O RAPAZ de BORBA que foi sempre doZARCOS
ROGÉRIO da CONCEIÇÃO BRINQUETE FAIA
1957-13 /02-2016
O Rogério, o rapaz silencioso, afável, HUMILDE e graciosamente simpático...foi um dos rapazes da minha geração. Pouco tenho para escrever, nenhumas histórias me ficaram do Rogério. No entanto é uma personagem que me deixa curioso, exactamente por não ter história nenhuma para contar. Mas, tenho presente a sua imagem, quase sempre só, longe de todos, silencioso e cheio de afectos ,,,o seu olhar.
Surpreende-me o ROGÉRIO Faia ser de BORBA, se foi noZARCOS , desde a ESCOLA PRIMÁRIA que sempre nos fez companhia, sem pretensões e... se tinha SONHOS???!... enquanto nós nos afogávamos em desejos e ambições, nunca os revelou. Viveu serenamente, um tempo de espera. O Faia permanecia gastando a luz de sua vida em sossego, sem exigir muito dela, quase sem palavras e mergulhado num esboçado e permanente sorriso. É assim que o recordo, há vinte e poucos anos atrás, quando estive com ele a última vez.
Surpreende-me o ROGÉRIO Faia ser de BORBA, se foi noZARCOS , desde a ESCOLA PRIMÁRIA que sempre nos fez companhia, sem pretensões e... se tinha SONHOS???!... enquanto nós nos afogávamos em desejos e ambições, nunca os revelou. Viveu serenamente, um tempo de espera. O Faia permanecia gastando a luz de sua vida em sossego, sem exigir muito dela, quase sem palavras e mergulhado num esboçado e permanente sorriso. É assim que o recordo, há vinte e poucos anos atrás, quando estive com ele a última vez.
Guardou rebanhos penso eu...e permaneceu em mim , como um ROSTO habitando-me,,,de bondade e PESSOA de bons princípios.
Para ele deixo o outro PESSOA disfarçado de Alberto.
Obrigado Rogério Faia , a tua SIMPLICIDADE foram flores "PRIMAVERIS". O teu caminho, nobre...de outra forma não estaria aqui, neste lugar a falar para TI.
Reflexivo e triste, falando com os meu BOTÕES ; fazendo contas aos momentos que nos restam a todos.
Reflexivo e triste, falando com os meu BOTÕES ; fazendo contas aos momentos que nos restam a todos.
Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.
Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por
isso.
Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove
mais.
Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.
E se desejo às vezes
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita coisa feliz ao mesmo tempo),
É só porque sinto o que escrevo ao pôr do
sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima
da luz
E corre um silêncio pela erva fora.
Quando me sento a escrever versos
Ou, passeando pelos caminhos ou pelos
atalhos,
Escrevo versos num papel que está no meu
pensamento,
Sinto um cajado nas mãos
E vejo um recorte de mim
No cimo dum outeiro,
Olhando para o meu rebanho e vendo as
minhas ideias,
Ou olhando para as minhas ideias e vendo o
meu rebanho,
E sorrindo vagamente como quem não
compreende o que se diz
E quer fingir que compreende.
Saúdo todos os que me lerem,
Tirando-lhes o chapéu largo
Quando me vêem à minha porta
Mal a diligência levanta no cimo do
outeiro.
Saúdo-os e desejo-lhes sol,
E chuva, quando a chuva é precisa,
E que as suas casas tenham
Ao pé duma janela aberta
Uma cadeira predileta
Onde se sentem, lendo os meus versos.
E ao lerem os meus versos pensem
Que sou qualquer cousa natural -
Por exemplo, a árvore antiga
À sombra da qual quando crianças
Se sentavam com um baque, cansados de
brincar,
E limpavam o suor da testa quente
Com a manga do bibe riscado.
Com a manga do bibe riscado.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol
e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e
montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e
sol.
Alberto Caeiro