LOBOS

Sou, na verdade, o Lobo da Estepe, como me digo tantas vezes – aquele animal extraviado que não encontra abrigo nem na alegria nem alimento num mundo que lhe é estranho e incompreensível

Herman Hesse

quinta-feira, 25 de maio de 2023

A MINHA TIA VITALINA

 

 

 
 
...FINAL DE TARDE DE UM SETEMBRO DE 1966, SAPATARIA. ALGUMAS BOTAS  ENGRAXADAS PERMANECIAM A  AO SOL DO OUTRO LADO DA RUA, O  CALIPOLENSE (COM OS 2  IRMÃOS violentos VISITAVAM NESSE DOMINGO O CAMPO DA LAGOA). A equipa da terra saiu vencedora e o Árbitro (o Padre Martins ) agredido por um dos irmãos.
   QUINTA FEIRA , encostado  à escada que dava para o pequeno sótão improvisado  (ONDE DESCANSAVAM A SOLAS GROSSAS ESPERANDO serem retalhadas pela faca afiada) «o Lola». Na detrás da porta , o Eduardo José Bonito  Bizarra (O BIZARRA). De pé ao centro com uma camisola clara esta com um BOLSO DO LADO DIREITO onde descansava uma esferográfica, ZÉ DO RATO (JOSÉ BRAVO). O TISAPATÊRO CORTAVA TIRAS PARA AS TRAVESSAS DA BOTAS NUMERO (44?)GRANDE do João do Secretário. Eu do lado de fora encostado à ombreira da porta.
 
Abril 18, do ano de 1972, já tinha idade para entrar para dentro  da sapataria. O cenário repetia-se, e ouvia novas de Angola, protegido por esta sentado  de cabeça baixa o Rosa (irmão mais novo do sapateiro), cozia umas solas novas nas botas de algum trabalhador das pedreiras.  Zé do Rato de pele tostada pelo sol de África  tinha  muito para contar. Tirou  uma esferográfica  BIC CRISTAL DO BOLSO DA CAMISOLA. Dirigiu-se à pequena  mesa quadrada   do canto esquerdo à entrada da, esta  à "mãodesemear" do sapatêro (ONDE NUMA MISTURADA DE PREGOS, PROTETORES , FIOS, SEVELAS MARTELOS gastos PELO TEMPO E O USO, outras ferramentas,  pequenos objectos  e MUITAS RARIDADES ESQUECIDAS). AGACHOU-SE E ESCREVEU UMA FRASE A AZUL  QUE O TEMPO NUNCA APAGOU>> «BOA GENTE».
   Permaneceu lá até ao "TERMINUS" da sapataria. E representou para mim a imagem   de todas as pessoas que frequentaram aquele espaço. As fotos anexas são representativas do bem estar e ad concórdia que se vivia nnestes temos difícies do anos quarenta e cinquenta do século passado. Uma a dos rostos, onde se reflectem convívios sãos e esperanças de uma LONGA VIDA ,  a outra o RITUAL DO SANGUE, a importância da MATANÇA do porco na vida das famílias que tinham algum dinheiro amealhado.   

--BOA GENTE

Retratos perfeitos duma geração

 


 -CEGO da TITURICA(ao centro descalço), estaríamos pelos finais de quarenta princípios de 50

  Diziam as vozes da rua que o gaiato tinha ficado sem visão porque o fumo do lume era muito na casa do "PELADO" e da Isabel da Tidurica (QUEIMARAM OS OLHOS AO RAPAZ!). Se foi esse o motivo, então o Olivério, o Fura-Pastos" e a irmã(ISABEL?) tinham seguido o mesmo rumo do "cego da Titurica". Sei de muitas história sobre o cego, reveladoras do seu optimismo e espírito batalhador.. Talvez seja melhor observarmos bem o detalhe  da foto- DESCALÇO! um bom representante da  miséria que habitava muitas das casas da freguesia. Mais tarde o PROFESSOR CARDOSO. O rapaz (penso) tinha ido para o seminário,levado por algum Padre, antes disso vagueava  pela rua de casa em casa com a sua lata de pólvora amarela, esta com umas  pedrinhas lá dentro. Ele abanava-a todo o dia repetidamente perto do ouvido esquerdo. Astuto e atento nas suas memórias permaneciam todos os segredos da rua. Diziam que sabia exactamente o número de fetos que foram despachados  para o balde  da Fernanda ou em  alguma  casa   de qualquer "Médica" de ocasião

   O Sr. Cardoso viria a ser mais tarde meu professor de Português na Escola Industrial.

 

 

...

 

geração

SAPATEIRO da Rua de BORBA


 






ANTÓNIO RAMINHOS  ARMÁRIO



28/02/1927   -   10/10/2013





E Ficaram as "FORMAS"





Nas paredes o ECO SILENCIOSO da ausência/PORTA FECHADA, cortina cerrada!!!  

Dos VISITANTES  que vinham trazer e buscar e os  outros que  simplesmente "APORTAVAM" para uns dedos de conversa, nem sombras. 

Contaram-se histórias, acontecimentos tristes outros não . Cenas e cenários  vestidos do acastanhado dos dias de um  passado longínquo com nomes sem rosto.

ESTAMOS com ELAS!
                                                       As BOTAS ...




Mergulhado até aos joelhos num monte de calçado por consertar...avental gasto de tanto encostar o pulso num vai-vém  repetitivo dos gestos do corta sola, até romper.
Das GÁSPIAS e do bater na bola de pedra .
As pontas bem untadas da cera e a "CVELA " abrindo um rego ponteado para a resistente cozedura.
Anos a fio,  centenas  de peles  retalhadas e as solas duras  na plataforma perto do tecto.
 Faca afiada na lixadeira construíram momentos para os outros fazerem figura-antes uma necessidade, depois passou a luxo fazer umas botas no sapateiro.
O  movimento dos dias não perdoa... vieram uns , foram de vez muitos mais-ROSA, JÚLIO BICUDO o perseguido pela PIDE. Deles reza a HISTÓRIA nos quatro cantos da SAPATARIA.
Mestre de BROCHA na bocas e os pregos por endireitar.
Dos sete ofícios fez FÉ,,, outro ANGELINO pois então, do Pécuré o terceiro. Ao escrever este artigo em 2012 restava-nos o Manél Ameixa e depois deste a palavra SAUDADE. 
As figuras típicas da minha FREGUESIA já quase todas desaparecidas
MESTRE SAPATEIRO

OBSERVADOR, curioso e perspicaz, sondava os assuntos e descobria os segredos .





Dado à terra. AMEALHADOR e poupado.

ENGRAXADOR e VENDEDOR. 

 


 BOA GENTE

 Na Rua de Borba teve início a "Diáspora " do Sapateiro, foi naquela casa, «sapataria» que ainda conheci,  onde aconteceram  os primeiros encontros daquela geração e da família.  Na foto anexa histórica pois os tios e o meu a pai e amigos estariam pelos vinte e poucos, trinta anos. O Rela, o João, a TIPaula , o sapateiro, a minha tia Vitalina , o Bilho e penso que os gaiatos são o Inácio e o Angélico. Reconheço também o João "PÉCUCHINHO".

 
Deste local partiu a alcunha pela qual foi sempre conhecido.


O mestre SAPATEIRO da RUA de BORBA desenhou a sua vida entre os caliços caídos de paredes protetoras de inúmeras  GERAÇÕES que sobre o papel manteiga desenharam os seus rastos e com o cebo forjaram os movimentados passeios na RUA NOVA, no largo e em todos os largos dos arredores. 
Das idas ao CAPELAS de machado na mão aproveitador dos BIFES da vaca que tinha comido demasiada luzerna até rebentarem - Vamos lá ÁLVARO?!!.
O Filme terminou, a sala Vazia de cadeiras, martelos e da água negra do amolecer dos coiros.
A rua descansa para sempre, já não há visitantes dos montes em redor, do BARREIRO e das bandas de LISBOA...O SAPATEIRO FECHOU na primeira década deste século, foi de FÉRIAS.

Para TERRAS do OUTRO LADO. 

sexta-feira, 19 de maio de 2023

TEMPO sem TEMPO

 A  FRONTEIRA-IMAGENS SAGRADAS

O OUTRO JOSÉ SOMOS NÓS TODOS//FELIZMENTE



Hoje dia 18 de Maio de 2023, arrisco proferir aos sete ventos o que me vai na ALMA.

 Tenho mais dúvidas que CERTEZAS, foi dia de leituras da ENVOLVÊNCIA, primeiro nas dinâmicas da aula (os alunos estão a ficar rebentados ), aproxima-se o final de mais um ano escolar.

 Depois nas estradas e rotundas da cidade, OBSERVEI atentamente os rostos, as buzinadelas e os aceleramentos. Senti-me na ÚLTIMA FRONTEIRA, tenho a certeza que depois desta não haverá outra para os da minha geração. Existirá este mundo até quando? 

   GLOBALIZAÇÃO!!

   Dizem-nos que chegámos ao tempo da GLOBALIZAÇÃO, onde tudo é possível, os acontecimentos, a aquisição de objectos e bens de outra natureza estão à distância de um CLIC. A COMUNICAÇÃO!!!

 COMUNICAÇÃO, e aqui aparece-nos o elo de ligação com estas fotos e a outra realidade que todos vivemos.

  SÓ OS FILHOS DOS RICOS TINHAM ACESSO   A FOTOS> FICAREM na "XAPA".

 Estas imagens comprovam-no assim como as da Maria Luísa gaiata e do Cabaço rapazola.

  Claro que mexer no passado, como um contador de histórias o faz, não é pera-doce.  Pois paga-se caro, de todas as formas saem lágrimas molhadas. Estas imagens são uma relíquia com um valor inimaginável pelo ESPAÇO-TEMPO que representam e pela descrição que sugerem para desta forma conhecermos  a personagem numa outra vertente. A REAL!

Aquela que todos nós vivenciámos para construirmos o FUTURO  e as nossas vidas.

 Continuo falando contigo Natividade, és uma inspiração. Irei  utilizar como referência simbólica  (novamente ) o a tela de grandes dimensões de Paul Gauguin-ela reflete  a verdade intemporal-a nossa existência (HOJE) no  tempo da Globalização  e as vivências dos anos 30-40 -50 do século passado.

 Recorro a 2 comentários que ajudam de certa forma a identificarmos o paralelismo das vivencias  do "ENGENHEIRO" com as nossas.

 EMOÇÕES-ASPIRAÇÕES-SONHOS - PARTILHAS E COMUNICAÇÃO FORAM IDÊNTICAS? TEREMOS ALGUMA COISA EM COMUM??


«Das gentes dos ZARCOS, nos meus primeiros 20 anos de vida guardo as melhores recordações. Fui verdadeiramente feliz.Fátima Borralho»

« O Zé tinha longas conversas com ele (Inácio Gatêro). O ZÉ dialoga !!!! Célia Raminhos».



«OS ARTISTAS ESSES MANHOSOS
A grande OBRA de Gauguin,«DE ONDE VIEMOS QUEM SOMOS PARA ONDE VAMOS»,,,em toda a SUA estrutura simbólica da existência, GAUGUIN provoca-nos , obriga-nos a pensar na grande viagem que é a nossa vida e as dos que nos rodeiam. Não descobrimos nada de novo,somos em semelhança e nos erros clones dos que nos antecederam e o caminho é curto.
 
 

FELICIDADE-DIÁLOGO- e PERCURSO+ as fotos do Zé.
Pelas minhas contas o filho do JoquimdaVÓ, nasceu em 1934, nenhum de nós consegue descrever o que seriam OZARCOS nos anos 30/40  do século passado, só o testemunho dos nossos pais e das fitas do cinema Neo-Realista, ou outras... cinematografia Francesa e Alemã antes e pós guerra. Teremos desta forma,  a noção das dificuldades desta gente. 
Quem foram?
O que foi a FELICIDADE?
A COMUNICAÇÃO? 


  Ao falar da minha rua e das vivências de quem a habitou nos anos sessenta , princípios de setenta responderei de certa forma a esta dúvida.
 Fomos na realidade felizes? com tanta carência.
 Não tínhamos as tecnologias, os objectos, a cultura, os automóveis , as viagens pelo mundo.O acesso ao progresso e às mesmas oportunidades. 
 Quem foi esta criança, este rapazinho e o bonitão que assentou praça em Elvas?
 O outro engravatado de mangas de camisa, conheci eu e todos. Foi dessa forma que comecei a construir a imagem sensorial do Zé. E porque as imagens contam histórias, estou completamente seguro  da minha apreciação:
 O José António Borralho Russo, FILHO DA Senhora Bernardina e do JoquimdAVÓ, é uma das personagens mais ricas de historial da nossa terra. Os mundos interiores, ninguém os conhecerá pois, pouca gente teve coragem de o abordar «O ZÉ dialoga !!!!»...o mesmo será dizer: Ele esteve sempre lá para a comunicação-"os estigmas! da alma dos povos, fizeram o resto.
 
 

Gauguin Simplifica>

De onde viemos? O que somos? Para onde vamos?

A obra deve ser lida da direita para a esquerda e cada uma das figuras representa uma fase diferente da vida. O ciclo começa no canto inferior direito com uma criança adormecida e termina no lado esquerdo com uma senhora idosa acompanhada por um pássaro.
 
 
  • o bebé dormindo (o início);
  • o jovem colhendo uma fruta (o meio);
  • a senhora idosa perto de uma ave (o fim). 
  • A composição de Gauguin De Onde Viemos? O que Somos? Para Onde Vamos? trata-se da sua maior pintura, possuindo quase 4 metros de base. É muitas vezes tida como a sua obra-prima. Ele  realizou-a quando vivia um momento de grande angústia, tendo inclusive pensado em  matar-se devido às dificuldades que passava, sem dinheiro até para comprar o material de pintura, sem saúde e pela falta de reconhecimento de seu trabalho.

O que somos hoje com os nossos impérios , a vivermos de uma forma desenfreada(?). Quanto à FELICIDADE aquela   a qual  a Fátima se referiu, esta não existe. É fruto de uma SOCIEDADE CAPITALISTA,  que fez de todos nós escravos, 

Digitalmente dependentes de uma COMUNICAÇÃO VIRTUAL.  Nunca saciados esperando sempre um sinal do outro lado, seja ele qual for.

  Foi verdadeiramente feliz, (acredito) fomos todos os da minha RUA e das OUTRAS EM TEMPOS menos acelerados e exigentes.



QUEM SOMOS HOJE?

QUANTO À FELICIDADE, cujdem-se façam pela vida. 

Milagres? 

>>ESTE BELO PLANETA AZUL, OUTRORA UM PARAÍSO...sortudos OS QUE ENCONTRARAM OUTRAS VIAS PARA A SOBREVIVÊNCIA. 

O ZÉ FOI UM DELES e EXTRAORDINÁRIO.

 

sábado, 13 de maio de 2023

A ÚLTIMA CARTA DO AMOR

 

 

GUERREIRO da LUZ!!


 

Os guerreiros da luz mantêm o brilho nos olhos.
Estão no mundo, fazem parte da vida de outras pessoas. Começaram sua jornada sem alforge e sem sandálias. Muitas vezes são covardes. Nem sempre agem certo.
Os guerreiros da luz sofrem por coisas inúteis, têm atitudes mesquinhas, e às vezes  julgam-se incapazes de crescer.
Frequentemente acreditam ser indignos de qualquer bênção ou milagre.
Os guerreiros da luz nem sempre têm certeza do que estão a fazer aqui. Muitas vezes passam noites em claro, achando que as suas vidas não têm sentido.
Por isso são guerreiros da luz. Porque erram. Porque se perguntam. Porque procuram uma razão – e com certeza vão encontrá-la.

 A caracterização feita por Paulo Coelho assenta como uma luva neste vulto das nossas vidas. Ficaríamos por aqui se eu não tivesse a sua última carta de AMOR. E também todo um rol de recordações. 
Não fico por aqui ! «BOAIDEIA! FOI UMA INSPIRAÇÃO POR TODA A  MINHA VIDA. Comecei muito novo a tirar-lhe a "RADIOGRAFIA", mais curioso fiquei quando senti nas bocas do povo uma certa aversão ao individuo que sempre sozinho selecionava locais onde firme e hirto, esperava sem desesperar. Falava sozinho(...não!!) encontrava-o muitas das vezes em diálogos com a outra parte de si. Existiam nos seus dias 2 ou mais personagens, eu curioso tinha-o debaixo de olho. Só muito mais tarde, tive a coragem de O ABORDAR, FAZER-LHE PERGUNTAS . Coisas simples, que foram respondidas de uma forma RÁPIDA,também muito simples, com um sorriso tímido e novamente uma fuga para outro lado da sua realidade onde foi (sempre) um homem livre...estou a vê-lo neste momento vestido com o seu fatinho (SIM!! ELE ERA CONSIDERADO FILHO DE RICOS)  acelerando a sua «saches» preta. Todas as vezes que me monto na INDIAN  e "voo" PELO ASFALTO cantando ao vento vem-me à memória a silhueta da união daqueles 2. Não era obrigatório o capacete. Ele acelerava no máximo sem destino traçado. Foi desta forma  em todas as movimentações, qualquer dia espeta-se diziam todos. Apaixonado sempre por alguém, enganava-se o POVO. O seu amor permanecia único, a mesma princesa nas muitas portas onde ele se transformou em estátua. Na rua Nova, nas tapadas, OU NA aLDEIA, ele escolhIA o lugar onde o AMOR se encontrava.
SÉRIO, falando com a sua outra parte...
Cuidado com ele! 
Cuidado, ele  é imprevisível-tem más ideias. Foi desta forma "baptizado por muitas décadas.
 
 Quando vi o filme (CINEMA PARAÍSO, as minhas memórias tornaram-se claras e percebi definitivamente o significado de um grande amor>(:)
 


 
 
    Após a tragédia, uma nova época do cinema paradiso se inicia. A sala de
cinema é reconstruída por um aldeão que havia enriquecido com a lotaria. A sala
renovada é baptizada de “Novo Cinema Paraíso”. O padre local deixa de ter
poder de censura. Os filmes passam a ser exibidos com mais do que as
desejadas cenas de beijo até então negadas. O projecionista é agora
Salvatore, já então adolescente, sempre acompanhado pelo velho Alfredo.
É também então que Salvatore compra uma pequena câmara. Com ela

capta a imagem de uma jovem de nome Elena por quem se apaixona. O jovem confessa o seu sentimento a Alfredo que, a propósito, lhe conta uma história ocorrida com um soldado: a pedido de uma princesa por quem se apaixonara, o soldado aceita esperar cem dias debaixo da janela do seu quarto. Porém, ao fim
de noventa e nove dias ao relento, desiste. Salvatore pergunta porquê. Alfredo responde não lhe caber dar a resposta a essa questão.
Confrontado com a relutância de Elena em iniciar um namoro com ele,
Salvatore decide comportar-se como o soldado da história passando todas as noites debaixo da janela da sua amada à espera que esta lhe dê um sinal de correspondência. Numa noite de Ano Novo, o jovem perde as esperanças e
desiste de esperar.
É nessa altura que, inesperadamente, Elena vai ao seu encontro. Assim iniciam um relacionamento amoroso ao qual o pai da jovem se opõe de forma decidida. 
 
 Grande o amor// o paralelismo estava feito- ALI ESTAVA A VIDA DE UM DOS MEU HERÓIS. O meu GUERREIRO da LUZ, esperou toda a vida pelo seu único amor. Eu tenho essa carta, e sei de todas as portas onde ele esperou por ela, ao sol tórrido, nos frios de invernos duros e à chuva daquela que levava as pedras da Rua Nova na enxurrada. Ao contrário de Helena, o seu grande amor era pobre, ele tinha uns pais ricos e não queriam uma pobre na família. Hera de seu nome foi uma das mais belas do seu tempo, sem par na minha rua. Não estava interessada, nunca esteve. Os seus pais sim, pois o promissor estudante de Engenharia, era rico e tinha fama de muito inteligente.  Também a sua imagem não seria para desperdiçar, alto elegante e com boa conversa. 
Hera, encontrou em outra localidade o seu PRÍNCIPE, belo como nenhum e com uma história dramática nas suas costas. Sim foi dos homens com mais presença que conheci, REBELDE-CONTESTATÁRIO e CULTO. Sem convencer o seu futuro sogro, a comunicação fazia-se por cartas secretas que eram deixadas no nro. 55 da Rua Nova. Maria Luísa "A Grizéua" servia de ponte entre LEANDER e HERA.
Um dia Hera fugiu com o seu Príncipe e foi feliz por quase sempre.  
MORPHEUS, AINDA HOJE ESPERA  PELA SUA HERA, COM O MESMO AMOR DE SEMPRE.
 
 A sua última carta de AMOR terminava desta forma:
« - SEM TI NÃO SOU NADA- SE ME QUISERES, FAÇO DE TI A MULHER MAIS FELIZ DO MUNDO.» 
 
ELE PERMANECE VIVO, E livre...UMA INSPIRAÇÃO.
HERA TAMBÉM, MAS PERDEU ´há muitos anos O SEU PRÍNCIPE.  Ele continua  a amá-la como  no primeiro dia que se apaixonou.  Foi mimado pelas gentes  da terra com o nome (DEPRECIATIVO) «ZÉMAIDEIA». Este senhor, viveu até hoje na sua bolha de amor, livre de conspirações ou dogmas. Aguentando a solidão (aos olhos do povo) porque além dele, existem dentro de si muitas outras personagens que  o fizeram sorrir, partilhando com ele os dias duros do crescimento. Recusou-se  a crescer, nunca envelheceu, continuando vivo até hoje nos nossos corações e no imaginário rico dos HOMENS LIVRES, aqueles que aceitaram pagar o preço dessa liberdade. POR AMOR!! 
 
«Os guerreiros da luz mantém o brilho nos olhos.
Estão no mundo, fazem parte da vida das outras pessoas. Começaram sua jornada sem alforge e sem sandálias. Muitas vezes são covardes. Nem sempre agem certo.»
  POR AMOR!! tudo fizeste>ZÉ devia-te esta, PELOS PASSEIOS DE BRAÇO DADO COM O MESTRE JOÃO (QUASE INVISUAL ) EM REDOR DO ROSSIO. 
FOSTE E ÉS SEMPRE UMA INSPIRAÇÃO, TU CAVALEIRO DO ASFALTO NA TUA MOTORIZADA NEGRA COM OS CABELOS AO VENTO, CAMINHAVAS SEM RUMO DEFINITIVAMENTE  LIVRE.  E ASSIM PARTIRÁS PARA A TERRA DAS MEMÓRIAS INFINITAS.
 
«Nome: José António Borralho Russo
Filho da minha tia Bernardina. E do Joquim da Avó da PADARIA.
Criança muito inteligente mas com um comportamento fora do normal em relação às brincadeiras.
Estudou num colégio particular em Estremoz e seguiria para a universidade “engenharia” .
Foi chamado a cumprir o serviço militar em Elvas e não se adaptando aquele regime foi castigado e preso. O mundo desabou!
O seu grande amor, contrariado pela minha tia, deve ter tido a sua influência. Outros tempos.(Fátima Borralho)
"Só o amor redime o mundo
Fiquei com aquela ideia da paixão impossível
do olhar pela janela
da esperança num lado de lá que permita o sonho." JF
Não sei o diagnóstico da doença mas diria “esquizofrenia”.
A última carta de amor com a data de 18 de Abril de 1961 "descansa em frente ao teclado do meu computador. " SE me quiseres faço de ti a mulher mais feliz do mundo". Termina desta forma.
 

 
 
As Sete VIDAS de 1 PISTOLEIRO. Vultos da narrativa popular-«ZÉ BOA IDEIA»O Príncipe adiado.
  (18 de Abril de 1961)-a última carta de amor  "descansa em frente ao teclado do meu computador.(KRIATIVO JF)

domingo, 7 de maio de 2023

MARIA

 


"A vida é o oceano
A tristeza e a felicidade são os ventos
Os pensamentos são as pontas das montanhas, que se
erguem como ilhas
A vida de uma pessoa é o seu veleiro. Uma pessoa em harmonia
É aquela que sabe usar os ventos
como força para se impulsionar,
usar as ilhas para o seu descanso na sua jornada,
apreciar o balanço das ondas, como elas devem ser,
E ao final da jornada,
abrir um sorriso e dizer: a viagem valeu!
 
 
 

 
Uma pessoa em desarmonia
É aquela que sempre transforma os ventos numa tempestade,
Que ignora as ilhas, e as vêem como
obstáculos as suas jornadas,
Que acha que as ondas só podem estar no topo,
Que no fim da jornada apenas conta quantas vezes as ondas
desceram e quantas vezes o barco virou. "
Chao Lung Wen
 
 

 
MÃE!!
A MARIA Luísa Espadanal RAMOS nasceu numa família de AGRICULTORES na Frandina-Estremoz, família abastada e com grandes conhecimentos, a FAMÍLIA ESPADANAL foi entre os anos 30 aos anos 80 uma referência na região de ESTREMOZ no mundo dos negócios ligados aos trabalhos do CAMPO. Eram 4 irmãos(João Miguel-Júlio- Maria Luísa e Joaquim Manuel) , perderam a Mãe muito novos. Maria Luísa tinha onze anos.
Foram separados e cresceram sob a protecção dos Tios. Estruturaram o INSTINTO de SOBREVIVÊNCIA numa vida de trabalho, de convívio com muita gente de muitos lados e de variadas formações. Esta foi a MULHER que chegou ao ZARCOS no início dos anos 50, tinha sido gestora das contas dos Espadanais e taberneira na Tasca do Ventura Ramos. Casou com o filho do Algarvio, um pedreiro de São Brás de Alportel que veio procurar SOBREVIVER num ALENTEJO pobre e replecto de obscurantismo.
«Uma FAMÍLIA de 9 pessoas numa pobreza extrema como muitas existentes na TERRA, foi o MADEIRINHO que calou muitas vezes a voz da FOME nos estômagos da Família ALGARVIO-Gatêro.»
Hoje que tenho tudo,
só PERDI o PASSADO.
Lembro-me com SAUDADE de 2 objectos que faziam parte do ESPAÇO FÍSICO da família GRIZÉU. Um fogão a petróleo e um RÁDIO "MEDIATOR"(VENDIDO PELO GLÓRIAS CAEIRO E COM BI ASSOCIADO, pago em 3 prestações). Estas "duas riquezas", separados pelo tempo e por uma fronteira que delimita o claro do escuro; acompanharam o meu crescimento e ajudam-me a visionar em imagens claras os tempos memoráveis quando este "clã" escreveu as primeiras páginas do livro das suas vidas.
OS DIAS antes da chegada da electricidade e o depois quando os fios cremes se instalaram harmoniosamente nas paredes de cal branca.
Na minha casa também, e das 3 pessoas que descrevo nesta evocação, casa com um quintal pequenino mas precioso um POÇO e uma barraca de arrumação onde estava pendurada uma bicicleta preta,podre como símbolo de uma evolução já vivida e esquecida. E um WC improvisado com uma tigela de barro com um buraco no fundo (DE FOGO ASSIM SE CHAMAVAM)a apelidada de SANITA-MODERNISMO. Hoje TOP !
A Habitação com o nrº55 mantém ainda hoje o seu traço original, como um símbolo de um TEMPO há muito desaparecido. Nas traseiras continua a pedra enorme de xisto onde a GRIZÉUA lavava a loiça, o poço de 4 metros de profundidade, persiste.
A ÁGUA POTÁVEL ERA CARREGADA A OMBROS VINDA DA FONTE DOS SAPOS CHAMAM HOJE DE "XAFARIZ", LUGAR DE CONVÍVIO E MUITAS CONVERSAS , UM NASCENTE PRECIOSO para as gentes da minha rua e não só , todas (as mulheres )se juntavam nos finais das tardes, na fonte dos sapos perto dos CATRÓIAS.
As mármores polidas da porta trazem-me o eco de uma vida rica de acontecimentos passados, a casa de entrada grande com uma janela ao cantinho, o candeeiro a petróleo também sobre um suporte perto da chaminé. Iluminação débil dos primeiros tempos da primária, no INVERNO a cama chegava cedo não havendo muito espaço para conversas mil vezes repetidas. O lume iluminava o ambiente com sombras vivas nas paredes em SIMETRIA, o candeeiro descansava por necessidade de poupança.
 

 
A Joaninha vermelha era já nessa altura um símbolo de progresso e também de estatuto do João Grizéu, o cheiro a GASOLINA pairava no ar misturado com outros cheiros meus familiares. O dos fritos em tacho de azeite, o da salgadeira do quarto do quintal.
Em Outubro a casa de fora enchia-se de FORASTEIROS, tempo rico com o chão ao fim do dia coberto de peças de caça. Troféus exibidos orgulhosamente pelos visitantes vindos do lado de ALMADA e CACILHAS. Vivem ainda em MIM os nomes de ORLANDO, MÁRIO e Augusto ANTÓNIO Dias da casa das Sementes.
Fui um privilegiado de ter passado a par deles estes momentos de comunhão plena de acontecimentos, contavam-se histórias, serviam-se deliciosos manjares e vinham prendas daqueles lados do MAR.
A casa cheirava desta vez a sangue misturado com o odor adocicado do tabaco caro. Entre risos, gritos e palavras embriagadas contavam-se as façanhas do dia. O FIM de semana terminava num adeus da partida e do até pró ano. Os carros arrancavam decorados por uma cobertura de pelos e penas pendurados. A bandeira de um TEMPO de fartura nos campos do Alentejo, o tempo do respeito pela caça, os campos estavam cultivados, as cearas davam muita fartura às criações. A ALEGRIA do 1rº de Outubro persiste hoje nas recordações dos mais velhos, uma recordação distante e cinzenta.
Havia uma ligação profunda entre esta família (...dos GRIZÉUS)e a loja do Rato ali mesmo ao lado, muitos dos momentos felizes do gaiato reportam-se a esse convívio familiar, lembro-me dos sábados de enchentes no talho e na mercearia onde era de um prazer enorme pesar o açúcar e o arroz nos sacos de papel manteiga, de uma vez só. Como o Hábito aperfeiçoa a habilidade.
 

 
Foram TEMPOS também de fartura, não se comprava uma melancia mas sim uma arroba ou duas. O PORCO invariavelmente tinha de 10 a 12 arrobas e era um grande bicho, tudo servia para manter o RITUAL da festa e da comunhão. Esperava-se esse dia para levar a cachola aos mais chegados. Com o espírito já no outro dia o da "DESMANCHAÇÃO".
...amealhavam-se 5 tostões por cachola,25 tostões pelo jantar de carne 8 ou 9 cacholas era a média.
Em LIVERPOOL tinham inicio os primeiros gritos da LIBERDADE>
Hey Jude, don't make it bad.
Take a sad song and make it better.
Remember to let her into your heart,
Then you can start to make it better.
THE BEATLES, trouxeram-nos a libertação dos tempos pardacentos, jamais nada seria igual MARY QUANT a mini saia, o casão do Pereira as "GAJAS BOAS". Fátima do João PÉCUCHINHO, , CITY, as Locádias, as Banhas ...invadiram as Matinés com os primeiros Gira-discos portáteis...os gaiatos(nós!) aliviavam-se na sombra, surpreendidos com estes novos tempos. Olhares atentos ficavam espreitando à porta e enfiavam -se quando surgia uma oportunidade, mantinham-se lá dentro sob o olhar protetor dos mais velhos .
UMA ESCOLA PARA O FUTURO.
O primeiro grito para a LIBERDADE, foi por estes anos, e não em 1974.
A LIBERDADE é desde sempre uma força espiritual de independência e recusa perante os fatores que nos querem limitar os movimentos,( PODEREMOS ESTAR POR TRÁS DAS GRADES E SERMOS LIVRES COMO UMA ÁGUIA EM VOO, ASSIM O NOSSO ESPÍRITO O DECIDA).
INSTALARAM-SE AS CORES E A REBELDIA. ESTAS GERAÇÕES TORNARAM-SE OS REPRESENTANTES DO NOVO TEMPO.
Hey Jude, don't make it bad.
Take a sad song and make it better.
Remember to let her under your skin,
Then you'll begin to make it
Better better better better better better, oh.
Na na na nananana, nannana, hey Jude...
TRABALHO!!!!!
A palavra mágica, toda a gente procurava o trabalho e era feliz com ele.
Sempre que penso nestas duas pessoas não os consigo dissociar desta actividade tão NOBRE na vida de qualquer comunidade,( hoje já não é assim...) Mestre João Grizéu e os irmãos foram GRANDES homens do ZARCOS, gente competente na construção "à antiga". Paredes de pedra e tijolo burro, arcos em abóbada ÁRABE, coisa fácil para quem tinha aprendido a lição vinda de Marrocos.
Grizéu trabalhou até ao dia que a «falta de vista» o fez cair da motorizada, bem perto dos 70 anos, não me lembro de um dia sequer que não fosse procurar o sustento e desenrascar quem precisava,,, no ofício de fazer casas. De Inverno ou de Verão, com chuva, ou ao sol tórrido. Sábados e Domingos sempre ouvi aquela mota (JOANINHA). Conhecia-lhe o trabalhar muito longe lá para as bandas do PEXÓCA. Esperava-o impacientemente pois sabia que viria alguma sobra dos restos do almoço. Talvez um pedaço de ovo estrelado ou um bocadinho de fesnada (entrecosto), e assim acontecia. Este homem que viveu até aos 96 anos foi um admirável sobrevivente de uma família que sofreu as "passas do ALGARVE" para conseguir um futuro melhor, não se tinha nessa altura a noção do melhor ou do pior. Simplesmente vivia-se com dignidade a pensar nos filhos.O Mundo foi um SIMPLES círculo com diâmetro diminuto. Nesse círculo constavam Estremoz, Borba e as aldeias perto destas. Este foi o tempo do candeeiro a petróleo.
O tempo em que a "MARILUÍSA" brigava com as chaminés de vidro cheias de "mascárra" ou a desentupir a cabeça do fogão com a agulha de arame.
Estas foram as preocupações mais à mão. E à mão de semear estava a cara do filho, muita porrada levavam os gaiatos das mães, todos os dias, aquele fadário sovas e mais sovas...por tudo e por nada. A vida dos GAIATOS era difícil nestes tempos do candeeiro a petróleo.
O tempo do FOGÃO A PETRÓLEO dos candeeiro mascarrardo é marcante nas minhas recordações, o tal tempo das noites escuras , onde as ESTAÇÕES do ano estavam bem demarcadas por espaços curtos de ligação, a vida na casa 55 seria muito parecida com a de todas as outras casas da RUA. Nós éramos verdadeiramente FELIZES, toda a gente da comunidade assumia esse estado de espírito- FELIZ. Lia-se essa realidade nos seus ROSTOS,de todas as gerações que conviviam e pisavam as pedras da rua enlameada de Inverno e com nuvens de pó nos dias de vento. Antes dos postes com fios estendidos chegarem e decorarem os telhados das casas os dias passavam-se entre a organização possível da gaiatagem a ir para a ESCOLA, sempre à mesma hora 8.40 o Barroso aparecia à porta a chamar o AMIGO(Ávo)!!!
Chegou a LUZ!!
 

 


As Casas Iluminaram-se as ALMAS RENASCERAM tal como Fénix renasce eternamente das próprias cinzas.
Avisam-se todos:>>Obrigatório sorrir, Sonhar e não ir para a cama cedo.
NA NA NANANANA, NANANANA, HEY JUDE...
Na na na nananana, nannana, hey Jude...
AMIGO ÁVO!!!VAMOSPRÁESCOLA!