LOBOS

Sou, na verdade, o Lobo da Estepe, como me digo tantas vezes – aquele animal extraviado que não encontra abrigo nem na alegria nem alimento num mundo que lhe é estranho e incompreensível

Herman Hesse

sexta-feira, 25 de junho de 2010

No REINADO de DONA XÊTA-1888/1974

Histórias do MEU QUINTAL
1888/1974
" A VELHA XÊTA"


 ...to BE or not to BE...


 

 

Introdução
...no seguimento (da viagem...) das pesquisas efectuadas, sobre, o passado recente da nossa terra. Recomeço, de uma forma mais individualizada e tentando ir ao encontro de uma época anterior ao nosso nascimento...o assunto que me trouxe aqui é uma mistura de tempos VIDAS-PESSOAS e PAIXÕES desmedidas. PESSOAS que lutaram com um sorriso no ROSTO...o tempo da miséria!
Quem era a "VELHA-XÊTA?! Poucos se recordarão neste momento. Quando juntarem e soletrarem as letras nos lábios não saberão de imediato a resposta a esta questão, tenho a certeza que se fará luz um pouco mais à frente.
O Largo do ROSSIO era nos anos40, 50, 60 e 70 o PALCO-MAIOR das gerações desse tempo, é, no Rossio que tudo se vai passar, neste FILME ilustrado por letras, fotos e recordações de um tempo já distante.
Vou tentar resistir à FRAGMENTAÇÃO do artigo que agora inicio. Sendo certo, que é tarefa impossível.
Será importante deixar claro definitivamente, que não sou nenhum escritor nem tenho pretensões a isso.
Sinto-me, TALVEZ...um FIEL de ARMAZÉM. O sentido de responsabilidade, obriga-me a catalogar e organizar todos estes factos que me povoam a "ALMA", desta vez ajudado em muito por outra personagem que entrou recentemente em cena.

Sobre o Caminho
Nada

nem o branco fogo do trigo
nem as agulhas cravadas na pupila dos pássaros
te dirão a palavra

Não interrogues não perguntes
entre a razão e a turbulência da neve
não há diferença

Não colecciones dejectos o teu destino és tu

Despe-te
não há outro caminho

Eugénio de Andrade, in "Véspera da Água"
 A memória e o Espólio de Fátima Borralho. Sinto-me honrado por tal "COMPANHIA", pois foi esse desafio que atirei para o AR quando, do início desta aventura literária.


O Largo 



Era o centro da Vila. Os viajantes apeavam-se da diligência e contavam novidades. Era através do Largo que o povo comunicava com o mundo. Também, há falta de notícias, era aí que se inventava alguma coisa que se parecesse com a verdade. O tempo passava, e essa qualquer coisa inventada vinha a ser a verdade. Nada a destruía: tinha vindo do Largo. Assim, o Largo era o centro do mundo.

Quem lá dominasse, dominava toda a Vila. Os mais inteligentes e sabedores desciam ao Largo e daí instruíam a Vila. Os valentes erguiam-se no meio do Largo e desafiavam a Vila, dobravam-na à sua vontade. Os bêbados riam-se da Vila, cambaleando, estavam-se nas tintas para todo o mundo, quem quisesse que se ralasse, queriam lá saber- cambaleavam e caíam de borco. Caíam ansiados de tristeza no pó branco do Largo. Era o lugar onde os homens se sentiam grandes em tudo o que a vida dava, quer fosse a valentia,  a inteligência, ou a tristeza.


Os senhores da Vila desciam ao Largo e falavam de igual para igual com os mestres alvanéis, os mestres-ferreiros. E até com os donos do comércio, com os camponeses, com os empregados da Câmara. Até, de igual para igual, com os malteses, os misteriosos e arrogantes vagabundos. Era aí o lugar dos homens, sem distinção de classes. Desses homens antigos que nunca se descobriam diante de ninguém e apenas tiravam o chapéu para deitar-se.


Também era lá a melhor escola das crianças. Aí aprendiam as artes ouvindo os mestres artífices, olhando os seus gestos graves. Ou aprendiam a ser valentes, ou bêbados, ou vagabundos. Aprendiam qualquer coisa e tudo era vida. O Largo estava cheio de vida, de valentias, de tragédias. Estava cheio de grandes rasgos de inteligência. E era certo que a criança que aprendesse tudo isto vinha a ser poeta e entristecia por não ficar sempre criança a aprender a vida- a grande e misteriosa vida do Largo.


A casa era para as mulheres.


Manuel da Fonseca











( A velha Xêta)
 ;Ludovina da Encarnação Morgado
Nasceu a 26 de Novembro de 1888 e faleceu em 18 de Julho de 1974.
...esta é a única foto existente desta SENHORA, com uma menina ao colo que é a Fátima, em frente está o Zé Piléca e um outro desconhecido, que arrisco em dizer, ser um dos PEXÓCAS.

Quem VIU e QUEM OUVIU...A VOZ da RAZÃO
Episódios poéticos no Mundo da SENHORA Ludovina.


O forno e a casa do forno era um local para mim com alguma magia. Ia com frequência a pedido da minha avó lá dentro do forno à procura de ovos. As galinhas achavam que era o sítio ideal para a postura e só eu cabia na boca do forno. Para além dos ovos o forno estava cheio de papelões que serviam para cobrir o chão quando se faziam as caianças e dos basculhos do Gatorro para varrer o terreiro. Numa tarde de verão resolvemos limpar aquele espaço. Havia lixo por todos os lado e entra nesse momento um velhote com um saco às costa que olha para aquele aparato e comenta "Ó coitadas elas também andam aos trapos!" e sai portão fora.
Nasceu a 26 de Novembro de 1888 e faleceu em 18 de Julho de 1974.

Gostava muito de flores! Os alegretes no quintal estavam sempre floridos. O Antónho Vcente todos os anos lhe dava um frasco de mel, segundo ele, ela contribuía para a alimentação das abelhinhas. A primeira e única vez que ela me quis bater foi à conta de um vaso de flores que eu achei por bem oferecer à professora Ângela, julgo que da 4ª.classe! Eram ciclames, muito raros naquela época! Correu atrás de mim, mas coitada não me apanhou! E passado um bocado já tudo estava calmo.
Esta sou eu que te peço para colocares. É a única que tenho da minha avó Ludovina, recusou-se sempre a tirar fotografias. E ela embora com um feitio irascível, julgo que só se sentia viva quando fazia alguma coisa pelos mais necessitados. Temos o exemplo do Gatorro, para além de lhe dar abrigo, lavava-lhe a roupa, dava-lhe comida e também se zangava com ele. Uma das maneiras que ele tinha de fazer dinheiro era ir à serra buscar basculhos. Quando vinha dava alguns à minha avó, que ela guardava dentro do forno. O Gatorro quando precisava de um copito de aguardente ia-os buscar. Quando ela dava por falta deles havia briga no quintal - a resposta dele era sempre a mesma "O Gatorro é mau, o Gatorro não presta, mas ainda vão sentir a falta dele!" E é verdade recordo-o com muito carinho! As últimas palavras foram para mim "ai Bia, Bia" Foi numa manhã de Sábado ele não abria a porta e nós estranhamos. Abrimo-la e estava deitado, muito débil e quase sem falar. O meu pai levou-o para o Hospital e passados 3 dias faleceu. Foi a enterrar em Estremoz.  O funeral foi pago pelo meu pai e teve-nos aos dois como companhia até ao cemitério.



O Canudo para mim era um boémio, revoltado com o mundo e com uma ideologia naquela época proibida. Pertencia a uma família que deviam estar referenciados como comunistas e por isso com dificuldade em sobreviver.  Espero não estar a inventar!

Enquanto que o Gatorro era um pobre homem com um grau de inteligência inferior ao normal, o Canudo era um homem considerado normal. 



O Canudo veio substituir o Gatorro mas este ora estava, ora não estava. Andava sempre às bulhas com a minha avó. Para não falar nos tendeiros que por lá passaram, dos louceiros do Redondo, do velho do saco, e anterior a isto tudo do menino espanhol que durante a guerra fugiu para Portugal e se abrigou no meu forno, para que a guarda não o levasse.



Os médicos que passaram pela freguesia. Por uma razão ou por outra fazem parte das nossas vivências. Para mim são obvias porque lidei com eles de muito perto. Todos eles viveram sempre ou parte da sua estadia nos Arcos , em casa da minha tia Bernardina, mãe do Zé Maideia. Foram o Dr.Crujo que saíu de lá para casar com uma prima nossa., a seguir o Dr.Canelas que levou com ele uma excursão quando resolveu regressar à sua terra - Cabeção - Tenho fotografias que te vou enviar para a semana. Estão em molduras na casa da minha mãe - o Dr.Carvalho que casou com outra prima nossa, irmã da que casou com o Dr.Crujo. Este morreu em Angola num acidente de aviação quando o obrigaram a cumprir o Serviço militar, o Dr. Guitana de quem tu já falas e nas férias deste o Dr.Afrânio que por ser um dos últimos e ser muito jovem me marcou mais. Gostava muito de brincar comigo à Sardinha e eu por fim já não achava grande piada porque me deixava as mãos a arder!
não me é estranho esse nome. Vou perguntar à minha mãe e ela quando não sabe pergunta no café ao pessoal com quem fala.



O Dr.Canelas parece-me ter sido para a população um  João Semana ressalvando o facto de ser uma pessoa nova, com filhos mais pequenos que eu, que teria na altura uns 5 anos. É-me difícil saber o que os outros pensavam deles. Para mim ou para a família eles estavam sempre disponíveis.
O facto de morrerem tantas crianças tem a ver com muitos factores um dos quais o preço dos medicamentos. Bastava teres uma infecção e não teres dinheiro para um antibiótico para morreres. A consulta era gratuita e os medicamentos quem os pagava? Não havia Segurança Social e também havia muita ignorância, só se ia ao médico em último caso.

Nas Paisagens Humanas parte 2 falas na Laura que trabalha na Rosada.

Lembrei-me que ela estava imortalizada assim como outras pessoas dos Arcos tais como a Ricardina que é mãe da Maria dos Anjos e casada com o Zé do Caga, num livro de cozinha que já me acompanha há muitos anos. A autora era filha do João Cortes e da D.Catarina donos da Rosada. Acho que devemoss homenageá-la. Ela poderia perfeitamente ter omitido o nome dos empregados e não o fez. Merece ser recordada.



Quanto ao Gemiano só se lembram do trivial. Tinha muitos filhos, vivia muito pobre e como se não bastasse era bêbado. A morte foi provocada por uma queda do pontão atrás da adega do António do Paixão.
O Louceiro do Redondo que ficava lá no quintal faz-me recordar uma descrição que o Vitorino faz numa canção. Gostaria até de saber se seria a mesma pessoa.
A minha mãe recorda-o muito bem. Diz que ele aparecia com regularidade com dois burros, Os alforges serviam para trazer a loiça e o filho pequeno que o acompanhava quase sempre. A cabana servia-lhe de abrigo porque passavam alguns dias a fazer a voltas aldeias e montes ao redor. Raro era o dia em que a minha mãe ou a minha avó não lhe fazia uma sopa tomate ou açorda, conforme a época do ano. Em troca dava-me panelinhas,  alguidares e tigelas de fogo.
Lembrei-me de uma muito engraçada do Minga do Xtradinha. Sentado no poial da fonte das bicas, com as calças arregaçadas, com um pé já lavado e outro muito sujo e ele a comentar  como que embevecido pelo trabalho feito "Este ao pé deste!" 

Fátima Borralho






 O largo do Rossio era o nosso Mundo! um mundo feito de uma amálgama de sensações...

Olhávamos as estrelas nas quentes noites de Verão e nas quase eternas noites de Inverno quando as nuvens nos deixavam em paz por breves momentos. O rossio lugar de encantos e AFECTOS.



 O ROSSIO de MURO circundado...de MURO Derrubado por alguma "MENTE-LUMINOSA"..Pedras, inertes que adormecem pela eternidade nos alicerces da casa do meu Tio Ventura e em outras que lhe seguiram. Muro esse com muitas histórias para contar, antes mesmo de ter nascido com a função de decorar o largo típico das aldeias do Alentejo. Quando o largo era povoado por pedras, buracos e montes de lenha.Onde as noites eram escuras e as histórias eram contadas à luz dos candeeiros a petróleo (...uma modernice), digo:Candeias de AZEITE. Algumas dessas histórias que o muro não levou , serão desvendadas no "MEU QUINTAL". ASSIM SEJA!


LUGAR-PONTO de ENCONTRO de todas as partidas e de todas as chegadas. Os passeios e as caminhadas tinham início aqui, as festas, os SALTOS nas Fogueiras e os gritos das mães a chamarem pelos filhos. As Gerações no final da vida, sentavam o cansaço (...e sentam!) nos últimos acordes no que resta do MURO. Recordam privações e sonhos destruídos, somam um dia sobre o outro numa curta conta de subtracção.Assim foi, assim é e assim será enquanto houver tempos e existir o LUGAR.
Foi  por aqui que os Vagabundos, contrabandistas, saltimbancos e os rejeitados pela sociedade se aproximavam de olhar triste dos demais habitantes.A Guarda a cavalo, os Ciganos. os louceiros do Redondo com uma fila de burros de alforges carregados de loiça com Zarcão e chumbo... os forasteiros...todos eles procuravam o ROSSIO para perguntarem, tirarem qualquer dúvida ou simplesmente descansar.
Por aqui, geralmente no fim da tarde e pela noite dentro, se, aglomeravam os BANDOS de rapazes novos-os GRANDES- contando as suas façanhas, aventuras e desventuras, sempre com um aglomerado de GAIATOS por perto, não muito, porque para tal não havia permissão.
No largo chegavam e partiam diariamente as camionetas dos BELOS- TRANSPORTADORA SETUBALENSE de JOÃO CÂNDIDO BELO e COMPANHIA LIMITADA





Contavam-se os minutos para a chegada da "caminéta da CARRERA"..como o povo dizia.Meio dia e meio e cinco e meia se na "viéssem atrasadas...".
Com a chegada da "Cáminéti ", chegavam os SONHOS, os DESEJOS, as MODAS e todas as novidades vindas da capital ou da GRANDE VILA de Estremoz.
Tornou-se um RITUAL e permaneceu vivo até aos princípios dos anos setenta.
O LARGO-ENCANTADO, tinha mais encanto pelo Natal, tinha um odor especial vindo das casa particulares e do calor humano que os grupos de homens emanavam das tabernas do largo.As do SABINO, António"



V`ecêti", do Chicozéguinho e do Silvério. Da loja do "Fudrico" e do Café Amaro o dos frangos assados. Os odores permaneciam no ar misturados com os fumos das lareiras-cheiros de lenha de azinho e oliveira. Por muitos dias sentíamos que era um tempo de paz, harmonia e festa de família. O largo estava mais dinâmico nestes dias ao fim da tarde do que no resto do ano. Cruzavam-se grupos de mulheres em conversas de ocasião com os sacos das compras pendurados nas mãos calejadas pela apanha da azeitona. Quase todas ainda com os fatos de
 trabalho vestidos.Era o Natal o tempo mágico da GAIATAGEM. O tempo triste para as famílias com o "CREDO na BOCA" pelos filhos que estavam no ULTRAMAR PORTUGUÊS.
Os rostos revelavam as marcas da saudade e  receio. O silêncio em cada boca era a prova da ausência consentida.



                                          

Mas era no Pino do Verão, que se podia "MEDIR" a resistência deste povo. O calor abrasador, controlava os movimentos, eram poucos os que resistiam aos 40º à sombra, só os gaiatos e os cães davam sinal de vida no enorme largo do Rossio. Só os mais Jovens-raparigas ou rapazes tinham lugar nas ceifas, ou, no cavar dos grãos. Era uma economia miserável...o rosto da maioria das famílias já de si miseráveis pelo enorme número de bocas a alimentar. O cemitério tinha um talhão para jovens e, lembro-me que estava normalmente cheio. Qualquer constipação daria origem a situações de gravidade extrema.
Os médicos da altura eram verdadeiros "INVENTORES", muito ficou a dever a população do ZARCOS, ao Doutor "Crujo",ao Doutor Carvalho, ao doutor Canelas de Cabeção e mais tarde ao Doutor GUITANA. Refiro também o GRANDE PROFISSIONAL e HUMANISTA que foi o DOUTOR ASSIS e SANTOS de Estremoz, que estava sempre pronto a "correr" de noite e de dia, em ajuda, das populações que circundavam a vila de Estremoz.  Este já meu conhecido assim como o referido Doutor Guitana. Estes SENHORES fizeram verdadeiros milagres para ajudar a população na tragédia que era viver neste mundo aparte.


 " Sol do mendigo"
Olhai o vagabundo que nada tem
e leva o sol na algibeira!
Quando a noite vem
pendura o sol na beira dum valado
e dorme toda a noite à soalheira...
Pela manhã acorda tonto de luz.
Vai ao povoado e grita:
- Quem me roubou o sol que vai tão alto?
E uns senhores muito sérios rosnam:
- Qu...e grande bebedeira!
E só à noite se cala o pobre.
atira-se para o lado,
dorme, dorme...

Poema de Manuel da Fonseca  
Este grande Poeta alentejano nasceu em Santiago do Cacém em 15-11-1911, onde passou toda a sua juventude e férias ( quando as tinha ) e morreu em Lisboa em 11-03-1993.



Samarrinha



Sem conhecer a realidade desses tempos arrisco-me a adivinhar quem suportava a vida das famílias: Madeirinho, Parente, os Piscas e os CORTES da Rosada. Eram estes,  de certa forma, que davam algum trabalho à população. Sem eles e porque eram os donos da maior parte das terras da região, não haveria trabalho e  de uma forma indirecta faltaria o sustento às famílias. Lembro-me de ouvir contar umas histórias de miséria sobre a casa do meu AVÔ ALGARVIO. Muitos irmãos, muita tristeza junta...o MADEIRINHO, "inventava" tarefas para dar ao meu AVÔ e aos filhos e, em troca, alimentava-os com produtos do campo: Grão , feijão, pão e azeite eram a paga pelo conserto duma parede num dos olivais da serra... Estes "RICOS" foram a salvação de muita gente nos anos entre as duas GUERRAS. Aqui lhes presto homenagem e reconhecimento sincero. Eram pessoas com algum poder  mas que viviam e trabalhavam  com os seus trabalhadores. Em miúdo, comi várias vezes na cozinha do Madeirinho-era uma mesa enorme, onde estavam os PATRÕES,  empregados e os  tratadores das bestas . Comi neste local as melhores sopas de grão da minha vida. Lembro-me como se fosse hoje. Depois do PATRÃO ter morrido, tudo continuou da mesma forma... mas com a DONA CABACINHA à frente dos des
tinos desta grande casa de agricultores e senhores da terra.


Velho Madeirinho-Madeirinho e Dona Cabacinha

Pouco ou nada resta destes pequenos IMPÉRIOS,onde se praticava o Bem. Paredes despidas, casas vazias mergulhadas no silêncio cruel da realidade; campos abandonados pela falta de continuidade. Os descendentes procuraram vidas melhores na grande cidade.
As casas permanecem no largo, como símbolo de um tempo há muito perdido, mas não esquecido.


A casa do Madeirinho


No Largo vivia a gaiatagem



GAIATOS, REBELDES...FILHOS da PÚ...Cara! 


Hoje. Nos tempos da GLOBALIZAÇÃO, há muitos, muitos anos que observo o ROSSIO vazio. Ecoa no meu cérebro o som abafado e longínquo de gritos misturados com raiva...s , gritos de comemorações distantes. Sorrisos rasgados
-Passa a Bola!!
-Assim não jogo mais!..
-Fernando, Jaime..Daniel. Tu ficas desse lado!

Não estou a sonhar. Na realidade o eco das nossas inocentes vozes, permanece no largo sagrado da brincadeira-constante.O largo está vazio mas permanece intacto nas minhas recordações... o PALCO de todas as emoções abre-se à fantasia...darei rosto aos figurantes com a minha Divagação-Viagem ao passado através do Rosto e imaginário de uma "VELHA SENHORA-DONA XÊTA".

Começavam (..quando não havia ESCOLA), a chegar pela manhã as SUB-TRIBOS. No banco de tijolos gastos da IGREJA estava já o CHINA, há muito com a sua Viola, grande demais para vulto tão pequeno.
   Da RUA NOVA, contava-se com as presenças do Fernando, do Tólho do Angelino, dos Fonsecas...quando não tinham que ir para a vinha dos cantoneiros. O Tozéi do Pécuré,O Nelson e o Lino, o Quimino e o Barroso. Do CORMIAL, o Catróia, o Juquim Manélii e o Bananza. Da fontes dos Sapos o Tólhum dos PATOS.Das Tapadas, o Lito, o Daniel e o irmão.
Da Rua de Borba e PÉ do Cmitério... o Marinho e o irmão ( filhos do Zé das Facas),  Celestino, o Altino do Candeias e o Faragaita.

As gerações com diferença de meia dúzia de anos, aproximavam-se num desejo de socialização e "QUERER CRESCER a todo o custo".
  O Monte das "FIGUÊRAS ", fornecia-nos o Carlos SilVério,o  Ernesto, o Custódio, o Rogério, o Pataquinhos, o Maltinha, o Minga, os Cornéis(Felismino e Inácio), o Armando e penso que o Badjinho também morava por aqui.
Mais acima e no mato vivia o XAREPE...que aparecia à socapa de tempos a tempos. Os Rádares para além da linha do comboio.
Da Rua da Estação, que como o nome ainda hoje indica; prolongava-se até à estação dos caminho de ferro.
Poderiamos contar com o SILVA, o TILHO das Cirolas , o Leôncio Manuel Manguinhas, o Zé Boleia , o Rola e lá mais acima os FERROS, o Manél Quim o mais fiel à brincadeira. Dos Montes da Glória, e sempre presente, vinha o Zé Maria.
Da  Rua da Escola, O Fernando e o Rui da Gizélia, o Zé d´Sapatêro e o irmão. Os Grades, Zé da Massana e o Tóta, seguindo pelos MONTES dos ABIBES acima...desciam para o Rossio o Cáu e o irmão, o joão Hilário , o Angelino,o Jaime, os Pinguinhas, o Paulo do Mélguinhas, os Pernas Dáço, Virgolino do Alvino e o Cabacinho.
Da Rua da Carpintaria,o filho do Chinês da Muagem, o irmão da Dádica, o Trambolas, Ana Paula Guitana e o irmão Zé Luis. Também daqui o Sebastião risonho.
Da Aldeia, o filho do Flor, Luis Russo, Jasué e irmão, Vítor do Pisca, os Pernas e os famosos Bombarrais.
Do Monte , os Frascos e o Pernamagana.
O filho da horta do MONTE, o Alberto do Saias,  os Tagécos e o Zé João mais o Calhandro vinham das Bordas dos Arcos.
Não me atrevo a contá-los, faltarão alguns...desculpem-me esses ...alguns. Somos um GRUPO numeroso, éramos uma verdadeira tribo na verdadeira essência da palavra. O Largo estava a rebentar pelas costuras e sempre emoldurado por uma PLATEIA de homens que nos incentivavam ao crescer e à perfeição.
Estas foram as últimas gerações a povoarem o ROSSIO a tempo inteiro, penso que também as primeiras a poderem brincar em Felicidade -PLENA. Devemos tudo isso aos nossos pais e à implantação da Escolaridade-obrigatória.

Jogo do Botão-Berlinde das 3 covas-Pião-Aro de Bicicleta-Seringadora-Fisga-Jogo do Salto-Corridas-Jogo do Chito-Cartas-Brigas e pedradas, cabeças partidas , joelhos rasgados...tudo isto fazia parte de uma" FEIRA", que, parecia não ter fim.
O JOGO da BOLA.
Era o jogo mais apetecido e era o que mais dinamizava o largo e os seus assistentes mais velhos-a PLATEIA dos adultos seguia com redobrado interesse os desafios que se desenrolavam no palco de areia coberto.
Mas nem tudo era favorável para nós, miudagem. Tínhamos dois inimigos de estimação; os quais nos faziam estar sempre alerta...


A GUARDA a CAVALO

O Som dos cascos no alcatrão era o sinal da debandada. Ainda hoje não percebo se, na realidade, era proibido jogar à bola no largo da freguesia. Nunca ninguém teve a ousadia de perguntar, ou saber, a razão das fugas para trás dos muros até que os cavalos desaparecessem na Rua da Herdadinha. Tínhamos realmente pavor da GUARDA-a-CAVALO.
Outro dos PAVORES, era a célebre  VELHA_XÊTA.


A que deu origem a este artigo. Esta senhora, mãe do JOÃO Pécuxinho, defendia o seu território com unhas e dentes. A sua casa, sempre bem caiada, ficava ao lado do largo e, para grande azar nosso, ela conseguia sempre apanhar-nos as bolas. Bolas essas que por mais pedidos de humilhação , nunca retornaram aos seus donos. Era implacável na sua luta contra a GAIATAGEM. Era uma "GUERRA" sem tréguas. Descobri "HOJE" quarenta e poucos anos depois qual foi o destino das nossas bolas. Mas, sobre esse assunto e sobre a realidade desta SENHORA, falará a sua NETA,  na parte central deste artigo.
Eu, UMA das vítimas da sua IRA, estou hoje aqui a prestar-lhe uma homenagem merecida. Merecida porque foi para nós uma "INIMIGA" que nunca conseguimos vencer. Merecida também porque nunca baixou os braços na sua luta em defesa do seu Território-Sagrado - AS paredes caiadas de Branco.
VIVA !!!  VELHA XÊTA pela eternidade-Honra lhe seja feita!!!!
Afinal "Xêta"  é um NEOLOGISMO !
XATA era realmente o que queríamos dizer!


Obrigado DONA -XÊTA desculpe lá alguma coisinha..

Para todos os filhos que hoje são Pais de seus Pais como eu. Presenteio-os com esta lição de vida.
 Façam o melhor possível pelos velhotes. Foram eles que nos deram o tempo-mágico descrito no texto que agora termino.


continua

quarta-feira, 2 de junho de 2010

ESTES são os MEUS HERÓIS- Arcos Paisagens Humanas III




Quanto mais se acumulam os anos no sótão das minhas memórias,
mais antigos se tornam os do futuro.
Gosto de reviver os que já passaram, fazendo com que, deste modo, não sinta grandes saudades dos que ainda não vieram. Talvez venham, talvez nem venham...(impulsos)


OBRIGADO FÁTIMA!
GOSTO muito de Ti...um tributo!! 
para a "FAMÍLIA-PÉ-COXINHO "



Bárbara,Fátinhazinha,Marmela, marido da Donana, João Pé-coxinho e a Figura marcante do panorama dos ARCOS na primeira metade do sec.xx DONANA, o colosso.
(Baptizado da Fátima )
12/10/1952




DONANA 0 COLOSSO
Testemunhos da FAMÍLIA ESTRELA

Quanto à história da Donana também não há muito a dizer. Pode ser que entretanto eles se lembrem de alguma coisa. Foi “puxado a ferros” e talvez por isso eu não tenha conseguido nada. Vamos esperar.

Dizia-se que a Donana teve 1 filha de 1 padre, casou com um tio da Antónia do Peças que era muito mais novo que ela, vivia confortavelmente (tinha criada), boa pessoa, falava com toda a gente, personalidade forte, dizia tudo na cara das pessoas, chamava “os bois pelo nome”, morava no largo dos Arcos-rossio, passava muito tempo a falar com as pessoas quando ia à loja do Fudrico.  Era gozada por ter bigode e respondia “o que está na praça não está na horta”. Morreu no dia em que eu nasci, 5 de Setembro de 1957.
 (FELISMINA XAREPE)

 
Grupo de ARCOS numa FESTA
1-Ângelo XAREPE, de chapéu (MARIDO da Natália do Estrela), 2-Inácio de BORBA, casaco com gola,?,?,?,?.
Fotografia cedida por ÂNGELO ESTRELA
...talvez anos 50??!

1953-O GRUPO das SORTES

Joana do Flosa (concertina), Inácio do Flosa Dta, Manél do Piléca, Zé cabacinho,
Joaquim Romão, Domingos do Eusébio, Silvério do Peseta, Joaquim Têmpero
Chico Aranha, Zé da Nucha, Chico das Pegas e Inácio do Mélguinhas em Frente à concertina.





Hoje dia 2 de JUNHO, abro uma nova frente. Estou triste sem saber porquê, (ou talvez saiba muito bem a origem deste meu sofrimento...), as lágrimas (,,,Choro, quando estou sobre pressão, uma forma do motor não rebentar, choro de alegria, na tristeza e também na despedida, é bom chorar por amor...) correm-me cara abaixo e molham o teclado do computador . Devia estar feliz por muitas razões, nenhuma delas me forçam a molhar a face com lágrimas salgadas da poesia dos tempos. O GUILHERME faz hoje 17 anos e é um filho maravilhoso. Bondoso, educado, delicado e muito bom aluno. O Júlio esteve por cá este fim- de- semana na Inauguração da EXPOSIÇÃO (2x4 PONTOS CARDEAIS) e também tem todas as qualidades que qualquer PAI deseja ver num descendente . Estou a chegar ao fim de mais um ano lectivo com resultados muito positivos. Consegui com os meus companheiros de trabalhos, (alunos) atingir todos os objectivos que projectei no inicio do ano para a minha actividade profissional e adoro esta profissão.
 Criei e realizei em tempo "relâmpago" em 4 meses-4 trabalhos para a referida exposição a qual me honrou ser convidado pelo Artista que é o PINTOR FRADE CORREIA.
Por todos estes motivos deveria estar estendido na rede do ÍNDIO a beber um refresco orgulhoso dos meus feitos nos meses transactos.
Mas não!!! Sou um eterno sofredor, inimigo de mim próprio. Um daqueles soldados de antigamente que continuavam a luta firmes, de baioneta em riste, mesmo que o inimigo já tivesse abandonado o campo de batalha. Um Don Quixote eternamente a lutar contra os moinhos de vento.





Estou triste de mais uma vez tudo ter terminado. Fico sempre com este estado de espírito quando encosto o "BARCO" e tenho que regressar à realidade. É desta forma errada que "COZINHO" a minha vida, pela entrega, paixão e emoção...depois na colheita dos frutos, vem a nostalgia e o sentimento de ausência. O que não é nada abonatório dos meus feitos, é assim que sou e será sempre assim que tenho que viver comigo. As Pérolas que a Fátima Borralho, me fez chegar, avivaram em mim recordações de conversas das longas noites de INVERNO. Conversas essas desligadas da minha realidade vivencial na altura que as ouvia a meus PAIS. Achei como acham todos os filhos, que os meus PAIS nunca tinham sido novos. Melhor dizendo. Olhar para as fotografias que povoavam as paredes da minha adolescência e juventude seria ver personagens de um filme distante, que, não tinham nada ou muito pouco a ver com a imagem que tinha na altura da Maria Luísa e do Grizéu meu pai.

"Os Nossos Pais nunca foram novos."

Como a vida nos ensina, pregando-nos partidas de esquina, em esquina. Hoje sou PAI dos meus filhos e também do meu PAI. Talvez não me sinta um Pai acima da média. Sou um PAI razoável, deixando sempre a supremacia para as mães dos meus filhos. Não é por comodismo, mas por insegurança. Uma resistência crónica a deixar a pele da juventude para trás e isso faz-me sentir que sou mais "irmão" e colega da vida dos meus filhos do que verdadeiramente um PAI em que eles se orgulhem.

Hoje, precisamente Hoje chegaram-me às mãos estas PÉROLAS. Com elas vieram as lágrimas. Porque só hoje consegui descortinar na minha mente que os nossos PAIS foram jovens como nós fomos, tiveram sonhos (menos ambiciosos, talvez) como nós. Hoje aceito essa realidade que recusei noutros tempos...simplesmente porque hoje olhando estes rostos de raparigas lindas sem maquilhagem. Homens bronzeados pelo duro trabalho à torreira do sol.
Já não sou o Jovem que pensava que ainda era. JOVENS são esses rostos que nos olham com um sentido de interrogação: -o que será feito de (vocês...) meus filhos ainda inexistentes daqui a 60 anos. Imaginariam eles que a vida mudaria assim tanto??! (NUNCA! nem lá perto) e que os filhos e os netos estariam com um nível de vida a anos luz de distância dos seus.
Claro que nada destes pensamentos povoavam o imaginário destes nossos antepassados aos quais devemos tanto. Tinham com toda a certeza pensamentos simples e cheios de GRATIDÃO por estarem vivos e integrados numa cultura nada complexa. Onde se cultivava o respeito e o espírito de GRUPO.
Foi por tudo isto que me correram as lágrimas pelo rosto abaixo e também por SAUDADE. Saudade sem fim de todas estas personagens.

Festas de Sto. António de Arcos 1950

Saudades de todos eles...até de meu PAI, que hoje é um dos meus filhos. Querido.

Mestre Táta, João Pé-coxinho (VIOLINO), Trompete o Chico Aranha,?,?-Baixo, Inácio do Melguinhas
Mestre Lúcio, Borbinha, no tambor o mestre Lúcio  (irmão do Zé do Cága, perna traçada), Filho do Espanta de acordeão e Néa.

Rancho da casa do Povo de Arcos



João Pé-coxinho-Zé do Cága-Mestre Jacinto- Bótalume
Secretário- Joana Bárbara mãe do "FARAGAITA"Bárbara do Paixão-Hilária- Mãe da Maria das Neves e Ana Pexóca. E penso que também uma da família do Silvério


Identifico à Esq. o meu pai de viola, o CÉLEBRE CANUDO do enterro do Entrudo no lado direito de manga curta e o João Pé-coxinho ao centro de chapéu os outros são com certeza muita gente que nos "construiu". Quase todos já desaparecidos, se alguém os conseguir identificar agradeço a informação.


Exposição do MUNDO PORTUGUÊS- LISBOA 1940




JOÃO PÉ-COXINHO-os ESPIGUINHAS-o VARANDINHAS- o VENÂNCIO e o CABACINHO
Anos 50 OU FOI NA EXPOSIÇÃO DO MUNDO PORTUGUÊS
Matança

Carapau?, Tio Sapateiro, o famoso cego Cardoso da TIDURICA, descalço pormenor interessante, a Pobreza era uma realidade, ele sabia todos os segredos das mulheres (miúdo do lado direito) e Tia Vitalina linda e elegante-os outros não sei quem eram.
1953



Excursão à NAZARÉ



Excursão à Nazaré em 19 de Agosto de 1953 na Transportadora Setubalense
Táta, Fernando (motorista), João Pécoxinho, Caetano do Pisca, Joquim Zé do Paixão, Zé Maideia, Zé Amaro,
Pechoca, Militana Borbinha, Adelina Cabacinho, Antónia Borralho, Maria Joana Borbinha, Joaquim Lúcio Borralho
Joaquim d'Avó, Baineta, José Borbinha, José Lúcio, Joaquim Borbinha, José Cabaço, Mariano Raimundo



1954

Maria do Céu e Fátinha Borralho- Velha Banha e Maria Joaquina lapão no lado dto.
Foto de 1954/1955 


19 /02/1958
Dia do BACALHAU


Mestre Táta-Filho da Maria dos Santos o do CAFÉ AMARO-Caetano do Pisca-João Pecoxinho- SÓDÓ-
António do Paixão- e filho do CHICO-Céguinho.
O rapaz é o QUITO, o miúdo é uma incógnita 

1958

Grupo de Crianças no QUINTAL do João Pecuxinho



...não resisto a enviar-te estas duas fotografias que eu acho uma delicia.
Na do grupo está a Maria Rosa, Fátima, Antónia, Carmencita, Noémia, Ludovina e Maria Joaquina. Foi tirada no meu quintal que era o centro de todas as brincadeiras e será de 1958/59.(Fátima)
Continuamos a fazer HISTÓRIA, sobre a história dos tempos...colocamos nos lugares devidos as PEDRAS do XADREZ de uma vida breve, uma abençoada caminhada sobre este PLANETA FANTÁSTICO.
Estar aqui a rescrever a história de uma forma simples, com uma entrega sem limites. Contigo Fátima tudo se torna mais claro, foi sempre este o meu objectivo-"TRAZER" os nossos conterrâneos a contribuírem com a sua memória para o livro da" VIDA do ZARCOS". Quantos tesouros destes haverá por aí perdidos??!

Nesta outra foto tirada debaixo da nogueira está o Joaquim Lúcio (Quito), a Diamantina, a Antónia e a Fátima acompanhados do cão Liló e do borrego que não vivia o tempo suficiente para lhe darmos nome.
Festa de Sto.António
Fátima 1958


 O Sapateiro da Rua de Borba


Tio "Sapatêro", tia Vitalina, Bilho, Tio Réla,Eva, Ti Hilário que trabalhava na adega da quinta de Dona Maria,
Sebastião, Graciete, Ti Paula, Ti Gatêro. Penso que os gaiatos seriam o Angélico e o Inácio.

Reunião da família "SAPATÊRO" na rua de Borba onde nos anos 60 viviam a minha tia e o meu tio "SAPATÊRO". Lembro-me quando era muito novo de o tratarem pelo "sapateiro da rua de BORBA."
Fui uma vez com ele aos Gambozinos, com um saco. Só apanhei, um grande susto. Os homens formavam-se para o mundo pelo medo e por iniciações como ainda hoje o fazem algumas tribos AFRICANAS. Ir aos Gambozinos ou à electricidade em pó eram dois desses RITUAIS de perda da inocência.

 Festa de S. Mateus - Elvas 22 de Setembro de 1963
Esta era uma FESTA de CULTO, todas ou quase todas as famílias das variadas vilas, aldeias ou freguesias, levavam o farnel no meio de Setembro para a FESTA de S.Mateus.
 Estão bem frescos na minha memória a partida e a chegada do S. Mateus. Carros puxados por mulas, burros e outras bestas. Decorados de flores e outros arranjos levavam as pessoas da minha terra para a grande CIDADE, Elvas, lá no fim da província Alentejana. Tive oportunidade de fazer essa viagem com o meu vizinho Rato (Joaquim António Bravo). Era uma festa de Família e de permanente convívio. A imagem de marca que me ficou no pensamento, além das viagens divertidas, do cansaço de dormir sobre terra dura em tendas improvisadas na MATA da PIEDADE. Eram os cantares em desgarrada do pessoal de CAMPO-MAIOR. As SAIAS de CAMPO-MAIOR ouviam-se toda a semana a partir do fim da tarde, os jantares em grupo também eram uma imagem de marca daqueles tempos. O regresso do S.MATEUS era também uma festa dentro da festa que tinha terminado na terça-feira. Aqueles que não tinham ido ao S. Mateus, posicionavam-se na FONTE-das-Bicas à espera do grande desfile da chegada. Brindo-os com esta magnífica foto de GRUPO.

Anos 60 SESSENTA


...hoje dia 15 de Junho, chegou ao meu computador, mais um retalho do que foi a nossa história no início dos anos 60. São mais umas fotos fantásticas e únicas, penso eu no panorama das "PAISAGENS HUMANAS" da nossa freguesia. Fotos essas que existem felizmente e que se tornaram dinâmicas ao abandonarem as páginas de um velho ÁLBUM. Tenho a certeza que estamos todos gratos à FÁTIMA BORRALHO, por nos presentear com o seu humanismo e ESPÍRITO de partilha com todas estas fotos, que irão surpreender muita gente. OBRIGADO novamente por colaborares neste riquíssimo "empreendimento" cultural.
 Então BOM PROVEITO.



FERROS ( Germano, Manél QUIM, Leca)

Ludovina Ferro, Aldina, Marianita, Fátima Borralho, Paulina do Melguinhas, Antónia do Baioneta e Fátima.

1963
A foto do ARCO-ÍRIS 
Esta outra das raridades, uma imagem Histórica...o Rossio dos Arcos ainda com o MURO em volta.
 Marianita-Paulina-Fátima-Adília Parente, Manel Cabacinho filho do Néa e como fundo um Arco-íris, testemunho da beleza da MÃE-Natureza


Podemos também observar duas árvores solitárias ,que, penso serem pinheiros. 
Esta foto foi tirada em frente à casa do Aníbal Gato do lado oposto ao tanque das mulheres, que já estava construído como se poderá ver ao fundo do lado direito da foto.

1960
Construção da CASA do POVO


Mais um cenário Feliz
Fátima Coxixo, Maria das Neves, Ana Maria do SÓDÓ
(Degrau) Lino da Orada, João Pécoxinho, Joaquim Maria da Orada
(Cima) Manelico, Velho Gato, Tio Domingos da Lárinda Tio Cartólas pai do QUITO e velho ESPANTA. O miúdo permanece uma incógnita


22/Set.1963
S. Mateus-Elvas


José Maideia, Guiomar Cabacinho (Chapéu branco), Pai da Guiomar  Joaquim da machada,a mãe Josefa.
João da Machada, mulher Ana Maria e filhaHelena.
Fátima Borralho. Mestre Lúcio, Mulher Adelina e filha Antónia.
Joaquim Lúcio, o GRANDE e simpático QUITO o PADEIRO
1964

Festas de Estremoz-Setembro de 1964

 
Festas de Estremoz-Setembro de 1964
Cortejo Etnográfico
Recortes do Século Ilustrado
Persongens:
Táta, João Pécoxinho, Bitónha, ?, Ferrobico, Joaquina, Maria Luzia e ?
 1965
Bajéca, Perinha,Zeca, ?, Virgolino, Dinis, ?, Adelino
Joaquina Romão, Fátima, Lídia dos Peças, Maria do Céu

1965




1968
Baile na casa do POVO com a orquestra ARCOENSE
 
Varandinhas, Mestre Táta, Angélico Têmpero e João Pécuxinho



Dia da Espiga caminho da Glória


Madalena, Silvina e Fátima


1969
Festas Religiosas de São Sebastião 

1970
Alunas do curso de Costura e bordados na CASA do POVO


Barradas (mãe, filha e neto), Dalginja ou Adalgisa do Belo, Ludovina , Fátima B., Marianita, Leonor, Maria Inácia, Fátima Galrito (?), Maria Inácia, Hilária, irmã do Custódio, irmã do Solda, a filha mais nova do arrobas da rua de Borba? e Bia Aurora. 

1972

Óscar Gato-Pedro Vendas e Avó Gateira


1969

Família GATÊRO


Ti Lárinda, Angélico,Marta Célia, Ventura Cantante, Ti Vitalina, Ti João, Ti Ventura.
Em Baixo- Fernando Armário, filho da Êta, Grizéu, Filho da êta e Ti Domingos
1973
(FOTOS do espólio de Fernando Armário)
O meu SAUDOSO tio João Gatêro (esq.) que fumava Sintra e inventava muitas histórias, quase todas fantasia, (Ele esteve em todos os locais do MUNDO, quando algum forasteiro chegava de uma viagem por terras de África ou EUROPA. O Tio fazia a descrição exacta desses locais dizendo que os conhecia por ter lá estado) todos que o ouviam acreditavam, assim como o FORASTEIRO. Grande e convivente "PANTOMINEIRO o meu TIO-JOÃO". Foi um homem que trabalhou muitos anos na CUF do Lavradio. Arranjou muitos empregos para jovens da terra. Era de certa forma um homem especial e com algum estatuto. Grande comunicador e também um grande conquistador de mulheres pelas terras do BARREIRO e não só; já velhote e a viver nos Arcos, pagava anúncios nos jornais da época à procura de companheira. Apareceram várias senhoras  pelos Arcos, mas, pouco tempo ficaram, o anúncio Romântico que tinham lido, não se identificava com a personagem que as recebia na chegada do Autocarro. Era um homem diferente, acabou os dias com a Dona Irene, uma modelo das grandes casas de costura do Chiado em Lisboa. Conheci muito bem a parte final da vida do meu tio Gatêro. Estava em  casa da sua filha Orquídea quando ele ficou dependente. As suas filhas Orquídea,. Milú e Êta, quando visitavam os Arcos pela Páscoa, traziam com elas Alegria, Jovialidade e Beleza-eram as belas filhas do Gatêro.Ao centro a minha avó Gatêra, no lado direito o meu tio DOMINGOS, pedreiro de profissão e amante dos copos.



E agora a rapaziada das SORTES do ano de 1970


Dálsença-Armindo Secretário-? (BAIXO)
Cedo-Lola-Bizarra- Leca do Parente-Varelas? (CENTRO)
Tarzan?-Germano?-João Picão-(CIMA)
Agradeço a ajuda do Armindo ou de outro dos presentes desta foto para identificar com rigor as personagens destas inspecções.




SAUDADE
Sorri quando a dor te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos vazios

Sorri quando tudo terminar

Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador

Sorri quando o sol perder a luz

E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos

Sorri vai mentindo a sua dor

E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz 

Um AGRADECIMENTO PROFUNDO e SINCERO à FÁTIMA BORRALHO (Pécuxinho)