LOBOS

Sou, na verdade, o Lobo da Estepe, como me digo tantas vezes – aquele animal extraviado que não encontra abrigo nem na alegria nem alimento num mundo que lhe é estranho e incompreensível

Herman Hesse

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Rosas vermelhas 3


Os fantasmas tinham entrado no meu sono, invadiram a minha casa no cimo da ternura;os fantasmas
eram donos do país. E se eles viessem de repente, a meio da noite, e eu chamasse:
  -Mãe!
a voz (tão calma)de minha mãe já nada podia contra eles. Era um trabalho para mim, uma tarefa para todos
aqueles que não podem suportar a sujeição.
Eu nunca pude suportar a sujeição. Acaso poderia ter escolhido outro caminho?
 Por isso em Maio de 1968, eu estava na cadeia, isto é, de certo modo, eu estava no meu posto.
No dia doze, não acordei com o beijo de minha mãe.
Porém nessa manhã (não posso dizer ao certo porque não tinha relógio, mas talvez-quem sabe?-,às dez e um quarto,que foi a hora em que eu nasci), o carcereiro abriu a porta e entregou-me, já aberta uma carta de minha mãe.E ao desdobrar as folhas que vinham dentro do sobrescrito violado,
a pétala vermelha, duma rosa vermelha,  caiu, como uma lágrima de sangue, no chão da minha cela.

A praça da canção
(Manuel Alegre) 



Maria Luisa Espadanal Ramos 

9/04/1926
+30/08/2000





 

Para a minha MÃE Luísa de quem sinto uma saudade sem fim.
22 / 10 / 2009







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