HISTÓRIAS do LARGO-FIGURAS IMPORTANTES
O LARGO-JOÃO PÉCOXINHO
"Se depois de eu morrer. quiserem escrever a minha biografia, não há nada mais simples.Tenho só duas datas : a de minha nascença e a de minha morte. Entre uma e outra todos os dias são meus......."
Fernando Pessoa
"JOÃO PÉCUXINHO"
O HOMEM, o TRABALHADOR, o MÚSICO, o HUMANISTA , o ARTISTA
e o PACIFISTA
-UM HOMEM POSITIVO-
João Manuel Borralho Pécoxinho
Nasceu a 16 de Abril de 1933 e faleceu a 24 de Março de 1993
Quem melhor que Fernando PESSOA para resumir em poucas palavras o SENTIDO da VIDA de um HOMEM GENIAL.
"João Pécuxinho", aqui estou eu novamente a esgaravatar nos ricos territórios da história. A Escrever sobre um homem que recordo muito bem.Que características tenho eu, gravadas na minha memória, que, sirvam para honrar esta personagem multifacetada do ZARCOS? A primeira, e de imediato, tenho a certeza que...se o JP estivesse aqui à minha beira, e lhe dissesse que estava a iniciar um artigo sobre a sua vida, a sua resposta natural não seria formulada pelo som das PALAVRAS; A resposta viria sob a forma de SORRISO. Sorriso desenhado na BOCA e sorriso clareado pelo brilho dos seus olhos. Esta era a imagem de marca que me ficou desta figura esquia de braços pendentes que descia diariamente a estrada ao lado do ROSSIO. O seu perfil elegante, terno e apelativo, tinha sempre um destino na sua calma caminhada:O servir o próximo. Como todos os ARTISTAS e HOMENS de CULTURA, MESTRE JOÃO, tinha sempre todo o tempo do mundo para fazer qualquer coisa, depois de despegar do serviço (SERVIÇO, trabalho- a mesma coisa-o meu PAI dizia muitas vezes esta palavra). Nos anos posteriores à 2ª Guerra Mundial as actividades culturais das ALDEIAS, como a nossa, estavam entregues à improvisação e à espontaneidade dos grupos de trabalhadores/as, os trabalhos da ceifa e da apanha da azeitona seriam com certeza motivo para fomentar o gosto pela alegria e a brincadeira. Bailes, cantares à desgarrada e encenações tímidas de teatro, tiveram origem nestes GRUPOS de trabalhadores.
O Mestre João esteve desde a primeira hora envolvido de ALMA e CORAÇÃO em todas as actividades culturais da nossa terra. A prova desse AMOR e dedicação, é um ÁLBUM de fotos e MEMÓRIAS que deixou para a posteridade, sem toda esta organização, muito dos registos que tenho no "Coração cor da TERRA", ter-se-iam perdido.
Grupo de Teatro em 1958
Na parte posterior desta foto está escrito o seguinte:1958= a VILA VIÇOSA= A Céu azul de Portugal
Representado na Casa do Povo de Arcos e no dia 9 de Março em Cabeção, e no dia 20 de Abril
também em Cabeção, no dia16 de Março em Vila Viçosa, Música Manaças e Orquestra de Arcos.
Tive o prazer de assistir a alguns ensaios do grupo no antigo Casão do NUNES, MJ sempre pontual e sem qualquer tipo de primazia ou vaidade, mantinha-se sempre sereno e compreensivo nos diálogos que se estabeleciam entre o GRUPO, para escolha desta ou daquela música. Só quando solicitado tomava a palavra e sempre com a elegância que sempre o caracterizou.Como todos nós, João Pécuxinho teve uma história. Talvez esta a mais importante-a HISTÓRIA da VIDA, a FAMÍLIA e as lutas diárias para conquistar a DIGNIDADE. Penso que todas estas personagens, que nos antecederam, tinham na sua MENTE a conquista da DIGNIDADE. Esta DIGNIDADE referia-se não só à SOBREVIVÊNCIA pessoal e da FAMÍLIA mas, também, da própria COMUNIDADE onde estavam inseridos. Este SENHOR, além de ser o ROSTO de todos os ADJECTIVOS com que foi caracterizado por mim, e tenho a certeza que por mais gente que o conheceu, foi um HOMEM de Família, um lutador e um VENCEDOR!...como todos os " HERÓIS da HISTÓRIA", JP foi um Humanista, defendeu causas e pessoas. Ajudou muita gente necessitada...tendo mesmo uma predilecção pelos marginalizados da sociedade. A história do Gatorro é emblemática da bondade deste homem e de toda a FAMÍLIA Pecuxinho. Foi ele que levou o Gatorro para o hospital e foi ele que pagou o funeral e o acompanhou até à sepultura, com a sua filha por companhia. Pela casa de MJ, e dos seus pais, passaram foragidos da GUERRA de Espanha (... o menino ESPANHOL). Nestes casos, penso que ao dar-lhes guarida arriscou, e muito, a sua imagem já que era um tempo de repressão e de grande controlo. Passaram, e pernoitaram, LOUCEIROS do REDONDO, Tendeiros e muitos "miseráveis" tiveram acolhimento nesta casa de bem. Mas o HOMEM-ARTISTA e HUMANISTA não se ficou por aqui e, Herói (tal QUIXOTE) que foi, lutou duramente até "sangrar" para CONQUISTAR a sua "DULCINEIA".
O Amor de sua vida estava em BORBA. Contra tudo e contra todos ( ...os PAIS incluídos), lutou para trazer a sua MARIA para a terra. Amou-a profundamente, como só os ARTISTAS sabem amar...a tempo inteiro-exclusividade-plena na admiração e no conteúdo. DONA MARIA do CÉU, o seu grande Amor. Uma mulher também ela positiva como o JP, simpática e com um espiríto de diálogo aberto. Uma presença querida para nós jovens do ZARCOS. Tinha sempre uma palavra para iniciar com delicadeza e cortesia uma curta mas simbólica troca de assuntos. Ainda vive a DONA MARIA do Céu, espero que estas minhas palavras lhe cheguem ao ouvido, são também uma prova de gratidão pela sua amizade por nós. - Então Álvaro estás bom?!...eram as primeiras "BADALADAS SIMPÁTICAS" para um dedo de conversa.
Por ela, o MJ, teve dificuldades em ser aceite com a nova companheira na casa dos PAIS. Por ela foi Feliz e, penso que, morreu FELIZ depois de uma dura e cansativa doença.
"A HISTÓRIA do MENINO ESPANHOL "
...teve continuação.
A história do menino espanhol teve continuação.
Resumidamente a história é a seguinte:
Durante a guerra este menino fugiu sozinho para Portugal. Morava em Badajoz. Veio andando e encontrou refúgio nos Fornos comunitários da freguesia. Foi apanhado mais do que uma vez pela guarda que o colocava na fronteira. Por último, percebeu que estava muito mais resguardado no nosso forno. Estava dentro de propriedade privada. A guerra acabou e ele regressou à sua terra. Passados cerca de 25 anos esse menino feito homem regressou aos Arcos a agradecer o apoio que a minha família lhe tinha dado. Foi muito comovente! Julgo que aproveitou um acordo entre Portugal e Espanha que abriram as fronteiras durante o dia de S.João de 1960 e qualquer coisa. Devia ser um domingo... porque eu ia com a minha tia Bárbara para a Igreja e há um senhor muito franzino sentado no poial da igreja que se dirige a nós e diz "Sinhora Bárbara?" é verdade reconheceu a minha tia... e deu-se aí a conhecer. Lembrava-se dos nomes de toda a família e pediu para os cumprimentar.
Dona Maria do Céu e Mestre João
1973
Com este artigo homenageio uma pessoa importante da cultura da minha terra. Homenageio também o HOMEM simples, amigo de todos e um grande trabalhador. Como o meu PAI dizia: - O Mestre João Pécuxinho é PERFEITO no que faz. Referia-se ao trabalho. Eu Refiro-me ao todo da sua VIDA. OBRIGADO...MESTRE JOÃO, pelo seu SORRISO PERMANENTE.E pela DOÇURA da sua presença entre nós. AMIGO!!!
- As coisas e os animais são o que são e permanecem o que são. Mas o homem será o que ele decidiu ser. O seu modo de ser, a existência, é um sair para fora em direcção à decisão e à auto moldagem. Assim, a existência é um poder-ser e, portanto, é incerteza, problematizar, risco, decisão, impulso adiante. Este impulso pode ser em direcção a Deus, ao mundo, ao próprio homem, a liberdade, ao nada..- Jean-Paul Sartre- da Liberdade à Consciência
PALAVRAS do CORAÇÃO
...da FAMÍLIA
...da FAMÍLIA
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Nasceu na casa onde hoje a minha mãe vive.
A minha mãe nasceu em Borba e veio "para a companhia do meu pai" é assim que ela descreve "o seu casamento" quando tinha 17 anos. Foi no dia 1 de Setembro de 1942, sábado de festa do Sr. dos Passos. Não foram viver para a casa da minha avó. Ela não gostava deste namoro. Para a minha avó ele deveria casar-se com a DONA X, ou com a prima Y que casou com o Dr.Z. Só uns tempos mais tarde é que a minha avó pediu ao meu pai para irem viver com ela. Até esse momento viveram na adega que era do meu pai e que as minhas tias, antes de ela vir, tentaram decorar como se de uma casa se tratasse"Para a minha avó ele deveria casar com alguém da freguesia, gente com propriedades, gente com dinheiro e não uma pobretanas, filha de sapateiro e ainda por cima de Borba, gente que não sabia fazer "os pézinhos", bem feitos, "esbortiava" tudo!. Esta é a história que a minha mãe conta vezes sem fim.
O meu pai tinha dois comportamentos muito distintos. Em casa era calado. Nunca o vi interferir na vida doméstica, nem me recordo de alguma vez se ter zangado a sério com as mulheres lá de casa. No exterior, embora não fosse pessoa de muitas falas, era um individuo bem disposto, ria com muita facilidade.
O dia a dia do meu pai pode descrever-se como julgo que se podem descrever a maioria das vivências de um alentejano. Levanta-se, vai para o trabalho, no fim do dia regressa a casa, lava-se o melhor que pode, muitas vezes no ribeiro, aproveita e lava a cara aos gatos e ao cão (é verdade que isto acontecia!), já era um ritual. Se era verão ajudava a minha avó na horta. Jantava. Saía até ao café do Sódó. Ficava em pé ao balcão e bebia um café. Se não havia ensaio do Teatro ou da Orquestra e alguém jogava às cartas ficava o resto da noite a assistir ao jogo. Quando regressava a casa havia um dos gatos que o esperava no muro do tanque municipal e iam os dois para casa.
Sábados e domingos? Trabalhava! Se não fosse para socorrer alguém com o telhado a caír, ía para a vinha, ou para a horta, ou para a Casa do Povo tratar da papelada, dos cenários para os teatros, etc., etc. e ainda fazia os desenhos para as novas contruções. Era um homem dos sete ofícios.
No Passado dia 24 de Março morreu no Hospital de Évora, João Manuel Borralho Pécoxinho, insuficiente Renal. Vítima do recente mau funcionamento do Serviço de Hemodiálise do referido hospital. Era um ponto final, dramático e injusto, na vida de um homem quase anónimo em que a entrega ao próximose revelou como fio condutor fundamental da sua existência.
Filho de um velho Regedor de Arcos(Estremoz), desde criança se habituou a conviver com os problemas sociais, próprios de uma pequena (que não fechada) Comunidade Rural Alentejana.
A Casa do Regedor, naquele tempo, servia amiúde de local de detenção provisória de foragidos, mas também de ALBERGUE de grupos ambulantes ( os então chamados "tendeiros") ou simples vendedores ( o "homem da loiça" ) que emprestavam, com o seu modo de vida peculiar um colorido especial à vida rotineira de uma pequena aldeia.
Com a morte do PAI. João Pécoxinho mantém a tradição HUMANITÁRIA, em plena GUERRA-CIVIL de Espanha chegam refugiados, às vezes crianças, em busca de abrigo momentâneo. Nas duras décadas de 40 e 50, mendigos e doentes encontram nesta casa alimento e conforto.
Mais do que uma vez João Pecoxinho trata da hospitalização ou do funeral de quem ali permanecia meses e anos, por mais nenhuma razão que não fosse o profundo sentimento de AMOR ao PRÓXIMO.
Este HUMANISMO que não se aprende nos livros mas apenas na tradição de SOLIDARIEDADE que impregnava os velhos aLENTEJANOS, estendeu-se em João Pécuxinho a múltiplas facetas desde muito cedo.
... Pedreiro de profissão, era um exímio tocador de acordeon e violino, habilitado com a carteira profissional do Sindicato dos Músicos. Cria e dinamiza o Grupo Musical Arcoense, que se mantém até que a doença o impossibilita.
Entusiasta do cinema ( possui a carteira profissional de CINEMA ), é o projeccionista de serviço nesta pequena comunidade rural no início dos anos 50 ( Quem não se recorda do "CINEMA PARAÍSO").
Cria o Grupo de Teatro de Arcos, que se mantém em actividade durante várias décadas, alcançando um 1º Prémio Nacional de Teatro Amador em 1970.
Com o 25 de Abril é eleito Presidente da Junta de Freguesia pelo Partido Socialista, um meio politicamente adverso, em que as forças dominantes na freguesia em Eleições Nacionais são o Partido Comunista e o Partido Popular Democrático.
Com 60 anos de idade, no auge da sua vida activa, adoece subitamente, vítima de insuficiência renal, que o prende, até ao fim da vida a um tratamento trissemanal em unidade hospitalar.
Sacrifício que suporta com estoicismo e resignação invulgares, para mais numa pessoa que fazia de cada dia um novo motivo para viver.
João Manuel Borralho Pécoxinho, uma vida inteira devotada ao progresso e à cultura popular da sua terra e das suas gentes.
Bem merecia que fosse recordado para sempre na HISTÓRIA de ARCOS.
Homenagem condigna seria a de dar o seu nome ao LARGO da terra onde fica a sua casa em que sempre viveu.
Filho de um velho Regedor de Arcos(Estremoz), desde criança se habituou a conviver com os problemas sociais, próprios de uma pequena (que não fechada) Comunidade Rural Alentejana.
A Casa do Regedor, naquele tempo, servia amiúde de local de detenção provisória de foragidos, mas também de ALBERGUE de grupos ambulantes ( os então chamados "tendeiros") ou simples vendedores ( o "homem da loiça" ) que emprestavam, com o seu modo de vida peculiar um colorido especial à vida rotineira de uma pequena aldeia.
Com a morte do PAI. João Pécoxinho mantém a tradição HUMANITÁRIA, em plena GUERRA-CIVIL de Espanha chegam refugiados, às vezes crianças, em busca de abrigo momentâneo. Nas duras décadas de 40 e 50, mendigos e doentes encontram nesta casa alimento e conforto.
Mais do que uma vez João Pecoxinho trata da hospitalização ou do funeral de quem ali permanecia meses e anos, por mais nenhuma razão que não fosse o profundo sentimento de AMOR ao PRÓXIMO.
Este HUMANISMO que não se aprende nos livros mas apenas na tradição de SOLIDARIEDADE que impregnava os velhos aLENTEJANOS, estendeu-se em João Pécuxinho a múltiplas facetas desde muito cedo.
... Pedreiro de profissão, era um exímio tocador de acordeon e violino, habilitado com a carteira profissional do Sindicato dos Músicos. Cria e dinamiza o Grupo Musical Arcoense, que se mantém até que a doença o impossibilita.
Entusiasta do cinema ( possui a carteira profissional de CINEMA ), é o projeccionista de serviço nesta pequena comunidade rural no início dos anos 50 ( Quem não se recorda do "CINEMA PARAÍSO").
Cria o Grupo de Teatro de Arcos, que se mantém em actividade durante várias décadas, alcançando um 1º Prémio Nacional de Teatro Amador em 1970.
Com o 25 de Abril é eleito Presidente da Junta de Freguesia pelo Partido Socialista, um meio politicamente adverso, em que as forças dominantes na freguesia em Eleições Nacionais são o Partido Comunista e o Partido Popular Democrático.
Com 60 anos de idade, no auge da sua vida activa, adoece subitamente, vítima de insuficiência renal, que o prende, até ao fim da vida a um tratamento trissemanal em unidade hospitalar.
Sacrifício que suporta com estoicismo e resignação invulgares, para mais numa pessoa que fazia de cada dia um novo motivo para viver.
João Manuel Borralho Pécoxinho, uma vida inteira devotada ao progresso e à cultura popular da sua terra e das suas gentes.
Bem merecia que fosse recordado para sempre na HISTÓRIA de ARCOS.
Homenagem condigna seria a de dar o seu nome ao LARGO da terra onde fica a sua casa em que sempre viveu.
( ..do seu GENRO-Carlos Costa)
O resultado e a qualidade deste registo, deve-se em grande parte à sua filha Fátima. Sem o seu precioso contributo, a sua sensibilidade e entusiasmo não teria conseguido levar "o BARCO a PORTO SEGURO"
ABRAÇO com muito "KARINHO" .
Álvaro Espadanal-VII . 2010
Olá Álvaro. Antes de mais quero dar-te os parabéns pelo teu blog. Está espectacular. Deixa-me imensas recordações das gentes e dos costumes da nossa terra. Quem te escreve é o filho da Maria da Bela, O Renato. Gostaria que me enviasses o teu mail para que eu te pudesse enviar umas fotos para colocares no teu blog, num artigo á tua maneira. Gostaria tb de enviar-te uns poemas feitos por mim,pois não sei se já ouviste dizer que eu tenho um livro de poesia publicado. Se quiseres pesquisares essas poesias podes fazê-lo em http://recantodasletras.uol.com.br , pesquisando em autores por O poeta Alentejano. O meu mail caso queiras adicionar é valadeiro.renato@gmail.com Desejo-te Felicidades e mando-te um grande abraço e mais uma vez votos de parabéns por esse teu excepcional trabalho de pesquisa e dedicação ao povo arcoense.
ResponderEliminarÁlvaro nem sei o que dizer. Apenas te agradeço essas palavras . O artigo , aliás, como todos os outros está 5 estrelas. Mais uma vez parabéns. E obrigado
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