LOBOS

Sou, na verdade, o Lobo da Estepe, como me digo tantas vezes – aquele animal extraviado que não encontra abrigo nem na alegria nem alimento num mundo que lhe é estranho e incompreensível

Herman Hesse

sexta-feira, 28 de abril de 2023

A importância dos vizinhos

 

 

MINERVINA 

...A ÚLTIMA VIZINHA

A LÍDER INCONTESTADA 

A ALTERNATIVA DO SILÊNCIO


 

...A vizinha do lado, ou  a última das vizinhas.

O que foi ter vizinhos?

-Ter vizinhos é aumentar a família.

Termos vizinhos naquele tempo distante era podermos gritar e sermos ouvidos.

Com vizinhos nunca existiu solidão.Os vizinhos eram úteis, serviam para muitas coisas (úteis).

-Leia-me lá esta carta, que não tenho os óculos. Vem dos lados de Cascais.

Estivemos sempre desenrascados com os vizinhos que nos calharam.

-Vezinha, na tem praiumas pedras de cal quemenpresti? 

Quero caiar a parede do alpendre e os mariolas nunca mais os vi(referiam-se aos vendedores de pedras para cal branca).

 

Com os "vezinhos" aprendíamos  a importância de um «ralhete». Também dos silêncios.

 Minervina era dessas, falava com o olhar e poucas palavras.

-O meu Tólho ou a Bia e a minha Nárinha.

 A última vez que com ela falei, foi de visita,os meses e os anos somam-se numa infindável cavalgada.Deixei-a falar, sobre os netos.

«... que nada é como dantes, está tudo longe, Tudo espalhado.»

Observava e ouvia, apetecia-me dizer-lhe (mas ela não entenderia)que estava cheio de inveja, família tão grande«, quem me dera, nunca tive "JEITUUU" nem engenho para investir nesse negócio.Uma família grande, onde existe sempre festa. 

Senhora  Minervina, já viu, fechou o círculo(ela não entendeu), pode dar-se por feliz.

 Continuou, o meu (?) não quis estudar, (percebi que era o do Tólho), ele lá sabe. 

...mas os vizinhos, além de família ensinaram-nos muitas coisas mais, e aconchegaram-nos para nunca termos medo do futuro.



«Como em um sonho me ponho a olhar a rua que foi minha amiga de brincadeiras, minha arca do tesouro e minha confidente em meus tempos de infância. Não havia amiga mais devotada. Quando saía de casa, descendo correndo, era ela que me vinha receber com seus mistérios, seus ruídos, seus cheiros e sabores inconfundíveis.
Em dias de chuva, os pés descalços corriam cegos pelas lages das casas vizinhas e saltitavam nas poças espirrando água pra todo lado. Ao olhar para o meio da rua, veio-me a lembrança do corre-corre das crianças e da gritaria que fazíamos quando algum automóvel se interpunha em nosso pique-bandeira e tínhamos que recuar dando passagem aquele intruso.
Quando a noite se aproximava, sorrateira, eu me sentava no meio fio, com a mão esquerda sob o queixo e olhava para aquele céu estrelado e sorria. O brilho da lua escondia um rosto que muito me intrigava. Não sabia se era de homem ou de mulher, mais imaginava que devia ser alguém poderoso e sábio para ser dono de tanta beleza.
Não era muito de fazer amigos e minha rua sabia disso, tanto que me enviou um amigo invisível para me fazer companhia. Se perguntarem a ela porque agiu desse modo, com certeza diria que sua amizade por mim não tinha limites. Houve um inverno em que a chuva foi visitar outras ruas e compadecida da seca que lhe abria feridas eu aliviei seus pesares ao lhe jogar baldes de água.
Minha rua não é uma rua qualquer, sem passado nem história. Ela é parte de mim. Se hoje sou feliz e tenho toda uma bagagem de vida, foi porque a minha rua estruturou a minha mente,  e fez-me crer em sentimentos verdadeiros.


Na calada da noite, todos dormem. Caminhava pela rua, encontro muros danificados pelo tempo, as lojas da minha infância estão mergulhadas no SILÊNCIO abandonadas, perdidas para todo o sempre. Uma vida só RE-VIVIDA na minha mente.

Aproximo-me do lugar, há minha volta sinto a nostalgia de uma época que não
viverei mais, meu coração acelera quando observo a casa dos vizinhos.

Os meus amigos, familiares, desconhecidos, todos se encontraram um dia naquela rua, naquele lugar que um dia eu chamei de lar…mas que perdi na fatalidade da PASSAGEM dos DIAS. Está perdido e com ele todos os gestos que aqui recordo.»

 

Zé Paixão-Minervina-Angelino e Cabrito
 

A Melhor Maneira de Viajar é Sentir Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos. 
 
 

Álvaro de Campos uma das Personagens de PESSOA, com palavras sentidas no PULSAR do CORAÇÃO deixou bem presente as contradições do VIVER. O TEMPO faz acalmar a o pensamento e o corpo. Os anos passaram e como camadas sobrepostas num viver ao SABOR das ESTAÇÕES. Nós GAIATOS da minha RUA a pouco e pouco fomos ocupando o lugar guardado na hierarquia dos ADULTOS. 
(sobre o Angelino/março de 2011)
Hoje recordo também , aqui no cimo da PIRÂMIDE muitas outras passagens deste convívio fraterno. As famílias por si só constituíam-se em  territórios independentes e "intimistas".
Apesar dessa "ORGANIZAÇÃO " elas estavam indirectamente destinadas a dependerem umas das outras. E era aqui que a FIGURA do ANGELINO GATO se destacava. Era um PESO-PESADO para todo o serviço, de parcas palavras de semblante calmo e sério ele estava sempre disponível para socorrer quem necessitasse. Recordo-me das noites de 40 graus de febre, meus PAIS socorriam-se do meu vizinho para irem a ESTREMOZ buscar o DOUTOR Assis e SANTOS, estava sempre disponível com a certeza nos seus GESTOS. Acho que serviu de TÁXI para muitos vizinhos da Rua. Também nos anos 80 quando fui estudar para Lisboa recorri a ele quando precisava de apanhar transporte em Estremoz. Parecem situações banais , sem qualquer importância mas, são estes pequenos GESTOS , agora fora de moda que estruturavam a cordialidade e as relações entre os GRUPOS no TEMPO do pouco Dinheiro.
Recordo igualmente as viagens ao CEREJAL com o intuito de irem à água nos DOMINGOS. Mais não sendo que um pretexto para beberem uma garrafa de vinho num convívio de GRUPO mais ou menos uniforme que se estendem por muitos anos-Angelino, Grizéu, Pica FOGO, Capitão e mais um ou outro que se ia infiltrando Domingo a DOMINGO.
Mais RECENTEMENTE nos ANOS 90, quando minha Mãe adoeceu de vez, foi a Família Angelino que apoiou o meu PAI nesta fase difícil das nossas vidas. 
Não esquecerei jamais todos estes acontecimentos os QUAIS deixo -ESCRITOS num rio de palavras sentidas. Que fazer ??!! se sou assim, um encadeado ser cheio de RECORDAÇÕES as quais partilho nesta aventura literária Virtual.
Obrigado à FAMÍLIA ANGELINO e que não esqueçam a NATURALIDADE da PARTIDA. Não partimos de vez...fizemos na terra uma pequena paragem no PERCURSO da EXISTÊNCIA nada terminou, tudo é um RECOMEÇO. Um DIA iremos abraçar o ANGELINO a Minervina , a sapata, a vezinha Alcina, a Ti Celeste, a Mouca do JoãodZÉZICA, a Vezinha Constantina, a Lebra e todos os outros que foram a estrutura de todos nós jovens daquele tempo, somos a última fornada a recordá-los desta maneira.


 

Família EXEMPLAR-OS ANGELINOS.

A Minervina é que mexia os cordelinhos.

sábado, 22 de abril de 2023

 

 

BLACK WOLF

 

 



"Be good, be kind, help each other."
"Respect the ground, respect the drum, respect each other."

 Gênesis 1
 

 


27Deus, portanto, criou os seres humanos à sua imagem, à imagem de Deus os criou: macho e fêmea os criou. 28Deus os abençoou e lhes ordenou: “Sede férteis e multiplicai-vos! Povoai e sujeitai toda a terra; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todo animal que rasteja sobre a terra!” 29E acrescentou Deus: “Eis que vos dou todas as plantas que nascem por toda a terra e produzem sementes, e todas as árvores que dão frutos com sementes: esse será o vosso alimento!…

 25 $ tostões e 2 kg de  RESPEITO

>OS MADEIRINHOS.



As imagens marcam-nos para todo o sempre.


 « UMA VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS» (...)
...é neste contexto que "OBRIGO" a repetir-me, esta viagem dos BLOGUES aos quais chamo «ARMAZÉNS da MEMÓRIA", para um espaço abrangente a muitos observadores, ávidos de novidades
(O FUÇAS)
Só poderá ser útil, se o mesmo assunto for tratado de outra forma.
É o caso!!
As centenas de fotos que possuo em arquivo, são o "objecto sagrado" para a contemplação, muitas delas, a maioria, minhas...nasceram desde jovem, fruto de uma curiosidade e exigência para aprisionar os momentos. RECOLETOR do visível. As imagens contêm em si contextos, sons por vezes odores dramas e comédias, muitos acontecimentos.
Imaginem que conseguiríamos congelar pedaços do AR que

RESPIRAMOS. Guardar história é um pouco isso-congelar momentos.
ABRE-TE PORTA!!
 

(Minha mãe a caminho da Senhora...
vou à SENHORA!)
 
 
...existe um Triângulo equilátero na minha memória. Num dos vértices , o MADEIRINHO e os Cortes da Rosada. No outro vértice, o Parente (Parentinho ) e os Piscas. No terceiro, os Gatos, o Correia de Sá e os Nunes. Desta forma se organizaram as hierarquias noZARCOS.
 
O que representavam estas FAMÍLIAS?
 
SEGURANÇA
TRABALHO
ORGANIZAÇÃO SOCIAL
RESPEITO
...o respeito e a cooperação, marcaram toda a existência desta terra, e estes senhores foram importantíssimos para que existissem dinâmicas e espírito para sobrevivência.

.
Do que me recordo? de quase tudo...mas o mais importante situa-se algures nos domínios aos quais chamo « COM POUCO PODEREMOS SER FELIZES, e quem sabe, termos um dia uma vida melhor»...eles e os filhos representavam aos nossos olhos essa realidade. Os detentores da TERRA e dos NEGÓCIOS.
Vivi quase toda a minha vida numa permanente relação com os MADEIRINHOS, por vezes arrisco mesmo um parentesco , ( ...será que o meu AVÔ VENTURA, lá pelos lados da Frandina, ou "MANPORCÃO"(...)não seriam parentes ?). 
 
Não sei, mas ainda hoje me sinto FAMÍLIA, foram tantos os convívios, os acontecimentos e as histórias ouvidas que me arrisco a dizer> ESTIVE em TODAS!
 
Existe em mim,(...quando vejo o CABAÇO ou olho aquele edifício,uma imensa certeza), um presente chamado GRATIDÃO.
Sorrio ao evocar acontecimentos, as histórias ouvidas-tudo repleto de intensidade, simplicidade, igualdade e partilha.
Não me recordo do Madeirinho vivo.
Mas o nome e a influência dele continuou por muitos anos após ter desaparecido.O LEGADO e Dona Cabacinha são o rosto da continuidade. Uma mulher EXTRAORDINÁRIA!!
...de uma bondade e pureza «estratoesférica», termo inventado recentemente e muito em voga hoje, nos da bola e os do entretimento gozam esta fama . Estamos num tempo em que as banalidades, as personagens  banais são transformadas em ESTRELAS, às quais apelido de estrelas do nada.
 
Dona Cabacinha e todos os outros de quem falarei no futuro, foram úteis e deixaram feitos palpáveis, bem marcados pelos passos nos seus caminhos.
 
Os donos das terras e de NÓS.
(CHEIRA-ME a ESTURRO!)

 
1964/foi uma terça-feira. Estávamos na Primavera,batas vestidas e uma azáfama diferente na sala dos rapazes. Maria do Céu (vinha de Táxi), Dona Ângela ( tinha um volckswagen)das meninas. Assunto sério, todos em fila (2) na rua, debaixo das amoreiras-destino igreja. A Dona Gisélia juntou-se ao cortejo. Sentença:-Vamos à missa de sétimo dia do senhor Madeirinho. E assim foi, em silêncio, sem entendermos bem o que era uma missa. Por norma encaixámos que o assunto era sério não havendo lugar a grandes barulheiras. Ficou-me a luz brilhante nas paredes caiadas de novo. Do lado esquerdo da porta pequena (central),Maria de Lurdes (minha madrinha Lurdes), e uma mesa com toalha de renda. Uma cesta de verga com meia dúzia de embrulhos cilíndricos, percebi que tinham moedas de 25 tostões para prendarem cada um de nós. Este foi o momento de transição, o poder de Dona Cabacinha começava e não existiam dúvidas que o futuro estava assegurado. Quem foram estas pessoas? O que significavam no contexto de uma freguesia toda ela organizada em redor de um largo.E porque eram apelidados de "RICOS".
(1964.casa da Madeirinha-frente ao "LAVA-LOIÇAS")


Os donos das terras e de NÓS.

Natividade, saberei responder a todas as questões, hoje 5 décadas depois, as memórias foram construidas até finais da adolescência, tinha 17 anos quando rebentou o 25 de Abril de 1974. Daí a em frente,o interesse em explorar vivências foi quase nulo. Numa casa como a do Madeirinho, a azáfama era dirigida para o trabalho nas propriedades, olivais (conhecia-os todos, passei na apanha da azeitona por eles ). O mais distante para lá da linha já muito perto da Nora. E ficava um para os lados das Carvalhas na Glória. Os das abas da serra na estrada velha os desejados pela curta distância. No anexo onde existe ainda hoje uma ampla varanda, o lugar das bestas. Vítor de São Domingos, Sr. Vítor como era chamado e que tinha mão para dominar um possante macho daqueles que levantava a cabeça com a força necessária para elevar um homem. existiram sempre dois animais no estábulo e uma tarimba com um colchão de palha para a necessidade de ficar alguém  a dormir para tratar de alguma besta doente. Houve tempos de duas parelhas e dois homens a tempo inteiro, mais o «Pernamagana» para assuntos mais leves.

 



 

(Dona Cabacinha-Lurdes- Álvaro)


 OS APACHES da MADEIRINHA



`(Ámélia- Joaquina Rádares , EU e Ferenanda Rádares)
(O RANCHO)

 

(Zéfa do Cáco-Fernanda Rádares -Ti Vitalina-Pila Maria Quiquitas-Mãe Luísa)


 
RICOS?

 

...pois querida amiga, tenho também resposta para essa questão. Eles representavam (...os do triângulo) a imagem da liderança , «os senhores», donos da terra e dos negócios, todas as dinâmicas e sobrevivência das famílias estavam indiretamente(arrisco diretamente) sujeitas a estes senhores. Eram eles que ofereciam o sustento através do duro trabalho nas suas terras. E nas vendas dos produtos.
Foram eles que desenrascavam e matavam a fome a muita dessa gente. Tenho o exemplo do meu avô Algarvio. Ouvi o testemunho, e não me esqueci; 7 filhos e por vezes o trabalho escasseava, O homem tinha vindo de São Braz de Alportel e "aportou " noZARCOS, e por lá ficou.
Miséria e fome juntas na casa da Ludovina e do Algarvio. Madeirinho mesmo ali à mão-de-semear, inventava um muro caído, lá para os lados da serra, ou uma parede para rebocar. Em troca algum dinheiro, pouco e uns litros de feijão, grão e azeite.
E o PÃO, tão precioso.
 
E como foram as rotinas na casa de cima: 
Mesa comprida, 9 pessoas a almoçar,e a JANTAREM. Os patrões comiam com os seus trabalhadores à mesma mesa . A mais saborosa sopa de grãos que comi na minha vida, aquelas carnes cozidas e muita couve.Eram coisa para alimentar e dar força.Os dias dos bolos e do pão caseiro no forno entre a cozinha e a casa da"CHARRETE". Foram temperados com muito suor no amassar da farinha. As REZAS PARA O ASSUNTO ESTAR EM CONFORMIDADE. A matança do porco e a "desmanchação" na casa do lado, onde estavam as talhas. Mas o que eu gostava mesmo era o tempo das debulhas lá EM CIMA,perto do depósito da água, onde o trilho na eira nos prendia o entusiasmo e ali ficávamos numa de contemplação . Subir para o carro cheio de molhos de trigo ou cevada, foi liberdade permitida, a gaiatagem por norma aceite, como esperança de passagem de testemunho.
As relações de poder, cheiravam um pouco aos tempos da monarquia, estes ricos nunca foram como os de hoje. O POVO ( as mulheres do POVO) cantavam a sua "desgraça" em LIBERDADE.

SÓ M’INVEJA DE QUEM BEBE
A ÁGUA EM TODAS AS FONTES(...)

 

 

Cabaço cresceu com os da sua geração, mesmo quando estudou em Estremoz, nunca deixou de interagir com a juventude doZARCOS, tornou-se uma presença assídua e transversal a todas as outras, na caça com os mais velhos, no futebol ou nos copos com minha e a anterior. Conta a lenda que no tempo da primária trocava os seus brinquedos (...quase raros, os gaiatos não tinham,faziam-nos!)por laranjas ou outra fruta, que por vezes tinha sido roubada das propriedades do Madeirinho. Generoso, e de uma presença cheia de beleza, deixou nas suas costas muitos corações despedaçados. Guardo muitas dessas histórias, algumas que ele já terá esquecido.EU NÃO!
 

 
 


 
NÃO M’INVEJA DE QUEM TEM
CARROS, PARELHAS E MONTES
SÓ M’INVEJA DE QUEM BEBE
A ÁGUA EM TODAS AS FONTES
 
 
...Ó Rama que linda Rama, "FALADA - cantada COMO MAIS NENHUM CONSEGUE" pelo Vitorino , foi ouvida por mim nas azeitonadas de invernos frios e chuvosos. O Povo divertia-se enquanto os patrões presos às sua obrigações , não teriam muito espaço de manobra para incursões fora dos seus domínios. Diz a história que nesse tempo e nos anteriores, existiam as Termas, O Rei D. Carlos iria para as termas e para várias casas que tinha espalhadas pelo País. Dona Cabacinha permaneceu quase 5 décadas (SÓ ENTRE QUATRO PAREDES, visitada diariamente pela minha mãe que lhe fazia algumas compras, pois ela não frequentava as lojas da freguesia. (Aquela janela do lado dto no 1ºandar iluminava-se por momentos todas as noites, por volta das 22 horas, era o momento da deita) guardando o legado do Madeirinho muito para além do 25 de abril de 1974.
Passou pela cabeça dos novos revolucionários, os detentores da igualdade e da liberdade,conquistarem o Castelo mesmo no centro da freguesia, ninguém teve coragem de o fazer,porque bem lá no fundo de cada um deles permaneciam réstias de memórias- dividas de família. Sei eu, algum dos seus tinham matado a fome nos pratos, do Madeirinho, dos Parentes ou dos Piscas, os detentores do poder, das terras e do respeito.
Uma sociedade, só desta forma terá possibilidades de se perpetuar. A LIBERDADE é um bem de todos, e nem todos somos iguais. Não somos eternamente donos de nada, é uma passagem da qual pouco ficará.
Existiram e existirão sempre Inteligentes, Chico-Espertos, Ricos e pobres...os novos tempos não conseguiram mudar as pessoas,nem oferecer-lhes a tal felicidade tão vendida ao desbarato. Ainda oiço o ensinamento dos velhos do grande largo, um deles da boca do Mestre Jacinto:
«-Ólha rapaz se viesse aqui um rico, e distribuísse 100 escudos a cada um dos que estão nas tabernas (espalhadas)pelos 4 cantos da freguesia. Daqui a 3 semanas nenhum desses que recebeu os cem escudos,teria um tostão. Mas existiriam dois ou três espertalhões que ficariam com os mil contos.»
O "Castelo" azul e branco permanece no mesmo local, hoje restaurado, consta-se que foi comprado em haste pública por alguém abonado, de outra forma caía. Hoje na casa dos senhores já não estarão de certeza as mobílias de Pau-Preto do Brasil, a secretária e os quadros com as fotos de família, e o chapéu à toureiro do Madeirinho.
A Cantareira dos cobres (tantas vezes esfregada com palha de aço) sobre a chaminé que a Dona Cabacinha adorava . Os sons das ferraduras, o ladrar do velho cão, a pressão de ar do Cabaço do tempo que íamos à passarada nas figueiras das HORTAS. e do MONTE .
No interior do edifício hoje cheio de vazio , permanecem as memórias de um tempo habitado por muitos sorrisos,conversas de ocasião, visitas de ilustres e menos ilustres.
Dizem as vozes do povo que irá ser um Lar. E quando se acabarem os velhos (?)porque já não nascem crianças, ou as que nascem não chegam. Qual será o seu destino ?
O som da porta de chapa azul , do lado direito, permanece em mim,como símbolo de um imenso acervo de memórias. Quim Manél uma das minhas referências para o crescimento. Ainda hoje tenho em mim muito do que aprendi com ele, ensinou-me a REBELDIA e o valor da independência e da liberdade, consegui suplantar o mestre .
Dona Cabacinha a que merece o titulo de «SENHORA», herdou do marido, (primo)...MADEIRINHA.






 

A SENHORA MADEIRINHA.
E O RESPEITO(!!)
« ... A TERRA NÃO É MINHA, PEDI-A EMPRESTADA AOS MEUS NETOS.(!)»
Sabedoria Ameríndia
 
 
DEUS CRIOU O HOMEM, MAS FOI ESTE QUE INVENTOU estupidamente as BANDEIRAS, as FRONTEIRAS os MUROS, PAÍSES...E TAMBÉM OS PECADOS CAPITAIS, PRATICADOS.PARA quê?
 
-Para fazerem a guerra,nenhum homem se parisse faria a GUERRA.


Hoje, RICOS(?) cada pedra seu rico, de dinheiro-fácil. O respeito não está à venda, não se adquire com bens preciosos. É coisa rara, só se obtém na implacável senda dos caminhos do bem , na utilidade e no suor despendido para a construção de um futuro com respeito pelo próximo e pela natureza que nos alimenta. 
 
 
 
NÃO HOUVE NENHUM IMPÉRIO DOS HOMENS QUE PERMANECESSE PARA SEMPRE.
NÃO HÁ NADA, NEM NINGUÉM ETERNO.
,,,
...SÓ A TERRA PERMANECERÁ «««, ATÉ O SOL SE APAGAR



E O RESPEITO(!!)



  

  



«...Natividade, há dois detalhes  nas tuas abordagens a estas viagens, que não quero perder, bem,,,3!

 O primeiro a forma clara como escreves e assumes as memórias que são também as minhas, não é difícil imaginar-te numa sala de aula a lecionares Português.

O segundo é teres percebido que o "narrador" das evocações é um miúdo que crescendo, ia  guardando cada detalhe das vivências.  Os  rostos, as vozes, as conversas e as mudanças numa localidade onde todos se conheciam e interagiam.  Esse rapazinho permanece vivo dentro do adulto.

 

«E entendeste perfeitamente o significado  destes testemunhos, um misto de entusiasmo, saudade e dor da ausência de um tempo magnífico, difícil, mas carregado de referências e acontecimentos marcantes. Visa  a COMUNICAÇÃO  e colocar a fasquia destes lugares virtuais , muito acima da mediania. Continuarei então a escrever-te  estas "CARTAS de AMOR-SAUDADE".»

 

As sete vidas de um Pistoleiro-«OS MADEIRINHOS - RICOS DONOS DE NÓS e do nosso DESTINO.»

domingo, 16 de abril de 2023

GAIATOS donos do FUTURO

 

 

CARTA (2)para a Natividade
 
16abr23//NA MINHA RUA OUTRORA
…OUTRORA NA MINHA RUA NASCIAM PESSOAS, PELAS SEIS DA MANHÃ NASCIAM gaiatos, EM TODAS AS PORTAS, ABERTAS, ESTAVAM PESSOAS. DOS POSTIGOS DESSAS MESMAS PORTAS, E TAMBÉM NAS MEIAS - PORTAS ESPREITAVAM TODAS AS PESSOAS , GUARDIÃS DE NÓS OS GAIATOS HABITANTES DO FUTURO. EXISTIU UM DIA MUITO, MUITO, MUITO MUITO DISTANTE, PARA LÁ DAQUELE QUE OS VELHOS DIZIAM QUE O MUNDO IRIA ACABAR.
 
.« QUANDO TERMINAR O SÉCULO NO ANO 2000, NÃO EXISTIRÃO HOMENS , SÓ MULHERES, E OS DESEJOS DELAS LEVA-LAS-ÃO A AGARRAREM-SE ÀS ÁRVORES, SIM ELAS VEEM nas ÁRVORES os homens que desejam. NESSA PASSAGEM DO SÉCULO, O MUNDO VAI ACABAR DESTA VEZ COM FOGO. AO GRANDE DILÚVIO SEGUE-SE O FOGO, ainda faltam muitos anos».
 
 
Ontem, décadas, muitas décadas depois regressei à minha rua procurando a criança que deixei sentada num portado gasto de mármore. Procurava todas as pessoas que fizeram a minha história, os gaiatos que comigo cresceram. Entrei pelo lado do Sabino e da taberna do Joquim zé, de imediato senti que a Rua Nova estava mais estreita, muito mais estreita da largura de um só carro. Por momentos hesitei, (...será que não estou enganado?), mas está aqui a cancela e o casão do Sabino, a montra da cabeleireira e o lugar da Padaria, a carpintaria do João Gonçalves, os Maguinhas os do filho no Seminário-à esquerda o Café do Sodó, a casinha da senhora Vitória. A casa da Larila «Ai Pereira, ai Pereira, não havia necessidade! - a Larila não vai aguentar». Ainda a Deltrudes e a filha Amélia. Antes do casão do Pereira havia uma passagem para a outra "margem" e uma Mimosa decorava a vereda que descíamos para a fonte das bicas... depois disso o casão do Pereira instalou-se tornando-se o grande palco das matinés.(Por cima a Lídia)...a Larila nãoaguenta de certeza que lhe dá um xxlique.
Yéeeee!! yéeeee!! yéeee!
twisty twisty tombola!
A Casa da Ti Lárinda, o Inácio foi para Timor e o Angélico para o Barreiro. ABia namora o filho do Caldoneta.E a da Nortôa que uma noite de lua cheia quis tomar banho num poço nas traseiras da minha casa (acudam-me! acudam-me, acudam-me. teve sorte a água dava-lhe pro joelho e era Verão) A porta do Tisapatêro, as lenhas do Alexandre da Lebre e do Pélito (?), a cabana da Esperança do Lebre. P+etxarim, Pédxarim e a Narcisaea filha na ALCOFINHA, já nasceu tarde.No forno não há ninguém, a Vezinha Alcine (...ai ai a minha Binácia e a minha Biaurora são tão bunitas) montada no seu sorriso, não está à janela, nem o Angelino,,, nem o Angelino! encostado à umbrêra da porta da casa de mobílias, mas não foi a adega do KINKAS? (...noutro tempo foi!), não ! mas e a loja do Aníbal e o Talho, onde estão(?)- da taberna do António umas fitas caídas anunciam pesadelo, nem cheirus nem «VIVALMA», uma aranha convencida e porta selada por umas teias irritantes.
-Aqui já não entra ninguém!! Acabaram-se, os polimentos de chão, o frango frito, o vinho a correr das talhas , aquele som da pinga caindo da rolha.
o KiKITAS, o Manél do Crujo e o bocado de tócinho imaculadamente branco do Manéli do Crujo também se acabou. Os vinténs do Chito estãm arrumados numa gaveta que apodreceu no canto do quintal ao lado do poço. Aqui jánaentraniguém!
Ainda tive esperança (ao esfregar os olhos), acordado? e a Dona Vitória?mas não foi o Capitãoa Capitôa e a BiaCapitôa? ti Celeste E O Silvério Gato, a Bótaluma, sim a Mercearia !! Qual?? DABÓTALUMA, a das prateleiras pintadas de azul, e a máquina de chupar petróleo com uma manivela. Da Barbearia já não sai gente apressada, a cheirar a pó d´arroz, o som da tesoura ficou mudo-mas, mas não existia aqui uma Barbearia? uma porta com vidros? TALVEZ noutro tempo. E o João do Zézica, a Cruja ?(...) a Vezinha mãe do Tólho, do Zé e da Laroca, costumava estar à porta.
Os Grizéus, postigo aberto , meia porta com um losango de ripas, uma grande pedra gasta de muitas lavagens, ladeada por ardósias vinda do fim do mundo, só pode! Esta é terra de mármore. Dizem quéla veio da Frandina, e roubou o namorado à mulhéri QUÉ HOJI do loiro. Já se namuravam há oituanos, que vergonha. Tem um filho.Natem paciência nenhuma. É orelhada, porrada pracima do inocentiii.
Mas felizes é que na vanseri! (1964).
-O filho da Grizéua? muito inteligente, mas tem pancada e aquela COSTELA de namoradeiro, uma desgraça, sai ao pai, saiu ao pai. (1975)
-Pois tambeim acho, uma porrada eróqueleprecisava.
-Sim uma vergonha.
Naquele lugar, naquela porta e na passagem estreita que dava ao FORNO (agora uma porta de chapa velha) «A LOJA DO RATO» onde Dona Rosa e o Rato coziam o pão. Na Mercearia eu pesava à primeira 1Kg de Açúcar e de arroz- Repito «àprimêra!!», e a azáfama dos sábados, o som do machado no osso do borrego?
Tudo silencioso, não vejo a Isabel da Titurica, nem a Velha Patinha e a Mari dos Frades? e o pessoal dos lados do cemitério , Rua de Borba?
Onde páram a Idalina e o Zé do Rato? O Luís está pra Lisboa e o Zé acentô Praça…têm desculpa mas e o pessoal do Curmial? a velha Barrosa, ladina mexida , com um saco de pano enrolado na mão, onde destão? Onde estão o Zé de Lebre e a Santinha que não queriam nada com a loja do Rato, escolhiam a do Bótalumi, ou era a do Aníbal? NÃO o ZÉ DE LEBRE foi sempre à duFUDRICO. Mas a Catróia a mulher do Zina? Essa comia da Horta do quintal, lá devezenquando às escondidas do Zina ia à loja do Pexóca praninguém a veri, que ficava nos confins da terra, perto da Carpintaria do Mestre Filipe -Constantino onde trabalha o NÉICAN.
Não estava aqui uma cancela e ali uma adega? E a Nucha , a linda Nucha da MaridusFrades ca Vina a guardá-lhascostas? Os irmãos estam todos praLisboa. Só o Mingazé ajuda o pai Joãdoxtradinha.
Sim a cancela o nosso armazém de pedras das Fisgas. Mesmo ao lado da loja pequenina do Angelino, 
 um homem já não pode ter querer!!? Ora essa!!
- Uma vergonha!
-Uma vergonha tens razão.
 
Ó Cabrito!! essa cabana precisa duns remendos, qualquer dia vai abaixo (NÁ!)…a minha irmã na se mexe, cada vez está mais gorda.
Os portados dos alegretes os daVelha Patinha são os mais bem caiados , a filha preciosa (filhas!?) a Esmeraldina do Quimino não é filha da Patinha? só conheço o Patinha aquele que está para Odivelas. Odivelas, mas não é pró Barreru, ou é no Pinhal Novo? Consta-me que é Odivelas.
O Alfrêdo, cada vez mais mirrado, não pode ca mulheri, um brinco. 
 Porra dizemprai umas coizas, não se pode dezeri, mas que há há. Uma vergonha!
 
 
Ai o cão do Gana! «O C de casa é o último a saberii». Calem-se ! cainda pódeóvir alguém.
Ó Esperança, ó Esperança, és tam bunita (Esperança da Pila sorri!) é uma santa rapariga, dizem que é parva, eu gosto muito dela. Se é parva «...nassnota». Mas o sorriso dela e a bondade dela não têm paralelo. A Laura bem atarefada e preocupada (sempre acelerada) com a sua Madalena e as receitas dos doces que faz prós lados da Rosada.
O Zé Varelas, boa casa, porra e aquela frontaria MODERNAÇA. Casa cheia de gente, há famílias abençoadas, até já me perdi, dexacáveri, Zé, Vitalina, Chica, Joana que casoucu Amílcar da lebre, Tólho, Esmeralda ... ainda faltam a Maria Teodória, a otra que casou cu Tendêro. Uma mulher tam pequenina deu nisto, ólha tenhu uma inveja sem fim. O Barroso, porta escancarada foi embora pó tanqui e deixa tudo escancarado-tá aí a velha e a filha no quintal. No centro do Curmiáli onde o Amarão tem os coelhos, mas não são do ZéPiléca? Ólhó senhor Daniel! Sempre respeitoso, boa pessoa…
Do Quiquitas a parreira, belas uvas. Ai a Marinita tam pequenina.
Nunca gostei do Óleo de fígado de Bacalhau, mas aquelas sopas de féjão na cantina da Ti Pálina, oiço os gaiatos no início da Rua Nova, formados em duas filas hora de almoço. A Maria do Céu e a Dona Gizélia viam-se em pulgas para manter a «banda» formada. Até os cães fugiam do barulhos das canções entoadas pla gaitagem a caminho da cantina da TiFlorinda. Do Zina nem sombra, é um Bicho nasedácomninguém, o Catróia não sai a ele… sai à mãe!
O Santinho tá acabado, mas as filhas, as filhas pouco se veem na freguesia.
O Magano e a Tónha da Esperança... moram naquele fundo antes da fonte dos Sapos.
 
 
«Gaiatos…gaiatos filhos da PUTA!»(Ti Paula)
Os guardiões do FUTURO!
Gaiatos.
«NA MINHA RUA NASCEM FLORES» 
 
 
SÓ A CAMIONETA DAS MELANCIAS OU A DO DEPÓSITO DO PETRÓLEO.
SÓ ESSAS NOS BARRAVAM AS VISTAS.
AS PEDRAS , O PÓ (no Verão). AS POÇAS DE ÁGUA NOS DIAS INVERNOSOS EM QUE O VENTO UIVAVA LÁ NO FUNDO... amedrontados os GAIATOS, não saiam à rua.
Nesses dias Escuros, a RUA PERMANECIA VAZIA. Triste, só um cão abandonado, molhado passava para lá dos vidros da minha janela.
Nos outros , dos quais quero falar, a RUA NOVA foi o centro do mundo. Da RUA NOVA se chegava ao grande largo.
Manuel da Fonseca referiu nos seus escritos que o largo (nas terras do Alentejo) foi o centro do mundo. «Era o centro da Vila. Os viajantes apeavam-se da diligência e contavam novidades. Era através do Largo que o povo comunicava com o mundo. Também, à fal­ta de notícias, era aí que se inventava alguma coisa que se parecesse com a verdade. O tempo passava, e essa qualquer coisa inventada vinha a ser a verdade. Nada a destruía: tinha vindo do Largo. Assim, o Largo era o centro do mundo.»
Naquele tempo a nossa rua foi o centro do mundo, para o Rossio íamos descansar e contar as façanhas do dia. Naquelas noites sem LUA, as estrelas foram testemunhas do entusiasmo com que pintávamos todas as façanhas. Há muito muito tempo existiu uma rua cheia de GAIATOS, de sorrisos e VIZINHOS. Como são importantes os vizinhos. UMA RIQUEZA!
O Forno dividia a rua ao meio-do lado esquerdo, todas as casas tinham umas portas que as ligavam.
Consta que a rua foi mandada "FAZER" por um homem rico para as famílias dos seus trabalhadores. Rua Dr.Teles de Matos. O POVO batizou-a de Rua Nova.
NA MINHA RUA NASCIAM FLORES
GAIATOS FILHOS DA SORTE E da LIBERDADE
SE ME ESCAPAR ALGUM, RECORDEM-ME (!)
ESTA TAMBÉM É UMA ESCRITA A MUITAS MÃOS E ALGUNS CORAÇÕES A BOMBAREM.
DO SABINO REZA A HISTÓRIA, O PRIMEIRO FRIGORÍFICO DA RUA NOVA. Nunca teve filhos mas aturava os filhos dos outros. Nita e QUESI (filhas da cabeleireira-Mariana e Lucrécia). Ana Maria filha do Sodó e da senhora Joaninha. Fernando meu primo (isto os mais novos, os grandes lembro-me de todos mas não são para aqui chamados). Chico da Lebre e irmã Fátima . Tólho do Angelino, Bia e Nárinha filhos do Angelino. Tózé e a irmã filhos da Biaurora e do Consolado. Nelson e Lino do António do Paixão eram gaiatos ainda não nascidos mas que iriam ainda ver-nos crescer. Tónhu, Zé e Laroca filhos do João do Zézica. Fátima do Crujo. Varelas, Vitalina , Zé e a Esmeralda. Barroso e a irmã Rosalina. Quimino, Bonanza, Joquim Manél e a irmã pequenina Cristina nascida mais tarde. Marinita , Catróia e Chico da Horta do Monte. Faragaiata e irmã que vinham da Rua de Borba mas que alinhavam com a malta. Assim como o Quim da Alzira e o Ferrador. Daniel Cabrito vinha das Tapadas e tinha «jeitoprónegócio.»
Todas estas vivências e a paz terminaram no 25 de Abril de 1974. Dizem que chegou a Liberdade. Dizem também e deixaram escrito que a máxima:
 
DEUS
PÁTRIA
FAMÍLIA
(SEGURANÇA!!)
 
...do Estado Novo tinha chegado ao fim.AGORA SERIAMOS TODOS IGUAIS(que chatice, já imaginaram todos pensássemos da mesma maneira??) Porém não me avisaram que a nossa rua iria ser um "ESTALEIRO" , estacionamento de carros. Não nasceriam mais flores, as portas estariam fechadas e os GAIATOS cresceriam na sombra das suas casas.
Se me dissessem que iria acontecer desta forma, não acreditaria.
Aquela Rua que ontem percorri, poderá ser mais moderna, «composta de CONTEMPORANEIDADE», definitivamente não É A RUA NOVA onde vivi um dia, onde contávamos as ESTRELAS.
-NÃO FAÇAS ISSO! CRESCEM-TE CRAVOS NOS DEDOS.
Rua NOVA, onde fomos realmente FELIZES. Foi debaixo dos telhados da minha rua e das outras ruas da freguesia, que aconteceram os feitos, as glórias e as misérias que fizeram de nós HISTÓRIA, a história de um povo que serviu de bandeja com a força do seu trabalho e suor. A estas novas gerações as "latas" que decoram toda a freguesia.
O largo existia para descansarmos. E planearmos novas aventuras.
Na minha Rua todos os sonhos foram possíveis- EU SOU A PROVA de TAL FEITO! ELA Já não existe, a rua desta EVOCAÇÃO. 
 
 
TRIBUTO!
( Esta viagem da memória é dedicada aos "Angelinos" e especialmente à SENHORA MINERVINA, que hoje está passando dias difíceis (URRA-Portalegre) a quem devo muitas e boas recordações. O apoio ao meu Pai na última travessia da vida, com ele e por ele.)
E a todos os que já não estão entre nós-VITALINA-BARROSO-FERRADOR-CATRÓIA e IRMÃ do FARAGAITA.
(...as 7 vidas de um PISTOLEIRO-EPISÓDIO 2-Gaiatos filhos da puta!)
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16abr23//NA MINHA RUA OUTRORA

 









Idália Galrito
Que bom ler estas memórias, Álvaro ! Voltei a ser criança por uns instantes e reconheci todos os lugares e as pessoas, apesar de nunca residir nos Arcos. Conhecia todos os recantos.
É a minha terra, onde residiam os meus avós e quase toda a minha família e onde costumava passar muitos dias da minha meninice e adolescência. Também estive lá na escola com a D. Ângela e D. Vitória e a D. Maria do Céu Banha, esta na escola dos rapazes.
(Trabalhei/ajudei) no Zé do Rato a aviar as 125 g e 250 g de açúcar, do arroz, da massa etc. Hoje, quase não conheço ninguém, apenas a minha família que lá continua.
É muito bom reviver tudo isto! Um beijinho e continua.
 
Carlos Silva
 
 
Caro amigo,
Artista de plena liberdade…
Arcoense de gema, alma e coração…
Também eu, ontem, passei pela tua rua,
Pela tua “RUA NOVA”,
Agora velha, Rua Nova!
Tal como passei pela minha,
Como ultimamente tenho feito,
Quase todos os dias para recordar e reviver…
Agora que tenho tempo…
Agora que tenho todo o tempo do mundo!
Acompanhado pela criança
Que outrora por ali mil vezes passara,
Pensei que a podia reencontrar,
Tal como pensei que poderia reencontrar-te, a ti,
Ou a criança, não sei…
Na realidade,
Era-me indiferente encontrar um ou outro!
Acabaria por não encontrar nem um nem outro,
Tal como não encontrei os “gaiatos”, nem as demais pessoas
Da tua história…
Aliás, nem as da minha história encontrei!
A maioria terá partido...
Deixando para trás aquele vazio que viste e sentiste…
Portados de mármore gastos de tanto uso…
Casas outrora cheias, agora vazias e abandonadas…
Cheias de tudo e de nada!
Claro que ainda estão bem vivas
Na tua memória,
Na minha memória,
Em todas as memórias que as viveram!
Todas!
Desde o princípio da rua…
Passando pela barbearia do Pecuré,
Pela sapataria do pai do Armário, o “Tisapatêro”,
Ou pelo café do Sodó, onde ia pela mão do meu pai,
Até à fonte das bicas para matar a sede.
 
(2)
Se a “RUA NOVA”
Era o “centro do mundo”…
Então o que dizer do Bairro do Carrascal?
O tal bairro da Escola, pegado com a parede da “minha casa”
De onde bastava um salto da cama para lá entrar!
Quantas vezes a minha mãe não me disse:
Carlos, despacha-te!... Já estão a entrar para a escola!
Ui!... tantas vezes!
Tantas vezes a professora Maria do Céu me avisou
Que tinha que chegar a horas!
Eu que morava ali mesmo pegado!
Então o que dizer do Largo da Rosada,
Ali mesmo ao lado,
Onde os fins de tarde se prolongavam pela noite dentro
A jogar à bola com o Zé, o Rui, o Cristóvão, o Jorge, o Nuno…
E tantos outros que ocasionalmente iam aparecendo?
Ali sim, era o centro dos Arcos!
Ali sim era o “centro do mundo”!
Sim, porque o Rossio,
Esse só à noite era frequentado,
Até altas horas da madrugada…
E mais não digo…
Porque as atividades lúdicas por lá desenvolvidas,
Ficarão no “segredo dos deuses” …
É melhor ficarem como ficaram…
Perdidas no tempo, ao destempo,
Como se não tivessem existido.
 
 
3)
Desculpa lá,
Mas não concordo que a loja do “Pexóca”
Ficava “nos confins da terra”!
Porque era precisamente ali em frente,
Na carpintaria do Almeirim,
Que se faziam as célebres matinés de verão,
Com o tal gira-discos
Que ainda hoje a minha mãe guarda religiosamente.
As emoções daquelas quentes matinés de verão,
Que começavam com muita música e animação…
E acabavam quase sempre com a muita emoção,
Muitos “slows” praticamente parados…
Afinal, não era sempre que se podia dançar desafogadamente,
Sem a presença dos papás.
Recordo-me perfeitamente do 25 de abril de 1974!
Foi todo o dia a jogar à bola!
Não me importavam os cravos ou as rosas…
Não sabia o que era realmente a Liberdade…
Mas era plenamente livre!
Sobretudo nesse dia, porque não houve aulas!
Mais do que plenamente livre…
Era plenamente feliz!
Nessa altura todos os sonhos eram possíveis!
Na realidade tu és prova disso!
Tal como eu!
Que os tornei realidade!


Natividade Oliveira
Iniciei hoje o 3 Período pedindo à.turma que tive ao 1 tempo da manhã que me dissessem qual era coisa que eles era mais bela na vida e que partilhassem com todos as respostas: Foram várias e diversas as opiniões. Houve mesmo quem dissesse que era muito difícil a minha pergunta, que não conseguia responder. Disse- lhe que não se preocupasse que eu própria também senti essa dificuldade mas graças ao teu texto tinha chegado.à resposta. A turma em coro pediu- me que partilhasse com eles. Eu respondi simplesmente: MEMÓRIA.
 
Natividade Oliveira
Grande silêncio pairou na sala
Nesse momento eu.expliquei-lhes que através dela revivemos factos e sabores
Li pausadamente o teu texto. E disse- lhes que nesta mesma rua, a rua nova, lá mesmo ao fundo havia um largo. A ultima casa do lado esquerdo tinha apenas
dois compartimentos: no primeiro havia uma lareira onde faziam lume de chão e cozinhavam. No segundo compartimento o mobiliário era apenas 3 mesas compridas, dispostas em " L" e junto delas um banco comprido. Sobre as mesmas uma toalha aos quadradinhos azuis e.brancos. Disse-lhes que era nesse espaço.que funcionava a cantina das escola primária. Falei-lhes da Senhora Florinda e eles de olhar atento e curiosos por eu ter dito que para mim a coisa mais bela do mundo era a 
memória questionaram- me se me.lembrava da ementa. Parei, respirei fundo, e eis que me lembrei o que comiamos à 2 feira, 3 feira, 4 feira, quando cheguei à 5 dei comigo.a lamber os lábios. Atitude imprópria por parte de uma professora em frente a uma.turma e lembrando- me também da minha querida mãe, quando me dizia " as.meninas.bonitas não assobiam" acrescentei rapidamente sopa de grão com massa com um raminho.de hortelã. Servida numa tigela de aluminio.e à frente sobre uma fatia de pão.alentejano uma rodela de linguiça, outra de morcela e um bocadinho de toucinho cozidos. E à sexta stora? Perguntou um dos mais curiosos
Sobre o meu rosto deslizaram duas.lágrimas e.respondi:.Arroz de bacalhau. E só comiam assim sopa? questionou outra. Pois bem Alvaro o.teu.texto serviu de base a.uma verdadeira aula de cidadania. Falei- lhe.do.sistema de ensino em Portugal.nas décadas de 60 e setenta e como eramos felizes.e gratos e eles agora com manuais, kits informáticos grátis, revelam tão.pouco interesse.pela aprendizagem e passam a vida a dizer mal da comida da cantina ...
 
Albertino Russo
 
 
 Ainda bem que alguém nos dá o prazer de ver imagens e ler o nome de muitas pessoas que já não estão entre nós e que foram símbolo da minha infância,pessoas conhecidas por todos os habitantes do z'arcos , pessoas que já nem sequer me lembrava e que até parece que foi ontem que as via ,mas o tempo passa, os tempos mudam,as coisas mudam , as pessoas partem e quanto a isso não há volta a dar, agradeço de coração as imagens que tenho visto e me tem feito voltar atrás no tempo , eu que sou 100% natural de Arcos,nascido ,batizado e casado, pois sou dos poucos ou talvez o único da minha geração que nasci ainda há antiga na Horta do Monte em 02-05-1977, tenho também como memória quando o Álvaro voltou a viver na nossa terra e deu aulas em Estremoz e ir naquela motorizada ,penso que seja uma sach lebre ,mais conhecida por joaninha. Um grande abraço aqui do z'arcos
 



 

 TRIBUTO!

 ( Esta viagem da memória é dedicada aos "Angelinos" e especialmente à SENHORA MINERVINA, que hoje está terminando os seus dias (URRA-Portalegre) a quem devo muitas boas recordações e o apoio ao meu Pai na última travessia da vida, com ele e por ele.)

E a todos os que já não estão entre nós-BARROSO-FERRADOR-CATRÓIA e IRMÃ do FARAGAITA.

 


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