LOBOS

Sou, na verdade, o Lobo da Estepe, como me digo tantas vezes – aquele animal extraviado que não encontra abrigo nem na alegria nem alimento num mundo que lhe é estranho e incompreensível

Herman Hesse

sábado, 22 de abril de 2023

 

 

BLACK WOLF

 

 



"Be good, be kind, help each other."
"Respect the ground, respect the drum, respect each other."

 Gênesis 1
 

 


27Deus, portanto, criou os seres humanos à sua imagem, à imagem de Deus os criou: macho e fêmea os criou. 28Deus os abençoou e lhes ordenou: “Sede férteis e multiplicai-vos! Povoai e sujeitai toda a terra; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todo animal que rasteja sobre a terra!” 29E acrescentou Deus: “Eis que vos dou todas as plantas que nascem por toda a terra e produzem sementes, e todas as árvores que dão frutos com sementes: esse será o vosso alimento!…

 25 $ tostões e 2 kg de  RESPEITO

>OS MADEIRINHOS.



As imagens marcam-nos para todo o sempre.


 « UMA VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS» (...)
...é neste contexto que "OBRIGO" a repetir-me, esta viagem dos BLOGUES aos quais chamo «ARMAZÉNS da MEMÓRIA", para um espaço abrangente a muitos observadores, ávidos de novidades
(O FUÇAS)
Só poderá ser útil, se o mesmo assunto for tratado de outra forma.
É o caso!!
As centenas de fotos que possuo em arquivo, são o "objecto sagrado" para a contemplação, muitas delas, a maioria, minhas...nasceram desde jovem, fruto de uma curiosidade e exigência para aprisionar os momentos. RECOLETOR do visível. As imagens contêm em si contextos, sons por vezes odores dramas e comédias, muitos acontecimentos.
Imaginem que conseguiríamos congelar pedaços do AR que

RESPIRAMOS. Guardar história é um pouco isso-congelar momentos.
ABRE-TE PORTA!!
 

(Minha mãe a caminho da Senhora...
vou à SENHORA!)
 
 
...existe um Triângulo equilátero na minha memória. Num dos vértices , o MADEIRINHO e os Cortes da Rosada. No outro vértice, o Parente (Parentinho ) e os Piscas. No terceiro, os Gatos, o Correia de Sá e os Nunes. Desta forma se organizaram as hierarquias noZARCOS.
 
O que representavam estas FAMÍLIAS?
 
SEGURANÇA
TRABALHO
ORGANIZAÇÃO SOCIAL
RESPEITO
...o respeito e a cooperação, marcaram toda a existência desta terra, e estes senhores foram importantíssimos para que existissem dinâmicas e espírito para sobrevivência.

.
Do que me recordo? de quase tudo...mas o mais importante situa-se algures nos domínios aos quais chamo « COM POUCO PODEREMOS SER FELIZES, e quem sabe, termos um dia uma vida melhor»...eles e os filhos representavam aos nossos olhos essa realidade. Os detentores da TERRA e dos NEGÓCIOS.
Vivi quase toda a minha vida numa permanente relação com os MADEIRINHOS, por vezes arrisco mesmo um parentesco , ( ...será que o meu AVÔ VENTURA, lá pelos lados da Frandina, ou "MANPORCÃO"(...)não seriam parentes ?). 
 
Não sei, mas ainda hoje me sinto FAMÍLIA, foram tantos os convívios, os acontecimentos e as histórias ouvidas que me arrisco a dizer> ESTIVE em TODAS!
 
Existe em mim,(...quando vejo o CABAÇO ou olho aquele edifício,uma imensa certeza), um presente chamado GRATIDÃO.
Sorrio ao evocar acontecimentos, as histórias ouvidas-tudo repleto de intensidade, simplicidade, igualdade e partilha.
Não me recordo do Madeirinho vivo.
Mas o nome e a influência dele continuou por muitos anos após ter desaparecido.O LEGADO e Dona Cabacinha são o rosto da continuidade. Uma mulher EXTRAORDINÁRIA!!
...de uma bondade e pureza «estratoesférica», termo inventado recentemente e muito em voga hoje, nos da bola e os do entretimento gozam esta fama . Estamos num tempo em que as banalidades, as personagens  banais são transformadas em ESTRELAS, às quais apelido de estrelas do nada.
 
Dona Cabacinha e todos os outros de quem falarei no futuro, foram úteis e deixaram feitos palpáveis, bem marcados pelos passos nos seus caminhos.
 
Os donos das terras e de NÓS.
(CHEIRA-ME a ESTURRO!)

 
1964/foi uma terça-feira. Estávamos na Primavera,batas vestidas e uma azáfama diferente na sala dos rapazes. Maria do Céu (vinha de Táxi), Dona Ângela ( tinha um volckswagen)das meninas. Assunto sério, todos em fila (2) na rua, debaixo das amoreiras-destino igreja. A Dona Gisélia juntou-se ao cortejo. Sentença:-Vamos à missa de sétimo dia do senhor Madeirinho. E assim foi, em silêncio, sem entendermos bem o que era uma missa. Por norma encaixámos que o assunto era sério não havendo lugar a grandes barulheiras. Ficou-me a luz brilhante nas paredes caiadas de novo. Do lado esquerdo da porta pequena (central),Maria de Lurdes (minha madrinha Lurdes), e uma mesa com toalha de renda. Uma cesta de verga com meia dúzia de embrulhos cilíndricos, percebi que tinham moedas de 25 tostões para prendarem cada um de nós. Este foi o momento de transição, o poder de Dona Cabacinha começava e não existiam dúvidas que o futuro estava assegurado. Quem foram estas pessoas? O que significavam no contexto de uma freguesia toda ela organizada em redor de um largo.E porque eram apelidados de "RICOS".
(1964.casa da Madeirinha-frente ao "LAVA-LOIÇAS")


Os donos das terras e de NÓS.

Natividade, saberei responder a todas as questões, hoje 5 décadas depois, as memórias foram construidas até finais da adolescência, tinha 17 anos quando rebentou o 25 de Abril de 1974. Daí a em frente,o interesse em explorar vivências foi quase nulo. Numa casa como a do Madeirinho, a azáfama era dirigida para o trabalho nas propriedades, olivais (conhecia-os todos, passei na apanha da azeitona por eles ). O mais distante para lá da linha já muito perto da Nora. E ficava um para os lados das Carvalhas na Glória. Os das abas da serra na estrada velha os desejados pela curta distância. No anexo onde existe ainda hoje uma ampla varanda, o lugar das bestas. Vítor de São Domingos, Sr. Vítor como era chamado e que tinha mão para dominar um possante macho daqueles que levantava a cabeça com a força necessária para elevar um homem. existiram sempre dois animais no estábulo e uma tarimba com um colchão de palha para a necessidade de ficar alguém  a dormir para tratar de alguma besta doente. Houve tempos de duas parelhas e dois homens a tempo inteiro, mais o «Pernamagana» para assuntos mais leves.

 



 

(Dona Cabacinha-Lurdes- Álvaro)


 OS APACHES da MADEIRINHA



`(Ámélia- Joaquina Rádares , EU e Ferenanda Rádares)
(O RANCHO)

 

(Zéfa do Cáco-Fernanda Rádares -Ti Vitalina-Pila Maria Quiquitas-Mãe Luísa)


 
RICOS?

 

...pois querida amiga, tenho também resposta para essa questão. Eles representavam (...os do triângulo) a imagem da liderança , «os senhores», donos da terra e dos negócios, todas as dinâmicas e sobrevivência das famílias estavam indiretamente(arrisco diretamente) sujeitas a estes senhores. Eram eles que ofereciam o sustento através do duro trabalho nas suas terras. E nas vendas dos produtos.
Foram eles que desenrascavam e matavam a fome a muita dessa gente. Tenho o exemplo do meu avô Algarvio. Ouvi o testemunho, e não me esqueci; 7 filhos e por vezes o trabalho escasseava, O homem tinha vindo de São Braz de Alportel e "aportou " noZARCOS, e por lá ficou.
Miséria e fome juntas na casa da Ludovina e do Algarvio. Madeirinho mesmo ali à mão-de-semear, inventava um muro caído, lá para os lados da serra, ou uma parede para rebocar. Em troca algum dinheiro, pouco e uns litros de feijão, grão e azeite.
E o PÃO, tão precioso.
 
E como foram as rotinas na casa de cima: 
Mesa comprida, 9 pessoas a almoçar,e a JANTAREM. Os patrões comiam com os seus trabalhadores à mesma mesa . A mais saborosa sopa de grãos que comi na minha vida, aquelas carnes cozidas e muita couve.Eram coisa para alimentar e dar força.Os dias dos bolos e do pão caseiro no forno entre a cozinha e a casa da"CHARRETE". Foram temperados com muito suor no amassar da farinha. As REZAS PARA O ASSUNTO ESTAR EM CONFORMIDADE. A matança do porco e a "desmanchação" na casa do lado, onde estavam as talhas. Mas o que eu gostava mesmo era o tempo das debulhas lá EM CIMA,perto do depósito da água, onde o trilho na eira nos prendia o entusiasmo e ali ficávamos numa de contemplação . Subir para o carro cheio de molhos de trigo ou cevada, foi liberdade permitida, a gaiatagem por norma aceite, como esperança de passagem de testemunho.
As relações de poder, cheiravam um pouco aos tempos da monarquia, estes ricos nunca foram como os de hoje. O POVO ( as mulheres do POVO) cantavam a sua "desgraça" em LIBERDADE.

SÓ M’INVEJA DE QUEM BEBE
A ÁGUA EM TODAS AS FONTES(...)

 

 

Cabaço cresceu com os da sua geração, mesmo quando estudou em Estremoz, nunca deixou de interagir com a juventude doZARCOS, tornou-se uma presença assídua e transversal a todas as outras, na caça com os mais velhos, no futebol ou nos copos com minha e a anterior. Conta a lenda que no tempo da primária trocava os seus brinquedos (...quase raros, os gaiatos não tinham,faziam-nos!)por laranjas ou outra fruta, que por vezes tinha sido roubada das propriedades do Madeirinho. Generoso, e de uma presença cheia de beleza, deixou nas suas costas muitos corações despedaçados. Guardo muitas dessas histórias, algumas que ele já terá esquecido.EU NÃO!
 

 
 


 
NÃO M’INVEJA DE QUEM TEM
CARROS, PARELHAS E MONTES
SÓ M’INVEJA DE QUEM BEBE
A ÁGUA EM TODAS AS FONTES
 
 
...Ó Rama que linda Rama, "FALADA - cantada COMO MAIS NENHUM CONSEGUE" pelo Vitorino , foi ouvida por mim nas azeitonadas de invernos frios e chuvosos. O Povo divertia-se enquanto os patrões presos às sua obrigações , não teriam muito espaço de manobra para incursões fora dos seus domínios. Diz a história que nesse tempo e nos anteriores, existiam as Termas, O Rei D. Carlos iria para as termas e para várias casas que tinha espalhadas pelo País. Dona Cabacinha permaneceu quase 5 décadas (SÓ ENTRE QUATRO PAREDES, visitada diariamente pela minha mãe que lhe fazia algumas compras, pois ela não frequentava as lojas da freguesia. (Aquela janela do lado dto no 1ºandar iluminava-se por momentos todas as noites, por volta das 22 horas, era o momento da deita) guardando o legado do Madeirinho muito para além do 25 de abril de 1974.
Passou pela cabeça dos novos revolucionários, os detentores da igualdade e da liberdade,conquistarem o Castelo mesmo no centro da freguesia, ninguém teve coragem de o fazer,porque bem lá no fundo de cada um deles permaneciam réstias de memórias- dividas de família. Sei eu, algum dos seus tinham matado a fome nos pratos, do Madeirinho, dos Parentes ou dos Piscas, os detentores do poder, das terras e do respeito.
Uma sociedade, só desta forma terá possibilidades de se perpetuar. A LIBERDADE é um bem de todos, e nem todos somos iguais. Não somos eternamente donos de nada, é uma passagem da qual pouco ficará.
Existiram e existirão sempre Inteligentes, Chico-Espertos, Ricos e pobres...os novos tempos não conseguiram mudar as pessoas,nem oferecer-lhes a tal felicidade tão vendida ao desbarato. Ainda oiço o ensinamento dos velhos do grande largo, um deles da boca do Mestre Jacinto:
«-Ólha rapaz se viesse aqui um rico, e distribuísse 100 escudos a cada um dos que estão nas tabernas (espalhadas)pelos 4 cantos da freguesia. Daqui a 3 semanas nenhum desses que recebeu os cem escudos,teria um tostão. Mas existiriam dois ou três espertalhões que ficariam com os mil contos.»
O "Castelo" azul e branco permanece no mesmo local, hoje restaurado, consta-se que foi comprado em haste pública por alguém abonado, de outra forma caía. Hoje na casa dos senhores já não estarão de certeza as mobílias de Pau-Preto do Brasil, a secretária e os quadros com as fotos de família, e o chapéu à toureiro do Madeirinho.
A Cantareira dos cobres (tantas vezes esfregada com palha de aço) sobre a chaminé que a Dona Cabacinha adorava . Os sons das ferraduras, o ladrar do velho cão, a pressão de ar do Cabaço do tempo que íamos à passarada nas figueiras das HORTAS. e do MONTE .
No interior do edifício hoje cheio de vazio , permanecem as memórias de um tempo habitado por muitos sorrisos,conversas de ocasião, visitas de ilustres e menos ilustres.
Dizem as vozes do povo que irá ser um Lar. E quando se acabarem os velhos (?)porque já não nascem crianças, ou as que nascem não chegam. Qual será o seu destino ?
O som da porta de chapa azul , do lado direito, permanece em mim,como símbolo de um imenso acervo de memórias. Quim Manél uma das minhas referências para o crescimento. Ainda hoje tenho em mim muito do que aprendi com ele, ensinou-me a REBELDIA e o valor da independência e da liberdade, consegui suplantar o mestre .
Dona Cabacinha a que merece o titulo de «SENHORA», herdou do marido, (primo)...MADEIRINHA.






 

A SENHORA MADEIRINHA.
E O RESPEITO(!!)
« ... A TERRA NÃO É MINHA, PEDI-A EMPRESTADA AOS MEUS NETOS.(!)»
Sabedoria Ameríndia
 
 
DEUS CRIOU O HOMEM, MAS FOI ESTE QUE INVENTOU estupidamente as BANDEIRAS, as FRONTEIRAS os MUROS, PAÍSES...E TAMBÉM OS PECADOS CAPITAIS, PRATICADOS.PARA quê?
 
-Para fazerem a guerra,nenhum homem se parisse faria a GUERRA.


Hoje, RICOS(?) cada pedra seu rico, de dinheiro-fácil. O respeito não está à venda, não se adquire com bens preciosos. É coisa rara, só se obtém na implacável senda dos caminhos do bem , na utilidade e no suor despendido para a construção de um futuro com respeito pelo próximo e pela natureza que nos alimenta. 
 
 
 
NÃO HOUVE NENHUM IMPÉRIO DOS HOMENS QUE PERMANECESSE PARA SEMPRE.
NÃO HÁ NADA, NEM NINGUÉM ETERNO.
,,,
...SÓ A TERRA PERMANECERÁ «««, ATÉ O SOL SE APAGAR



E O RESPEITO(!!)



  

  



«...Natividade, há dois detalhes  nas tuas abordagens a estas viagens, que não quero perder, bem,,,3!

 O primeiro a forma clara como escreves e assumes as memórias que são também as minhas, não é difícil imaginar-te numa sala de aula a lecionares Português.

O segundo é teres percebido que o "narrador" das evocações é um miúdo que crescendo, ia  guardando cada detalhe das vivências.  Os  rostos, as vozes, as conversas e as mudanças numa localidade onde todos se conheciam e interagiam.  Esse rapazinho permanece vivo dentro do adulto.

 

«E entendeste perfeitamente o significado  destes testemunhos, um misto de entusiasmo, saudade e dor da ausência de um tempo magnífico, difícil, mas carregado de referências e acontecimentos marcantes. Visa  a COMUNICAÇÃO  e colocar a fasquia destes lugares virtuais , muito acima da mediania. Continuarei então a escrever-te  estas "CARTAS de AMOR-SAUDADE".»

 

As sete vidas de um Pistoleiro-«OS MADEIRINHOS - RICOS DONOS DE NÓS e do nosso DESTINO.»

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