LOBOS

Sou, na verdade, o Lobo da Estepe, como me digo tantas vezes – aquele animal extraviado que não encontra abrigo nem na alegria nem alimento num mundo que lhe é estranho e incompreensível

Herman Hesse

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Um OLHAR SOBRE a LUZ HOMENAGEM à BIZÉ do ANIBAL



O QUE SERÁ afinal a MORTE??!


 LIBERTAÇÃO?
 ESCURO?
 RECOMPENSA? 
 DESCANSO?
Ou Luz em frente, luz invisível para o comum dos mortais.

e
REENCONTRO


A Artista Mexicana
Falou desta forma no fim dos seus dias terrenos...

Espero que minha partida seja feliz, e espero nunca mais regressar - Frida Kahlo"


26 de FEVEREIRO de 2015

Ou uma passagem para a outra margem...

Vários POEMAS para  a BIZÉ!

Poema pouco original do medo
O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no tecto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos

O medo vai ter tudo

fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
  óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
  projectos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles

Vai ter capitais

países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados

Ah o medo vai ter tudo

tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)

O medo vai ter tudo

quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos




Nasceu a 19 Dezembro 1924
(Lisboa)

Morreu a 21 Agosto 1986
(Lisboa)

Alexandre Manuel Vahía de Castro O'Neill de Bulhões foi um importante poeta do movimento surrealista português. Era descendente de irlandeses. Autodidacta, O’Neill foi um dos fundadores do Movimento Surrealista de Lisboa.





Isto de morrer não pode fazer parte do programa de ninguém. Ainda menos dos poetas, sejam ou não surrealistas. Durante anos, Alexandre O' Neill fez caretas à morte, abrindo a boca num sorriso de escárnio, deitando a língua de fora, enfrentando-a. Em 1976, ela respondeu com uma pontada fulminante, quase fatal, no coração, e a panne provocou  umas tréguas, uma rendição temporária, uma obediência cega às ordens médicas. Não pode... não pode... não pode. O poeta que sempre tropeçou de ternura estava proibido até de sentir o vento no rosto. O clínico impediu-o de caminhar contra o vento, forma categórica de dizer que era melhor conformar-se, tomar cuidado, ou então...


"Quem? O infinito?/ Diz-lhe que entre./ Faz bem ao infinito/ estar entre gente". Morre, no dia 21 de Agosto, ao fim de cinco meses de internamento. O funeral, civil, depositou na manhã seguinte o corpo no Cemitério de Benfica. "Olha, Alexandre, a noite passada a tua mosca Albertina veio masquetear-me o ouvido: que tinhas ido desta para pior; o que não é de admirar vais ler a 'costumeira nacional' está descansado. Agora, é só seguir o cherne (*), meu amigo. De ti pouco se sabia e ainda bem". Palavras do poeta Luís Pignatelli num bilhete postal publicado na imprensa. "Às duas por três nascemos/ às duas por três morremos/ E a vida? Não a vivemos./ Querer viver (deixai-nos rir)/ seria muito exigir".


A Morte Chega Cedo

A morte chega cedo,
Pois breve é toda vida
O instante é o arremedo
De uma coisa perdida.

O amor foi começado,
O ideal não acabou,
E quem tenha alcançado
Não sabe o que alcançou.

E tudo isto a morte
Risca por não estar certo
No caderno da sorte
Que Deus deixou aberto.


Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro'
 

A BIZÉ GATO CABACINHO ou Bizé do Aníbal como sempre a conhecemos... PARTIU ontem 25 de Fevereiro-Uma MULHER de BOM CORAÇÃO e serena beleza, pouco haverá para recordar da Bizé, pessoa simples, passava ao lado da multidão num "andar recatado". Sorria sempre no meio de  puras palavras, frases de Paz. Sempre a recordarei como a rapariga que fazia a escrita da loja do Aníbal gato. Observo hoje o seu  ir e vir para a loja, escritório da porta do meio. Caminhando, franzina, em SILÊNCIO.
 Partiu de vez depois de uma longa e dolorosa existência, metade da sua vida esteve ausente, de nós, e em dolorosa decrepitude.



 Já merecia há muito descansar desta vida terrena que nunca a poupou.

Mais uma personagem a somar a quase todas, este  espaço esta a transformar-se num canto escuro replecto de  Nomes e ausência de VIDAS.


Séneca

Nisto erramos: em ver a morte à nossa frente, como um acontecimento futuro, enquanto grande parte dela já ficou para trás. Cada hora do nosso passado pertence à morte.

Cartas a Lucílio

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