LOBOS

Sou, na verdade, o Lobo da Estepe, como me digo tantas vezes – aquele animal extraviado que não encontra abrigo nem na alegria nem alimento num mundo que lhe é estranho e incompreensível

Herman Hesse

sexta-feira, 21 de junho de 2013

O INSUSTENTÁVEL PESO da TUA AUSÊNCIA




ANIMAL como NÓS


TARECA


AMOR
SÍMBOLO
 



PESSOA

É necessário envelhecermos para sentirmos na carne a verdade, e decifrarmos  o SIGNIFICADO da SAUDADE.
Esta é uma HISTÓRIA de AMOR, a HEROÍNA uma PESSOA RAPARIGA de quatro PATAS, RESSALVO:-4MÃOS!...
Pois foi sempre suavidade que senti no  meu ROSTO quando me acariciavas ou me empurravas com as tuas " MÃOS". Ou porque não querias mais beijos ou então  porque estavas com alguma em MENTE. 
Umas vezes comida (..nunca te fartavas de comer), outras vezes  a recusa seria sinal de impaciência para a volta da RUA. 



A Tua PELE cheirava sempre a ROSAS. 


Odor que não reconheço nas FLORES que me rodeiam, haverá algures em algum recôndito cantinho alguma flor que cheire tão bem como tu??!... Nunca me saciei de beijos no teu rosto, em teus olhos e no teu corpo. E dos que me davas a mim sem te pedir.
Como vou passar  todos os momentos que ainda me faltam preencher sem saber que te posso esperar?
E o TEU SILÊNCIO quando enroscada estavas presente. Nas NOITES e nos DIAS -os primeiros sons de todas as manhãs desde que apareceste nas nossas vidas eram os teus. 
Nunca te achei velha, nunca foste como as outras, não engordaste nem ficaste com a cabeça grande. 
Também não sei contar os anos, quantos passaram desde o dia que entraste pela cozinha dentro de rabo no AR e disseste que querias pertencer à FAMÍLIA. Talvez 12 anos... vinhas em grupo com os teus irmãos selvagens que fugiram a um pequeno gesto. Tu não! Foste até ontem sempre uma pessoa diferente, meiga, comunicativa, companheira  de todos os momentos. 
FIEL, mas independente... mandavas em todos nós de uma forma  assumidamente segura. PACIENTE, sabias que te conhecíamos a linguagem. 
Fizeste sempre  as tuas escolhas eficazmente. 
Fui o escolhido para a BOA VIDA, quase a TEMPO inteiro, conhecia-te todas os pedidos e sabia sempre o que querias, mesmo quando não falavas. 

Inteligente também na doença de olhos esbugalhados e de "MIAR" repetitivo e persistente olhavas nos olhos a DONA da CASA, pedias para ir à DOUTORA da GRANJA e vinhas curada para novas aventuras. Muitas vezes ela te salvou. 

Amaste sempre o GUI como um IRMÃO mais velho, corrias todas as manhãs para a cama dele para deitares a cabeça na ALMOFADA ou nos serões no seu peito dormitavas sempre com um olho alerta.




Deixaste bem claro através dos anos e em ocasiões especiais que também querias ser  ANIMAL, uma GATA FELINA, CAÇADORA e NAMORADEIRA. 






Quem vive no CAMPO habitua-se a ler nos sons da NATUREZA e a decifrar acontecimentos. Os PARDAIS e as ANDORINHAS diziam-me em pios aflitivos e vibrantes que andarias em cima do TELHADO à procura de um ninho ou de alguma pássaro descuidado. 
Saltavas de ramo em ramo exercitando os tais gestos que herdaste dos tempos milenares em que foste selvagem, e eu preocupado como irias descer, gritava-te silenciosamente com receio que te assustasses, mas as unhas bem afiadas resolviam os gestos dos malabarismos da tua insaciável forma de me presenteares com as tuas habilidades.



 
Rejuvenescias ainda mais na PRIMAVERA,  sempre te achei nova, nunca por ti passaram os anos, talvez virtudes de nunca teres sido MÃE. Tiveste sempre tudo no SÍTIO como se costuma dizer.
Pelo alvorecer e todos os dias a voltinha antes do pequeno almoço... mastigavas as ervas e esperavas agachada por mim perto da cancela. A volta curtinha antes da saída grande,,, aquela que davas pelos matos circundantes.
Sempre pontual no regresso do meio da manhã. 
As lagartixas e as RÃS do LAGO foram sempre o teu pitéu, mais que tudo. O Sangue que te corria nas veias nunca foi compatível com a disciplina no que diz respeito aos pequenos seres em movimento. Bem me esforcei para te  fazer entender que os peixes vermelhos do lago da estufa eram teus amigos e deveriam ser respeitados. 
As Rãs "...ainda vai que não vai". Agora os peixes do lago pequeno nunca estavam a salvo...não entendi esta tua mania... se já tinhas a barriga cheia para que quererias pescar de seguida, as tuas unhas foram diversas vezes anzóis no lago da estufa interior.
Outra das facetas que tive que aguentar através dos anos foi a de NAMORADEIRA. 
Os maiores bandidos das redondezas vinham fazer-te a "CORTE", foste a RAINHA pretendida por todos. 
Dois  grandes sustos e duas noites sem dormir porque fugiste com o escolhido. Fiz-me sempre forte cá em casa mas o coração ficou negro de angústia pelas noites que dormiste fora. Sempre regressaste, esfomeada e rebentada pela falta de descanso. Depois destes desatinos voltavas à velha calma e dormias dois dias de seguida.
Tenho que dizer-te, que  o ciúme foi uma constante na tua personalidade. O Pânico não se podia aproximar de nós contigo por perto, de RABO GROSSO, eriçado tratavas logo de lhe dar uma patada. Ele como boa "ALMA"que também é evitava até olhar para nós na tua presença. Bem lá no fundo, sempre, simpatizaste com o nosso cão Pessoa. Nos fins de tarde sonolentas era perto do teu amigo que te estendias à espera da noite.






Vou sentir falta de todos os momentos, tantas sensações que não podem ser substituídas por qualquer outra RAPARIGA de PÊLO como TU. 

Quem me vai saltar hoje para o pescoço enquanto guardo as ovelhas???!






E os BEIJOS??!
Como vou passar sem os teus BEIJOS. O TEU CHEIRO de FLORES???!...





O Silêncio e o VAZIO instalaram-se na casa branca e amarela. Os lugares das estações revelam a partida, jamais serão preenchidos pelos metódicos hábitos de um ser incomparável que foste tu. De Inverno a tua caminha e o sofá enroladinha nas mantas quentinhas. No Verão casa fresca, na sala e na cama pequenina do sótão.






No fim do inverno a escolha foi sempre a do quarto das máscaras ao cantinho das duas almofadas. 
Em frente à LAREIRA ou enroscadinha debaixo do meu braço esquerdo




  Tinhas as tuas preferências  e foste dona de todos nós e de todos os pertences da casa amarela.
Tantas vezes que proferi tal frase:

-Esta rapariga tão pequena que é e manda   aqui em casa...

Recordo muito bem e porque me ferraste os dentes na perna esquerda um dia que estava chateado e gritei, sabias que algo não estava certo e decidiste actuar. 
Mandaste sempre à tua maneira no destino dos dias, não conseguíamos organizar qualquer actividade sem pensar em ti primeiro.
De Lisboa desde há dois anos as primeiras palavras foram sempre para ti, todos dependíamos da tua pessoa, uma verdade tão autêntica como as centenas de fotos que ilustram a tua vida entre nós.
Todos os teus momentos de descanso de traquinices, as cambalhotas para nos rir-mos, o teu olhar ensonado, o teu olhar vibrante quando me pedias carinhos. Tudo ficou marcado em mim e nos inumeráveis cliques que fiz.



Irão dizer-me que eras só uma GATA e poderás ser substituída...puro engano. 
Como poderei substituir os dias, os anos,,,o crescimento do GUILHERME que se fez homem ao teu lado.
As corridas a "TROTE" que fazias quando te chamava, e tu como um raio aceleravas nos 50 metros até à porta da cozinha para ouvires as minhas palmas e observares o espanto que os meus olhos reflectiam.
O teu bater com o trinco na porta quando chegavas da voltinha. A Espreitadela na janela ou as patadinhas na minha roupa sobre a cama todas as manhãs quando me levantava e tu ocupavas o meu lugar.
E o que dizer da tua mania de abrir os ARMÁRIOS e as portadas das JANELAS??! 

O teu olhar meigo...e as cabeçadas nas pernas. 
O sentares-te no teclado do computador para eu parar e te dar atenção.
Os bons dias pela manhã e a saudação quando chegava ao fim da tarde a casa e me esperavas camuflada sobre a pele de vaca do HALL da estufa.










Ontem decidiste que era chegada a hora de nos deixares. 
Surpreendentemente foste uma SENHORA RAINHA até ao último segundo do teu respirar. 
Sem sofrimento e em silêncio partiste. 
Decidiste nunca perderes a beleza, nunca envelheceres e nunca deixares crescer a cabeça. 
Também não "caíste de cama", não emagreceste nem perdeste o pêlo.
A tua partida foi igual à tua chegada.
Linda de pele brilhante com o odor às tais flores que só existem no PARAÍSO.
Não assisti ao momento, mas sabia que tinha chegado e por esse motivo antecipei-me uns minutos a construir a "ARCA" que te levou para o ALÉM...no mais belo canto do meu JARDIM depositei o teu corpo enrolado num limpo lençol branco. 
Com a LUA como TESTEMUNHA sem antes te abraçar, fazer o teu último passeio ,,,em meus braços, pelos lugares da tua vida...ao LUAR. Despedi-me.
Deixaste-me a SAUDADE molhada no OLHAR e sem saber como preencher a tua ausência...









HOJE na QUINTINHA ao vento o teu ESPÓLIO lição de VIDA
HUMANA, tudo sobra no fim da JORNADA, a tua de meia idade, por esse motivo ainda eras tão BELA

A Manta, a coberta e a alcofa de Inverno



RESTA também o vazio em todos os recantos onde te procuro.



Sobre o teu CORPO CRESCEM hoje ROSAS PEQUENINAS. VERMELHAS que irão cheirar a ti.
No mais lindo canto do teu jardim.



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OBRIGADO por nos escolheres e seres GENTE igual a nós.


alvaroramos@esal.edu.pt

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