LOBOS

Sou, na verdade, o Lobo da Estepe, como me digo tantas vezes – aquele animal extraviado que não encontra abrigo nem na alegria nem alimento num mundo que lhe é estranho e incompreensível

Herman Hesse

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

VIDAS de PAPEL


HISTÓRIAS de SOBREVIVENTES




CORAÇÕES PARTIDOS





MEADOS de 70 (SETENTA), e nós no auge da JUVENTUDE
PORTUGAL a abrir-se ao MUNDO, TEMPOS do VIVER ao RUBRO com precauções redobradas.
Desejo imenso de CRESCERMOS.
Estávamos a VIVER a segunda década das nossas vidas e com a certeza que tínhamos muito de IMORTAIS. 
As ruas ao fim das tardes, assim como o LARGO GRANDE, testemunhavam esta comunhão entre as PESSOAS da FREGUESIA. 
Continuo com as imagens, claras e com as vozes à mistura, os odores e as cores do entardecer. 
Dos campos à volta da TERRA vinham forasteiros para o convívio fraterno com os habitantes das casas brancas. 
Da ALCARAVIÇA, Espinheiro ou da Aldeia de SANDE, MARIRUIVA, MONTES da GLÓRIA ...dos pequenos MONTES espalhados entre os aglomerados maiores, PARRADA, MONTE CAPITÃO e muitos mais dos quais já lhe perdi o RASTO.
"AVIAR" a CASA nas lojas que ponteavam a freguesia, seria o denominador comum, e virem beber um COPO às tabernas o objectivo por trás do "BRILHOZINHO nos "OLHARES...e uns
DEDOS de CONVERSA. A CULTURA de um POVO onde o dinheiro e a fartura não abundavam. 

Foi também a altura em que a minha geração começou a ser aceite pelos mais velhos. Longe vão estes tempos onde cada dia seria uma AVENTURA carregada de SONHOS e DESEJOS de participar e "Deixarem-nos estar".
Houve neste meu HISTORIAL de vida, pequenos momentos, acontecimentos simples, que me marcaram para sempre. 

Recordo as primeiras cervejas (CERVEJA de VERDADE e nada parecida com a porcaria que hoje é vendida com diversas marcas, e que não passa de uma zurrapa)ao BALCÃO do "ANTÓNIOdUPAIXÃO" com o VIRGÍLIO do CHINÊS ( o PINGA)e num pratinho um peixe em conserva de uma lata redonda-BRAMA RAIA
Um sabor inconfundível perdido também nos tempos, nunca mais vi tal peixe. 
Virgílio teria mais 10 anos que eu, tinha chegado do ULTRAMAR e convidou-me várias vezes para beber uma cerveja e petiscar com ele.

Recordo as primeiras vezes  do TIRA-PICOS, assíduo nos bailes da CASA do POVO,,, outro FORASTEIRO que criou raízes na terra e ainda hoje somos bons amigos.
O filho do HORÁCIO dos Montes da Glória, que "CORRIA" de bicicleta os bailes num círculo de 30 km

E do inesquecível pai do Ricardo Saias, o "MANÉL do Virgíl" (...será assim o nome deste homem de aperto de mão intenso??)e as suas grandes bebedeiras,  vinha de motorizada desde o MATO perto da Mariruiva e depois de bem bebido, regressava a altas horas da noite a casa ao lado da motorizada ziguezagueando pela RUA NOVA abaixo e deixando os cabelos em pé a quem assistia a este cenário. 

-Este HOMEM um dia aparece morto na estrada!
Parece um BARRIL de tanta bebida que mete pradentro...(
Coisas de quem via...)
Tenho presente as silhuetas deles enquanto novos e acompanhei a metamorfose que os trouxe aos tempos actuais.
Conheço-lhe os "RETRATOS", melhor que a mim próprio.





O RAPAZITO CARLOS


De toda esta gente me lembrei hoje depois de ter lido uma notícia, uma  má notícia nos BRADOS do ALENTEJO, sobre um tal CARLOS que nunca conheci...
Tratei de saber quem era este gaiato "duZARCOS "e a quem pertencia, tive a resposta há poucos minutos e as dúvidas avolumaram-se,,, as tais interrogações sobre a religião e os SANTOS de PAU CARUNCHOSO. Sobre a existência ou não  de um ser soberano...
Na  REALIDADE este artigo é assumidamente direccionado para uma PESSOA, um SOBREVIVENTE, um dos tais FORASTEIROS que encheram a minha vida de boas recordações.







Soube em tempos muito distantes o seu verdadeiro nome, depois perdi-o e segui-lhe o rasto pela alcunha que ainda hoje é conhecido. 
Recordo-lhe as pedaladas ao SOL e nos dias de chuva pela estrada dos "CALITROS" acima com o seu blusão de cabedal e sempre com a bondade estampada no ROSTO. 
Recordo as suas chegadas ao largo, o cumprimento afável aos presentes. O encostar da bicicleta e o seu caminhar animado e FELIZ.
Passou pela minha casa para umas lições ,tendo como objectivo fazer o exame da  quarta-classe . 
Recentemente e muitos anos depois-  tirei estas fotografias na ADEGA do AMEIXA onde estava também o ZÉ da BURRA- Foi por este nome que sempre o conheci  e o recordo ainda HOJE.

Continuava igual de  palavras, amável e bom companheiro dos seus amigos, pouco tinha envelhecido desde os tempos de 70, pensei eu para os meus botões.
O Rapazote que no dia 3 de SETEMBRO PARTIU fez parte de uma FAMÍLIA marcada por desgraças em demasia. 
O ZÉ da BURRA perdeu na sua vida, o FILHO, a FILHA e desta vez o NETO. 
Não existe nenhuma forma, nenhuma fórmula  que  nos faça aceitar acontecimentos desta NATUREZA. Não haverá também nenhum milagre que reponha o SORRISO, a ESPERANÇA ao ZÉ  e à sua MULHER.
Resta o JOÃO,gémeo do CARLOS que agora partiu, um caso  "BIGUDO" para as PSICÓLOGAS ESCOLARES resolverem... não queria estar no lugar destas senhoras.
 O MUNDO actual está descolorido de sentimentos, tudo passa de uma forma acelerada...as PESSOAS que sofrem tormentas desta natureza são esquecidas e definham aos poucos.

Sei que existe um "MOVIMENTO" de ajuda à FAMÍLIA do Zé da BURRA, desejo que estas minhas palavras, desarticuladas e um pouco confusas, alertem os corações para não se esquecerem destas pessoas BOAS , que os ajudem de uma forma continuada.

Gente que vive com muitas dificuldades.

Eu fico em SILÊNCIO e faço contas a esta "VIDA de PAPEL" que nos serviram um dia...um FILME "MUDO" onde tentamos decifrar o desconhecido da REALIDADE que se move na nossa sombra.

A SOMBRA MALDITA da INSUSTENTÁVEL LEVEZA da VIDA.

DESTINOS pintados de negro, à nossa beira.





PAZ para ti José




Sem comentários:

Enviar um comentário