMETRICAMENTE adequada à família BRAVO, Os TEMPOS que vou abordar foram tempos difíceis , cheios de acontecimentos extremos de adaptação e superação de obstáculos, nasci a seu lado e cresci na sua casa até final da adolescência. Recolhi no meu sótão de memórias testemunhos de muitos desses acontecimentos. Eu vivi os bons, só me lembro de coisas boas. Aqui também as crianças eram sortudas, os adultos protegiam-nas de todos os males. 
Como ORGANIZAR este ARTIGO?!!!e FAZER dele o ESPELHO do entusiasmo que me vai na ALMA depois de passar uma a uma as fotos, provas de um PASSADO de COMUNHÃO e BONDADE entre as famílias.

Um TEMPO antes de NÓS 

No Tempo que não era o meu, onde a loja do RATO ainda não existia...
Como o desenho ESTRUTURAL do ADN assim são as famílias e as comunidades que as suportam. Todos interligados por parentescos, vivências e LUTAS para continuarem a sua escalada da existência.
Felizmente existem estas fotos e felizmente ainda há pessoas vivas que se lembram destes TEMPOS e destas PESSOAS.
Quem era o velho RATO, o tal velho dos oculinhos redondos. Velho porque já o conheci no fim da vida, NOVO HOJE»»»Renascido do esquecimento. Quem era e o que fazia??!
...E o PQ da existência destas fotos. Parece um pormenor, um simples pormenor. Muitos milhares de ARCOENSES se perderam no tempo do esquecimento, só porque não tiveram acesso aquela caixa mágica que cobria com um pano a cabeça do "ARTISTA". Os que foram de certa forma eternizados, fizeram-no porque tinham um estatuto diferente ou já nessa altura tinham BOM-GOSTO. Estas fotos provam essa verdade.


Estes os "CAUSADORES" de mais uma vez estarmos aqui a fazer HISTÓRIA.

Os Ratos da PADARIA

António Joaquim Bravo
Rosa de Jesus Cantilhanas
Anos 20.
Começo por esta preciosidade, O Avô BRAVO e a dona ROSA foram donos e fundadores de uma das duas padarias existentes no ZARCOS (A OUTRA era a padaria da Aldeia).
Foi aqui que começou o reinado da família RATO, o ANTES ficou perdido no TEMPO. Imagino que na organização SOCIAL da ÉPOCA não haveria qualquer tipo de comércio além das padarias e das tabernas, a realidade das vivências e sobrevivência tinha como a riqueza maior -O PÃO e o VINHO.
Além de alimentarem a população com o tão precioso BEM, o SENHOR Bravo e a DONA ROSA, tinham vacas. Poucas vacas mas o suficiente para também aqui e como negócio paralelo criarem os filhos (2). Um deles PADEIRO como os PAIS e o outro LEITEIRO. Aqui começou o REINADO desta minha FAMÍLIA na primeira metade do Século XX.

PRECIOSIDADE FOTOGRÁFICA
José Filipe Bravo (Zé do Rato, Padeiro, pai do Zé Augusto)-Rosa de Jesus Cantilhanas-António Joaquim Bravo e Joaquim António Bravo (Rato da Loja)

Família Bravo nas traseiras da CASA-Anos 20 Fins ou anos 30

Rosa a dar de comer à Gadeza-mesma data, mesmo dia
Penso que esta FOTO mágica e única  (cima) se reporta aos princípios dos ANOS 20, é com admiração e orgulho que observo estes ROSTOS que foram dos que construíram e nos deixaram o MUNDO de fartura que temos Hoje. Sem ter a certeza das vivências desta FAMÍLIA, estou à espera de dados mais correctos da parte do meu "IRMÃO" Zé do Rato...NETO destes adultos, penso que o Pai do Zé AUGUSTO ajudava os PAIS na padaria e o Joaquim ia com um BURRO carregado com 2 cântaros vender o Leite das Vacas a Estremoz. A fotografia seguinte prova-o assim como informações que recolhi nas pessoas mais idosas que ainda se lembram desses tempos.

Joquim do Rato em Estremoz na venda do LÊTIII-Início dos anos 40 

E assim, semana a semana. Ano a Ano se processou e consolidou a vida desta GENTE. Com Dificuldades imensas, num MUNDO Escuro, numa terra sem as condições (aos olhos de Hoje) mínimas de habitabilidade, as noites ligavam-se aos dias com o sofrimento das populações na procura de alimentos para os filhos. As FAMÍLIAS numerosas procuravam no pouco trabalho do CAMPO a possibilidade de como moeda de troca procurarem sobreviver. Dinheiro haveria pouco para pagar o tal pão e o LEITE que os Bravos ofereciam.
Joquim e zé do Rato construíram por sua vez as suas FAMÍLIAS. Joquim casou com a IDALINA e Zé com a saudosa e Bondosa Aurora (Invisual na segunda metade da sua vida).

Foto mais Recente da Família Bravo,Anos 60
Velho Rato-Zé Bravo-Idalina-Bia Candeias e Joquim do Rato



A minha Vizinha IDALINA MULHER de BOAS palavras, sensata em todos os seus GESTOS-Mulher que cresceu sem o AMOR dos Pais. Foi uma SOBREVIVENTE; o PAI morreu na GUERRA de França quando ela tinha 2 anos a MÃO segui-use-lhe  4 anos depois.


Luís Manuel Rodrigues-Pai da Idalina, morto na Guerra de França.1918


Idalina da Conceição Rodrigues

O Outro Rato o Zé

Anos 60-Joquim do Rato-Luís do Rato, filho-? -Zé do Rato padeiro-Aurora e Zé Augusto
«Festa da Senhora da Boa Nova-Um Dia em cheio, nem vi para onde fosse tão depressa este dia»
 ...Texto na parte posterior da foto escrito por Joquim do Rato

  Aqui como INTRODUÇÃO retenho a organização e o crescimento da FAMÍLIA Bravo

Fim da PRIMEIRA PARTE


A LOJA do RATO


Eu 1960



Free Image Hosting


O MUNDO meu conhecido


Vamos fazer de conta??????!!!! e tentar adivinhar  como apareceram as primeiras LOJAS????...ZZZZZ!!!ZZZ!!!! Que pomposamente se chamariam mais tarde MERCEARIAS. 
Sem saber na verdade a chave desta questão, arrisco-me a inventar uma pequena História que estará perto  da REALIDADE.
As primeiras lojas apareceram por várias razões, uma delas teve a ver com o aparecimento de produtos, gente que começou a produzir em excesso e quis fazer dinheiro (estes produtos, até aí só serviam para consumo pessoal ou moeda de troca entre famílias)- o   aumento da população outro dos factores, famílias numerosas e trabalhadoras dependentes do campo começaram a amealhar dinheiro e ter algum de sobra. Aos produtos do CAMPO vieram juntar-se outros (NOVIDADES) provenientes das novas Indústrias e das províncias ultramarinas, especiarias, panos da índia... Açúcar,  Arroz do Brasil e o Célebre BACALHAU trazido com suor e dor pelos pescadores PORTUGUESES do MAR da NORUEGA.
Não esquecer que a revolução INDUSTRIAL iniciada em Inglaterra espalhou-se por toda a EUROPA. Fábricas apareceram a grande maioria no litoral e norte do País. Lembrar também que depois de duas grandes GUERRAS a EUROPA destruída teve que renascer das cinzas, tudo isto facilitou o aparecimento de locais que satisfizessem o SER HUMANO revigorado e necessitado de inovação...depois de todo este sofrimento . 
As fábricas começaram a produzir produtos cada vez mais elaborados e apelativos. Sabão AZUL à BARRA grande ou o célebre sabão clarim este mais caro mas com um odor diferente . Rebuçados e outros doces, farinhas alimentícias.Detergentes para roupa OMO, o célebre OMO lava mais branco do nosso tempo. O café em LATAS pintadas com padrões artísticos e o chocolate também este em embalagens que se metiam pelos olhos




. Todos estes produtos invadiram PORTUGAL de norte a SUL e apresentaram-se como uma tentação para as famílias...mas aqui já estamos nos anos 60.
Não sei se a loja do Rato foi a primeira, mas a vertente comercial do Sr Bravo e Dona Rosa, incutida nos filhos...principalmente o "JOQUIM" que se deslocava diariamente à VILA de ESTREMOZ. As viagens eram longas, com tempo para tudo e também para formular sonhos e vidas de fantasia. Tinha acesso na "GRANDE CIDADE" a novos produtos que ia comprando e mostrando com FELICIDADE estampada no ROSTO aos vizinhos e amigos. Estes começaram a fazer as suas encomendas. Uma vez uma vassoura,um abanico e uma panela... outra vez dois pincéis para caiarem as casas e talvez ainda um corte de "SARGOÇA" produzida nas grandes e novas fábricas da COVILHÃ. "Joquim Bravo" esperto e com veia para o negócio começa a ganhar uns escudos e vê aí uma possibilidade não só de organizar a sua independência do Bravo Padeiro como ainda deixar a vida dura do transporte diário do LÊTIII para Estremoz... ao FRIO , à chuva  de Inverno e com o calor tórrido do Verão  Alentejano. Assim nasceu para o "MUNDO LOCAL" a loja do Rato. A primeira na casa com o Nrº 51 onde vive hoje a Vizinha Florinda Pernas.
Anos mais tarde viria a passar para onde eu a conheci para a casa fronteira à PADARIA , a casa do VELHO RATO, agora já com uma certa idade e no fim da sua vida de PADEIRO  facultou a sua casa para o filho "JOQUIM" montar o Negócio. O outro filho acho que foi trabalhar para Borba e foi padeiro toda a VIDA. Não sei se estou a inventar ou na realidade ou mais uma vez algum espírito amigo me está a passar todos estes dados.
Esta foi realmente a loja da minha VIDA, foi aqui que quis ser qualquer coisa, MERCEEIRO pois então era aqui que passava todos os dias antes de ir para a Escola e durante a Primária ajudava nos Sábados a dar conta de uma azáfama de gente que enchia a loja e o Talho do Rato.

?-TiMarimilia-Ti Marijoana -?-Velha Rosa-Velho rato Mãe Luisa-AVÔ VENTURA e Zé Bravo com 5 anos de chapéu
1952

Acrescento à reflexão inicial mais lembranças: 

Lembro-me que nestes tempos vendia-se tudo e mais alguma coisa; petróleo e sabões, carrinhos de linha para costurar e tecidos a metro, elásticos , atacadores para as botas, massas, farinhas e arroz, , azeite aos quartilhos e postas de bacalhau, cortadas na facalhona grande , sem esquecer os rebuçados com os “bonecos da bola”.Na loja do RATO nunca se venderam  esses rebuçados mas era hábito em outras lojas. Rifas sim com canivetes e o cartão para furar.

A GAIATAGEM também apareciam a fazer recados com listas ordenadas

“Meia quarta” de café, 3 velas de cera uma caixa de fósforos (das pequenas) e um vidro pró candeeiro a petróleo.  O dinheiro não era muito e por isso ASSENTE!!! Já o “conduto” era comprado no mercado. Compravam-se  “chupas” de um só sabor, “bolacha baunilha a peso”, “álcool azul”. Petróleo para o fogão da cozinha e para o candeeiro das chaminés mascarradas  e os abanicos para os fogareiros
O Feijão e o Grão medidos com as medidas de caixa com rolo de madeira



 Na loja, onde o bacalhau se cortava em postas pequenas, para “dar para mais”, vendia-se também azeite de talhas de lata, sugado por bombas e petróleo “normal” para acender o carvão e o fogão de cabeça, já referido em cima.



Compravam-se envelopes à unidade e selos também à unidade, colorau ou canela em “cartuchos” de papel e açúcar loiro em “cartuchos” de cor creme  grossos e duros. Palmilhas para os sapatos, sabão azul a peso, embrulhado em jornais velhos, ganchos para o cabelo das meninas , e até pentes , que os homens guardavam sagradamente no bolso das calças, ou entre a carteira atulhada de papéis ou calendários velhos invariavelmente com gravuras de mulheres nuas, estes entre outros produtos faziam os SONHOS das famílias. Outra das novidades eram os rolos elípticos das tripas secas para os enchidos e também o ESCADOTE de madeira para chegar mais acima.


 
 «FOTOS de HERONDINA, MALINHAS e COISINHAS»

E assim iam passando os dias, nesta espécie de conivência baseado na “seriedade da pessoa”, isto no tempo em que ser honrado e sério era tido como um valor social e a PALAVRA de HONRA uma bandeira. Mas, convém dizer que, sendo o povo letrado e pouco e esperto e o Rato com experiência nestas andanças, sempre havia contas devedoras que, dentro do livro, se iam juntando umas às outras aumentando a dívida e favorecendo o"QUIM, naturalmente.Mas a relação entre o "FREGUEZ" e  o dono da loja era carinhosa e cheia de sentimento. Era um LOCAL de convívio, rico de sensações. FORÇAVAM-se encontros à procura de conselhos e opiniões - um TERRITÓRIO das MULHERES, como as tabernas seria um TERRITÓRIO para os homens.

Comprar uma esferográfica Bic escrita fina e Bic normal era uma modernidade , várias histórias vivem à volta deste objecto amarelo inesperado para a época.
Um gaiato abeirou-se do  balcão com cara de poucos amigos dizendo que a caneta não escrevia. 



O Rato em silêncio aceitou sem demora trocar a dita por nova. Afastou-se no interior da loja, esfregou-a entre as mãos, para aquecer a tinta, riscou duas ou três vezes no papel da saca da “farinha" e voltou. - Aqui está, novinha em folha. O Gaiato agradeceu e saiu a correr.


 
Idalina-Pinguinhas-Eu-Velho rato e Rato
+-1970

O Livro dos "ASSENTUS"

Era usual antigamente as pessoas recorrer ao crédito aos LOGISTAS dada a falta de dinheiro. Este hábito deu origem ao “Livro dos Fiados”.
Um livro comprido massudo a que tinha acesso devido ao meu estatuto alcançado com uma atitude enérgica na pesagem dos produtos. Era natural para mim de uma vez só conseguir fazer as pesagens do açúcar e do  arroz  . Muitas e muitas vezes o fiz. Aqui e com a evolução dos tempos e também porque as famílias começaram a ter mais dinheiro, também pelo aparecimento da extracção do mármore em Borba, Vila viçosa e Estremoz. O dinheiro começou a aparecer e mudaram-se também os hábitos.
A população da minha RUA corria para as lojas nos Sábados e de lá saiam com as alcofas de verga cheias de produtos. 


Nesses produtos fazia parte mais uma novidade ...símbolo do ESTATUTO adquirido nos tempos do Marcelo Caetano. O BORREGO ou como a minha Mãe dizia a Carne "Esfoladia". Fui muitas vezes com o meu vizinho Rato comprar borregos ao "COMPRIDO" da "MariRUIVA". esses borregos eram mortos no quintal pendurados numa Acácia. Ritual que adorava pq estava para mim guardado um dos "BAÇOS" para grelhar nas BRASAS. Na Páscoa matavam-se 15 borregos. "Joquim" RATO teve necessidade de construir um anexo nas traseiras para pendurar tanto BORREGO. Foi um tempo de FARTURA. Descarregavam-se 50 Arrobas de Melancia na casa de fora e era tudo vendido. O carro do petróleo vinha todos as semanas e deixava os bidões cheios.
Matavam-se porcos e enchia-se carne para venda no TALHO. Tempo fantástico em que o Rato trazia os borregos para o casão das traseiras do meu QUINTAL
Como de costume o rato usava muitas vezes “alcunhas” que apelidavam os seus fregueses com nomes curiosos, pelos ouvir conheciam a clientela por:
A “Tidurica”.
A “Gorda”( porque era muito gorda ).
O “Coxo ou Maneta” .
A “Bruxa”( por ser feia).
A “Fala Barato”( por falar muito).
A BÁLHERADAS
A CATRÓIA
 O Pateta
A Cabrita
A velha Pila
O Zé de Lebre
A chinesa
A Amarôa
A Piléca
 
e muitos mais que ouvi e já esqueci
O Rato muitas vezes também recorria a desenhos, para codificar as dívidas, quando as pessoas não sabiam ler para que elas soubessem o que deviam:



"Joquim" Bravo herda agora o nome de seu pai, é a partir destes tempos o Rato da loja.


Joaquim António Bravo com a sua preciosa mota.
12/09/1971
«Arcos 12/09/1971Fui levar o gado a Estremoz mas ficou mal visto a atrelado»...texto na parte posterior da foto

O meu Vizinho evoluiu, com os tempos também no transporte. assisti nos primeiros anos de 60 à chegada de Estremoz com o carro com uma besta cheio de produtos do ARMAZÉM do Acácio Faustino, mais tarde acabaria por comprar esta mota já nos anos 70 e mandar fazer um atrelado que sempre lhe deu muito trabalho a conduzir ele próprio fazia testemunho dos malabarismos que tinha que efectuar para conduzir tão grande atrelado. 

< DESCENDÊNCIA>

O Zé do Rato da gaita e do penteado PERFEITO

«ISTO é TUDO BOA GENTE»
Frase escrita na mesa do meu TI Sapatêro num ano distante pelas mãos do Zé com uma caneta BIC amarela.

 
zé na fonte das BICAS 

Lembro-me muito bem do zé, admirava-o e tentava imitar-lhe os gestos, tinha uma personalidade muito parecida com a sua mãe Idalina...ponderado  simpático, de poucas palavras. Lembro muitas coisas importantes na época para mim criança pequenina. Não estava muitas vezes em casa e poucas vezes aviava na LOJA...era ESTUDANTE e queria divertir-se, logo aí dava para ver que o Zé queria voar para outras bandas. Naquela altura adorava tocar GAITA, tinha primeiro uma HARMÓNICA simples cromada..depois adquiriu uma com um DESIGN mais arredondado, cor de bronze esta mais evoluída. Fazia conjunto com o FERRÓBICO e acho com o Blé do Céguinho.

?-FerroBICO-Zé Bravo

Mas o Zé tinha outras vertentes a ter em conta era um GRANDE FUTEBOLISTA, penso que médio centro na equipa do ZARCOS, jogador calmo e de muito talento.


Zé Bravo e Tarzan

Esteve sempre na EQUIPA da TERRA

Equipa de 64???
Conheço  em cima-Zé Pato rádares-?-Virgolino-??-?-Quináia-Zé Rato-?
Blé-?-Quito-Quim e Parrêta Amilcar??

Equipa de 1965
Quim das zezeteiras-Ramos-joão do Secretário-?-Zé Bravo-Quináia
?-Helder-Tarzan-Blé e Quito




Lembro também e tenho como referência na minha formação como pessoa e ARTISTA, o PRIMEIRO contacto e momento de inspiração em relação à ARTE foram uns DESENHOS do Zé do seu tempo da ESCOLA do Castelo. 
Ele vai sorrir quando ler este trecho, mas é verdade...3 ou 4  desenhos simples, GEOMÉTRICOS pintados a GUACHE. Lindíssimos naquela altura para mim uma criança no início da VIDA, despertaram-me para a prática artística logo na Escola Primária. Maravilhosa essa recordação-HOJE! INDIAN ESPADANAL Artista Plástico agradece essa VISÃO distante.
Numa cómoda em frente à porta de entrada, cómoda pequena que tinha sobre o seu "regaço"uma »TELEFONIA pequena«  acho que AMARELA, Zé deliciava-se a ouvir as notícias da VOLTA a PORTUGAL em BICICLETA...João Roque e Leonel Miranda assim como Joaquim Andrade eram os desportistas que faziam vibrar aquela casa Alentejana. 
 
Obrigado Zé do RATO, meu "IRMÃO do Coração. Lembro muito bem o namoro do Zé com a LEONOR do SILVA, rapariga popular,  bonita e sempre com roupas vanguardistas-outra das casas frequentada por mim; boa gente esta família SILVA.


Eu e Leonor anos 70, talvez 76

Mas os GAIATOS fizeram parte desta "MOLDURA" da Família Bravo sempre e em todos os momentos. Esta é mais uma foto que prova que nós estávamos em todas- Herdadinha talvez no ano de 1962.

Zé-Luis irmão-Nucha do Álvino
Faragaita jadinho-Barroso Bia candeias-Altino? e Álvaro de chapéu
1962/63

Trabalhavam frequentemente raparigas na loja , uma das que me LEMBRO e me marcou pela positiva foi a MARIA GESTRUDES Clímaco Costa , rapariga simpática prima do António João. trabalhou lá vários anos. Gostaria de ter aqui uma foto dela mas não é possível. Espero que leia o artigo e me envie.



O "QUIM" era VERDADEIRAMENTE NOSSO AMIGO
Refiro-me a um TEMPO de muitos GAIATOS por toda a terra que é a nossa. Nos ARTIGOS »»»no Reinado de Dona CHÊTA e o BARROSO MORREU, faço alusão à estrondosa dinâmica que a gaiatagem exercia sobre as vivências de uma população. Fazia-se querer que éramos demasiado endiabrados. Por esse motivo ninguém nos queria por perto quando em grupo. A Paula corria-nos das ervas onde estendia a roupa e nós gostávamos de jogar à bola. Éramos também uma ameaça às hortas onde havia fruta ou tanques para nos refrescarmos no Verão. Em casa levávamos porrada todos os dias. Mas JOQUIM do RATO foi sempre um dos nossos assim como Idalina. Nós tínhamos permissão para ocuparmos o forno do velho RATO...aí passávamos manhãs e tardes inteirinhas no tempo de chuva ou FRIO, a JOGAR ao XITO ou às cartas.


Vinténs e xito para jogo no forno do rato 

 Solicitava-nos também para ajudarmos a descarregar as melancias ou a mercearia que trazia de ESTREMOZ. Foi com ele que aprendi a andar de bicicleta. Foi ele que me deu o tal empurrão RUA NOVA abaixo e me disse a palavra CHAVE:-PEDALA AGORA!!! Era algo maravilhoso, para uma criança, saber andar de bicicleta.
Não terminou aqui a nossa relação e dependencia do RATO da Mota. Já no fim da adolescência, revigoramos a equipa de futebol do nosso tempo e para isso tivemos muitas vezes que limpar o campo da Lagoa e marcá-lo com pó de cal. Era sempre ao RATO que recorríamos para ir ao forno da MARI-RUIVA buscar o material no seu reboque agora pintado de azul.
Nunca nos abandonou, esteve presente em muitos dos jogos do BORBENSE quando eu e o Fernando fazíamos parte da equipa de Juniores. Ele, invariavelmente, marcava presença nos jogos em BORBA. Mais histórias poderia contar até à altura, a tal data de todas as RUPTURAS o 25 de ABRIL de 74. Nunca entendi muito bem a razão do afastamento entre todos nós...Talvez desavenças entre adultos...talvez atitudes menos correctas de alguma das partes. Nunca o entendi mas também tive a minha dose de culpa em tudo isso. Com este artigo reformulo a minha parte das culpas, dos silêncios e dos olhos desviados. Sinto que poderia ter feito melhor mas foram tempos duros os que  todos passámos e que mudaram a estrutura social das Famílias e vivências entre nós. Um mal que se estende até hoje.
Já não se ouvem sons, não há movimento. Persistem as paredes em AGONIA de Saudade. As PESSOAS partiram para nunca mais voltarem.
A Natureza volta a OCUPAR terrenos Há muito perdidos. Ficam as SAUDADES e a vergonha de ser IMPOTENTE perante a REALIDADE. 
O Anexo onde se penduravam os BORREGOS olha para mim e convida-me a entrar...


Esta Família foi na realidade a MINHA FAMÍLIA....estes locais foram onde vivi, sonhei e sorri de VERDADE. As recordações são claras em mim. HOJE, na última parte da minha vida, somos poucos os que estamos VIVOS, a RUA já não é a "NOSSA RUA". As portas estão todas fechadas e muitas casas abandonadas cheias de "FANTASMAS" que clamam e que se recordem deles pela positiva. Nos TEMPOS em que a RUA era o "CIRCO" das nossas diabruras, as portas de todas as famílias estavam abertas até meio, entrávamos sem medo em todas as casas e éramos bem-vindos. Esperava-nos um afecto, uma palavra carinhosa ou um esfregar de uma mão nas nossas CABEÇAS. Era a forma que aquela gente tinha para dizer que gostava de nós e que tivéssemos cuidado porque o ZARCOS precisava de todos vivos para continuar a viver.
Hoje, num TEMPO em que tenho tudo, muito mais do que preciso, recordo um dos meus desejos de menino»»»um dia ter dinheiro para comprar muitos rebuçados. Hoje, compraria todos os rebuçados, uma camioneta carregada, mas, já não tenho desejos dessa natureza. O que preenche o meu IMAGINÁRIO são todos os Rostos desta gente desaparecida e a tristeza profunda de saudade feita, SAUDADE de MIM e de todos nós. Sinto que ficou algo por dizer... um pedido de desculpa um gesto embrulhado num abraço, uma PALAVRA de AMOR...

Hoje  restam 2 filhos e uma NETA desta Família com história. Uma única pessoa (...a NETA) representa e faz continuar quase 100 anos de acontecimentos dos Bravos, muito peso às costas. Que se sinta orgulhosa...na REALIDADE»»»»»
ISTO FOI TUDO MUITO BOA GENTE

OBRIGADO ZÉ do RATO por todas estas fotos Surpreendentes e SAGRADAS para mim. Um ABRAÇO FORTE e desculpa por tudo ser tão pouco.


COM AMOR



Eu Álvaro o filho da GRIZÉUA


Espero pelas tuas recordações Zé!!Ou dados para corrigir algumas das minhas reflexões que estejam menos correctas ou não correspondam à verdade.


pensadorlobo@clix.pt