MINERVINA
...A ÚLTIMA VIZINHA
A LÍDER INCONTESTADA
A ALTERNATIVA DO SILÊNCIO
...A vizinha do lado, ou a última das vizinhas.
O que foi ter vizinhos?
-Ter vizinhos é aumentar a família.
Termos vizinhos naquele tempo distante era podermos gritar e sermos ouvidos.
Com vizinhos nunca existiu solidão.Os vizinhos eram úteis, serviam para muitas coisas (úteis).
-Leia-me lá esta carta, que não tenho os óculos. Vem dos lados de Cascais.
Estivemos sempre desenrascados com os vizinhos que nos calharam.
-Vezinha, na tem praiumas pedras de cal quemenpresti?
Quero caiar a parede do alpendre e os mariolas nunca mais os vi(referiam-se aos vendedores de pedras para cal branca).
Com os "vezinhos" aprendíamos a importância de um «ralhete». Também dos silêncios.
Minervina era dessas, falava com o olhar e poucas palavras.
-O meu Tólho ou a Bia e a minha Nárinha.
A última vez que com ela falei, foi de visita,os meses e os anos somam-se numa infindável cavalgada.Deixei-a falar, sobre os netos.
«... que nada é como dantes, está tudo longe, Tudo espalhado.»
Observava e ouvia, apetecia-me dizer-lhe (mas ela não entenderia)que estava cheio de inveja, família tão grande«, quem me dera, nunca tive "JEITUUU" nem engenho para investir nesse negócio.Uma família grande, onde existe sempre festa.
Senhora Minervina, já viu, fechou o círculo(ela não entendeu), pode dar-se por feliz.
Continuou, o meu (?) não quis estudar, (percebi que era o do Tólho), ele lá sabe.
...mas os vizinhos, além de família ensinaram-nos muitas coisas mais, e aconchegaram-nos para nunca termos medo do futuro.
Em dias de chuva, os pés descalços corriam cegos pelas lages das casas vizinhas e saltitavam nas poças espirrando água pra todo lado. Ao olhar para o meio da rua, veio-me a lembrança do corre-corre das crianças e da gritaria que fazíamos quando algum automóvel se interpunha em nosso pique-bandeira e tínhamos que recuar dando passagem aquele intruso.
Quando a noite se aproximava, sorrateira, eu me sentava no meio fio, com a mão esquerda sob o queixo e olhava para aquele céu estrelado e sorria. O brilho da lua escondia um rosto que muito me intrigava. Não sabia se era de homem ou de mulher, mais imaginava que devia ser alguém poderoso e sábio para ser dono de tanta beleza.
Não era muito de fazer amigos e minha rua sabia disso, tanto que me enviou um amigo invisível para me fazer companhia. Se perguntarem a ela porque agiu desse modo, com certeza diria que sua amizade por mim não tinha limites. Houve um inverno em que a chuva foi visitar outras ruas e compadecida da seca que lhe abria feridas eu aliviei seus pesares ao lhe jogar baldes de água.
Minha rua não é uma rua qualquer, sem passado nem história. Ela é parte de mim. Se hoje sou feliz e tenho toda uma bagagem de vida, foi porque a minha rua estruturou a minha mente, e fez-me crer em sentimentos verdadeiros.
viverei mais, meu coração acelera quando observo a casa dos vizinhos.
Os meus amigos, familiares, desconhecidos, todos se encontraram um dia naquela rua, naquele lugar que um dia eu chamei de lar…mas que perdi na fatalidade da PASSAGEM dos DIAS. Está perdido e com ele todos os gestos que aqui recordo.»
Zé Paixão-Minervina-Angelino e Cabrito
A Melhor Maneira de Viajar é Sentir Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.
Álvaro de Campos uma
das Personagens de PESSOA, com palavras sentidas no PULSAR do CORAÇÃO
deixou bem presente as contradições do VIVER. O TEMPO faz acalmar a o
pensamento e o corpo. Os anos passaram e como camadas sobrepostas num
viver ao SABOR das ESTAÇÕES. Nós GAIATOS da minha RUA a pouco e pouco
fomos ocupando o lugar guardado na hierarquia dos ADULTOS.
(sobre o Angelino/março de 2011)
Hoje recordo também ,
aqui no cimo da PIRÂMIDE muitas outras passagens deste convívio
fraterno. As famílias por si só constituíam-se em territórios
independentes e "intimistas".
Apesar dessa
"ORGANIZAÇÃO " elas estavam indirectamente destinadas a dependerem umas
das outras. E era aqui que a FIGURA do ANGELINO GATO se destacava. Era
um PESO-PESADO para todo o serviço, de parcas palavras de semblante
calmo e sério ele estava sempre disponível para socorrer quem
necessitasse. Recordo-me das noites de 40 graus de febre, meus PAIS
socorriam-se do meu vizinho para irem a ESTREMOZ buscar o DOUTOR Assis e
SANTOS, estava sempre disponível com a certeza nos seus GESTOS. Acho
que serviu de TÁXI para muitos vizinhos da Rua. Também nos anos 80
quando fui estudar para Lisboa recorri a ele quando precisava de apanhar
transporte em Estremoz. Parecem situações banais , sem qualquer
importância mas, são estes pequenos GESTOS , agora fora de moda que
estruturavam a cordialidade e as relações entre os GRUPOS no TEMPO do
pouco Dinheiro.
Recordo igualmente as
viagens ao CEREJAL com o intuito de irem à água nos DOMINGOS. Mais não
sendo que um pretexto para beberem uma garrafa de vinho num convívio de
GRUPO mais ou menos uniforme que se estendem por muitos anos-Angelino,
Grizéu, Pica FOGO, Capitão e mais um ou outro que se ia infiltrando
Domingo a DOMINGO.
Mais RECENTEMENTE nos
ANOS 90, quando minha Mãe adoeceu de vez, foi a Família Angelino que
apoiou o meu PAI nesta fase difícil das nossas vidas.
Não esquecerei jamais todos estes acontecimentos os QUAIS deixo -ESCRITOS
num rio de palavras sentidas. Que fazer ??!! se sou assim, um encadeado
ser cheio de RECORDAÇÕES as quais partilho nesta aventura literária
Virtual.
Obrigado à FAMÍLIA
ANGELINO e que não esqueçam a NATURALIDADE da PARTIDA. Não partimos de
vez...fizemos na terra uma pequena paragem no PERCURSO da EXISTÊNCIA
nada terminou, tudo é um RECOMEÇO. Um DIA iremos abraçar o ANGELINO a Minervina , a sapata, a vezinha Alcina, a Ti Celeste, a Mouca do JoãodZÉZICA, a Vezinha Constantina, a Lebra e todos os outros que foram a estrutura de todos nós jovens daquele tempo, somos a última fornada a recordá-los desta maneira.
Família EXEMPLAR-OS ANGELINOS.
A Minervina é que mexia os cordelinhos.