LOBOS

Sou, na verdade, o Lobo da Estepe, como me digo tantas vezes – aquele animal extraviado que não encontra abrigo nem na alegria nem alimento num mundo que lhe é estranho e incompreensível

Herman Hesse

domingo, 27 de junho de 2021

Não XATEIEM a Ana Zanatti

 

 

27/06 2021

...a PRIMAVERA foi-se há muito. A  PAISAGEM perde-se de vista em tons que foram verdes e deram lugar ao seco ( é preciso regar, a todos os momentos para a vida continuar à minha volta). As fotos mais não fazem do que avivar o que não nos sai da mente.O TEMPO passou,  pouco nada existe do que foi. FEIRA e VAIDADES são provas de fogo para quem dá os últimos gritos  do EPIRANGA.

 

PORQUÊ  ZANATTI (?)

EFÉMER(O)IDADES


 

Zanatti  a "BRASA" dos finais de 70  e nos anos oitenta. O romance com LARA LI (Telepatia) incentivou os espíritos mais perversos a formarem imagens mentais que nos levavam ao desejo  e à construção de cenas na imaginação.As incontáveis horas de prazer mental, despindo as musas.

A volúpia  apresentava-se restrita nos silêncios dos quartos, aos livros da Gina e às muitas fotos de calendário.

  E das pernas da Graça Lobo, ninguém se recorda?

 

Graça Lobo e as suas 2 pernas

  No cinema o último "Tango em Paris", com Marlon Brando e Maria Schneider   reduziu-nos os dias "AQUELA CENA", a uma pseudo cena de sexo anal que metia manteiga como lubrificante, sugerida e não vista. Estas marcas  são demolidoras na formação de uma personalidade- e poderão construir pactos com o Diabo ou destruir vidas. O Império dos Sentidos do realizador Nagisa Oshima , rebentou com o o que ainda restava na "PRISÃO" da perversidade que nos toca a todos na idade da descoberta. Aqui não meteu manteiga mas noites coladas aos dias, de sexo puro e com muito estilo à maneira oriental.O banquete de prazer regado com muitos preliminares  terminaram no corte do pénis da personagem principal (pela funcionária objecto do amor) com uma faca de cozinha.


....estávamos perante os limites do desejo e do prazer da comunhão entre dois corpos. Representam ainda hoje uma marca do cinema erótico sobre a fronteira que descamba para a pornografia. Ninguém conseguiu imagens tão brilhantes para  a representação da simplicidade do clímax. É tudo normal neste filme, o silêncio, a obscuridade , o pénis de Tatsuya Fuji, não é descomunal mas apresenta-se muito idêntico ao do homem comum. Além de outras características, esta serve também para rotular o filme na área do erotismo tão excitante e construtor de imagens mentais. Deliciosamente perverso e perto da realidade fora da CÂMARA-ACÇÃO!

  Foi neste ambiente efervescente num mundo há muito em mudança que cheguei a LISBOA. Tinha deixado para trás uma "brilhante" carreira de electricista de baixa-tensão onde fui tutorado pelo grande "OPSING" Tóta irmão da Cremilde. O rapaz da primeira V5 dozarcos a quem devo os 500 contos(as minhas primeiras economias) que amealhei nos dois anos que me dediquei a essa nobre profissão. Na qual  os fregueses mesmo fazendo desconto achavam sempre cara a soma final da mão de obra e dos materiais para a instalação. Relembro em forma de agradecimento também o CORADINHO (António Joaquim Saramago Borralho que me vendia o material e assinava os termos de responsabilidade).

 IO!

                                         IO-a primeira artista a despir-se em PÚBLICO

Nada foi fácil nestes tempos. Nestes e em todos os que seguiram até ao momento que estou a escrever sobre o "Efémero" em que se torna o êxito. Tão ilusório e enganador. 

Deve-se também a um telefonema que recebi ontem « Vê a entrevista do Oliveira com a IO APPOLLONI, na SIC». Um entre muitos programas de exploração e violação das intimidades  de gente que está na senda do desencanto. Vi e fiquei deliciosamente chocado e estupefacto com esta senhora que foi até hoje reduzida a duas pernas um sexo e à gaja do Camilo de Oliveira.

Uma rocambolesca história de vida. E mais um talento a pedir trabalho porque tem dificuldades financeiras para sobreviver. 

Mas todas as palavras e vivências narradas,,, assumidas.  Repletas  de DIGNIDADE.

IO  foi muito mais que uma vagina e um par de mamas.

É ainda hoje uma GUERREIRA e uma MULHER à SÉRIA.

Nada anormal nesta parte da matéria. O que é feito de Lara LI? da Zanatti e dos muitos e muitas que desapareceram de cena. São imagens que nos levam aos sons  de um tempo perdido. Tal como a Primavera deste ano que me fugiu entre os dedos e as muitas chegadas da noite para : -Outra vez deitar?... 



A Internet, revela-se como o maior avanço (descoberta) da história recente da sociedade contemporânea. E  um meio para a comunicação fácil. As bibliotecas, os livros e a serenidade foram-se com a  chegada desta "SENHORA".

Com a Internet, deixou de haver tempo para as trivialidades tão importantes no tédio.Não há espaço do nada e para ninguém. Instalou-se o cansaço e aquela impaciência fruto de esperamos por alguém ou por palavras que nos protejam do banal. Ou essas palavras não chegam , ou são parcas palavras ou ainda não são as que esperávamos. Andamos todos e de certa forma desiludidos com os amigos que foram , com os que nunca foram e com aqueles que deixaram de ser.

 

 

 

David Carradine outro dos meus heróis (o sinal do Dragão), foi desta para melhor depois de uma prática extrema para encontrar e prolongar o prazer num orgasmo que queria mais duradouro que aquele que Deus nos presenteou. Esta é a grande decifração do ENIGMA-Quem somos, e para onde vamos (??!!). 

  Quem fez tudo isto, criou também o orgasmo, o prazer máximo mas ínfimo. Milionésimas de segundo em que uma parte do cérebro é estimulado por uma sensação única  e desejosa de ser repetida. Esta incansável viagem  de procura estrutura todas as vivências dos humanos na vida em sociedade. Ela produz gente e slogans de toda a espécie >>> TARADOS-ASSASSINOS-VIOLADORES-ETERNOS ROMÂNTICOS- MARIDOS e Mulheres FIÉIS e MARIDOS e ESPOSAS INFIÉIS- CIÚME-Marketing- VENDA de PRODUTOS-MODA-PORNOGRAFIA-CULTURA-VAIDADE e SONHO. 

Pesadelos-PAIXÕES-Inseguraça-EUFORIA e mil outras emoções que andarão em volta da procura desta milionésima chama para estimulação do cérebro.Também Arte.


 

OS CORPOS  FEMININOS e MASCULINOS são a prova provada desta luxúria e deste "pecado".

O vício que faz mover as MULTIDÕES.  


... e também do DESESPERO e da INQUIETAÇÃO que as relações carregam consigo mesmas. Hoje com esta ferramenta e as redes sociais, tornaram-se num autentico pesadelo com múltiplos perigos à mistura.



1977, chegada a LISBOA. Cidade do CHIADO EFERVESCENTE. Das ruas e das praças ,,,abarrotadas de beleza. Da rua do CARMO espelho da canção dos UHF. Dos eléctricos de sons tão característicos da campainha de aviso que tocava com a pressão do pé do condutor.

Invariavelmente as fotos eram cinzentas mas, toda  a LISBOA se vestia de cor.

 


 

Quando cheguei à calçado do Combro-rua do Século, teriam passado 70 anos ou um pouco menos depois desta fotografia onde o eléctrico era puxado por uns cabos subterrâneos. A janela do meu quarto já existia. e ninguém de toda essa gente que comigo partilharam os anos, não.  . Ninguém tinha nascido. Todas estas imagens são reflexos da história num determinado momento (ORGÁSMICO) porque existem e existiram vultos da cultura e da ciência que se tornaram lendas, também naqueles tempos. Lendas carregadas logo à nascença pelo EFÉMERO. E todos sem excepção sonhámos alguma vez ou quisemos ser como eles ou elas.

Leda e o Cisne
Photografia - James Baes

 

    Na primeira semana vivi o primeiro dos muitos momentos de euforia, quando a Orquídea  ao jantar me informou que o Travolta estava nos Restauradores. Levantei-me de imediato, «...vou lá agora, meus Deus o Travolta.».


 

 - Não! Estava referir-me ao filme (GREASE, a febre de sábado à noite com Travolta e Olivia Newton John), que está  no ÉDEN cinema nos Restauradores. Fiquei-me desconsolado, mas essa imagem permanece na minha memória. Como a força fama e certos vultos fazem parte e controlam as nossas vidas. A nossa história. 

Hoje somos massacrados por milhões de imagens dessa natureza. Pessoas reais foram transformados em autênticos objectos de veneração, rapidamente descartados e substituídos por outros. E foi numa dessas viagens CULTURAIS que surgiu a Ana Zanatti. No longínquo ano de 1988, visita de estudo com  uma turma da Verney à sala de exposições da fundação C. Gulbenkian . Entrámos com o grupo controlado. De costas em frente de uma tela uma senhora no seu silêncio permanecia.

 Ouviu-se um grito como um estrondo a violar a harmonia  da gaiatagem.

-ÓLHÁ ANA ZANATTI!

Furaram o cerco e a organização sugerida pelos professores acompanhantes e gritei eu.(-Deixem! não chateiem a Ana zanatti!!) 

...ela olhou-me de soslaio , séria, e dedicou-se à pequenada, assinando a papelada.

 

ONTEM como HOJE Vegetamos-vIVEMOS num mundo de CONTEMPLAÇÃO, de CROMOS da BOLA. As PRIMAVERAS PASSAM sem darmos por elas, os GESTOS esses revestimo-los de banalidades , num suspiro num passar, num abalar dos dias. Aqueles que ainda podem PROCURAM FRENETICAMENTE o ORGASMO,procriando, traindo assassinando consumindo felicidade e infelicidade-frustrações ou êxitos fugazes. Vivem todos /as em mil e obsessivos diálogos  com o TELEMÓVEL e (!!!) AUSENTES da VIDA REAL.

 


 

 NÃO "X ATEIEM" a ANA ZANATTI.   

  (...ela olhou-me séria. 

A mim dono do MUNDO - elas de todos nós.)


Ana Z e Lara LI (hoje)


Graça Lobo sem pernas



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