LOBOS

Sou, na verdade, o Lobo da Estepe, como me digo tantas vezes – aquele animal extraviado que não encontra abrigo nem na alegria nem alimento num mundo que lhe é estranho e incompreensível

Herman Hesse

quinta-feira, 2 de julho de 2020

PONTES para a ETERNIDADE






ALQUIMIA




Se tocarmos, mesmo que ao de leve na vida de um semelhante, é algo de extraordinário. Se esse gesto for dirigido a uma criança,  prolongar-se-á ao infinito.


 
ALQUIMIA e CAMINHOS



Meu pai João e Júlio com 7 anos

Sísifo  ao contrário 

«Os DEUSES tinham condenado Sísifo a empurrar uma pedra incessantemente até ao cimo de uma montanha, de onde a pedra caía de novo devido ao próprio peso.
Eles tinham pensado, que não existe punição mais terrível do que o trabalho inútil e sem ESPERANÇA

...
segundo Homero, SÍSIFO era o mais sábio e o mais prudente dos mortais.

No aforismo Nietzschiano que evoca o conceito filosófico do Eterno Retorno: “E se um dia ou uma noite um demónio se esgueirasse na tua íntima solidão e te dissesse: Esta vida, assim como tu a vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há -de  retornar”.

   É nesta abordagem que me situo ao contrário.Sinto-me o Sísifo com a enorme pedra redonda, no cimo da montanha. Lanço-a para baixo em cada final de ano lectivo. 

Depois numa de felicidade empurro-a durante meses na procura de outra montanha ainda mais alta que a anterior. 

A enorme rocha fica cada vez mais pequena de tanto rolar e de muitos anos passarem.



A meu pai João

Chegou via correio electrónico, uma mensagem carregada de simplicidade. Um simples agradecimento 30 anos depois.
Fiquei embasbacado. Sem palavras dirigi-me ao Guilherme , LÊ!
30 anos??!
-É muito tempo...transporta dentro de si os seus fantasmas. Junta muitas leituras...chama-se LUÍS e foi um dia CRIANÇA, a quem toquei de certa forma.

 
Boa tarde Caro Professor Álvaro

de certo não se recorda de mim, pois sou apenas um das centenas, senão milhares de alunos, que tiveram a honra de ser seus alunos, enquanto foi professor.

Chamo me Luís Miguel Mendes, fui seu aluno na Escola C+S Luís António Verney, julgo 8 e 9º ano, entre  os anos 89/91.

Passados quase 30 anos, hoje enquanto representante dos encarregados de educação da turma 7º 5ª da mesma escola, onde a minha filha frequenta, escrevia um email de agradecimento aos professores pelo seu empenho e dedicação neste ano lectivo atípico. 
Neste email, escrevi sobre a forma como determinadas pessoas marcam a nossa vida. E os professores são sem dúvida, as que deixam as marcas mais profundas! São estes que despertam algo especial em nós, que nos abrem os olhos para os desafios do futuro, com todo o conhecimento e sabedoria que nos tentam transmitir diariamente.  

Todos nós temos o tal professor/a, que nos marcou! No meu caso, foi o Professor Álvaro. Foi muito por sua culpa, que tenho o gosto pelas artes plásticas, (apesar de não ser a minha área). Mas julgo que o maior ensinamento, que me deixou, foi de não ser vulgar, que posso fazer melhor, não ser mais um, mas ser único!

Guardo o com muita estima, e apesar de ser tardio, venho agradecer pela marca que deixou em mim.

Com os melhores cumprimentos

Luís Mendes




 Esta foi de imediato a minha resposta e em DOIS MINUTOS Encontrei a dita turma do LUÍS de há 30 anos.
COM quem ELE se METEU-7º9 (!!!!)


E TOMA LÁ TB AS TURMAS DA VERNEY...MILAGRES DA NET E DOS MEUS ANTIGOS DIÁRIOS DE PAPEL .O MEU CORAÇÃO REPLECTO DE AFECTUOSAS MEMÓRIAS.
 
-Mas o teu feito é algo de extraordinário>>> SÃO 30 anos e tu eras um rapazito  a entrar na adolescência. FAZIAS uns bonequitos de barro E LIMAVAS uns pedaços de madeira.
...Poderia ficar pela simples saudação e o respectivo agradecimento. MAS,,,SERIA TÃO POUCO PARA UM FEITO MEMORÁVEL. Os Professores passam e as ESCOLAS FICAM.

FANTASMAS libertaram-se e todas as memórias inerentes a eles. A Verney foi a ESCOLA no momento certo da LOUCURA e das vivências na grande LISBOA dos anos oitenta. O DIVERTIMENTO era o LEMA nas aulas de Trabalhos Manuais  e posteriormente um passo à frente com as entradas das turmas de sétimo, oitavo e nonos anos. Tinha que deixar a escola e Lisboa na procura de outros rumos e desafios. Estava na posse de todo o meu poder CRIATIVO , empurrado pelos sonhos da construção. E tinha a certeza da importância dos gestos e palavras, desta nobre profissão de PROFESSOR. Interagir com os GRUPOS,  e ajudar a construir "IDENTIDADES" sólidas foi algo que me acompanhou até hoje. Continuo com esta certeza e sentindo que a ESCOLA é um pouco minha, todas por onde passei> Francisco Arruda-São Julião de Oeiras-Luís António Verney-Secundária de Estremoz-Liceu Nuno Gonçalves de castelo Branco e LUGAR final, na Amato Lusitano. 
Nunca foi fácil o subir da bola de SÍSIFO, em nenhuma delas. Tive e tenho que lutar ainda hoje para criar AFECTOS e somá-los com exigência, organização e REINVENÇÃO. Foi uma caminhada de 40 anos com lutas, misérias e construção. Quase solitária na REINVENÇÃO, sempre com os ALUNOS na procura de momentos que marquem a diferença.

  Quase todas as memórias permanecem intactas. Recordo muito bem quando a Zélia de Educação Visual e elemento da direcção, me chegou à sala e me propôs fazer com os alunos um painel para as escadas que davam acesso ao primeiro andar. Estávamos no terceiro período e eu quase de partida. Nessa parede já existia um painel em alto relevo e uma construção de arame do Professor Rosa- a parede levava com o sol directo quase todo o dia e não poderia ser outra coisa senão cerâmica. 

  Analisei a questão, e disse que sim. A partir deste momento reuniram-se as forças negativas contra a colocação do dito painel que já estava a ser trabalhado. Seria a  representação de uma imagem de cariz GÓTICO de alquimia com uma frase de SEBASTIÃO da GAMA: "DEVEMOS ACEITAR OS RAPAZES COMO RAPAZES. DEIXÁ-LOS SER". Encaixado neste, 48 rostos pintados pelos alunos que representavam familiares.
Uma serpente, as energias negativas, que se propuseram lutar contra a colocação do PAINEL . Uma pomba, um peixe, e o SOL e a LUA.
Mas a mensagem principal era a ALIANÇA ente a Ciência e a Natureza aliada à PEDAGOGIA sempre poética do Sebastião da Gama.
Recordo que o assunto esteve entravado até à ultima semana, não tínhamos ninguém para colocar o PAINEL na parede. O meu PAI já quase invisual , deslocou-se do ALENTEJO e com a minha ajuda conseguimos deixar a obra na ESCOLA. Recordo que os últimos 2 azulejos da parte superior esquerda fui eu que os coloquei, o MESTRE JOÃO já não conseguia ver.
Segunda-feira quando a ESCOLA ABRIU a parede do PAINEL estava impecavelmente terminada.
...
Esta pequena HISTÓRIA ilustra a minha partida da Verney  como local de trabalho e de profunda dedicação.   Permanecem esses 7 anos, para sempre, nas minhas melhores memórias e também nos meus ESPAÇOS DIGITAIS. 
Nos primeiros  anos de noventa ainda me correspondi com uns alunos do 7º11 e do 8º5, Filipe, Paulo Jorge e BA(Bruno) o grupo das futeboladas. 
Passaram 30 anos até  à data que caiu esta mensagem no meu correio electrónico e me libertou os fantasmas de há 3 décadas, aprisionados.



Todos nós temos o tal professor/a, que nos marcou! No meu caso, foi o Professor Álvaro. Foi muito por sua culpa, que tenho o gosto pelas artes plásticas, (apesar de não ser a minha área).

Mas julgo que o maior ensinamento, que me deixou, foi de não ser vulgar, que posso fazer melhor, não ser mais um, mas ser único! 

... Foi este pedacinho da vida que fez a diferença e  me deu volta à sensibilidade> 30 anos depois como é possível, as palavras faltaram e levei dois dias para encaixar a importância do Acto de ENSINAR, em tempos distintos.Há 30 anos e hoje. Os confrontos são os mesmos, os alunos diferentes, as dificuldades aceleraram com os PAIS a instalarem-se na parte sombria da ESCOLA.



A CONTRADIÇÃO SITUA-SE ALGURES NAS NOVAS REALIDADES.ESTE LEGADO PASSADO AO LUÍS DE UMA FORMA INTUITIVA E ESPONTÂNEA , PORQUE É A PARTE QUE NÃO ESTÁ NA PLANIFICAÇÃO.
AFINAL O QUE TE FICOU DESSES TEMPOS?
(ESTAVA MUITO LONGE DO ACONTECIMENTO). QUE HOJE DARIA PROBLEMAS.

 Vou lhe contar o tal episódio, a partir do momento que começou esta 
"relação" e apreço que tenho por si.

Estávamos nós em mais uma aula de olaria, enquanto tentávamos fazer os  Potes e Terrinas, e eu diferente dos restantes uma vez, decidi fazer a  terrina enquanto a maioria fazia os potes...mas aquilo não me estava a 
correr bem...exagerava na água e como era de esperar, em vez de ganhar  forma correta,  parecia mais um prato. Depois de tantos avisos  seus, o Prof chega ao pé de mim, pega na minha obra de arte  e.....CATRAPUM, estatela aquele pedaço de barro húmido no chão. 
Chorei  sai da sua aula, e julgo que andei a faltar às suas aulas  durante um período. Estava mesmo zangado consigo! Andei a evitá-lo  enquanto pude, mas um dia veio falar comigo, conversamos e voltei com  mais vontade. Fiz todos trabalhos em tempo recorde e julgo ter tirado  uma excelente nota, apesar de tudo.

Foi uma lição para a minha vida!
... 

Palavras do LUÍS HOJE

Não sei se recorda deste momento...mas ficou me marcado mas no bom  sentido, (se calhar nos dias de hoje, era considerado Bullying, 
Recebia um processo disciplinar e era despedido ahahahah.

No entanto 30 anos passaram,  e cá estamos! Fiquei na Verney até 
concluir o 9º ano. Comecei depois a trabalhar e sou efetivo na CM 
Lisboa desde 1996. Conclui os estudos (12 ano) mais tarde, pois entre  trabalho, sempre estive muito ocupado com outras actividades.

Vivo o Escutismo em pleno (desde 1994), com a minha Tribo "760 Beato"  -qual tenho o meu totem de "Doninha Prateada" e o meu lema sempre  foi: "Impele a tua própria Canoa!", por isso muito similar ao seu  espírito. "Olha de frente os escolhos, ou então podes encalhar! É  urgente estar atento. Ver para onde corre a maré, Ver de onde sopra o  vento. Não vás tu perder o pé! Hoje sou Chefe de Tribo e tento ensinar  os mais novos a navegar a sua canoa!

Sou aventureiro por natureza, Já peguei na mochila às costas e 
percorri sozinho a Europa à descoberta do desconhecido. Adoro viajar! 
Mas a última aventura foi no ano passado, decidi também, num ápice,  pegar na bicicleta e também sozinho, fiz o caminho de Santiago desde  Lisboa (700 kms de aventura). 

Ainda na Verney descobri outra paixão, o Basquetebol. Joguei até uma  lesão no joelho me impedisse de o fazer (ainda novo) e desde 1998 sou  treinador. Actualmente sou treinador do Sporting Clube de Portugal.
Depois das minhas aventuras, decidi assentar e casei em 2005 e fui pai  em 2007, da razão da minha Vida. A minha filha Mariana que entrou na  Verney exactamente 30 anos depois de mim  (1987/88 - 2017/2018). Tenho - a acompanhado muito, e contei lhe como aquela escola foi importante  para mim. Sou representante dos encarregados de educação da turma da 
minha filha. A escola tá na mesma (mais degradada)!

Sempre gostei de organizar encontros, jantares de amigos, e como sou  administrador do Grupo da escola no 
facebook, https://www.facebook.com/groups/51880651195 encontrei  antigos colegas de turma, e encontramos nos regularmente. Após o meu 
divórcio em 2013, uma pessoa acaba sempre por se afastar dos "amigos  comuns" e procurei reencontrar os amigos da infância. E curiosamente  num desses encontros, surgiu novamente o amor, com uma Colega de  turma, a Carla Cruz.
 

Procurei vários professores, mas muitas vezes nem nos lembramos dos  nomes (só alcunhas) ou mesmo nem dos apelidos. Encontrei os seus blogs  há uns anos, mas nunca tive a coragem de entrar em contacto consigo,  mas desta vez, não falhar mais.










  Estes novos tempos, presentearam-me até hoje com mensagens fortes para uma segurança necessária. Recordo o Rouxinol que cantou à minha janela por toda a PRIMAVERA.
A FORÇA e paz que tenho sentido neste confinamento necessário. A NATUREZA envolvente cheia de frutos e um destes dias do fundo mais longínquo do túnel da HISTÓRIA a GRATIDÃO do LUÍS MENDES hoje já PAI. Com uma filha na ESCOLA onde aconteceram todos estes milagres. Só a Escola, nas ESCOLAS por todo o MUNDO, acontecem milagres que perduram nos tempos e nas GERAÇÕES.


Castelo de Estremoz.Marido da professora Ofélia- Zé-Olinda-Maria José-Júlio- Mário Barreto-Mulher do Mário Barreto e eu-VIAGEM AO REDONDO 1987

O meu PAI JOÃO e ao LUÍS aventureiro-GUERREIRO, grande atleta e pessoa de bons princípios e horizontes largos. Que não se esqueceu do meu nome de outrora, Álvaro Ramos. Professor.

Hoje tenho a certeza que lançarás  ao chão  "O POTE"das raparigas que lideras no basquetebol , se esse for o  caminho para elas atingirem outros patamares. 

30 anos? Uma ETERNIDADE.

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