--BOA GENTE
Retratos perfeitos duma geração
-CEGO da TITURICA(ao centro descalço), estaríamos pelos finais de quarenta princípios de 50
Diziam as vozes da rua que o gaiato tinha ficado sem visão porque o fumo do lume era muito na casa do "PELADO" e da Isabel da Tidurica (QUEIMARAM OS OLHOS AO RAPAZ!). Se foi esse o motivo, então o Olivério, o Fura-Pastos" e a irmã(ISABEL?) tinham seguido o mesmo rumo do "cego da Titurica". Sei de muitas história sobre o cego, reveladoras do seu optimismo e espírito batalhador.. Talvez seja melhor observarmos bem o detalhe da foto- DESCALÇO! um bom representante da miséria que habitava muitas das casas da freguesia. Mais tarde o PROFESSOR CARDOSO. O rapaz (penso) tinha ido para o seminário,levado por algum Padre, antes disso vagueava pela rua de casa em casa com a sua lata de pólvora amarela, esta com umas pedrinhas lá dentro. Ele abanava-a todo o dia repetidamente perto do ouvido esquerdo. Astuto e atento nas suas memórias permaneciam todos os segredos da rua. Diziam que sabia exactamente o número de fetos que foram despachados para o balde da Fernanda ou em alguma casa de qualquer "Médica" de ocasião
O Sr. Cardoso viria a ser mais tarde meu professor de Português na Escola Industrial.
...
geração
SAPATEIRO da Rua de BORBA
E Ficaram as "FORMAS"
Nas paredes o ECO SILENCIOSO da
ausência/PORTA FECHADA, cortina cerrada!!!
Dos VISITANTES que vinham
trazer e buscar e os outros que simplesmente "APORTAVAM" para uns
dedos de conversa, nem sombras.
Contaram-se histórias, acontecimentos
tristes outros não . Cenas e cenários vestidos do acastanhado dos dias
de um passado longínquo com nomes sem rosto.
ESTAMOS com ELAS!
As BOTAS ...
Mergulhado até aos joelhos num monte de calçado por consertar...avental gasto de tanto encostar o pulso num vai-vém repetitivo dos gestos do corta sola, até romper.
Das GÁSPIAS e do bater na bola de pedra .
As pontas bem untadas da cera e a "CVELA " abrindo um rego ponteado para a resistente cozedura.
Anos a fio, centenas de peles retalhadas e as solas duras na plataforma perto do tecto.
Faca afiada na lixadeira construíram momentos para os outros fazerem figura-antes uma necessidade, depois passou a luxo fazer umas botas no sapateiro.
O movimento dos dias não perdoa... vieram uns , foram de vez muitos mais-ROSA, JÚLIO BICUDO o perseguido pela PIDE. Deles reza a HISTÓRIA nos quatro cantos da SAPATARIA.
Mestre de BROCHA na bocas e os pregos por endireitar.
Dos sete ofícios fez FÉ,,, outro ANGELINO pois então, do Pécuré o terceiro. Ao escrever este artigo em 2012 restava-nos o Manél Ameixa e depois deste a palavra SAUDADE.
As figuras típicas da minha FREGUESIA já quase todas desaparecidas
MESTRE SAPATEIRO
OBSERVADOR, curioso e perspicaz, sondava os assuntos e descobria os segredos .
Dado à terra. AMEALHADOR e poupado.
ENGRAXADOR e VENDEDOR.
BOA GENTE
Na Rua de Borba teve início a "Diáspora " do Sapateiro, foi naquela casa, «sapataria» que ainda conheci, onde aconteceram os primeiros encontros daquela geração e da família. Na foto anexa histórica pois os tios e o meu a pai e amigos estariam pelos vinte e poucos, trinta anos. O Rela, o João, a TIPaula , o sapateiro, a minha tia Vitalina , o Bilho e penso que os gaiatos são o Inácio e o Angélico. Reconheço também o João "PÉCUCHINHO".
Deste local partiu a alcunha pela qual foi sempre conhecido.
O mestre SAPATEIRO da RUA de BORBA
desenhou a sua vida entre os caliços caídos de paredes protetoras de
inúmeras GERAÇÕES que sobre o papel manteiga desenharam os seus rastos e
com o cebo forjaram os movimentados passeios na RUA NOVA, no largo e em
todos os largos dos arredores.
Das idas ao CAPELAS de machado na mão
aproveitador dos BIFES da vaca que tinha comido demasiada luzerna até
rebentarem - Vamos lá ÁLVARO?!!.
O Filme terminou, a sala Vazia de cadeiras, martelos e da água negra do amolecer dos coiros.
A rua descansa para sempre, já não há
visitantes dos montes em redor, do BARREIRO e das bandas de LISBOA...O
SAPATEIRO FECHOU na primeira década deste século, foi de FÉRIAS.
Para TERRAS do OUTRO LADO.