LOBOS

Sou, na verdade, o Lobo da Estepe, como me digo tantas vezes – aquele animal extraviado que não encontra abrigo nem na alegria nem alimento num mundo que lhe é estranho e incompreensível

Herman Hesse

sexta-feira, 28 de abril de 2023

A importância dos vizinhos

 

 

MINERVINA 

...A ÚLTIMA VIZINHA

A LÍDER INCONTESTADA 

A ALTERNATIVA DO SILÊNCIO


 

...A vizinha do lado, ou  a última das vizinhas.

O que foi ter vizinhos?

-Ter vizinhos é aumentar a família.

Termos vizinhos naquele tempo distante era podermos gritar e sermos ouvidos.

Com vizinhos nunca existiu solidão.Os vizinhos eram úteis, serviam para muitas coisas (úteis).

-Leia-me lá esta carta, que não tenho os óculos. Vem dos lados de Cascais.

Estivemos sempre desenrascados com os vizinhos que nos calharam.

-Vezinha, na tem praiumas pedras de cal quemenpresti? 

Quero caiar a parede do alpendre e os mariolas nunca mais os vi(referiam-se aos vendedores de pedras para cal branca).

 

Com os "vezinhos" aprendíamos  a importância de um «ralhete». Também dos silêncios.

 Minervina era dessas, falava com o olhar e poucas palavras.

-O meu Tólho ou a Bia e a minha Nárinha.

 A última vez que com ela falei, foi de visita,os meses e os anos somam-se numa infindável cavalgada.Deixei-a falar, sobre os netos.

«... que nada é como dantes, está tudo longe, Tudo espalhado.»

Observava e ouvia, apetecia-me dizer-lhe (mas ela não entenderia)que estava cheio de inveja, família tão grande«, quem me dera, nunca tive "JEITUUU" nem engenho para investir nesse negócio.Uma família grande, onde existe sempre festa. 

Senhora  Minervina, já viu, fechou o círculo(ela não entendeu), pode dar-se por feliz.

 Continuou, o meu (?) não quis estudar, (percebi que era o do Tólho), ele lá sabe. 

...mas os vizinhos, além de família ensinaram-nos muitas coisas mais, e aconchegaram-nos para nunca termos medo do futuro.



«Como em um sonho me ponho a olhar a rua que foi minha amiga de brincadeiras, minha arca do tesouro e minha confidente em meus tempos de infância. Não havia amiga mais devotada. Quando saía de casa, descendo correndo, era ela que me vinha receber com seus mistérios, seus ruídos, seus cheiros e sabores inconfundíveis.
Em dias de chuva, os pés descalços corriam cegos pelas lages das casas vizinhas e saltitavam nas poças espirrando água pra todo lado. Ao olhar para o meio da rua, veio-me a lembrança do corre-corre das crianças e da gritaria que fazíamos quando algum automóvel se interpunha em nosso pique-bandeira e tínhamos que recuar dando passagem aquele intruso.
Quando a noite se aproximava, sorrateira, eu me sentava no meio fio, com a mão esquerda sob o queixo e olhava para aquele céu estrelado e sorria. O brilho da lua escondia um rosto que muito me intrigava. Não sabia se era de homem ou de mulher, mais imaginava que devia ser alguém poderoso e sábio para ser dono de tanta beleza.
Não era muito de fazer amigos e minha rua sabia disso, tanto que me enviou um amigo invisível para me fazer companhia. Se perguntarem a ela porque agiu desse modo, com certeza diria que sua amizade por mim não tinha limites. Houve um inverno em que a chuva foi visitar outras ruas e compadecida da seca que lhe abria feridas eu aliviei seus pesares ao lhe jogar baldes de água.
Minha rua não é uma rua qualquer, sem passado nem história. Ela é parte de mim. Se hoje sou feliz e tenho toda uma bagagem de vida, foi porque a minha rua estruturou a minha mente,  e fez-me crer em sentimentos verdadeiros.


Na calada da noite, todos dormem. Caminhava pela rua, encontro muros danificados pelo tempo, as lojas da minha infância estão mergulhadas no SILÊNCIO abandonadas, perdidas para todo o sempre. Uma vida só RE-VIVIDA na minha mente.

Aproximo-me do lugar, há minha volta sinto a nostalgia de uma época que não
viverei mais, meu coração acelera quando observo a casa dos vizinhos.

Os meus amigos, familiares, desconhecidos, todos se encontraram um dia naquela rua, naquele lugar que um dia eu chamei de lar…mas que perdi na fatalidade da PASSAGEM dos DIAS. Está perdido e com ele todos os gestos que aqui recordo.»

 

Zé Paixão-Minervina-Angelino e Cabrito
 

A Melhor Maneira de Viajar é Sentir Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos. 
 
 

Álvaro de Campos uma das Personagens de PESSOA, com palavras sentidas no PULSAR do CORAÇÃO deixou bem presente as contradições do VIVER. O TEMPO faz acalmar a o pensamento e o corpo. Os anos passaram e como camadas sobrepostas num viver ao SABOR das ESTAÇÕES. Nós GAIATOS da minha RUA a pouco e pouco fomos ocupando o lugar guardado na hierarquia dos ADULTOS. 
(sobre o Angelino/março de 2011)
Hoje recordo também , aqui no cimo da PIRÂMIDE muitas outras passagens deste convívio fraterno. As famílias por si só constituíam-se em  territórios independentes e "intimistas".
Apesar dessa "ORGANIZAÇÃO " elas estavam indirectamente destinadas a dependerem umas das outras. E era aqui que a FIGURA do ANGELINO GATO se destacava. Era um PESO-PESADO para todo o serviço, de parcas palavras de semblante calmo e sério ele estava sempre disponível para socorrer quem necessitasse. Recordo-me das noites de 40 graus de febre, meus PAIS socorriam-se do meu vizinho para irem a ESTREMOZ buscar o DOUTOR Assis e SANTOS, estava sempre disponível com a certeza nos seus GESTOS. Acho que serviu de TÁXI para muitos vizinhos da Rua. Também nos anos 80 quando fui estudar para Lisboa recorri a ele quando precisava de apanhar transporte em Estremoz. Parecem situações banais , sem qualquer importância mas, são estes pequenos GESTOS , agora fora de moda que estruturavam a cordialidade e as relações entre os GRUPOS no TEMPO do pouco Dinheiro.
Recordo igualmente as viagens ao CEREJAL com o intuito de irem à água nos DOMINGOS. Mais não sendo que um pretexto para beberem uma garrafa de vinho num convívio de GRUPO mais ou menos uniforme que se estendem por muitos anos-Angelino, Grizéu, Pica FOGO, Capitão e mais um ou outro que se ia infiltrando Domingo a DOMINGO.
Mais RECENTEMENTE nos ANOS 90, quando minha Mãe adoeceu de vez, foi a Família Angelino que apoiou o meu PAI nesta fase difícil das nossas vidas. 
Não esquecerei jamais todos estes acontecimentos os QUAIS deixo -ESCRITOS num rio de palavras sentidas. Que fazer ??!! se sou assim, um encadeado ser cheio de RECORDAÇÕES as quais partilho nesta aventura literária Virtual.
Obrigado à FAMÍLIA ANGELINO e que não esqueçam a NATURALIDADE da PARTIDA. Não partimos de vez...fizemos na terra uma pequena paragem no PERCURSO da EXISTÊNCIA nada terminou, tudo é um RECOMEÇO. Um DIA iremos abraçar o ANGELINO a Minervina , a sapata, a vezinha Alcina, a Ti Celeste, a Mouca do JoãodZÉZICA, a Vezinha Constantina, a Lebra e todos os outros que foram a estrutura de todos nós jovens daquele tempo, somos a última fornada a recordá-los desta maneira.


 

Família EXEMPLAR-OS ANGELINOS.

A Minervina é que mexia os cordelinhos.

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