LOBOS

Sou, na verdade, o Lobo da Estepe, como me digo tantas vezes – aquele animal extraviado que não encontra abrigo nem na alegria nem alimento num mundo que lhe é estranho e incompreensível

Herman Hesse

domingo, 20 de dezembro de 2009

O Natal.



O NATAl é...

este ano ajudei a construír o PRESÉPIO, há muitos Natais que não punha a "unha" na actividade da construção deste cenário( imaginário)  de uma aldeia da Palestina, aldeia essa que  a CRIATIVIDADE dos "Clãs" transformou em aldeias locais de sonhos vividos e de pedaços de história. Histórias dos avós ancestrais passadas de boca em boca. O NATAL era um tempo especial, o poder da Igreja, digo: - A obrigação da igreja era alimentar em todos nós a necessidade de sonhar e perder o medo. Naqueles tempos as crianças tinham muito medo, medo das bruxas, medo da guarda, medo da mãe, medo do pai, medo da própria sombra  e também medo da Professora primária. Ainda hoje tenho medo!... de muita coisa, sou uma "criança" cheia de medos.
 
Medos esses que limitam a minha existência como pessoa social (TENHO PENA...), o rosto do medo na actualidade pode pintar-se de muitas CORES. Ainda tenho um bocadinho de medo quando vejo a polícia na estrada. Tenho tudo em ordem masss...é sempre de ter receio, normalmente não são muito simpáticos, e, bastava um sorriso e eu perderia o receio inicial.HÁ cerca de dois meses, passei um sinal vermelho na zona das Tílias em Castelo Branco, por coincidência (ou azar), a polícia estava estacionada ao meu lado.Imaginem a sensação de terror quando vi os pirilampos azuis a brilharem e o polícia a bracejar para eu encostar. Até tinha uma desculpazinha pequenininha, mas nesses momentos esqueço-me de tudo e só me apetece estar na barriga da minha mãe. Moral da história fui multado depois de esperar meia hora que os agentes conseguissem entrar num acordo perfeito com o livro de instruções para multas, livro esse que não tinha lá a referida infracção ( ...retomar a marcha ainda com o sinal vermelho no semáforo) Claro, não é muito normal arrancar no semáforo vermelho com o carro da polícia mesmo encostado...acelerei porque estava a sonhar com coisas lindas e ouvi uma buzina do carro que tinha na retaguarda. Paguei 75 Eur e fartei-me de agradecer aos senhores agentes que coçavam a cabeça....- mas o senhor não viu mesmo que o sinal estava ainda vermelho!?... 
...não!... respondi pensando: - (Não iriam compreender...que o sonho comanda a vidaGedeão e momentos antes o pé no acelerador)...só pedi desculpa ...o culpado era eu. E paguei no momento.

 
   
Também tenho medo dos meus semelhantes e companheiros do curto caminho da vida que me cospem um bom dia engelhado como uma castanha pilada -...oooo, diaaa! , dos que encontro nos corredores da existência e espirram um Óiiii! como se eu estivesse carregado de lepra, daqueles que confundem entusiasmo e felicidade, prazer enorme de ser útil (a forma que encontrei de me oferecer à comunidade)  com arrogância, CRAJJJJJ! (Gritaram... este adjectivo bem perto do meu rosto) ouvi essa palavra pela primeira vez em Junho deste ano, porque agito muito as águas dos oceanos onde me "banho". Senti-me um CRAJJJJ, por momentos bebi lágrimas de sofrimento, dúvidas e até tive medo de mim próprio.
  


Depois de muito tempo de ter medo de mim, descubro a resposta no meu livro de coisas boas. Não és assim tão mau rapaz!!! então pensa desta forma!?......-terias a coragem e a  malvadez de enfrentar um teu semelhante (desta curta passagem pela vida) e vomitares palavras craxxxianas?... vomitares as tuas frustrações?... os teus medos. Riscares do mapa dessa pessoa percursos imaginados, vividos e paridos. Terias....!?
Não!!!!!então não és nada disso. Estás salvo e pronto a entrar no reino dos céus...é uma doença dos tempos, as pessoas são assim porque andam sem rumo. Cansadas de terem tudo (DE+) e de não terem sonhos pelos quais devam lutar. Também como tu "GUARDAM"  medos de estimação...



...mas o meu Natal do coração não é nada do que escrevi até este momento. Esse está bem defendido de todos os maus olhados. São os bom-bons de chocolate de 1 tostão embrulhados nas pratas azuis, amarelas e vermelhas. O cheiro das fogueiras, o escuro da minha terra de menino sem luz eléctrica,o retorno dos migrantes às suas famílias, o cheiro também do Natal ( os dias que antecediam a festa tinham um odor diferente). A chaminé negra do lume de inverno, as brincadeiras de rua...O PRESÉPIO na igreja do Padre Martins.
O Natal já não existe ou é raro, assim como a bondade no coração de todos nós, rara...quase extinta, não por mal. Simplesmente por distracção e por falte de dizer: - BOM DIA colega e companheiro da vida! (com um sorriso sincero)  Salgueiro do campo 20 de Dezembro de 2009




A Estrela 

Eu caminhei na noite
Entre silêncio e frio
Só uma estrela secreta me guiava
Grandes perigos na noite me apareceram
Da minha estrela julguei que eu a julgara
Verdadeira sendo ela só reflexo
De uma cidade a nèon enfeitada
A minha solidão me pareceu coroa
Sinal de perfeição em minha fronte
Mas vi quando no vento me humilhava
Que a coroa que eu levava era de um ferro
Tão pesado que toda me dobrava
Do frio das montanhas eu pensei
«Minha pureza me cerca e me rodeia»
Porém meu pensamento apodreceu
E a pureza das coisas cintilava
E eu vi que a limpidez não era eu
E a fraqueza da carne e a miragem do espírito
Em monstruosa voz se transformaram
Disse às pedras do monte que falassem 
Mas elas como pedras se calaram
Sozinha me vi delirante e perdida
E uma estrela serena me espantava
Sophia de Mello   Breyner Andresen 


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Aurora boreal
Tenho quarenta janelas
nas paredes do meu quarto.
Sem vidros nem bambinelas
posso ver através delas
o mundo em que me reparto.
Por uma entra a luz do Sol,
por outra a luz do luar,
por outra a luz das estrelas
que andam no céu a rolar.
Por esta entra a Via Láctea
como um vapor de algodão,
por aquela a luz dos homens,
pela outra a escuridão.
Pela maior entra o espanto,
pela menor a certeza,
pela da frente a beleza
que inunda de canto a canto.
Pela quadrada entra a esperança
de quatro lados iguais,
quatro arestas, quatro vértices,
quatro pontos cardeais.
Pela redonda entra o sonho,
que as vigias são redondas,
e o sonho afaga e embala
à semelhança das ondas.
Por além entra a tristeza,
por aquela entra a saudade,
e o desejo, e a humildade,
e o silêncio, e a surpresa,
e o amor dos homens, e o tédio,
e o medo, e a melancolia,
e essa fome sem remédio
a que se chama poesia,
e a inocência, e a bondade,
e a dor própria, e a dor alheia,
e a paixão que se incendeia,
e a viuvez, e a piedade,
e o grande pássaro branco,
e o grande pássaro negro
que se olham obliquamente,
arrepiados de medo,
todos os risos e choros,
todas as fomes e sedes,
tudo alonga a sua sombra
nas minhas quatro paredes.
Oh janelas do meu quarto
Quem vos pudesse rasgar!
Com tanta janela aberta
Falta-me a luz e o ar.
 Gedeão  (da Graciela e da Ana QUERIDA)

                         ...como podes ver , é fácil criar-mos uma obra colectiva a 4 mãos. esta parte é minha e tua.
O "MININO do Penalva"

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