LIBERTAÇÃO?
ESCURO?
RECOMPENSA?
DESCANSO?
Ou Luz em frente, luz invisível para o comum dos mortais.
e
REENCONTRO
26 de FEVEREIRO de 2015
Ou Luz em frente, luz invisível para o comum dos mortais.
e
REENCONTRO
A Artista Mexicana
Falou desta forma no fim dos seus dias terrenos...
Falou desta forma no fim dos seus dias terrenos...
Espero que minha partida seja feliz, e espero nunca mais regressar - Frida Kahlo"
Ou uma passagem para a outra margem...
Vários POEMAS para a BIZÉ!
Poema pouco original do medo
O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no tecto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles
Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no tecto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles
Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
Nasceu a 19 Dezembro 1924
(Lisboa)
Morreu a 21 Agosto 1986
(Lisboa)
Alexandre
Manuel Vahía de Castro O'Neill de Bulhões foi um importante poeta do
movimento surrealista português. Era descendente de irlandeses.
Autodidacta, O’Neill foi um dos fundadores do Movimento Surrealista de
Lisboa.
Isto de morrer não pode fazer
parte do programa de ninguém. Ainda menos dos poetas, sejam ou não
surrealistas. Durante anos, Alexandre O' Neill fez caretas à morte, abrindo a
boca num sorriso de escárnio, deitando a língua de fora, enfrentando-a. Em
1976, ela respondeu com uma pontada fulminante, quase fatal, no coração, e a
panne provocou umas tréguas, uma rendição temporária, uma obediência
cega às ordens médicas. Não pode... não pode... não pode. O poeta que
sempre tropeçou de ternura estava proibido até de sentir o vento no rosto. O
clínico impediu-o de caminhar contra o vento, forma categórica de dizer que
era melhor conformar-se, tomar cuidado, ou então...
"Quem? O infinito?/ Diz-lhe que
entre./ Faz bem ao infinito/ estar entre gente". Morre, no dia 21 de
Agosto, ao fim de cinco meses de internamento. O funeral, civil, depositou na
manhã seguinte o corpo no Cemitério de Benfica. "Olha, Alexandre, a
noite passada a tua mosca Albertina veio masquetear-me o ouvido: que tinhas ido
desta para pior; o que não é de admirar vais ler a 'costumeira nacional'
está descansado. Agora, é só seguir o cherne (*), meu amigo. De ti pouco se sabia
e ainda bem". Palavras do poeta Luís Pignatelli num bilhete postal
publicado na imprensa. "Às duas por três nascemos/ às duas por três
morremos/ E a vida? Não a vivemos./ Querer viver (deixai-nos rir)/ seria muito
exigir".
Pois breve é toda vida
O instante é o arremedo
De uma coisa perdida.
O amor foi começado,
O ideal não acabou,
E quem tenha alcançado
Não sabe o que alcançou.
E tudo isto a morte
Risca por não estar certo
No caderno da sorte
Que Deus deixou aberto.
Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro'
A Morte Chega Cedo
A morte chega cedo,Pois breve é toda vida
O instante é o arremedo
De uma coisa perdida.
O amor foi começado,
O ideal não acabou,
E quem tenha alcançado
Não sabe o que alcançou.
E tudo isto a morte
Risca por não estar certo
No caderno da sorte
Que Deus deixou aberto.
Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro'
A BIZÉ GATO CABACINHO ou Bizé do Aníbal como sempre a conhecemos... PARTIU ontem 25 de Fevereiro-Uma MULHER de BOM CORAÇÃO e serena beleza, pouco haverá para recordar da Bizé, pessoa simples, passava ao lado da multidão num "andar recatado". Sorria sempre no meio de puras palavras, frases de Paz. Sempre a recordarei como a rapariga que fazia a escrita da loja do Aníbal gato. Observo hoje o seu ir e vir para a loja, escritório da porta do meio. Caminhando, franzina, em SILÊNCIO.
Partiu de vez depois de uma longa e dolorosa existência, metade da sua vida esteve ausente, de nós, e em dolorosa decrepitude.
Já merecia há muito descansar desta vida terrena que nunca a poupou.
Mais uma personagem a somar a quase todas, este espaço esta a transformar-se num canto escuro replecto de Nomes e ausência de VIDAS.
Partiu de vez depois de uma longa e dolorosa existência, metade da sua vida esteve ausente, de nós, e em dolorosa decrepitude.
Já merecia há muito descansar desta vida terrena que nunca a poupou.
Mais uma personagem a somar a quase todas, este espaço esta a transformar-se num canto escuro replecto de Nomes e ausência de VIDAS.
Séneca
Nisto erramos: em ver a morte à nossa frente, como um acontecimento
futuro, enquanto grande parte dela já ficou para trás. Cada hora do
nosso passado pertence à morte.
Cartas a Lucílio
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