LOBOS

Sou, na verdade, o Lobo da Estepe, como me digo tantas vezes – aquele animal extraviado que não encontra abrigo nem na alegria nem alimento num mundo que lhe é estranho e incompreensível

Herman Hesse

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Acabou o TEMPO na TERRA dos NOMES

O Síndroma da PIRÂMIDE

‎"O bem do homem consiste no amor assim como a planta deriva da luz"

A VERDADEIRA RIQUEZA de uma CULTURA é o seu Património

HUMANO. 

"A cultura, soma de todas as formas de arte, de amor e de pensamento, através dos séculos capacitou o homem a ser menos escravizado".   (André Marlraux)

 

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PARA a FELISMINA XAREPE em 1973 e HOJE no SECXXI

 

Neste Momento TERNO e PENSATIVO



MUNDOS MARGINAIS-MUNDOS PARALELOS

O dom da OBSERVAÇÃO é inato em mim, o Cérebro é o elemento mais fascinante do corpo humano e digno de aprofundado estudo. Retém pequenos nadas e grandes feitos, retém odores, imagens e sons há muito desaparecidos mas que se mantém actuais nos mais longínquos recantos da massa cinzenta.
Neste ARQUIVO de MEMÓRIAS que é o meu, despontam ROSTOS e VOZES de personagens há muito desaparecidas. Entre elas e num lugar de Relevo aparecem pessoas, as TAIS PESSOAS dos MUNDOS MARGINAIS. Por (MAU) Hábito ou por uma QUESTÃO Cultural, habituámo-nos a olhá-las pelo canto do olho. O TOLO, o Bêbedo ou o Pedinte que dormia a qualquer canto de Inverno ou no Verão.
Estes são os que recordo melhor- não por QUALQUER tipo de piedade ou sentimento menos abonatório. Continuo ainda hoje a tratar essas pessoas da mesma forma que trato qualquer outra pessoa com elevado estatuto social. Estou a lembrar-me neste momento do Amigo ROZIL (LI há poucos meses no jornal da grande cidade um TÍTULO:ROZIL ATACA de NOVO), sei a dura vida que escolheu ou não-há poucos meses bebi uma cerveja com ele e deduzi no seu imaginário vencido pelos acontecimentos, que tinha chegado ao fim de um ciclo, estava de certa forma vencido pelo próprio caminho que escolheu-naturalmento isto não me torna incapaz de olhar para este ser da mesma forma que sempre o fiz . Saliento este exemplo para ilustrar o que quero dizer com este texto.
Retenho do passado , como já escrevi em outros tantos artigos o nome do Gemiano, DONANA, GALEGA, Samarrinha, GATORRO, BACALHAU, 2 e NADA e recentemente o BARROSO e no Futuro o TRAMBOLAS. São PERSONAGENS muito ESPECIAIS as tais dos MUNDOS Paralelos.
São preciosas estas personagens, são quase como uma BANDEIRA dos LOCAIS, simplesmente porque são diferentes, são uma MINORIA assumidamente ou não ORIGINAIS e CORAJOSOS nas atitudes. Umas vezes por problemas de SAÚDE, outras pelas características inerentes aos seu GENES.
No HORIZONTE INTOCÁVEL da NORMALIDADE estas pessoas são DIGNAS de estudo-Têm no seu interior MUNDOS PONTUADOS pelo Sofrimento, Contradições, Forças estranhas e PERSEVERANÇA sem fronteiras.Os seus olhos reflectem derrotas, amarguras, VITÓRIAS e REBELDIAS. 
Para dar o EXEMPLO e como SINAL de RESPEITO eu estou presente em todos os REGISTOS e ANÁLISES.
EU! estou aqui de CORPO e ALMA...

NESTE MOMENTO TERNO E PENSATIVO
Neste momento terno e pensativo
Aqui sentado a sós
Sinto que existem noutras terras  outros homens
Ternos e pensativos,
Sinto que posso dar uma espiada
Por cima e avistá-los
Na França, Espanha, Itália e Alemanha
Ou mais longe ainda
No Japão, China ou Rússia,
Falando outros dialetos,
E sinto que se me fosse possível
Conhecer esses homens
Eu poderia bem ligar-me a eles
Como acontece com homens de minha terra,
Ah e sei que poderíamos
Ser irmãos ou amantes
E que com eles eu estaria feliz.
Walt Whitman


Entre estas personagens imortalizadas na minha história de vida está a 
"MARI" da BELA
Não tenho nem pretendo estender-me em ADJECTIVOS ou divagações sem sentido.
Não preciso contar feitos porque os que viveu não são importantes para construir novelas ou romances. Era uma pessoa comum, não precisa nada disso. Era tão simples que não se dava por ela, eu lembro.
Recordo
uma pessoa, uma SILHUETA sempre em Movimento NERVOSO, cadenciado e em SILÊNCIO no FORMIGUEIRO de uma COMUNIDADE a rebentar pelas costuras. Em todas as RUAS e em TODAS as casas HAVIA GENTE, velhos sentados, mulheres a ralhar com os maridos ou com a GAIATAGEM .  DELA, recordo-a vezes sem conta no seu VAI-VEM do BAIXO e do CIMA-BAIXO.
Vislumbro o ROSTO TRISTE, mas com uma força ilimitada para conseguir os seus intentos. Ninguém nunca conseguirá entender o que vai na mente destas personagens, uma força indescritível na procura de objectivos para se gastarem. Gastarem o CORPO e a MENTE.
Recordo-a também numa repetida azafama de limpeza do espaço em frente à sua porta, nas caiadelas dos alegretes.
Recordo-a pelos gestos de chamada ao RENATO e da IRMÃ, pelo ignorar das palavras rigorosas do VALADEIRO seu marido.
Ela Firme continuava em frente.
Como uma FORMIGA num Formigueiro ela destacava-se pelo esforço incansável para sobreviver à repetição monótona dos dias e da VIDA.
Esta é a única História da MARIA da BELA-uma SOBREVIVENTE enquanto existiu, uma mulher SIMPLES e DIGNA do MUNDO PARALELO, aquele que olhamos pelo canto do OLHO.
Que esteja em PAZ.
MARIA da BELA



Maria Antónia Pingarilho Bravo22 Fev 1934 / 13 Junho 1997


MÃE
Mãe, minha mãe adorada
Tu que me deste o ser
Por mim eu te vi sofrer
Sem ti, minha vida é nada!
Mãe, minha mãe bendita
Tu que me deste a vida
E tanta coisa bonita
Jamais te trago esquecida!
Mãe, minha inspiração
Trouxeste-me a este mundo
Num sofrimento profundo
Guardo-te em meu coração!
Viste teu filho brincar
Viste teu filho crescer
Já não o viste chorar
Viu-te ele, a ti morrer!
Já não há aquela manta
Pra do frio me agasalhar
Para mim já ninguém canta
As cantigas de embalar!
Em constante ansiedade
Minha vida é uma loucura
Minha mãe...quanta saudade
Dos teus beijos...que ternura!
Vives noutra vida agora
Mais serena, com mais calma
Foste desta vida embora
Foi teu corpo...fica a alma!
Descanses em paz nos céus
Que eu por ti vou rezar
Dizendo bem alto a Deus
Com Amor...te vou Lembrar!
(Renato Valadeiro)



A MALTA de 65
Encontro em volta de uma MESA. Histórias que representam FRAGMENTOS
de uma CAMINHADA. Pedaços de Histórias que aproximam a verdadeira essência da VIDA-O AMOR
e a FRAGILIDADE que o ser humano representa no contexto de toda a NATUREZA.
São ROSTOS (também) do meu passado, figuras, algumas delas que não via Há muitos (longos) anos; aconteceu por acaso esta abordagem de palavras, partilha de olhares e interrogações sobre um passado distante. Sorrisos...afectos no SENTIR.
Lembras-te?!! lembro-me de vocês "OS GRANDES"...os muito grandes umas 3 gerações antes da...
Este pretendia ser um ARTIGO da partida-despedida. dos que no olhar perderam a noção do tempo presente as circunstâncias porém fizeram-me ser mais abrangente. Mas não estaremos todos nós envolvidos por esse FATALISMO?...o da cruel FRAGILIDADE duma realidade que ninguém escapa, todos NÓS!
Ontem Sábado dediquei o meu DIA a uma procura incessante de ROSTOS meus familiares e a lugares que fizeram parte do melhor da minha vida. Personagens que quero manter VIVAS neste ESPAÇO de partilha. Consegui quase na totalidade atingir os meus objectivos, capturei rostos no FRAME da minha máquina... marcados pelo peso dos ANOS, pelas mágoas e solidão. Distribuí abraços, beijos de Saudade-fiquei impregnado de nostalgia e cheguei à noite mergulhado numa dolorosa tristeza.
Tarefa pesada esta de mexer com o passado e com a mortalidade da existência. O Alentejano e o OUTONO são um e a mesma coisa. A queda da folha é também a quebra dos gestos e das vontades de construir o que há muito está espalhado em seu REDOR. A vida é no LARGO-o velho LARGO é o SÍMBOLO (enganador) de que tudo vai indo mais ou menos. mas os locais que visitei distantes um pouco do centro do ALVO (os tais locais da minha meninice...), revelaram-me outra realidade. As casas em RUÍNAS, vazias, os campos abandonados e os espaços habitacionais pontuados aqui e ali por sombras em movimento lento  confundiram-me e interrogaram-me num silencioso discurso.
-Onde estão os Jovens?!
Onde está a sobrevivência deste local assinalado no MAPA com o nome de ARCOS?
Pois, é a VIDA...(- Não! é a ampulheta do TEMPO, a partida das SOMBRAS e a chegada do silêncio )


Muita gente ficou a faltar nas contas do meu filme, pretendo fazer uma segunda abordagem ao tema, para que nenhum fique esquecido. Este foi o primeiro filme (de imagens reais), FLASHES de rostos a olhar para o infinito. Será montado nos próximos dias e colocado neste espaço que é de todos-observem-nos com um olhar de RESPEITO e ADMIRAÇÃO-estas pessoas e EU TAMBÉM são o coração do CORPO de uma existência à qual não pediram efeitos de MAGIA ou Fórmulas mágicas para criar novos MUNDOS.
Somos simplesmente PESSOAS a que um DIA deram um nome, pessoas da CONTINUIDADE em marcha acelerada para a LIBERDADE e DESCANSO da MENTE.
O FIM do FILME afasta o "RUÍDO" da SALA.
Obrigado a todos aqueles que colaboraram e foram muitos.
03 de OUTUBRO de 2010/10.08 Horas

A NATUREZA renasce sempre das Cinzas, nós não.

(O filme vem a seguir)



Uma ABORDAGEM ao Rápido passar dos dias.


Aproveita a vida enquanto ela é vida dentro de ti aproveita o teu corpo enquanto és tu que lá moras.Aproveita.Primeiro tens mais espírito do que corpo e há dentro de ti uma convulsão de ideias ,uma agitação infinita de projectos,resoluções,descobertas.Depois a convulsão abranda e começas a viver de ideias amealhadas.Depois pouco a pouco,vais perdendo essas ideias ou vais esquecendo-as no sótão de ti.Depois resta só uma ou duas com que te vais governando.APROVEITA!
"Today is a good day to die" or "Live your life so that if you die today you will have no regrets" in the Crow language.


KONTINUIDADES





Pelo sonho é que vamos

Quando te OBSERVO

Sinto-me tanto de TI.

Quando vos olho

Sinto-vos tão iguais a MIM!

Para O MESTRE João,meus filhos JÚLIO e GUILHERME


TERRA DOS SONHOS

Na escuridão. Nas sombras. Entre o pôr do sol e o alvorecer.

É um lugar que poucos estejam cientes, é um lugar aonde poucos vão.
É uma obscuridade do lugar como a meia-noite, ele é um lugar brilhante como o dia.
É um lugar de memórias enterradas, onde as esperanças e os sonhos sejam armazenados afastados.

É um lugar onde as verdades não podem ser escondidas.

É um lugar onde as mentiras não podem ser ditas.
É o lugar onde a vida começa, ele é a Terra dos Sonhos da alma.

Rostos, sensações. Recordações sem desejos, olhares que me acompanharam desde que me conheço -digo pela curta vida , tão BREVE e nada, Tão cheia de tudo. Rostos em espera marcados pela FRIEZA dos tempos, desenhados pelos ventos pelo crepitar das 4 estações sobrepostas ano a ano a anos, e, nós cá em baixo cedendo ao peso do TIC TAC do pêndulo do RELÓGIO do FATALISMO. Tic-Tac eis os rostos que me acompanharam no Crescimento...TIC-TAC os ROSTOS sem vozes ou com VOZES ténues do nada pensar. Pensamentos voaram com a migração das AVES, em Suas Asas repousam os Sonhos e a energia de MOVER MONTANHAS. Eis o MEU Povo MEU POVO de partida para a terra do Além onde a paz pinta o Céu de cores nunca VISTAS. Meu POVO, meus irmãos no sentir e no PARTIR, esperem um POUCO, um pouco mais vamos juntos na brevidade do estar e na viagem do tudo. Saudades do Desejo, SAUDADES do movimento incessante de VÓS no formigueiro das tarefas de PROCURA de ESTAR e IR. Meu POVO SEMELHANTE onde estão todos aqueles que não vislumbro no ângulo do meu olhar. Não vale GRITAR, os sons ficam presos na GARGANTA. Assisto SERENO. Uma serenidade descontente na procura de TODOS, nomes, imagens e desejos tudo se apagou com o cair das PINGAS de uma chuva lenta e silenciosa. A Noite começou a abraçar-nos com a frieza do negro. A ausência da LUZ fragiliza qualquer Gesto do QUERER. Resta-nos o Movimento do APONTAR. O LUGAR está ali sem sentido o lugar SÍMBOLO do NADA, criado pelo cansaço, pela ausência pelo arrefecimento do Líquido VERMELHO que nos corre nas veias. Vão-se os nomes, os desejos , as recordações-tudo se vai, já não se vislumbram os parentescos os ROSTOS tornam-se estranhos. Já não choramos de saudades nem de AMOR...tudo se vai . Estamos separados definitivamente pelo movimento lento da solidão. Não gritem , não Grito por vós , ninguém nos ouvirá esperamos todos pacientemente pelo nada e pela TERRA de ninguém. Tudo se apaga, nada existe. A realidade é uma brisa indelével que refresca de uma forma quente é o doce AMARGO da inexistência da Partida procurando uma CHEGADA macia onde a cabeça descanse duma JORNADA que não existiu.

Meu POVO esperem um pouco mais!!

Para a Minha Mãe e para todos nós KAMINHANTES da JORNADA BREVE.


Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.
Chegamos? Não chegamos?

- Partimos. Vamos. Somos.
(Sebastião da Gama)


foto

“Pelo sonho é que vamos”

O dia 10 de Abril, «Dia da Arrábida e de Sebastião da Gama», como foi proclamado oralmente e também por escrito, será cada vez mais, ao longo do século XXI, exponencial em afirmação da identidade setubalense, nas mais lídimas vertentes: as belezas naturais e o património cultural.
A 10 de Abril de 1924 nasceu em Vila Nogueira de Azeitão o poeta Sebastião da Gama, de seu nome completo Sebastião Artur Cardoso da Gama. Na casa que foi de seus pais, em Azeitão, está afixada a placa que o lembra.
Cedo passou a também residir em plena Serra da Arrábida, no Forte de Santa Maria, transformado por seu pai em pousada, exactamente com esta designação, depois, por imposição estatal, substituída pela de estalagem.
Em Setúbal, Sebastião da Gama por algum tempo também residiu, em quarto alugado na Avenida Luísa Todi, no ano lectivo de 1947-1948, em que leccionou na Escola João Vaz, ali onde agora é o Externato Diocesano, que o tomou por patrono.
Residiu, finalmente, em Estremoz, no «Largo do Espírito Santo, 2-2.º», onde se efectivou como professor, após os seus anos de estágio na Escola Veiga Beirão de Lisboa. De lá saiu, de Estremoz, no automóvel conduzido pelo irmão Sérgio, ao anoitecer de 5 de Fevereiro de 1952, já sem fala, mas perfeitamente consciente e de olhos fitos na lua, para ir morrer a Lisboa na manhã do dia 7, no Hospital de São Luís, hoje Hospital de Jesus.
Tão breve a vida deste apaixonado Herói da Vida! E, no entanto, uma herança tão rica deixada aos vindouros! Apenas vinte e sete anos de vida («vinte e oito», já muitas vezes se ouviu dizer, mas aí quem sabe o que diz acrescenta: «incompletos»), intensamente vividos e por isso transcendendo o que de um ser comum se espera.
Grandeza de inteligência e coração, acompanhados por uma capacidade e vontade de comunicação extraordinárias, contagiantes de valores e afectos. Maior grandeza ainda, a do Sonho, a resplandecer na acção.
A obra mais espantosa que deixou Sebastião da Gama é a memória que dele ficou em seus conviventes. De entre eles, destaque para os muitos e especiais amigos que lhe foram os seus alunos e nomes bem conhecidos das nossas letras e artes, como Matilde Rosa Araújo, Maria de Lourdes Belchior, Lindley Cintra, David Mourão-Ferreira, Joaquim Vermelho, Luís Amaro, Fausto Lopo de Carvalho. Nem a título de exemplo cabe aqui nomear alunos. É só abrir o Diário. Quem teve a grande sorte de conviver de perto, em especial a partir dos anos oitenta do século XX, com a nata dos alunos de Sebastião da Gama das três escolas em que leccionou, ao ouvir lembranças e testemunhos, só podia sentir uma admiração muito grande, mas ainda mais ao aperceber-se do modo como, por seus próprios percursos de homens feitos, a esse seu mestre honraram. E honram!



O tempo que nos resta

De súbito sabemos que é já tarde.
Quando a luz se faz outra, quando os ramos da árvore que somos soltam folhas e o sangue que tínhamos não arde como ardia, sabemos que viemos e que vamos. Que não será aqui a nossa festa.
De súbito chegamos a saber que andávamos sozinhos. De súbito vemos sem sombra alguma que não existe aquilo em que nos apoiávamos. A solidão deixou de ser um nome apenas. Tocamo-la, empurra-nos e agride-nos. Dói. Dói tanto! E parece-nos que há um mundo inteiro a gritar de dor, e que à nossa volta quase todos sofrem e são sós.
Temos de ter, necessariamente, uma alma. Se não, onde se alojaria este frio que não está no corpo?
Rimos e sabemos que não é verdade. Falamos e sabemos que não somos nós quem fala. Já não acreditamos naquilo que todos dizem. Os jornais caem-nos das mãos. Sabemos que aquilo que todos fazem conduz ao vazio que todos têm.
Poderíamos continuar adormecidos, distraídos, entretidos. Como os outros. Mas naquele momento vemos com clareza que tudo terá de ser diferente. Que teremos de fazer qualquer coisa semelhante a levantarmo-nos de um charco. Qualquer coisa como empreender uma viagem até ao castelo distante onde temos uma herança de nobreza a receber.
O tempo que nos resta é de aventura. E temos de andar depressa. Não sabemos se esse tempo que ainda temos é bastante.
E de súbito descobrimos que temos de escolher aquilo que antes havíamos desprezado. Há uma imensa fome de verdade a gritar sem ruído, uma vontade grande de não mais ter medo, o reconhecimento de que é preciso baixar a fronte e pedir ajuda. E perguntar o caminho.
Ficamos a saber que pouco se aproveita de tudo o que fizemos, de tudo o que nos deram, de tudo o que conseguimos. E há um poema, que devíamos ter dito e não dissemos, a morder a recordação dos nossos gestos. As mãos, vazias, tristemente caídas ao longo do corpo. Mãos talvez sujas. Sujas talvez de dores alheias.
E o fundo de nós vomita para diante do nosso olhar aquelas coisas que fizemos e tínhamos tentado esquecer. São, algumas delas, figuras monstruosas, muito negras, que se agitam numa dança animalesca. Não as queremos, mas estão cá dentro. São obra nossa.
Detestamo-nos a nós mesmos é bastante mais fácil do que parece, mas sabemos que também isso é um ponto da viagem e que não nos podemos deter aí.
Agora o tempo que nos resta deve ser povoado de espingardas. Lutar contra nós mesmos era o que devíamos ter aprendido desde o início. Todo o tempo deve ser agora de coragem. De combate. Os nossos direitos, o conforto e a segurança? Deixem-nos rir… Já não caímos nisso! Doravante o tempo é de buscar deveres dos bons. De complicar a vida. De dar até que comece a doer-nos.
E, depois, continuar até que doa mais. Até que doa tudo. Não queremos perder nem mais uma gota de alegria, nem mais um fio de sol na alma, nem mais um instante do tempo que nos resta.




A desilusão

Vamos pela vida intercalando épocas de entusiasmo com épocas de desilusão. De vez em quando andamos inchados como velas e caminhamos velozes pelo mar do mundo; noutras ocasiões – mais frequentes do que as outras – estamos murchos como folhas que o tempo engelhou. Temos períodos dourados, em que caminhamos sobre nuvens e tudo nos parece maravilhoso, e outros – tão cinzentos! – em que talvez nos apetecesse adormecer e ficar assim durante o tempo necessário para que tudo voltasse a ser belo.
Acontece-nos a todos e constitui, sem dúvida, um sinal de imaturidade. Somos ainda crianças em muitos aspectos.
A verdade é que não temos razões para nos deixarmos levar demasiado por entusiasmos, pois já devíamos ter aprendido que não podem ser duradouros.
A vida é que é, e não pode ser mais do que isso.
Desejamos muito uma coisa, pensamos que se a alcançarmos obtemos uma espécie de céu, batemo-nos por ela com todas as forças. Mas quando, finalmente, obtemos o que tanto desejávamos, passamos por duas fases desconcertantes. A primeira é um medo terrível de perder o que conquistámos: porque conhecemos o que aconteceu anteriormente a outras pessoas em situações semelhantes à nossa; porque existe a morte, a doença, o roubo…
A segunda fase chega com o tempo e não costuma demorar muito: sucede que aquilo que obtivemos perde – lentamente ou de um dia para o outro – o encanto. Gastou-se o dourado, esboroou-se o algodão das nuvens. Aquilo já não nos proporciona um paraíso.
E é nesse momento que chega a desilusão, com todo o seu cortejo de possíveis consequências desagradáveis: podem passar-nos pela cabeça coisas como mudarmos de profissão, mudarmos de clube, trocarmos de automóvel ou de casa, divorciarmo-nos… E, então, surge o desejo de partir atrás de outro entusiasmo: queremos voltar a amar…
Nunca mais conseguimos aprender o que é o amor.
Se nos desiludimos, a culpa não está nas coisas nem está nas outras pessoas. Se nos desiludimos, a culpa é nossa: porque nos deixámos iludir; porque nos deixámos levar por uma ilusão. Uma ilusão – há quem ganhe a vida a fazer ilusionismo – consiste em vestir com uma roupagem excessiva e falsa a realidade, de modo a distorcê-la ou a fazê-la parecer mais do que aquilo que é.
Quando nos desiludimos não estamos a ser justos nem com as pessoas nem com as coisas.
Nenhuma pessoa, nenhuma das coisas com que lidamos pode satisfazer plenamente o nosso desejo de bem, de felicidade, de beleza. Em primeiro lugar porque não são perfeitas (só a ilusão pode, temporariamente, fazer-nos ver nelas a perfeição). Depois, porque não são incorruptíveis nem eternas: apodrecem, gastam-se, engelham-se, engordam, quebram-se, ganham rugas… terminam.
Aquilo que procuramos – faz parte da nossa estrutura, não o podemos evitar – é perfeito e não tem fim. E não nos contentamos com menos de que isso. É por essa razão que nos desiludimos e que de novo nos iludimos: andamos à procura…
De resto, se todos ambicionamos um bem perfeito e eterno, ele deve existir. Só pode acontecer que exista. Mas deve ser preciso procurar num lugar mais adequado.



... seremos sempre marionetas, guiadas pelas mãos do nosso próprio destino.
E ainda assim, assistimos embevecidos, ao nosso próprio jogo, sendo peças de xadrez, que vão tombando uma a uma, no enfeitiçado ladrilho de um tabuleiro manhoso...



...esperar-te-ei com toda a PACIÊNCIA que me resta!!

(PG...o tempo que nos resta-desilusão)