A CAMINÉTII do AMARO do RASPÓTI
Amaro Manuel Joaquim Borbinha
1928-2014 (Abril)
Anos setenta (70) após o 25 de Abril. Desembarcaram
milhares de RETORNADOS das Ex-Colónias neste canto isolado do mundo. Com eles
também viajaram experiências, inovação e sofrimento pela perda (...Este um dos
"fadários "mais duros para qualquer ser humano) duma vida construída
a pulso. Foram olhados e recebidos com desconfiança e por vezes maltratados por
um povo à defesa e pobre de cultura.
Ao ZARCOS chegou a irmã da Lídia do peças, o marido
que é da Glória e cinco filhos (...ou quatro) muito pequeninos...
anos depois partiram para o Canadá
onde estruturaram uma nova vida e onde hoje se sentem totalmente
integrados.
Chegou, também, um homem soberbo nas atitudes e
que transparecia para todos nós, adolescentes e ávidos de novidades, uma
imagem de "SENHOR"
Este retornado alto e sempre de calções... com
uma madeixa de farto cabelo a cair-lhe para os olhos, constantemente a ser
arrumada por gestos subtis, sentia-se bem com a malta nova, tivemos
sorte por muitos motivos, fomos acarinhados e era na oficina que passávamos a maior parte dos dias...muitas vezes encheu o carro de rapaziada para ir almoçar
a Borba. Numa dessas tardes e de regresso ao ZARCOS desafiou o grupo:
-E se fossemos agora a Lisboa? E porque não...lá fomos
todos a caminho da capital. Quando chegámos...deu meia volta e voltámos
novamente para o ZARCOS...
Assentou arraiais num dos "casões do
Madeirinho", nas traseiras da "central da luz", montando uma
oficina de pintura e bate-chapas.
Refiro-me ao "ROGER", o grande ( também de altura) e humano ROGER, casado com uma senhora da terra (FILHA do FLOSA??) funcionária da polícia judiciária.
Refiro-me ao "ROGER", o grande ( também de altura) e humano ROGER, casado com uma senhora da terra (FILHA do FLOSA??) funcionária da polícia judiciária.
Foi através do Roger, e era por este nome que
sempre foi conhecido, que tive um convívio mais chegado com o Amaro do Raspóti
e o seu camião...mais um nome de referência na freguesia assim como
outros perpectuados neste espaço. Sobejamente importante pela sua actividade
(devido à especificidade da profissão) e por estar ligado à família dos Gatos
(UMA MAIS VALIA).
Raspóti e Gatos, Mãe da MARIALICE, velho Raspóti e
toda a azáfama em volta de mais um comércio.
São estes pormenores que me passam pela memória e o
tal acontecimento com o ROGER num distante Verão, talvez em 1976... o
Amaro foi com a sua "CAMINÉTI" fazer um frete a uma propriedade,
concretamente carregar os fardos de palha... Estava muito calor, o pasto seco e
o motor a trabalhar mal... Todos estes factores juntos deram origem a um
incêndio que destruiu por completo a "FERRAMENTA" ganha-pão do Amaro
( a sua "CAMINÉTI"),
Mas o ROGER entrou em cena com a sua veia humanista e
prontificou-se a ajudar um homem desesperado e sem solução à vista para dar
volta à vida.
Fui com eles numa longa viagem de um dia interminável, em busca de
"ferro-velhos" para comprar um motor e uma carcaça de veículo de
carga.
Viajámos pelo Ribatejo,,, Abrantes e arredores de Lisboa.
Viajámos pelo Ribatejo,,, Abrantes e arredores de Lisboa.
O assunto foi resolvido e o Amaro após alguns meses
continuou a fazer fretes e por muito anos.
Do Amaro relembro algumas das características da sua
figura franzina, um discurso calmo e curto e o olhar profundo e terno. Uma
silhueta parada e observadora. Amaro do Borbinha esperava sempre qualquer coisa
- os clientes ou um dedo de conversa.
A seu lado, e em todos os momentos, viveu uma jovem e
simpática mulher, ainda hoje o é ... a Paulina do Sebastião. Nestes dias
mergulhada na Saudade dos TEMPOS, que o TEMPO passava devagar, do som da
caminéti do seu AMARO e da organização da dinâmica familiar estruturada
pela sociedade..."BORBINHA - Gato. Lda
O AMARO do RASPÓTE
...deixou-nos um destes dias
(03 de Abril). O CAMIÃO há muito que tinha partido ... e com estas ausências ficamos
um pouco mais pobres de referências.
A comunidade que foi um dia a nossa vida está hoje ainda mais reduzida, restam poucos da geração que nos "abriu os horizontes e nos facultou a LUZ".
PAZ ao AMARO
A comunidade que foi um dia a nossa vida está hoje ainda mais reduzida, restam poucos da geração que nos "abriu os horizontes e nos facultou a LUZ".
PAZ ao AMARO
Grato à Paulina por me ter facultado as fotografias.
E ao ROGER homem sábio, inesquecível e genuinamente simples que enriqueceu a nossa adolescência e foi uma referência imprescindível para desenvolver este pequeno artigo sobre um dos companheiros de juventude do meu PAI.
alvaroramos@esal.edu.pt
E ao ROGER homem sábio, inesquecível e genuinamente simples que enriqueceu a nossa adolescência e foi uma referência imprescindível para desenvolver este pequeno artigo sobre um dos companheiros de juventude do meu PAI.
alvaroramos@esal.edu.pt
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