Seria o título ideal para um livro de "CÓBÓIS" ou um filme do Velho OESTE os quais também, apelidávamos, de FILMES de "CÓBOIS".
Não conseguirei dissociar esta referência da família dos Pataquinhos (PATACOS). Os filhos da Mariana do "XÔRRA" e o Pataco velho , perito "licenciado" em correr as tabernas do largo, nos finais dos dias.
Também não será difícil para os da minha geração, RELEMBRAREM, a imagem do velho PATACO na última viagem nos fins das tardes a caminho da casa no Monte dos Abibes.
O regresso sofrível "AGARRADO", às paredes desde o Sabino até à TARIMBA,( agarrado sim,porque ele estendia os braços e tentava como uma osga de mãos bem abertas , manter-se de pé) como ele dizia com a ponta do cigarro molhada nos lábios e murmurando vocábulos desgarrados e incoerentes. O problema era mesmo aquele pedaço de caminho entre o CHICOZÉGUINHO e a parede do Silvério, aí ia de gatas.
Mariana do" CHÔRRA", a mãe ...(irmã da mulher do PATETA e tia do Celestino), aparentemente frágil e seca. Foi no seu silêncio sofrido a líder da família numerosa dos PATACOS.
José Maria Morgado Carvalho
Manuel Joaquim Morgado Carvalho
Joaquim Domingos Morgado Carvalho
Este TRIO foi famoso nos idos anos sessenta e setenta do século passado. Não haverá necessidade de me referir a todos os episódios também da minha vida que com eles vivi-com o PATACO, o único que herdou o apelido o Manél, >>um dia chegou AO AEROPORTO DA PORTELA E PEDIU UM BILHETE DE AVIÃO PARA QUALQUER SÍTIO, DISSERAM-LHE QUE O ÚNICO DESTINO POSSÍVEL SERIA A MADEIRA, NÃO ERA NECESSÁRIO PASSAPORTE. ACEITOU O REPTO E FOI PARA MADEIRA. POR LÁ E NUMA FAÇANHA DE NATAÇÃO, LANÇOU-SE AO OCEANO NADANDO ATÉ UMA BÓIA DE MARCAÇÃO DO PORTO DE PESCA. FOI LEVADO AO HOSPITAL E REGRESSOU A PORTUGAL COM ESCOLTA, recebeu tratamento. MELHOROU, E VOLTOU AO TRABALHO, AGUENTANDO MUITOS ANOS até ao acidente onde viria a falecer.
O Quim começou por ser o CHÔRRA, mas com a entrada no Ciclo Preparatório e porque era norma ficou definitivamente o CAGAITA. Pouco se importou de tão "GRANDE" homenagem-Cagaita porque era franzino e mexido, alinhava com todos os grupos do Rossio. É dele que armazeno algumas imagens simbólicas desses tempos. E onde estão outras personagens que enriquecem o meu espólio de boas memórias.
< Consta escrito na foto-Clube Estrela Arcoense
Cima-Margalho Candeias (GR)-Jacinto do Láu-Laranjo da Frandina- Álvaro-Fernando-Cigano e Filho do Mário do Pilega -Figo.
Baixo-(?) Cheira da Frandina-XÔRRA-Daniel Cabrito-Faragaita e Gomes Ferreira >
Pataco seria o mais parecido com o pai, tímido e de poucas falas. Lançava muitas vezes umas piadas secas e sorria envergonhado. Zé Maria o intelectual. Nunca foi prendado pelas alcunhas, que de certa forma e como bons ALENTEJANOS, nos assentavam como uma luva. Foi o SENHOR da família, aquele em que todos depositavam a esperança no sucesso. E assim aconteceu, foi ele que os "puxaria" para os lados de Lisboa. Onde na zona da Praça do Chile, encontrei dezenas de vezes o Manél e o Quim , este sempre com um jornal do dia dobrado debaixo do braço direito.
Nos tempos da GAIATAGEM, era típico ouvir que o Pataco tinha ido trabalhar com o pai para a vinha.
Zé Maria já tinha partido para a CAPITAL.
A socialização da minha geração foi feita com os outros dois elementos da família. Desloquei-me muitas vezes à sua casa-mais precisamente ao Casão, aquele espaço ao lado do TELHEIRO, chão de terra e uma tarimba de madeira velha a um canto. A porta era fechada com um arame atado a um prego. Nesse espaço de chão térreo, os Patacos numa velha arca de madeira, tinham o seu "ESPÓLIO" mais valioso-a maior colecção de LIVROS de CÓBOIS, existente NOZARCOS, a seguir só a do Arnaldo Mirotes Henriques, irmão da Benvinda.
Entre muitos nomes e formatos, possuíam mais avançados, os ex-libris do momento que custavam na altura 25 tostões, uma fortuna, vendidos no Quiosque do Maniés em Estremoz. Os célebres FALCÕES.
Condores-Facões-Guerra -Príncipe Valente-Mandrake-Tarzan-Tonto e Zorro
Compunham a grande colecção dos PATACOS que mostravam orgulhosamente a alguns privilegiados.
A PALAVRA CERTA PARA DEFINIR ESTES TRÊS IRMÃOS É MESMO ESTA:
ORGULHO (orgulhosos)e NOBREZA nos ACTOS.
Foi sempre desta forma que viveram na pequena sociedade DOZARCOS. Sobreviveram com astúcia e trabalho naqueles tempos difíceis, e à pobreza que existia lá por casa. O pai e o seu problema de alcoolismo complicou e muito a vida da família. A MÃE foi a grande heroína.
A partida para Lisboa onde os três trabalharam e partiram definitivamente deste mundo. Acompanhei a primeira a do Manél num acidente no Campo Grande. Há meia dúzia de anos a do QUIM que não soube a razão mas teve na parte final a SOLIDÃO como companhia.
Eram inseparáveis os dois e esta ligação terminou em tristeza, que presenciei. Quando o encontrava na Almirante Reis e a última vez no Continente do Vasco da Gama.
Não são muitas as palavras, nem a histórias para aqui "chamadas". Envolve-me uma tristeza profunda depois de ler que o Zé Maria o último dos PATACOS partiu.
Não há fotos de papel deste, existem recordações da NOBREZA e de 3 personalidades díspares que fizeram parte da minha vida e permanecem VIVOS no meu imaginário- no recanto das melhores recordações.
FRAGMENTADOS> MORREMOS aos poucos com a partida daqueles que fizeram parte da nossa construção enquanto PESSOAS.
ZÉ MARIA-PATACO e CAGAITA foram dignos de figurarem num WESTERN com
John Wayne ou a família Catwright da Ponderosa. Tornaram-se com o tempo figuras ficcionadas, perdidas nas ruas da GRANDE CAPITAL-LISBOA.
BONANZA era uma série de faroeste sobre a família Catwright e que durou 14 anos! Iniciou-se em 12 de Setembro de 1959 e finalizou em 16 de Janeiro de 1973.
O patriarca Ben Catwright (Lorne Greene falecido em 1987) fez nada mais nada menos que 430 episódios de BONANZA.
Seus filhos eram Ross(Dan Blocker), Adam(Pernell Roberts) e Little Joe(Michael Landon).
A Fazenda Ponderosa, de 10 mil milhas quadradas em Virgínia, Estado de Nevada foi cenário de centenas de histórias em que a família enfrentou bandidos, bandoleiros, índios e todos os outros tipos imagináveis de vilões.
MUITOS EPISÓDIOS ASSISTIMOS NA TELEVISÃO DA CASA DO POVO ONDE O "MÃOCRONHA" AMARÃO, FOI REI. Nas noites de Sábado. Ninguém tinha ainda APARELHO de TELEVISÃO na terra, estávamos no meio da década de sessenta. E queríamos todos sermos como os GRANDES, no Carnaval, invariavelmente "fantasiávamo-nos" de COW-BOYS e sonhávamos com JOE-PEQUENO.
Michael Landon
O seu belo cavalo malhado (cochise).
Ali naquele canto com um telheiro permanecerão no Monte dos Abibes os espíritos desta grande FAMÍLIA>PATAQUINHOS.
Estou na realidade muito triste.
OBRIGADO PARA SEMPRE!
Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.
Chegamos? Não chegamos?
– Partimos. Vamos. Somos.
(Sebastião da Gama)
José Maria Morgado carvalho
1953- (02-03)2021
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